QUANDO SAIU DO HOSPITAL, John ficou sem saber do seu pai por longos vinte anos – até ser noticiada a sua morte em todos os jornais, vítima de um desastre aéreo, morrendo tão rico de bens, quanto pobre de espírito.
JOHN VIA SUA MÃE TODA SEMANA às escondidas, ela sempre lhe trazia uma pequena mesada para que pudesse sobreviver bem, afinal, coração de mãe sempre é diferente de coração de pai.
–– Minha querida – disse sua mãe à enfermeira certo dia – não sei como agradecer tudo o que fez pelo meu filho, sei que meu marido foi duro com a senhora, peço perdão em nome dele, afinal de saber que é tentar justificar o injustificável, mas saiba que seu carinho e amor para com meu filho não serão esquecidos por mim.
As duas mães de John se abraçaram em lágrimas e viraram irmãs de alma e espírito, apesar de saber que negros e brancos não tinham amizades naquele Estados Unidos da América, as duas simplesmente decidiram dar uma trégua ao que o mundo achava e se focaram simplesmente em John.
Sua mãe estava muito feliz de ver seu filho com saúde, talvez não concordasse muito com a decisão do filho de embarcar naquela vida simples e talvez sem futuro, quase messiânica, mas para ela o importante é que o filho estava vivo, e quando decidisse voltar para casa, estaria de braços abertos para ele.
Mas ele nunca voltou, não só por orgulho (pois havia herdado do pai), mas por amor próprio.
John até entendia o remorso do pai com relação a tudo, afinal, a guerra tirou dele quase todas as coisas que possuía, deixando-o à mingua, passou fome com o exército de Lee, teve sua fazenda roubada e incendiada, e o Exército da União matou sua primeira família a sangue frio bem na sua frente.
Sua mãe contou certa vez que o conheceu enquanto tentava dar um golpe em sua mãe, e após ser expulso de sua casa, ela ficou comovida com aquele belo rapaz e foi ajudá-lo a ganhar a vida assim como seu avô já conquistara Nova York.
A situação no Sul era desesperadora para todos naquele momento, principalmente para as mulheres, que se não casassem com o primeiro infeliz que aparecia, poderia não se casar mais, e assim, ela agarrou o primeiro que apareceu e a grosso-modo foi muito feliz ao seu lado.
Muitos chamariam de sorte a maneira como ele enriqueceu mais que seu pai, mas John gostava de chamar aquilo de tropeço abençoado, afinal, quem em sã consciência acreditaria que ele pudesse ficar rico vendendo ideias, e foi dessa maneira que o pai de John fez fortuna, inventou uma história dele ser formado em Direito e dessa maneira começou a dar conselhos jurídicos para várias empresas, quando o avô de John morreu, seu pai assumiu a empresa já em situação confortável, transformando assim as duas empresas em um império.
JOHN COMEÇOU SEU MINISTÉRIO sem ter nem mesmo uma peça roupa para usar, mas a enfermeira cuidou dele no hospital – que se chamava Clarisse – o acolheu em seu humilde apartamento, junto com seu marido e seus três filhos pequenos, e ambos começaram a fazer uma revolução espiritual nos subúrbios de Nova York.
John só tinha um pensamento:
Se o seu pai conseguiu se levantar do nada depois de tudo o que passou, ele sem sombra de dúvidas também conquistaria o mundo...
Ele só não imaginaria que seu destino era outro.
CHRISTIAN CHEGOU EM SUA CASA com uma alegria indescritível transbordando em seu coração, mas teve uma grande e inesperada surpresa desagradável que mudaria a sua vida para sempre. Havia duas viaturas da Polícia estacionadas em frente à sua casa e inúmeros vizinhos – para não dizer, uma pequena multidão – o esperando.Não é possível que minha mãe tenha comentado com todos os vizinhos que eu estaria fazendo uma entrevista no New York Times e todos eles vieram para comemorar...Aquele tumulto era completamente inesperado, afinal, tanto ele, quanto seus pais eram bons vizinhos para todos, não tinha motivo algum aparente para tanto alarde.O que será que está acontecendo?A inquietude tomou conta por completo do coração de Christian, ele foi abordado por um policial grandalhão:&ndash
CHRISTIAN REPETIU as palavras que pensou em voz baixa sem perceber, e, quando caiu em si novamente estava desesperadamente em prantos.O policial estendeu a mão até seu ombro esquerdo tentando inutilmente consolá-lo, ambos perceberam que foi um ato mais constrangedor do que consolador.–– Sinto muito, meu jovem – disse mais uma vez o policial respeitosamente, entendendo que aquele era um momento de muita dor.Logo em seguida, Christian assentiu e o policial saiu silenciosamente sentindo que o mundo havia sido derrubado sob os ombros daquele jovem.Lá fora, o policial pediu:–– Por favor, senhores, vamos deixá-lo em paz por algumas horas, depois podem dar os pêsames, mas nesse momento, ele precisava ficar sozinho.***HORAS DEPOIS, NÃO TINHA mais ninguém na frente da casa, apenas um carro Ford preto, com duas pessoas dentro.
AS EXPLOSÕES ESTAVAM EM TODOS os lugares, ele não sabia que dentro de poucos dias a Grande Guerra terminaria, mas ele estava no auge do inferno na terra, seu país estava perdendo feio, grande parte de seus amigos já tinham morrido em bombardeios, outros fuzilados na sua frente enquanto estavam escondidos dos exércitos ingleses.Seu pai em um ato de desespero puxou sua família, e ele que, estava doente acabou levando um tiro e seus pais e irmão tinham ido embora para sempre, não poderiam voltar para buscá-lo, senão, poderiam todos morrer, eles tomaram uma decisão e talvez se estivesse na pele deles faria a mesma coisa, só que era ele que havia sido abandonado e aquilo seria um preço que um dia ele certamente iria cobrar.Mas era ele quem estava ali para ser morto pelo inimigo sem ter condições de se defender...Foi então que um milagre acontece
CHRISTIAN DECIDIU VOLTAR andando sozinho para casa, recusou inúmeros convites de carona das poucas pessoas presentes no enterro. Christian queria ficar absolutamente só, talvez para poder se acostumar com a solidão que teria que enfrentar dali em diante.Por mais que as pessoas o cumprimentassem e lhe dessem seus pêsames, nada abrandava aquele sentimento de solidão que ficava no ar. Um garoto estrangeiro que já tinha perdido tudo na Grande Guerra, e agora, estava tudo acabado em seu coração... as migalhas que sobraram jamais poderiam alimentar uma multidão faminta. Teria que começar sua vida do zero novamente, só que dessa vez sem ter ninguém ao seu lado.Seu amigo, Pastor B. Smith, disse:–– Pode contar sempre comigo, irmão.Christian apenas colocou a mão direita em seu ombro esquerdo e seu curto e forçado sorriso já lhe disse tudo..
TODAS AS NOITES ELE SONHAVA com o grito desesperado do irmão, o que o deixava ainda mais em fúria com tudo o que tinha acontecido, sua família o abandonou por achar que estava morto, a vida o abandonou por achá-lo fraco, seu país o abandonou porque nem sequer conseguiu proteger a si mesmo perdendo a guerra, em sua mente até Deus o abandonou por ser uma máquina perfeita de matar e de sexo, duas coisas que simplesmente em sua mente perturbada não combinavam com Deus, mas combinava certeiramente com o diabo.Ele acariciou sua arma, eles eram um só, se aquela pistola tivesse uma alma, Hermann diria que eram almas gêmeas, feitos um para o outro, como um lindo sonho, quase morrera por causa dela, mas se tinha alguma motivação em estar vivo era também por causa daquela arma.***HERMANN ACORDOU E PERCEBEU que estava em uma boa casa do campo, seu corpo estava melhor do que nunca, t
HERMANN E CLARA ESTAVAM almoçando quando Norbert chegou do trabalho, estava tudo tranquilo, o clima estava harmonioso, era muito bom ver o garoto bem novamente.–– Senhor Norbert, eu...Norbert o abraçou.–– Que bom que está bem, filho, não sabe como alegra meu coração ao vê-lo assim, fiquei muito preocupado, mas agora estará tudo bem, a guerra acabou e estamos todos a salvo.–– Mas estamos enfrentando uma séria crise.–– Crises sempre existiram e sempre existirão, isso faz parte do crescimento da sociedade, o importante é que estamos vivos, as demais coisas automaticamente se consertam com o tempo, e outra, essa é uma lição que aprenderá com o tempo, crise é uma ótima oportunidade, alguém sempre ganha alguma coisa.OS TRÊS PASSARAM A SEREM visto
CHRISTIAN ABRIU A PORTA e aquela seria a primeira vez que entraria naquela casa sabendo que não teria realmente ninguém para recebê-lo com um abraço caloroso e aconchegante depois de um dia estressante.Assim que Christian fechou a porta atrás de si, uma voz tranquila ecoou no ar em meio à escuridão que fez sua alma sair de seu corpo e voltar como um turbilhão:–– Sente-se, Christian Fairbanks... ou, devo chamá-lo de Hans Strausbank?Christian ia acender a luz, mas, naquele exato momento, alguém se antecipou e a luz foi acesa antes que ele pudesse tomar qualquer decisão ou ter qualquer reação.Apesar do susto inicial, achando que sua alma tinha saído de seu corpo devido à voz, ao olhar quem falava, não tinha nada demais em sua aparência que lhe causava medo pela familiaridade que lhe causava por causa do
HERMANN FOI ADOTADO por um membro de uma comunidade exotérica chamada Thule, Norbert, que tinham alguns membros um tanto quanto exóticos, homens que acreditavam na superioridade da raça ariana e pouco tempo depois montaram um partido político que vinha dando o que falar. Seus métodos eram pouco convencionais, mas estava surtindo efeitos catastróficos.Ser um assassino profissional dava a ele toda a liberdade de fazer o que bem entendia, tinha seus horários, transava com quantas mulheres desejava, ainda mais depois do que fazia com elas, sempre acabava tendo um quero mais.No começo foi complicado, pois por ter sido adotado, todos achavam que seus pais eram traidores da pátria, indignos da supremacia da raça, o que Hermann concordava plenamente, mas deixou isso de lado e decidiu reconstruir sua vida junto com aquele país em ruínas, e a ascensão do