A União de Estados do Brasil adotou para a sua polícia a mesma estrutura de hierarquia e de funcionamento recomendada a todos os Estados membros da Comunidade Euro-Atlântica, portanto, quando uma ou mais duplas de oficiais chega a uma cena de crime sem flagrante, um alerta deve ser imediatamente passado para a Central de Polícia do Município, que o repassará aos investigadores disponíveis, a outras viaturas que estejam próximas do local e para a perícia.
Assim, quando o detetive Enoque Vos chegou ao endereço informado pelo alerta, o fez quase que simultaneamente ao veículo da perícia e deparou-se com quatro viaturas no local, cujos oficiais responsáveis já haviam feito o devido isolamento da área, cuidando de manter os curiosos do lado de fora dela, ao mesmo tempo em que procuravam saber se alguém tinha visto ou ouvido alguma coisa.
Quanto aos dois oficiais que haviam chegado ali primeiro, Pedro Kalka fazia a guarda em frente à porta da residência de Clara e Débora, enquanto José Tenório, que tinha repassado o alerta para a central, conversava com o capitão de polícia aposentado, Alfredo, e sua esposa, Madalena.
José era apenas alguns anos mais novo que Enoque, tinha a pele clara, mas não muito, e era moreno, usando um cavanhaque junto ao cabelo em estilo undercut. Tão logo percebeu Enoque estacionando seu carro, virou-se em direção a ele, pondo-se a esperar a aproximação do detetive, coisa que não demorou a acontecer.
- Detetive Enoque… - disse o oficial José Tenório, cumprimentando o investigador com um leve aceno de cabeça, enquanto o olhava nos olhos, deixando claro que era mais dentre os vários membros da força policial que o detestavam.
- Oficial Tenório! - respondeu Enoque, em tom de voz e sorriso condescendentes. - Diga, meu bom, o que temos aqui? - indagou, com um tom um pouco provocativo, o que fez com que o oficial apertasse os lábios, sem desviar o olhar dos olhos zombeteiros do detetive.
- Eu não sei nem como explicar direito o que temos aqui. - disse o oficial, tentando manter-se profissional - Mas, assim, imagino que você se lembre do nosso antigo capitão, não é mesmo?! - falou, estendendo a mão direita em direção a Alfredo, que acenou de leve com a cabeça quando Enoque, enfim, o encarou, com um sorriso forçado - Pois então, ele e a esposa ouviram disparos e ele desceu para ver do que se tratava, foi quan…
- Eu vi alguém encapuzado saindo da casa da Clara e da Débora. - interrompeu Alfredo - Só não consegui ver se era homem ou mulher, mas vi que dobrou àquela esquina. - disse, apontando com a cabeça para a esquina atrás de Enoque.
- Certo, e as duas foram mortas ou o quê? - perguntou Enoque, já ficando impaciente - Deixa eu ir logo ver o que aconteceu lá dentro! - disse, pondo-se a andar em direção à casa e esbarrando propositalmente no oficial Tenório.
- É, é melhor mesmo! - disse o oficial, contendo um xingamento e, logo depois, seguindo atrás do detetive, com Alfredo em sua cola.
Assim, após passar por Pedro Kalka, que se encontrava plantado na porta da casa, Enoque viu que a perita já se encontrava lá dentro, agachada, fotografando e analisando um manequim feminino ultrarrealista que se encontrava sentado no chão e encostado na parede ao lado da porta de entrada.
Havia uma poça de sangue sob as pernas do boneco e Enoque logo reparou que ela estava vestido com o uniforme das vendedoras de uma loja de roupas muito conhecida e a camisa estava empapada de sangue no peito, ao redor de onde havia uma aparente perfuração por projétil de arma de fogo. Deduziu que deveria haver uma perfuração no abdômen também, visto que a mão esquerda do boneco estava sobre ele da mesma forma que alguém colocaria se estivesse sentindo algum desconforto nessa região. Além disso, essa mão apresentava sangue entre os dedos, como se ela tivesse sido usada para conter a hemorragia.
Também havia uma perfuração no centro da testa, o manequim apresentando a cabeça caída sobre o ombro esquerdo e, perto dela, havia uma mancha de sangue na parede.
- O disparo deve ter ocorrido à queima-roupa. - pensou alto um Enoque visivelmente atônito com o que via e um pouco confuso - Quero dizer, é como se esse boneco tivesse realmente recebido um disparo na cabeça à queima-roupa e…
- Tudo bem, detetive. - disse a perita, levantando-se. Ela era uma mulher de estatura média e olhos asiáticos, que portava um tênis branco, uma calça jeans azul, uma camiseta preta e uma jaqueta jeans azul escura, com uma mochila tiracolo preto e usando os compridos e lisos cabelos pretos presos num rabo de cavalo. - É normal ficar um pouco confuso com esses manequins absurdamente realistas da Pygma’s Lion, ainda mais numa situação como esta.
- Você já viu algo assim? - indagou o detetive.
- Não, é a primeira vez. - respondeu a perita - Mas o realismo de toda essa cena, o trabalho que o autor se deu de disparar… Eu diria que ele preparou o manequim antecipadamente, maquiando ele com manchas de sangue e, então, disparou apenas após a cena toda estar montada. - explicou, enquanto batia mais algumas fotos.
- É… Parece fazer algum sentido - disse Alfredo - Mas isso também não quer dizer que a Débora ainda está viva, que foi sequestrada por quem fez isso? - questionou, atraindo os olhares dos presentes para si. - Aliás, detetive, eu não quero te ensinar a fazer o teu trabalho, mas seria bom investigar essas duas também, a Clara e a Débora...
- Por que você diz isso? - indagou Enoque.
- Porque esse manequim aí é idêntico à Débora, tá até vestido como ela se veste para o trabalho - explicou Alfredo, gesticulando em direção ao boneco - Então, ou essas duas pequenas se meteram com quem não deveriam e isso tudo aqui é alguma espécie de mensagem pra sabe-se lá quem ou…
- Estamos lidando com um criminoso que sofre de alguma doença mental! - completou Enoque, notando a bolsa feminina sobre a mesa próxima ao manequim.
- Ou com um psicopata violento… - comentou a perita.
- Não dá no mesmo? - perguntou o oficial Tenório.
- Não, não dá no mesmo. - respondeu Emilly - Um doente mental, um psicótico, sofre com delírios, alucinações, não sabe o que faz, vive numa realidade paralela. Um psicopata sabe muito bem o que faz. Além disso, ele não apresenta crises, o transtorno de personalidade anti-social é constante ao longo da vida e não afeta outras funções cerebrais, como, digamos, a capacidade de raciocínio. - explicou.
- Então, um psicopata planejaria o crime, mas o doente mental não? - indagou Enoque, enquanto passava por trás da colega de trabalho e ia em direção à mesa, colocando as luvas forenses.
- Na maioria das vezes, sim. - disse Emilly.
- Ou seja, estamos provavelmente lidando com um psicopata, porque, se quem fez tudo isso que estamos vendo se deu ao trabalho de produzir ou encomendar um manequim idêntico à vítima, significa que ele vinha observando ela e a amiga por um tempo considerável - disse Enoque, começando a mexer na bolsa - que foi algo minuciosamente planejado e que a amiga dela pode ser o próximo alvo. - concluiu.
- Isso se não tiver sido a primeira… - comentou Tenório.
- O que não exclui a possibilidade de isso tudo ser uma mensagem para alguém! - disse Alfredo, enquanto se dirigia para o que parecia ser a cozinha, dando a volta no balcão e abrindo a geladeira. - Mas também pode ser um caso isolado, que tinha apenas a Débora como alvo. - pontuou, enquanto Enoque exibia o telefone celular que encontrara na bolsa.
- Deve estar bloqueado. - deduziu a perita, estendendo a mão para que o detetive entregasse o aparelho a ele.
- É, está. - disse Enoque, entregando o celular à colega de trabalho - Quanto tempo até esse aparelho ser desbloqueado?
- Uns dez minutos. - respondeu a jovem, enquanto retirava um tablet de dentro da própria mochila - Vou aproveitar para usar o novo programa de desbloqueio desenvolvido para uso das polícias dos países membros da Comunidade Euro-Atlântica, sabe, esse program…
- Emilly! - disse Enoque, interrompendo a mulher de maneira firme antes que ela começasse a falar sem parar, eventualmente mudando para assuntos completamente diferentes do inicial - Apenas desbloqueie o aparelho, ok?
- Detetive, você pode vir até aqui um instante? - disse Alfredo, segurando uma garrafa de bebida alcoólica adocicada já aberta.
Enoque seguiu até onde o capitão aposentado estava, parando diante do balcão da cozinha e o olhando com recriminação para a mão que segurava a garrafa.
- É… Pelo visto, você continua se achando superior a toda a corporação, não é mesmo? - observou o capitão aposentado, dando um gole logo em seguida e fazendo uma cara feia - Continua querendo prender as famílias criminosas de Maité e acabar com a Pax Maitensis, porque supostamente é o certo a se fazer, não é mesmo? - outro gole, outra cara feia.
- Foi pra isso que você me chamou aqui? - perguntou Enoque, tentando expressar na face que não se importava com as coisas ditas pelo seu antigo superior hierárquico. - Porque, se foi…
- Escuta aqui, garoto! - interrompeu Alfredo, batendo com uma mão no balcão, enquanto apontava o dedo indicador da outra, que segurava a garrafa, para o peito de Enoque. - Eu gostaria que as coisas não fossem assim? Gostaria, mas o fato é que essas mesmas famílias fizeram muito por essa cidade. Se não fosse por elas, a cidade nem estaria aqui hoje e você não estaria aí, na minha frente, com toda essa superioridade moral!
- E lá vem você com todo aquele blá-blá-blá sobre essa história da carochinha de que essa cambada de criminosos salvou Maité durante a droga de um fenômeno natural! - externou Enoque, abrindo os braços com as mãos espalmadas para cima para, logo em seguida, colocá-las sobre o balcão e passar a encarar Alfredo com rosto rente ao dele.
- A única história da carochinha que contam sobre tudo isso é que teria sido um fenômeno natural... - comentou o capitão aposentado, sem desviar o olhar dos olhos arrogantes de Enoque e sorrindo como se soubesse de alguma coisa que mais ninguém soubesse, deixando o investigador intrigado a ponto de ele desarmar sua postura, momento esse que Alfredo julgou perfeito para prosseguir com a sua fala - Escuta, Enoque, eu gosto de você, assim como gostava do teu pai e da tua mãe e é por isso que eu gostaria muito que, se por acaso essa merda toda aqui estiver de alguma forma relacionada com alguma das famílias guardiãs de Maité, dá um jeito de encerrar o caso ou, pelo menos, cair fora dele. Entendeu?
- Famílias guardiãs? Mas que por…
- Entendeu, Enoque?
- Entendi! - disse o detetive, olhando para Alfredo e pensando sobre o que ele quis dizer com “famílias guardiãs”, nunca havia ouvido ou visto ninguém se referir dessa forma às famílias criminosas que controlavam Maité.
- Detetive, celular desbloqueado! - anunciou Emilly - O que exatamente estamos procurando? - indagou, enquanto Enoque e Alfredo iam até ela.
- Algum contato entre a desaparecida e ela, para começar. - respondeu Enoque, já perto da perita.
- Bem, temos aqui várias chamadas da Clara, que não foram atendidas, e uma que foi. - respondeu Emilly - Tem também algumas mensagens de aplicativo que a Clara enviou para a Débora depois da última chamada ter sido atendida.
- Qual o horário dessas chamadas? - perguntou o detetive.
- A primeira foi às vinte e duas horas e quarenta e cinco minutos. A última, que foi atendida, foi feita três minutos depois. - respondeu a perita.
- O primeiro disparo foi apenas um pouco depois disso, acho que não foi nem cinco minutos depois - informou o capitão aposentado - Eu tinha acabado de tomar o remédio.
- Certo… - disse Enoque, se questionando se Alfredo deveria estar bebendo e anotando mentalmente aquela informação dada por ele - E quanto às mensagens, Emilly? - indagou.
Como resposta, a perita abriu a janela do aplicativo e mostrou as mensagens para o investigador, que viu duas mensagens enviadas às 22h52. Nelas, Clara, dizia para a amiga não a esperar, pois iria dormir na casa do “boyzinho” que ela tinha ido encontrar no Ossos e Rosas e, logo em seguida, informava o nome completo dele, bem como o endereço, marca e placa do carro.
- Fico feliz em saber que as mulheres da cidade seguem pelo menos uma das medidas de segurança em encontros. - comentou Enoque, após ler as mensagens - Eu vou até a casa desse tal de Carlos, confirmar a situação da Clara. - informou, enquanto anotava as informações da mensagem no bloco de notas do seu próprio celular e, em seguida, apontando o dedo para o telefone de Débora e olhando para a perita, disse: - Emilly, depois que você terminar a coleta de evidências aqui, tente descobrir mais alguma coisa através desse aparelho, ok?!
Emilly confirmou com um “ok” e Enoque seguiu em direção à porta, não se dando ao trabalho de se dirigir a Tenório, mas demonstrando algum respeito ao acenar de leve com a cabeça para Alfredo, voltando a pensar no que diabos o capitão aposentado quis dizer com aquelas palavras.
O bar Ossos e Rosas era um dos vários que existiam no Bairro da Boemia, mas se caracterizava por ser o mais famoso e antigo dentre os que tinham donos de origem eslava, sendo um dos mais antigos da cidade e que teria sido erguido pelo próprio Víktor Kotov, que se tornou o chefe da sua família e, consequentemente, dos negócios ilícitos comandados por ela, sendo um dos cinco indivíduos mais poderosos de Maité. É dito que teria sido do próprio Víktor a ideia do nome do bar e do símbolo dos ossos cruzados com rosas entre eles, tanto como uma forma de lembrar a época em que a família Kotov transformava os seus desafetos em adubo para as plantações de rosas das famílias Smirnov e Melnikov, como de anunciar as esperanças quanto
Após ouvir a voz do rapaz dizer que abriria o portão elétrico, o detetive Enoque se afastou da porta perto da qual o interfone ficava e se dirigiu para a frente da entrada, cuja folha metálica já se encontrava deslizando ruidosamente, deixando livre o caminho para o pátio da casa. Já com o portão às suas costas, Enoque escutou o estalo do seu fechamento, enquanto se via com um gramado à esquerda e, à frente, um caminho projetado para o passeio de veículos domésticos, notando que havia um carro vermelho que se encontrava estacionado muito mais à frente, quase passando a casa em si, mas ainda sob uma área coberta. Isso levou o detetive a imaginar que a porta de vidro presente na parte da frente não deveria ser muito usada, que aquela fa
Pelo monitor de segurança, Carlos viu Clara e o detetive Enoque saindo pelo portão, cuja folha metálica começou a deslizar para fechar a entrada logo em seguida, depois que o rapaz pressionou o botão do controle. Na sua mente, o jovem se questionava a respeito do que ocorrera momento antes, pois, embora ele tenha se oferecido para acompanhá-la à cena do crime e ao Distrito Policial por mera educação, a resposta negativa dela havia mexido um pouco com ele. Não foi a recusa em si ou as palavras utilizadas, mas sim a forma como elas foram ditas. Do lado de fora da casa, a jovem sarará seguia o detetive ruivo em direção ao carro dele. - Acho que o teu amigo pode te
Após ouvir o detetive pronunciar o nome de sua amiga de longa data, Clara permaneceu parada diante do homem ruivo de expressão pesarosa na face e o seu olhar estava voltado para o nada, enquanto a mente passeava velozmente pelas lembranças dos momentos compartilhados com Leticia Martins ali mesmo, em Maité, e também na cidade natal que as três mulheres - Débora, Letícia e a própria Clara - compartilhavam. - Você está bem? - perguntou Enoque, o seu rosto passando de uma expressão pesarosa para uma de preocupação. - Ela também está morta, não está? - indagou Clara, a voz carregada de frustração e um toque de impotência.
Enquanto o céu noturno sobre Maité começava a ficar limpo, com a lua cheia surgindo por de trás das nuvens, agora bem menos carregadas, o carro de Enoque singrava pelas ruas em alta velocidade, indo para o local do segundo atentado. Dentro do veículo, Vinicius mexia no rádio, passando de uma estação para outra, procurando algo que realmente valesse à pena escutar, enquanto o detetive ao volante pensava no quão irritante era essa restrição musical do seu parceiro e, no banco traseiro, Clara observava a paisagem urbana ao mesmo tempo em que continuava a vasculhar os confins da própria mente, tentando recordar-se de qualquer outra pessoa de Galatéia que pudesse estar residindo ali. - Talvez não seja alguém de Galatéia… - comentou a jovem, após muito pensar e concluir que, se houvesse mais algué
Com as ruas esvaziadas de qualquer tráfego, Roberto sentia-se livre para dirigir em altíssima velocidade e, valendo-se da situação crítica com a qual a polícia estava lidando, aproveitou para atravessar vários sinais vermelhos com os sinalizadores sonoro e luminoso devidamente ligados. Dificilmente um policial de Maité tinha a oportunidade de fazer isso numa situação oficial que não fosse, por exemplo, o transporte emergencial de uma mulher em trabalho de parto ou a escolta de alguma autoridade, como um governador, senador, presidenciável ou quem estivesse ocupando a presidência da república. - Você está dirigindo bem melhor. - comentou Daniele, entre bocejos no banco do carona. Ela era uma mulher de pele clara, com algumas
...Despertou subitamente, inspirando o ar como se ele fosse o sopro divino primordial insuflado diretamente em suas narinas para dar-lhe a dádiva da vida. Seu peito doía muito, mais especificamente, a área próxima ao ombro. Sem se levantar, ele olhou para lá e viu uma longa e fina agulha fincada no seu corpo. Retirou-a e somente depois disso é que procurou se sentar, a cabeça doeu muito durante o processo e, uma vez sentado, a intensidade da dor foi reduzindo. Ao recordar-se do que ocorrera, Roberto subitamente virou-se para a sua direita, buscando pelo furgão, que já não se encontrava mais ali, e pela sua parceira. Daniele encontrava-se caída sobre a calçada, imóvel. O investigou gelou da cabeça aos pés e, desprovido de qualquer esperança, levantou-se com dificuldade e seguiu cambaleante até onde ela se encontrava. As lágrimas singraram-lhe a
Já passava das nove horas da noite e caia uma fina chuva sobre a Cidadela Acadêmica, o Distrito Comercial e o Bairro da Boemia, três regiões da cidade que ficam muito próximas, com a Avenida da Alegria separando a Cidade Acadêmica dos outros dois, que ficavam cada um de um lado da Rua Vermelha. Essas duas ruas eram algumas das poucas que mantinham o seu nome em todas as partes da cidade, sendo chamadas de “ruas divisórias” ou “ruas divisoras” e Clara pegou-se pensando nisso enquanto olhava a rua e os carros estacionados receberem incontáveis gotas de chuva. Clara, ironicamente, tinha a pele e os olhos escuros e os cabelos crespos da cor do fogo, os quais deixava, no lado direito, trançados na raiz e soltos no lado esquerdo e atrás, mantendo-os não