“FT”, 13 de janeiro, terça-feira.
Sem perder tempo, saltou sobre os cadáveres e percorreu o largo corredor. Entrou no quarto da direita, cuja porta estava aberta.
Viu a cama de casal desarrumada. Dois criados-mudos. O imenso guarda-roupa. Na parede uma televisão de trinta e duas polegadas e um aparelho DVD. Um filme pornô na tela. Imagem congelada.
→ Ora, ora → murmurou, surpreso.
Sobre um dos criados-mudos, viu uma garrafa de champanhe dentro de uma jarra com gelo, as duas taças, um prato com queijo cortado em cubos, uma caixa de palitos e uma faca de cozinha. Estava com sede, mas decidiu não beber o champanhe.
Abriu o guarda-roupa. Viu as roupas do sujeito. As roupas da morena. Uma carteira de couro. C
“FT”, 13 de janeiro, terça-feira. Percorreu ruas e avenidas, até entrar na BR “FT-100”, que ligava a cidade de “FT” às demais cidades. Manteve a velocidade em 100 km/h, para não cometer erros. Imagine ser parado por policiais, naquele instante... Seria... catastrófico! Coçou o baixo ventre. Pensou no bumbum da morena. Delicioso! Se pudesse usufruir daquele corpo mais vezes... todos os dias... eternamente... Uma pena ter sido obrigado a matá-la... Quando chegasse em casa, iria fumar um longo cigarro de maconha, acompanhado de uma lata de cerveja estupidamente gelada. Claro! Merecia, depois do que passara. Quando encontrariam o c
“PQ”, 13 de janeiro, terça-feira. Deveria correr? Esconder-se no mato? Ou manter o passo? → Controle-se → murmurou, para não aloprar → Controle-se... Controlando o pânico, observou o veículo. Scort prata. Quatro portas. Sem vidro fumê. Não parou. Passou por ele em baixa velocidade. O motorista → que era branco → usava boné preto, óculos escuros e camisa vermelha, de mangas curtas. Sem bigode. Olhou para ele apenas superficialmente. Por que escolhera aquela horrível e erma estrada? Coincidência? Teria casa nas imediações? Seria um traficante? Onde tinha visto um Scort prata, antes?&
PARTE DOIS - O CONTATO Retrospectiva. Voltando ao passado. Acordou → naquela manhã de domingo → com as repetidas batidas na porta da quitinete onde morava, de aluguel. Toc, toc! Olhou o relógio: 10h15min. Seria o babaca da condicional? Um maldito tira? Ou um vendedor de bugigangas? Desgraçado! Isso lá era hora para visita? Havia bebido e fumado maconha → num dos bordéis da cidade de “KL...”, onde residia →, além de ter “detonado” uma prostituta gostosa. Chegou por volta das cinco da madrugada e só pensava em dormir. As malditas batidas interromperam seu descanso. Irritado, levantou-se e não se de
Retrospectiva. Almoçaram no restaurante “Ridder”, que era luxuoso e caro, com direito a ar-condicionado e som ambiente. Nunca havia entrado numa BMW. Adorou o cheiro do veículo! O painel! O conforto! Chegou à conclusão de que o tal de Paulo tinha muito dinheiro. Era um magnata, um sujeito da alta sociedade. Comeu sequência de frutos do mar → camarão, lula, mexilhão, lagosta, berbigão etc. Com vinho tinto. Delícia! Nem lembrava mais qual foi a última vez em que comeu camarão e lagosta ou tomou vinho. E esse era dos caros. Gostou. Depois do almoço → por volta da uma da tarde → seguiram para a “Anhanguera”, uma das praias mais chiques da ci
Retrospectiva. Naquela noite sonhou que era um homem rico e que estava rodeado de belas mulheres. Mulheres sensuais, de corpos magníficos. Mulheres submissas e sorridentes. Fazia de tudo com elas! Sim. Havia se tornado um matador profissional, com dinheiro suficiente para viver bem pelo resto da vida. Matava pessoas e isso o deixava feliz. A imagem de uma cela nauseabunda não surgiu, em sua mente. A hipótese de ser preso não entrou na equação. Seria um excelente sinal? Uma premonição positiva? De repente, o despertador tocou, avisando-o de que teria que lavar carros. Merda! Era novamente um pobre lascado, um homem sem futuro, que residia → a contragosto → numa fétida quitinete
“NH”, 13 de janeiro, terça-feira. Fim da retrospectiva. De volta ao presente. Afastou os pensamentos, quando chegou na rodoviária. Olhou o relógio: 18h20min. O dia quente dava lugar a uma noite mais agradável, com o vento amenizando o calor. Saiu do ônibus e foi ao banheiro. Urinou. Lavou as mãos e o rosto. No pátio, bebeu água gelada, de um bebedouro público. Caminhou por entre a multidão e foi até o ponto de táxis. Escolheu um deles → o da frente → um Siena amarelo. Ocupou o banco do lado e colocou a mochila no banco de trás. → Boa noite! Pode me levar até a cidade de “KL”? → perguntou, de modo gentil, ao motorista.&n
“KL”, 14 de janeiro, quarta-feira. Levantou-se às onze horas de um dia de sol, aproveitando-se do fato de que só iria voltar a trabalhar na segunda-feira. Comprou os jornais, mas nada viu, a respeito dos crimes. Provavelmente tudo seria divulgado na quinta-feira. Almoçou peixe frito, no restaurante da esquina → agora tinha dinheiro para comer nesses lugares → e executou três atividades. Primeira, escondeu a maleta preta → com a pistola, as luvas e os itens do disfarce→ debaixo da cama. Segundo, guardou a mochila no guarda-roupa. Decidiu ficar com o terno, objetivando utilizá-lo em novas empreitadas. Ficou com o dinheiro do tal de Bruno. Queimou a carteira caríssima, mais os documentos. Pretendi
“KL”, 15 de janeiro, quinta-feira. Acordou às nove horas. Cedo, para não perder o dia de sol. Animado! Apesar da ressaca e da dor de cabeça. Achando que a vida merecia, sim, ser vivida. Pretendia sair daquele emprego de bosta em breve. Pretendia também vender a casa, a mobília e o carro que o tal de Paulo lhe dera e mudar de cidade. E dane-se o babaca do Luís Gruter! Acreditava que não criaria caso. Só teria que inventar uma história convincente. Talvez se tornasse um assassino profissional. Ou → quem sabe? → um grandioso chefão do tráfico. Ou montaria um bar. Serviço honesto. Que tal os dois? Pensaria no assunto com mais cuidado, no futuro. Por enquant