O dia amanheceu nublado e chuvoso, trazendo uma melancolia para Clarice que não a desejava. Klaus a viu chorando e escondendo o rosto. Odiava quando ela ficava assim. Chorosa e apagada.Talvez fosse o ciclo se aproximando...Klaus se levantou, a puxou lentamente para perto dele e a abraçou. Clarice soltou um soluço doloroso.- Eu sinto muito, Clarice. Eu sinto muito.- Eu não quero ver ninguém. Cuide deles!Klaus se levantou da cama, tomou um banho, vestiu-se, foi acordar os filhos e preparar o café. Antes de sair para levá-los à escola, foi ate o quarto ver Clarice. Ela dormia profundamente.Ele a beijou e saiu com os filhos.- O que a mamãe tem?- Faz dois anos que Clarice descobriu que o bebê que esperava estava morto em seu útero. Ela teve uma hemorragia e isso acabou a esterilizando. O pior foi que eu não estava lá. Eu menti para ela. Eu não tive coragem para falar com ela que iria ficar mais tempo em São Paulo e mandei a secretária ligar e dizer.- Você estava com aquela mulher.
Clarice saiu do Fórum às quatro da tarde e pouco tempo depois entrava no táxi para encontrar a amiga Catarina e os filhos num shopping na Barra da Tijuca. O táxi parou na porta de entrada, ela pagou e ainda na entrada percebeu que alguém começava a segui-la. Respirou fundo. A audiência havia demorado tempo demais e ela estava cansada e sem paciência. Na frente de uma loja, quando ela parou para ver um vestido que lhe chamou atenção, que percebeu que sua perseguidora era ex-amante do marido.O que ela queria? Clarice pagou a compra e atendeu o celular.- Oi, querido. Enfatizou exibindo um sorriso. - Tudo bem? Estou um pouco cansada. No shopping. Disse parando em frente de uma loja de sapatos para saber se a maluca ainda a seguia. - Não. O cara é um grande filho da puta, mas ele está certo. Disse, sentindo o seu sangue subir. - Não. Catarina está me esperando naquele restaurante de sempre. Não! Disse o fazendo entender do outro lado da linha que havia algo errado. - Adivinha! Ele se l
Clarice saiu do Fórum às quatro da tarde e pouco tempo depois entrava no táxi para encontrar a amiga Catarina e os filhos num shopping na Barra da Tijuca. O táxi parou na porta de entrada, ela pagou e ainda na entrada percebeu que alguém começava a segui-la. Respirou fundo. A audiência havia demorado tempo demais e ela estava cansada e sem paciência. Na frente de uma loja, quando ela parou para ver um vestido que lhe chamou atenção, que percebeu que sua perseguidora era ex-amante do marido.O que ela queria? Clarice pagou a compra e atendeu o celular.- Oi, querido. Enfatizou exibindo um sorriso. - Tudo bem? Estou um pouco cansada. No shopping. Disse parando em frente de uma loja de sapatos para saber se a maluca ainda a seguia. - Não. O cara é um grande filho da puta, mas ele está certo. Disse, sentindo o seu sangue subir. - Não. Catarina está me esperando naquele restaurante de sempre. Não! Disse o fazendo entender do outro lado da linha que havia algo errado. - Adivinha! Ele se l
Mais um Natal estava chegando e, apesar deles não comemorarem a data, haviam comprado presentes e arrumado todos embaixo da bela árvore de Natal que eles montaram num canto da sala.Os filhos estavam fazendo as provas finais e o trabalho de Clarice estava prestes a fazer uma pausa pelo recesso antes das festas de fim de ano.Klaus trabalhava diariamente seguindo os planos de sono e alimentação saudável da mulher e retornava à praia duas vezes na semana para jogar voleibol com os amigos que havia feito na época da separação. Nem sempre Clarice o acompanhava, mas quando o fazia, Klaus podia perceber que ela atraía olhares de seus "amigos".- Então fez as pazes com a patroa?- Você está me culpando?- De jeito nenhum, meu amigo. Eu só não sei se estaria na praia se fosse o marido dela.- Os exercícios físicos são propostos por ela, meu amigo.- Todos?- A maioria. - Cara de sorte! Acha que ela poderia conversar um pouco com a minha?-
Clarice arrumou a mesa para o jantar. Klaus já deveria estar chegando do hospital, mas não chegou. Todos jantaram e foram para os seus quartos. Ela ficou ali na sala o esperando. Nada. Ligou para o hospital, mas ninguém sabia onde ele estava. A secretária já havia ido embora e ninguém estava na sala de seu pai ou no consultório. Ela agradeceu.Lá pelas onze ela ligou de novo. Nada.Ligou às duas. Nadinha.Apareceu no hospital às oito a fim de matá-lo. Entrou no Centro cirúrgico e viu cada sala, nada. Foi no consultório, cantina, sala dos médicos, escritório do seu sogro. Nada. Ligou para o celular dele e ninguém atendeu.- Filho da puta! O que esse filho da puta está aprontando? Klaus, Klaus... Não me faça dar um tiro nas suas bolas...Chegou em casa, tomou banho, vestiu uma roupa confortável e ficou olhando para o teto imaginando-se viúva. - Duvido que ele esteja morto. Celular sem bateria, carro batido... Delegacia por briga na rua? Vamos ver que horas eu vou saber notícias suas, Dr
Catarina chegou cedo para irem juntas ao médico. Klaus tentou ir junto, mas foi impedido. Clarice andava nervosa e se encolhia ao ouvir a sua voz. Na sala de espera elas pegaram uma revista e Clarice viu um lindo vestido de crochê e sorriu.- Eu quero fazer este vestido para a minha menina. O que acha?- Lindo! Mas não é muito cedo?- Se ela não nascer eu posso dar para alguém, mas tecer me deixa calma. Eu quero me manter calma.- Clarice, você ainda gosta dele? - Se eu não gostasse, Catarina, seria mais fácil. Eu iria embora e foda-se o Klaus. Mas eu o amo e isso me magoa muito. Eu quis ser forte, tratar tudo com frieza, mas eu não consigo. Talvez seja os hormônios da gravidez. Mas às vezes acho que seria melhor se o mandasse embora. Eu não sei. - Procure relaxar. Eu sei o que é pirar durante a gravidez. Eu deixei Felipe maluco. - Ele me contou. Por favor, pare de se esconder no corredor. Eu sinto o seu cheiro. Sente logo aqui ao meu lado e não abra a boca a chorar.Klaus entrou n
Clarice era a grávida mais bonita do Rio de Janeiro. Aquelas cabelos vermelhos, aqueles olhos de gata verdes, o jeito elegante de se vestir e andar, davam à ela uma atenção mais do que especial.Passado o estranhamento dos primeiros meses de gestação que a fez se sentir mais frágil, agora Clarice era uma guerreira e Klaus um marido devoto e apaixonado. Um cavaleiro leal para qualquer batalha. E ele se mostrava muito disposto a enfrentar qualquer exército por ela.Fora isso, os filhos estavam a deixando meio doida. Levy se arriscando em conquistas diversas agora que começava a crescer, começando a levar a natação mais a sério. Guilherme se mostrando fiel e leal a Cecília. Rebecca se mostrando arredia e agressiva com a chegada do irmão de Catarina para as férias. O fato é que, embora o irmão mais novo de Catarina ser fruto das escapadas de Pedro, pai de Catarina, a convivência com ele era muito boa e os irmãos se davam muito bem. Anna, a mãe de Catarina, era tratada por ele com todo am
Levy não era o tipo de filho que procurava as pessoas para que ele pudesse contar segredos ou confidenciar sentimentos. Ele costumava ser o confidente e gostava de escrever todas as suas impressões sobre as pessoas em um diário que costumava esconder dentro de um livro. Parecia um espião. Mas Clarice estava atenta há algum tempo e um dia o surpreendeu entrando em seu quarto quando todos pareciam dormir.- Quem é ela?- O quê? - A garota que tem feito você suspirar de repente.- Ah, isso... Não é uma garota.- Gosta de meninos?- Não! Não existe garota nenhuma, mãe. Nem garoto algum. Estou escrevendo um livro. Um romance. Ainda não está pronto e eu não vou lhe mostrar nada.- Livro? Isso é sério? - É. Acha muito estranho?- Não, querido. Acho fofo. Criativo. Acho que eu nunca saberia como começar a escrever.- É só começar, mãe. É só começar a escrever.- Vou tentar.- Quer deitar um pouco aqui do meu lado?- Q