Se eu perdesse a consciência mais uma vez nas próximas 24 horas, podia me considerar uma garota morta, meu corpo não teria mais forças para acordar.
Era madrugada, e eu novamente largada no chão da floresta perto de uma fogueira e também de Perséfone. O cansaço tinha piorado, mas me sobressaltei com um grande sorriso, espalhando as folhas ao pular. Um sapo coaxou, uma criatura horripilante uivou. Eu tinha voltado a ouvir. Não pude segurar a risada, e depois veio um choro histérico de alívio misturado a angústia. Perséfone me observa do seu canto, calada, não dormia.
Ela fez alguma coisa comigo, restaurou minha audição. Claro que minha vontade era de me jogar aos seus pés em agradecimento, mas me limitei a sustentar seu o
Eu deveria ter mais medo de Aristóteles, pois foi na minha mente que ele entrou. Simplesmente fiquei paralisada, com medo de que aquele monstro nos matasse.Encontrar uma criatura de dentes afiados e 10 olhos seria mais reconfortante.Quando ele miou e deu um passo a frente, nós duas corremos na direção contrária. Não importava quantos exércitos e flechas esperavam do outro lado, nada era pior do que Aristóteles.Troncos derrubados, poças enormes e galhos pontudos eram alguns dos obstáculos, mas saltávamos e corríamos como se nossa sobrevivência dependesse disso, e dependia mesmo. Após ficarmos cansadas e nos afastarmos o suficiente do lugar que ele estava, paramos um pouco, espiando todos
Enquanto Perséfone ria com escárnio da declaração de Drizella, eu tentava relacionar uma coisa com a outra. Que tipo de pessoa tinha aquele nome tão esquisito? E o que diabos era aquela sociedade?— Você sabe que eu sou procurada por Artémise e quis fazer uma piada, é isso?— Venham comigo. — Drizella revirou os olhos.Demos alguns passos em frente, minha mente ainda entorpecida, tentando aceitar, entender aquelas declarações que eram no mínimo ridículas. Um piscar de olhos depois, olhei para um lado e para o outro e não encontrei mais nenhuma das duas lá. Eu estava sozinha na floresta. Levei as mãos à cabeça já entrando em desespero, mais confu
oda história é contada pelo lado vencedor, e um final nem sempre é feliz. Existem diversas versões do que aconteceu em Sowen. Para uma lenda popular contada de geração em geração, é natural que ocorram distorções e exageros. Mas no geral, o romance proibido entre a princesa Jenny e meu filho aconteceu, e após a morte dele eu realmente transformei a alma dos mortos em sombras como forma de vinganças.Houve uma continuação, após o final. O meu final. Toda história precisa de um vilão, e apesar da crueldade da família real para com meu filho, foi mais conveniente focar na mulher malvada e desconhecida.Eu errei, me arrependi e paguei. Pago até hoje. Meu desfecho foi mais triste do que simplesmente fugi
Perséfone não mencionou uma única palavra, e segui seu exemplo. A história de Yuna era um tanto complicada, eu não tinha certeza se criar a Sociedade funcionava bem como ato de redenção. Se todos eles eram vilões, como poderíamos confiar? Nada me garantia que Perséfone não mataria Amália, caso tivesse a oportunidade.— Eu sei que é muito para um dia só. — Yuna deu tapinhas em nossos joelhos.— Esse lugar é como uma prisão para pessoas malvadas — Perséfone concluiu. — O mal, ele se esconde nas profundezas da alma. Podem estar arrependidos, mas não podemos negar que possuem uma grande tendência em errar. Eu me encaixo nessa definição.
Yuna concordou em nos dar algum tempo antes do grupo de apoio. Perséfone e eu continuamos a compartilhar o mesmo quarto, mas isso não significava que conversávamos muito. Na verdade, eu me sentia até mais sozinha na presença dela, visto que a expectativa da fala só era compensada com silêncio.Talvez, um acordo pudesse ter resolvido aquela indecisão de permanecer ou não na sociedade. Apesar de Drizella ter sido cruel comigo, o restante do pessoal não incomodava. A comida era boa, e o local incrivelmente agradável, sem brigas constantes ou revoltas. O castelo dos vilões era mais calmo que o vilarejo, ou que a minha casa com mamãe tagarelando, papai fingindo ouvir e os meninos correndo. Me peguei pensando em todos eles, revivendo memórias de quando só me preocupava em esconder seus sapat
Todos se mostraram extremamente curiosos, principalmente Yuna. Eu até desconfiei das motivações dela, mas no final eram só várias pessoas presas em um castelo sem nada para fazer ou assuntos novos para fofocar.Perséfone não fez nenhum movimento, não gesticulou, mudou a expressão ou o tom de voz. Era como se estivesse lendo um livro chato em voz alta e sem qualquer vontade. Omitiu várias partes que não julgava necessárias, e para meu desprezo omitiu minha existência. Não que fosse importante para mim ser citada em sua história, mas todas as vezes eu estive lá, não só como observadora, mas como participante ativa. Por que na sua versão eu não existia? Duvido que minha popularidade fosse muita em Artémise. Quando contassem a história de Am
No dia seguinte me senti pronta para começar a colaborar com a sociedade. Era notório que Perséfone não encontraria nenhum tipo de sossego lá, não enquanto o senhor Ernie estivesse tão longe do seu alcance. Talvez, se encontrasse um meio de falar com ele, os dois pudessem morar juntos no castelo. Altamente improvável, eu diria. Yuna não aceitaria um estranho assim. Me peguei pensando que seu conhecimento em fabricar poções poderia interessá-la. Restava saber se ele aceitaria se mudar para um castelo escondido no meio da floresta assombrada na companhia dos piores criminosos do mundo mágico. Será que é algo que um pai faz pela filha?Conversei com Drizella, sempre atenta aos detalhes, e pedi que me desse uma tarefa. Mesmo que Perséfone não favorecesse os outros em nada, e
Esse é um conto de fadas, por favor, leia com seus pais ou professor e discutam sobre a moral da história.Era uma vez, em um reino distante chamado Artémise, uma donzela dotada de beleza espetacular.Amália foi abandonada pelos pais ainda criança, na porta da casa de um comerciante de cerejas, onde cresceu por caridade com 4 irmãos e pais que não se importavam com ela, e, sempre que possível, a faziam de escrava no processo de separação de cerejas podres, que machucava suas delicadas mãos.Um dia, a bondosa rainha de