Enquanto Perséfone ria com escárnio da declaração de Drizella, eu tentava relacionar uma coisa com a outra. Que tipo de pessoa tinha aquele nome tão esquisito? E o que diabos era aquela sociedade?
— Você sabe que eu sou procurada por Artémise e quis fazer uma piada, é isso?
— Venham comigo. — Drizella revirou os olhos.
Demos alguns passos em frente, minha mente ainda entorpecida, tentando aceitar, entender aquelas declarações que eram no mínimo ridículas. Um piscar de olhos depois, olhei para um lado e para o outro e não encontrei mais nenhuma das duas lá. Eu estava sozinha na floresta. Levei as mãos à cabeça já entrando em desespero, mais confu
oda história é contada pelo lado vencedor, e um final nem sempre é feliz. Existem diversas versões do que aconteceu em Sowen. Para uma lenda popular contada de geração em geração, é natural que ocorram distorções e exageros. Mas no geral, o romance proibido entre a princesa Jenny e meu filho aconteceu, e após a morte dele eu realmente transformei a alma dos mortos em sombras como forma de vinganças.Houve uma continuação, após o final. O meu final. Toda história precisa de um vilão, e apesar da crueldade da família real para com meu filho, foi mais conveniente focar na mulher malvada e desconhecida.Eu errei, me arrependi e paguei. Pago até hoje. Meu desfecho foi mais triste do que simplesmente fugi
Perséfone não mencionou uma única palavra, e segui seu exemplo. A história de Yuna era um tanto complicada, eu não tinha certeza se criar a Sociedade funcionava bem como ato de redenção. Se todos eles eram vilões, como poderíamos confiar? Nada me garantia que Perséfone não mataria Amália, caso tivesse a oportunidade.— Eu sei que é muito para um dia só. — Yuna deu tapinhas em nossos joelhos.— Esse lugar é como uma prisão para pessoas malvadas — Perséfone concluiu. — O mal, ele se esconde nas profundezas da alma. Podem estar arrependidos, mas não podemos negar que possuem uma grande tendência em errar. Eu me encaixo nessa definição.
Yuna concordou em nos dar algum tempo antes do grupo de apoio. Perséfone e eu continuamos a compartilhar o mesmo quarto, mas isso não significava que conversávamos muito. Na verdade, eu me sentia até mais sozinha na presença dela, visto que a expectativa da fala só era compensada com silêncio.Talvez, um acordo pudesse ter resolvido aquela indecisão de permanecer ou não na sociedade. Apesar de Drizella ter sido cruel comigo, o restante do pessoal não incomodava. A comida era boa, e o local incrivelmente agradável, sem brigas constantes ou revoltas. O castelo dos vilões era mais calmo que o vilarejo, ou que a minha casa com mamãe tagarelando, papai fingindo ouvir e os meninos correndo. Me peguei pensando em todos eles, revivendo memórias de quando só me preocupava em esconder seus sapat
Todos se mostraram extremamente curiosos, principalmente Yuna. Eu até desconfiei das motivações dela, mas no final eram só várias pessoas presas em um castelo sem nada para fazer ou assuntos novos para fofocar.Perséfone não fez nenhum movimento, não gesticulou, mudou a expressão ou o tom de voz. Era como se estivesse lendo um livro chato em voz alta e sem qualquer vontade. Omitiu várias partes que não julgava necessárias, e para meu desprezo omitiu minha existência. Não que fosse importante para mim ser citada em sua história, mas todas as vezes eu estive lá, não só como observadora, mas como participante ativa. Por que na sua versão eu não existia? Duvido que minha popularidade fosse muita em Artémise. Quando contassem a história de Am
No dia seguinte me senti pronta para começar a colaborar com a sociedade. Era notório que Perséfone não encontraria nenhum tipo de sossego lá, não enquanto o senhor Ernie estivesse tão longe do seu alcance. Talvez, se encontrasse um meio de falar com ele, os dois pudessem morar juntos no castelo. Altamente improvável, eu diria. Yuna não aceitaria um estranho assim. Me peguei pensando que seu conhecimento em fabricar poções poderia interessá-la. Restava saber se ele aceitaria se mudar para um castelo escondido no meio da floresta assombrada na companhia dos piores criminosos do mundo mágico. Será que é algo que um pai faz pela filha?Conversei com Drizella, sempre atenta aos detalhes, e pedi que me desse uma tarefa. Mesmo que Perséfone não favorecesse os outros em nada, e
Esse é um conto de fadas, por favor, leia com seus pais ou professor e discutam sobre a moral da história.Era uma vez, em um reino distante chamado Artémise, uma donzela dotada de beleza espetacular.Amália foi abandonada pelos pais ainda criança, na porta da casa de um comerciante de cerejas, onde cresceu por caridade com 4 irmãos e pais que não se importavam com ela, e, sempre que possível, a faziam de escrava no processo de separação de cerejas podres, que machucava suas delicadas mãos.Um dia, a bondosa rainha de
— O mais ridículo dessa história maldita é que supostamente minha motivação para destruir tudo foi a inveja por causa de um homem e aparência física.Conforme o esperado, também fui excluída da versão dos bonzinhos. O mais revoltante era a narrativa falha e completamente mentirosa envolvendo Justin. Ele nem mesmo estava presente quando os cavaleiros encurralaram Perséfone, muito menos brandindo uma espada. Aliás, eu sozinha roubei a espada dele. Se existia uma heroína na vida de Amália, essa pessoa sou eu, caso contrário ela teria morrido envenenada pela torta de cereja.Mas claro, ninguém sabia da torta de cereja ou da Berth. Me tornei irrelevante para todos, desinteressante até para fazer parte da cantiga popular
Uma bela manhã, após muitas especulações e planejamentos, decidimos falar com Yuna. A ajuda dela era imprescindível. Mesmo que a partícula de sol estivesse perdida eternamente, levada de volta ao castelo, Perséfone ainda queria reencontrar o pai. Não viveria sem seu perdão.Fomos à sala dela em um momento de menor movimentação, para não correr o risco de esbarrar com Drizella ou explicar uma desculpa esfarrapada para qualquer um.Para nossa sorte, estava exatamente lá, sorrindo com Aristóteles ronronando em seu colo. Perséfone até fez menção de sair ao deparar-se com a figura do gato, mas a incentivei a ficar. Já havíamos adiado muito mais que o necessário.
Último capítulo