PARTE DOIS - O CONTATO
Retrospectiva. Voltando ao passado.
Acordou → naquela manhã de domingo → com as repetidas batidas na porta da quitinete onde morava, de aluguel. Toc, toc!
Olhou o relógio: 10h15min.
Seria o babaca da condicional? Um maldito tira? Ou um vendedor de bugigangas? Desgraçado! Isso lá era hora para visita?
Havia bebido e fumado maconha → num dos bordéis da cidade de “KL...”, onde residia →, além de ter “detonado” uma prostituta gostosa. Chegou por volta das cinco da madrugada e só pensava em dormir. As malditas batidas interromperam seu descanso.
Irritado, levantou-se e não se de
Retrospectiva. Almoçaram no restaurante “Ridder”, que era luxuoso e caro, com direito a ar-condicionado e som ambiente. Nunca havia entrado numa BMW. Adorou o cheiro do veículo! O painel! O conforto! Chegou à conclusão de que o tal de Paulo tinha muito dinheiro. Era um magnata, um sujeito da alta sociedade. Comeu sequência de frutos do mar → camarão, lula, mexilhão, lagosta, berbigão etc. Com vinho tinto. Delícia! Nem lembrava mais qual foi a última vez em que comeu camarão e lagosta ou tomou vinho. E esse era dos caros. Gostou. Depois do almoço → por volta da uma da tarde → seguiram para a “Anhanguera”, uma das praias mais chiques da ci
Retrospectiva. Naquela noite sonhou que era um homem rico e que estava rodeado de belas mulheres. Mulheres sensuais, de corpos magníficos. Mulheres submissas e sorridentes. Fazia de tudo com elas! Sim. Havia se tornado um matador profissional, com dinheiro suficiente para viver bem pelo resto da vida. Matava pessoas e isso o deixava feliz. A imagem de uma cela nauseabunda não surgiu, em sua mente. A hipótese de ser preso não entrou na equação. Seria um excelente sinal? Uma premonição positiva? De repente, o despertador tocou, avisando-o de que teria que lavar carros. Merda! Era novamente um pobre lascado, um homem sem futuro, que residia → a contragosto → numa fétida quitinete
“NH”, 13 de janeiro, terça-feira. Fim da retrospectiva. De volta ao presente. Afastou os pensamentos, quando chegou na rodoviária. Olhou o relógio: 18h20min. O dia quente dava lugar a uma noite mais agradável, com o vento amenizando o calor. Saiu do ônibus e foi ao banheiro. Urinou. Lavou as mãos e o rosto. No pátio, bebeu água gelada, de um bebedouro público. Caminhou por entre a multidão e foi até o ponto de táxis. Escolheu um deles → o da frente → um Siena amarelo. Ocupou o banco do lado e colocou a mochila no banco de trás. → Boa noite! Pode me levar até a cidade de “KL”? → perguntou, de modo gentil, ao motorista.&n
“KL”, 14 de janeiro, quarta-feira. Levantou-se às onze horas de um dia de sol, aproveitando-se do fato de que só iria voltar a trabalhar na segunda-feira. Comprou os jornais, mas nada viu, a respeito dos crimes. Provavelmente tudo seria divulgado na quinta-feira. Almoçou peixe frito, no restaurante da esquina → agora tinha dinheiro para comer nesses lugares → e executou três atividades. Primeira, escondeu a maleta preta → com a pistola, as luvas e os itens do disfarce→ debaixo da cama. Segundo, guardou a mochila no guarda-roupa. Decidiu ficar com o terno, objetivando utilizá-lo em novas empreitadas. Ficou com o dinheiro do tal de Bruno. Queimou a carteira caríssima, mais os documentos. Pretendi
“KL”, 15 de janeiro, quinta-feira. Acordou às nove horas. Cedo, para não perder o dia de sol. Animado! Apesar da ressaca e da dor de cabeça. Achando que a vida merecia, sim, ser vivida. Pretendia sair daquele emprego de bosta em breve. Pretendia também vender a casa, a mobília e o carro que o tal de Paulo lhe dera e mudar de cidade. E dane-se o babaca do Luís Gruter! Acreditava que não criaria caso. Só teria que inventar uma história convincente. Talvez se tornasse um assassino profissional. Ou → quem sabe? → um grandioso chefão do tráfico. Ou montaria um bar. Serviço honesto. Que tal os dois? Pensaria no assunto com mais cuidado, no futuro. Por enquant
PARTE TRÊS - A VINGANÇA DO MORTO “FT”, 15 de janeiro, quinta-feira. Ao despertar, sentiu uma incômoda dor de cabeça. Dor chata! Como se agulhas perfurassem seu cérebro! Tentou se mexer, mas não conseguiu. Percebeu que estava amarrado a uma cadeira de aço → extremamente pesada → de espaldar alto. Cordas poderosas o prendiam por trás. Tentou de desenvencilhar, sem sucesso. → Merda! → vociferou, sem forças. Suava. O suor descia → lentamente → por seu rosto. Calculou ser quase meio-dia, com a temperatura na casa dos trinta e poucos
“FT”, 15 de janeiro, quinta-feira. Arregalou os olhos. Viu-se diante de um... “fantasma”??? O sujeito teria entre quarenta e cinco e cinquenta anos. Alto, branco e loiro. Olhos azuis. Cultivava um bigode fino, no estilo dos mexicanos. Apesar do intenso calor, usava um terno preto, com gravata lilás. Na mão direita, uma pasta marrom. → Te matei! → gritou, surpreso → TE MATEI!!! Não pode ser! Não pode ser!!! → Você checou se eu estava realmente morto? → o homem falou e sua voz era extremamente parecida com a do Bruno Handel. → Tu morreu, cara! Puta que pariu!!! O homem depositou a maleta no c
“FT”, 16 de janeiro, sexta-feira. Enquanto isso... Vitorioso! Naquela noite, trancado na biblioteca da mansão → concentrado na elaboração do discurso → sentia-se o mais vitorioso dos homens! Nunca estivera tão satisfeito. Recapitulando os acontecimentos da semana, soubera da morte de Bruno no hotel, às oito da noite da terça-feira. Kleber → gerente de vendas da matriz → lhe dera a notícia. Estava realmente no norte do país. Portanto, bem distante das ações do assassino. Viajara para a cidade de “FT” na manhã do dia seguinte, fingindo estar chocado com o fato. Comparecera ao enterro. Claro!<