Perséfone mexia os dedos e o pulso com um sorriso sádico estampado no rosto, aproveitando o prazer de ser livre para usar magia novamente. Deu alguns passos para frente, cambaleando, mas logo recuperou a postura.
O que ela pretendia fazer? Se machucasse alguém, eu perderia completamente a razão de tê-la ajudado.
Olhei preocupada para os corredores e inúmeras celas por perto. O guarda baixinho apareceu, estupefato ao ver Perséfone solta. Ele apenas estendeu a mão à frente do corpo e murmurou para que ficássemos paradas.
Perséfone o empurrou com um simples gesto da mão, como se braços fortes e invisíveis tivessem ido ao encontro do homem que se encontrava a metros de distância. Seu corp
Os cavaleiros da rainha finalmente chegaram para combater o temível ataque mágico de Perséfone. Eles primeiro atiraram para depois perguntar o que exatamente aconteceu. Não os culpo, tendo em vista que tiveram que resgatar duas garotas quase mortas e conter um incêndio que podia muito bem se espalhar e alastrar o vilarejo.Um dos homens me puxou para o mais longe possível, apenas o suficiente para que nada na batalha que se seguiria me atingisse, e minhas narinas encontrarem um pouco de ar puro.Puxei o ar com força pela boca e tive uma crise de tosses antes de recuperar totalmente o fôlego, e quem sabe um pouco da consciência. Minha única preocupação era respirar, e só depois de conseguir fazer aquilo voltei meu olhar para Perséfone.
Acordei sentindo um gosto amargo na boca. Não conseguia enxergar nada ao meu redor além de uma fraca luz no canto do olho, que, aos poucos, conforme recobrava a consciência, se materializou em uma fogueira. Senti a areia escorrendo entre os meus dedos, e o cheiro de folhas podres e terra molhada me associou à floresta assombrada. As memórias de tudo que aconteceu voltavam gradativamente, o que me dava um tempo para relacionar minha situação atual e tentar encontrar explicações plausíveis para estar jogada no meio do nada.Quando a última constatação difícil se fez conhecer em minha mente, sentei e procurei desesperada por qualquer sinal de vida ao meu redor, mas estava sozinha. Era noite, e qualquer criatura horripilante poderia me devorar a qualquer momento.
Se eu perdesse a consciência mais uma vez nas próximas 24 horas, podia me considerar uma garota morta, meu corpo não teria mais forças para acordar.Era madrugada, e eu novamente largada no chão da floresta perto de uma fogueira e também de Perséfone. O cansaço tinha piorado, mas me sobressaltei com um grande sorriso, espalhando as folhas ao pular. Um sapo coaxou, uma criatura horripilante uivou. Eu tinha voltado a ouvir. Não pude segurar a risada, e depois veio um choro histérico de alívio misturado a angústia. Perséfone me observa do seu canto, calada, não dormia.Ela fez alguma coisa comigo, restaurou minha audição. Claro que minha vontade era de me jogar aos seus pés em agradecimento, mas me limitei a sustentar seu o
Eu deveria ter mais medo de Aristóteles, pois foi na minha mente que ele entrou. Simplesmente fiquei paralisada, com medo de que aquele monstro nos matasse.Encontrar uma criatura de dentes afiados e 10 olhos seria mais reconfortante.Quando ele miou e deu um passo a frente, nós duas corremos na direção contrária. Não importava quantos exércitos e flechas esperavam do outro lado, nada era pior do que Aristóteles.Troncos derrubados, poças enormes e galhos pontudos eram alguns dos obstáculos, mas saltávamos e corríamos como se nossa sobrevivência dependesse disso, e dependia mesmo. Após ficarmos cansadas e nos afastarmos o suficiente do lugar que ele estava, paramos um pouco, espiando todos
Enquanto Perséfone ria com escárnio da declaração de Drizella, eu tentava relacionar uma coisa com a outra. Que tipo de pessoa tinha aquele nome tão esquisito? E o que diabos era aquela sociedade?— Você sabe que eu sou procurada por Artémise e quis fazer uma piada, é isso?— Venham comigo. — Drizella revirou os olhos.Demos alguns passos em frente, minha mente ainda entorpecida, tentando aceitar, entender aquelas declarações que eram no mínimo ridículas. Um piscar de olhos depois, olhei para um lado e para o outro e não encontrei mais nenhuma das duas lá. Eu estava sozinha na floresta. Levei as mãos à cabeça já entrando em desespero, mais confu
oda história é contada pelo lado vencedor, e um final nem sempre é feliz. Existem diversas versões do que aconteceu em Sowen. Para uma lenda popular contada de geração em geração, é natural que ocorram distorções e exageros. Mas no geral, o romance proibido entre a princesa Jenny e meu filho aconteceu, e após a morte dele eu realmente transformei a alma dos mortos em sombras como forma de vinganças.Houve uma continuação, após o final. O meu final. Toda história precisa de um vilão, e apesar da crueldade da família real para com meu filho, foi mais conveniente focar na mulher malvada e desconhecida.Eu errei, me arrependi e paguei. Pago até hoje. Meu desfecho foi mais triste do que simplesmente fugi
Perséfone não mencionou uma única palavra, e segui seu exemplo. A história de Yuna era um tanto complicada, eu não tinha certeza se criar a Sociedade funcionava bem como ato de redenção. Se todos eles eram vilões, como poderíamos confiar? Nada me garantia que Perséfone não mataria Amália, caso tivesse a oportunidade.— Eu sei que é muito para um dia só. — Yuna deu tapinhas em nossos joelhos.— Esse lugar é como uma prisão para pessoas malvadas — Perséfone concluiu. — O mal, ele se esconde nas profundezas da alma. Podem estar arrependidos, mas não podemos negar que possuem uma grande tendência em errar. Eu me encaixo nessa definição.
Yuna concordou em nos dar algum tempo antes do grupo de apoio. Perséfone e eu continuamos a compartilhar o mesmo quarto, mas isso não significava que conversávamos muito. Na verdade, eu me sentia até mais sozinha na presença dela, visto que a expectativa da fala só era compensada com silêncio.Talvez, um acordo pudesse ter resolvido aquela indecisão de permanecer ou não na sociedade. Apesar de Drizella ter sido cruel comigo, o restante do pessoal não incomodava. A comida era boa, e o local incrivelmente agradável, sem brigas constantes ou revoltas. O castelo dos vilões era mais calmo que o vilarejo, ou que a minha casa com mamãe tagarelando, papai fingindo ouvir e os meninos correndo. Me peguei pensando em todos eles, revivendo memórias de quando só me preocupava em esconder seus sapat