Levy não era o tipo de filho que procurava as pessoas para que ele pudesse contar segredos ou confidenciar sentimentos. Ele costumava ser o confidente e gostava de escrever todas as suas impressões sobre as pessoas em um diário que costumava esconder dentro de um livro. Parecia um espião. Mas Clarice estava atenta há algum tempo e um dia o surpreendeu entrando em seu quarto quando todos pareciam dormir.- Quem é ela?- O quê? - A garota que tem feito você suspirar de repente.- Ah, isso... Não é uma garota.- Gosta de meninos?- Não! Não existe garota nenhuma, mãe. Nem garoto algum. Estou escrevendo um livro. Um romance. Ainda não está pronto e eu não vou lhe mostrar nada.- Livro? Isso é sério? - É. Acha muito estranho?- Não, querido. Acho fofo. Criativo. Acho que eu nunca saberia como começar a escrever.- É só começar, mãe. É só começar a escrever.- Vou tentar.- Quer deitar um pouco aqui do meu lado?- Q
Clarice ainda estava sedada e não ouviu ou viu o marido chorando que nem um bebê em completo desespero. Como ele conseguiria sobreviver se algo acontecesse a sua mulher?Era uma dor profunda. Muito pior do que o infarto que sofreu quando estavam separados. Amava-a e a sua traição estava mais ligada a sua incapacidade de falar de seus sentimentos do que estar apaixonado por outra pessoa. O sexo era apenas um escape e acreditava que Clarice havia entendido isso depois de tanta conversa e terapia.- Fica calmo, Klaus! É comum essa instabilidade emocional acontecer.- Clarice nunca ficou tão sensível. Eu quero me afastar do hospital durante um tempo, Felipe. Eu posso deixar os meus pacientes em suas mãos? - Claro! Vai ficar tudo bem.- Eu preciso ficar com Clarice. Eu preciso que ela entenda que eu a amo e que ela ficará feliz ao meu lado e dos nossos cinco filhos. Meu Deus! Quase foram sete.- Fica calmo!- Clarice, amor da minha vida, eu não existo sem você. Não existe o médico, o mari
Com o final do ano chegando, começavam os preparativos para o Natal que geralmente eram comemorados no apartamento de Catarina porque era o maior e abrigava bem todos os convidados.Apesar de serem judeus, era comum ver a família de Clarice envolvida nos preparativos das guloseimas desde que ficou amiga de Catarina.Rebecca amava o Natal da família de sua melhor amiga. Vestia sempre um vestido vermelho quando pequena, mas há dois anos havia trocado o vermelho pelo verde que combinava com os seus olhos e dava aos seus cabelos um charme especial.Logo após o Natal Clarice seria posta em repouso por causa dos gêmeos. Catarina já havia contratado uma babá para cuidar do seu filho Rodrigo e duas enfermeiras para ajudá-la para qualquer evento surpresa que poderia acontecer quando Felipe e Klaus estivessem trabalhando.Ninguém queria surpresas. Apenas um nascimento tranquilo e programado no hospital.Logo depois do Natal viria o aniversário de Rebecca. Mas ela já havia avisado que não desejav
Rebecca acordou preguiçosamente às nove horas da manhã, percebendo a movimentação vindo da sala.Levantou.A sala estava repleta de flores. Girassóis, rosas amarelas e cor-de-rosa, flores do campo e violetas. Passou a mão sobre cada uma, caminhando descalça pela sala com os olhinhos brilhantes, de camisola e com os cabelos presos num coque alto e bagunçado por dois pauzinhos japoneses. Nem percebeu que era observada por alguém que se encontrava sentado na varanda.- Pensei que fosse hibernar.- No verão? - Bem, o quarto estava bem frio.- Foi no meu quarto?- Queria saber se estava dormindo ou de preguiça. Dorme que nem um bebê agarradinha ao ursinho... Ei! Eu lhe dei aquele ursinho. Achei que não gostasse de mim.- Mãe?- Eu fiquei curiosa. Os seus irmãos foram para a praia. Você não quer ir?- Não. Quero ficar de preguiça em casa.- Nem quer dar uma voltinha?- Não. Quero ficar de preguiça o dia todo. Nada de saidinha. Já avise
O almoço de aniversário de Rebecca teve poucos convidados. A avó paterna Norma, a mãe, os irmãos, Cecília, Catarina, Rodrigo e Anna, os avós maternos e Paulo. O pai e Felipe estavam no centro cirúrgico e só chegariam à noite.O clima foi de leveza. Muitas gargalhadas com histórias engraçadas na companhia de Rebecca. Rebecca acordando assustada no meio da aula por causa de um monstro de duas cabeças, gritando no cinema durante algum filme de terror, colocando sal no bolo e açúcar no peixe, correndo pela casa com lençol branco dizendo ser o Gasparzinho. No geral, era uma garota doce e que tinha uma uma voz maravilhosa. Paulo apertou sua mão quando se sentaram no sofá. Catarina havia feito seu famoso pudim de leite. Rebecca não puxou a mão de volta e, quando todos foram embora para se encontrarem mais tarde para o jantar, ela deixou que ele a beijasse no rosto antes de ir embora com a sua irmã, mãe e sobrinhos.O buffet chegou lá pelas cinco. Rebecca ainda dormia um p
Finalmente Klaus parecia em paz com o crescimento de sua família. Clarice havia deixado o escritorio de advocacia mais uma vez e, embora os filhos mais velhos a ajudassem bastante, foi necessário contratar uma babá.Os gêmeos se desenvolviam rapidamente no meio daquela agitação toda. O garoto, Samuel, dormia bastante preferindo o colo de Guilherme que saía cada vez menos ao do pai ou do Levy. Enquanto a menina, Sophia, gostava de dormir coladinha com a mãe. O interessante é que os gêmeos viam em Rebecca a continuação da mãe e por vezes a chamavam de "mamã" fazendo todos rirem muito.Saber disso fez Paulo rir muito e, embora Rebecca não quisesse vê-lo, aparecia sempre com a mae desculpa de que ela queria ver os bebês que começavam a andar.- Anna, não veio?- Ela ainda não chegou? Ela e Catarina deveriam estar aqui.- Eu não sei. Acabei de acordar. Os dentes estão nascendo e estamos enlouquecidos. Eu nem fui à escola.- Onde eles estão? - N
Os gêmeos já tinham quase três anos e riam das brincadeiras promovidas pelos irmãos mais velhos e de dançar com a irmã na sala no final de cada dia enquanto a mãe preparava o jantar. E foi aproveitando esse clima que Paulo apareceu com Catarina e Cecília. Rebecca estava linda naquele vestido longo de laise branca com Sophia em seu colo dançando uma música cantada pela Angela Ro Ro. Paulo ficou no canto as observando. Gostava de admirar a namorada com a irmãzinha no colo.Talvez, por imaginar que um dia a criança pudesse ser filha deles.- Paulinho!- Oi, princesa. - Dança com a Becca! Tô cansada.Paulo se aproximou de Rebecca depois que a pequena foi para o chão, correndo para a cozinha para beber água. - Senti a sua falta.- Eu também. Estava ajudando a mamãe. - Eu sei. Só consegui fugir da mamãe agora.- Adoro essa música. - Também quero devorar você. - Acho melhor você se comportar. Temos platéia. - Nem nos meus sonhos ma
A ligação deixou a secretária do Dr. Cohen pai nervosa o suficiente para entrar no escritório gritando.- Pegaram a Sophia. Pegaram a Sophia.- Por favor, quem está falando?- Aqui é da escola onde os gêmeos estudam. Alguém esteve aqui se passando pela babá e levou apenas a Sophia. Alguém liberou e eu ja chamei a polícia, mas a babá acabou de chegar com a Catarina e a Rebecca e Rebecca desmaiou. Precisamos do Dr. Klaus.- Ele está num congresso fora do país. Eu nao fazia ideia que a segurança dessa escola fosse tão ruim pelo dinheiro que é pago. Estou indo para aí com o meu advogado e seguranças. Gustav socou a mesa com força e deu ordens para a secretária entrar em contato com Klaus sem dar maiores detalhes. Não queria que o filho infartasse novamente.Rebecca ainda se encontrava trêmula com todos todos os outros filhos a sua volta quando o sogro chegou intimidando a todos parecendo uma mafioso alemão. Ao lado trazia dois homens grandes e fortes vestid