“FT”, 13 de janeiro, terça-feira.
Viu-se diante de um verdadeiro monumento!
Como poderia descrevê-la?
Tão alta quanto ele. Teria entre vinte e cinco e trinta anos. Pele cor de canela. Cabelos escuros, curtos e crespos.
E curvas... muitas curvas!
Os olhos esverdeados davam um vívido charme ao lindo rosto!
Usava uma blusa cor-de-rosa, decotada e sem sutiã → que deixava à mostra as ondulações dos enormes seios →, e um short jeans curto, que destacava a simetria de suas coxas grossas. Barriga reta, de quem malhava bastante!
Muito mais bela e sexy do que o contato havia informado.
Gostosa!
Tesuda!!!
A deusa magnífica do amor carnal!
→ Pois não? → ela disse, séria, com sua voz melosa e agradável.
Mostrou-se por inteira. Lânguida! Insinuante!
Chegou a baixar a blusa → para cobrir o umbigo → mas não parecia constrangida em estar com pouca roupa diante de um estranho.
Refez-se do choque inicial! Suspirou, controlando o desejo. Teria que se concentrar na porra da missão! Para tal, armou seu sorriso mais falso, encarou aqueles olhos esverdeados e disse:
→ Boa tarde! Gostaria de conversar com o senhor Bruno Handel.
Captou o olhar de surpresa, que brotou naquele etéreo semblante.
→ Bruno? → ela indagou, pasma. → Você disse Bruno?
→ Sim, senhora. Ele informou ao meu chefe que estaria me esperando, hoje à tarde, neste endereço, para assinar urgentemente alguns papéis.
→ Não acredito. → estaria ela com raiva? Ou apenas decepcionada? → Quando ele disse isso?
Pergunta perigosa! Capciosa! Maledicente!
Teria que dar a resposta certa, a resposta lógica, para não produzir qualquer resquício de desconfiança.
→ Hoje pela manhã. → respondeu, seguindo as orientações do contato. O sujeito parecia saber de tudo.
Percebeu o movimento dos seios quando ela → nervosa → passou as mãos nos cabelos. Apetitosos! Suculentos! Os mamilos pareciam querer rasgar o tecido! Se pudesse atacá-los... se tivesse tempo...
→ Nossa! Ele me paga.
→ Como?
→ Oh, desculpe. Estava apenas pensando alto → ela soltou um sorriso discreto →. Como é seu nome? Bruno conhece você?
→ Paulo Fritz → respondeu, internamente se divertido com aquilo. A essa altura, o nervosismo havia ido embora. → Ele me conhece, sim.
→ Poderia, por favor, me informar o nome de sua empresa?
→ Mindows. Ele costuma fazer negócios com a gente.
Sentiu sobre si o olhar dela. Analítico! Sistemático! Deduziu o que estaria se passando naquela mente oca.
Homem alto, branco, magro, bem apessoado, usando terno e maleta caros. Inofensivo? Certamente. Um bandido? Claro que não. Apesar da feia cicatriz, de dois centímetros, que tinha na face esquerda, fruto de um desentendimento com um traficante, anos atrás.
Por fim, ela agiu da maneira que era a prevista.
→ Desculpe, mas é que Bruno nunca fez isso → murmurou, como que pretendo se justificar pelo excesso de perguntas →. Infelizmente tudo tem uma primeira vez → soltou outro sorriso divinal →. Não quer entrar?
Deu certo!
A maluca permitiu que entrasse na casa!
O contato acertara em cheio, com o terno e a história da Mindows!
Eufórico por dentro, porém frio por fora, entrou na residência. Viu-se numa sala espaçosa e imaculadamente limpa e cheirosa!
Cortinas na janela. Tapete vermelho → e florido → sobre o piso de ladrilho. Quadros com desenhos de flores nas paredes. Sofá em formato de “u” deitado, com capacidade para oito ou nove pessoas. Mesinha-de-centro. Lustre fixado ao teto forrado de gesso.
Nas prateleiras da estante de fórmica uma bonita televisão de quarenta e duas polegadas, um aparelho DVD, um aparelho de som, o telefone fixo, três vasos com flores, mais um monte de livros, revistas, fotos em molduras etc.
O luxo era visível em todos os objetos!
E pensar que o alvo bancava tudo isso, pensou.
Puta esperta!
→ Sente-se, por favor. Irei chamar o Bruno.
→ Obrigado.
Obedeceu. Fixou os olhos no bumbum dela, quando se afastou. Arredondados! Convidativos! Respirou fundo, para controlar a excitação! Merda! Precisava se concentrar no trabalho.
Iniciou uma pequena operação.
Abriu a maleta e retirou um par de luvas de látex, cor da pele. Calçou as luvas. Não teve dificuldade, pois havia treinado na quitinete. Com as mãos enluvadas, retirou a pistola TAURUS, preta, que estava com o silenciador. Destravou a arma. Havia inserido o cartucho na câmara, depois que roubara o carro, nesta madrugada.
Fechou a maleta e a ocultou atrás do sofá.
Levantou-se e foi → em passos acelerados → até a janela.
Escondeu-se atrás das cortinas.
Ansioso!
Querendo acabar com aquilo rapidamente, para poder sair o mais cedo possível daquela casa!
Não precisou esperar muito. O homem logo apareceu na sala, com a morena no seu encalço. Já tinha visto aquele rosto antes, numa foto.
Teria entre quarenta cinco e cinquenta anos. Alto, branco e loiro. Olhos azuis. Cultivava um bigode fino, no estilo dos mexicanos. Igual ao da foto. Estava nu da cintura para cima e usava bermuda branca. Era musculoso, como se malhasse continuamente. Com certeza conheceu a morena numa academia, refletiu.
Era agora!
“FT”, 13 de janeiro, terça-feira. Colocou a metade do corpo para fora e ergueu a mão armada. → Volto a repetir, Ana → o homem dizia →. Não liguei para a Mindows, solicitando encontro aqui na tua casa. Deve estar ha... POW! POW! Mirou o peito, para não errar. Dois tiros certeiros. Viu o homem desabar para trás, bruscamente, após soltar um grunhido animalesco. Bateu a cabeça na parede e caiu de costas. Emitiu convulsões → como que procurando o ar → para logo ficar imóvel. Morreu sem ter tido tempo de ver seu assassino! Abandonou o esconderijo e mostrou-se para a morena.
“FT”, 13 de janeiro, terça-feira. Sem perder tempo, saltou sobre os cadáveres e percorreu o largo corredor. Entrou no quarto da direita, cuja porta estava aberta. Viu a cama de casal desarrumada. Dois criados-mudos. O imenso guarda-roupa. Na parede uma televisão de trinta e duas polegadas e um aparelho DVD. Um filme pornô na tela. Imagem congelada. → Ora, ora → murmurou, surpreso. Sobre um dos criados-mudos, viu uma garrafa de champanhe dentro de uma jarra com gelo, as duas taças, um prato com queijo cortado em cubos, uma caixa de palitos e uma faca de cozinha. Estava com sede, mas decidiu não beber o champanhe. Abriu o guarda-roupa. Viu as roupas do sujeito. As roupas da morena. Uma carteira de couro. C
“FT”, 13 de janeiro, terça-feira. Percorreu ruas e avenidas, até entrar na BR “FT-100”, que ligava a cidade de “FT” às demais cidades. Manteve a velocidade em 100 km/h, para não cometer erros. Imagine ser parado por policiais, naquele instante... Seria... catastrófico! Coçou o baixo ventre. Pensou no bumbum da morena. Delicioso! Se pudesse usufruir daquele corpo mais vezes... todos os dias... eternamente... Uma pena ter sido obrigado a matá-la... Quando chegasse em casa, iria fumar um longo cigarro de maconha, acompanhado de uma lata de cerveja estupidamente gelada. Claro! Merecia, depois do que passara. Quando encontrariam o c
“PQ”, 13 de janeiro, terça-feira. Deveria correr? Esconder-se no mato? Ou manter o passo? → Controle-se → murmurou, para não aloprar → Controle-se... Controlando o pânico, observou o veículo. Scort prata. Quatro portas. Sem vidro fumê. Não parou. Passou por ele em baixa velocidade. O motorista → que era branco → usava boné preto, óculos escuros e camisa vermelha, de mangas curtas. Sem bigode. Olhou para ele apenas superficialmente. Por que escolhera aquela horrível e erma estrada? Coincidência? Teria casa nas imediações? Seria um traficante? Onde tinha visto um Scort prata, antes?&
PARTE DOIS - O CONTATO Retrospectiva. Voltando ao passado. Acordou → naquela manhã de domingo → com as repetidas batidas na porta da quitinete onde morava, de aluguel. Toc, toc! Olhou o relógio: 10h15min. Seria o babaca da condicional? Um maldito tira? Ou um vendedor de bugigangas? Desgraçado! Isso lá era hora para visita? Havia bebido e fumado maconha → num dos bordéis da cidade de “KL...”, onde residia →, além de ter “detonado” uma prostituta gostosa. Chegou por volta das cinco da madrugada e só pensava em dormir. As malditas batidas interromperam seu descanso. Irritado, levantou-se e não se de
Retrospectiva. Almoçaram no restaurante “Ridder”, que era luxuoso e caro, com direito a ar-condicionado e som ambiente. Nunca havia entrado numa BMW. Adorou o cheiro do veículo! O painel! O conforto! Chegou à conclusão de que o tal de Paulo tinha muito dinheiro. Era um magnata, um sujeito da alta sociedade. Comeu sequência de frutos do mar → camarão, lula, mexilhão, lagosta, berbigão etc. Com vinho tinto. Delícia! Nem lembrava mais qual foi a última vez em que comeu camarão e lagosta ou tomou vinho. E esse era dos caros. Gostou. Depois do almoço → por volta da uma da tarde → seguiram para a “Anhanguera”, uma das praias mais chiques da ci
Retrospectiva. Naquela noite sonhou que era um homem rico e que estava rodeado de belas mulheres. Mulheres sensuais, de corpos magníficos. Mulheres submissas e sorridentes. Fazia de tudo com elas! Sim. Havia se tornado um matador profissional, com dinheiro suficiente para viver bem pelo resto da vida. Matava pessoas e isso o deixava feliz. A imagem de uma cela nauseabunda não surgiu, em sua mente. A hipótese de ser preso não entrou na equação. Seria um excelente sinal? Uma premonição positiva? De repente, o despertador tocou, avisando-o de que teria que lavar carros. Merda! Era novamente um pobre lascado, um homem sem futuro, que residia → a contragosto → numa fétida quitinete
“NH”, 13 de janeiro, terça-feira. Fim da retrospectiva. De volta ao presente. Afastou os pensamentos, quando chegou na rodoviária. Olhou o relógio: 18h20min. O dia quente dava lugar a uma noite mais agradável, com o vento amenizando o calor. Saiu do ônibus e foi ao banheiro. Urinou. Lavou as mãos e o rosto. No pátio, bebeu água gelada, de um bebedouro público. Caminhou por entre a multidão e foi até o ponto de táxis. Escolheu um deles → o da frente → um Siena amarelo. Ocupou o banco do lado e colocou a mochila no banco de trás. → Boa noite! Pode me levar até a cidade de “KL”? → perguntou, de modo gentil, ao motorista.&n