Corremos para fora do quarto, Perséfone tornou a guardar o colar no espartilho, mas seu brilho ia ficando aos poucos mais intenso, não daria para disfarçar. Pedimos informação a criada que passava, descobrindo onde Amália estava e descemos a escadaria às pressas, ansiosas para encontrá-la lá fora, onde tomava um pouco de ar.
Eu não sabia ao certo o que sentir sobre a conversa com Perséfone, não duvidava que me ajudasse, já tinha gastado dinheiro comigo uma vez, quando pagou minha mãe a dívida por ter me criado. O que me incomodava mesmo era aquele papo de precisar de mim. Não conseguia acreditar muito que me considerasse uma amiga ou que temesse me perder. Ela nunca deu muitos indícios de afeição para comigo, mas, por outro lado, eu nunca estive tão
Não descansamos. Me joguei na cama, queria dormir, sentir o travesseiro fofo sobre minha cabeça e o cheiro gostoso dos lençóis. Esqueci apenas que era manhã e logo Angel, sem fazer a mínima ideia da nossa aventura no passado, chamaria-nos para cumprir o cronograma do penúltimo dia no castelo.Após bater na minha porta, sua doce voz anunciou que nosso dia estava cheio de encontros com nobres. Ela nos deu um tempo para cuidarmos da aparência.Passei bastante tempo no quarto de banhos, mas na hora de vestir-me fiquei mais desleixada, escolhendo um vestido cor-de-carne com um laço rosa terrível como cinto, Amália e Perséfone não fizeram muito melhor.Era estranho olhar para os lugares do pal&aa
Não tenho certeza de quando peguei no sono, só sei que chorei muito e meus sonhos foram com mortes, torturas e sangue. Aterrorizantes.Uma criada bateu na porta bem cedo, com uma bandeja de frutas, pão e suco. Uma mocinha jovem e adorável, que deve até ter se horrorizado com minha aparência deplorável de sofrimento.— Por que o café da manhã é no quarto hoje? — questionei, quase derrubando a bandeja que trouxe.— Senhorita. — Reverenciou-me desnecessariamente. — As ordens de Angel são especiais, fui designada a cuidar de pormenores enquanto a senhorita passará o dia em aulas de etiquetaRevirei os olhos, não poderia
Todos olharam de Perséfone para Evelyne. Ninguém sabia como reagir. Eu já imaginava que algo do tipo iria acontecer, mas até o último segundo acreditei que ela colocaria a vida na frente do orgulho, o que não ocorreu.O sorriso no rosto de Evelyne sumiu, ela arqueou a cabeça, percebendo que Perséfone não seria mais um verme assutado; pobre coitada, sim, mas não covarde.Ela levantou-se de sua cadeira, no que todos acompanhamos.— Foi um prazer jantar com vocês, meus súditos. Retirem-se, aproveitem a noite e aguardem o raiar do sol. Amanhã voltarão para suas casas. A Perséfone fica, ela vai me dar umas dicas de como governar meu reino.
Na manhã seguinte acordei mais animada, com saudades do vilarejo e satisfeita pela minha aventura. Queria contar para todos sobre ter conhecido a rainha Annethy e libertado uma fada, pena que ninguém acreditaria.A criada que me arrumou no dia anterior me deu um vestido simples e branco, mais delicado, junto com tamancos de madeira. Não podíamos levar nada conosco para casa, exceto aquelas roupas.— A senhorita ainda se acha uma fraude? — perguntou enquanto fazia duas tranças no meu cabelo, tradicional penteado que há tempos não usava.— Não, agora eu me acho incrível. Às vezes me acho uma fraude, às vezes incrível. Acho que a vida se trata disso.
Passei a noite toda com Reana, e ela até se mostrou uma moça agradável. Comemos cerejas quase podres e eu a contei sobre todas as maravilhas que vi no castelo. Já estava sentindo falta da comida boa. Dei uma olhada nos meus poucos pertences. Roupas remendadas, bugigangas, um espelho enferrujado pequeno e um colchão. Não quis responder para onde iria quando Devan voltasse, esperava que Perséfone desse alguma resposta até lá. No dia seguinte, me arrumei e segui para a loja. Não tinha certeza se estaria aberta, mas resolvi arriscar.Por cautela, fui com o mesmo vestido branco com o qual cheguei do castelo. Não queria que Reana roubasse. Cheguei um pouco tarde, mas Perséfone ainda estava abrindo.— E aí?
A carruagem parou em frente a uma das casa e descemos com nossas bolsas. Olhei ao redor, admirada. Todas as ruas, diferente de Artémise, eram de pedra, não de areia. Bem perto, um homem velho cortava pescoços e pés de galinha em uma mesa de madeira, gritando preços.— Deplorável, e sujo. Está vendo, Berth? Nunca mais reclame de Artémise, esse lugar é pior.— Pelo menos aqui se tem comida de verdade, não cerejas — Aylet replicou, batendo na porta da casa.Era uma casa grande, paredes cor-de-terra com duas janelas grandes e fechadas. Não tinha jardim. Era engraçado, mas nem todas as casas possuíam jardim na frente, apenas uma pequena calçada. Em Artémise jardin
Ok, primeiramente, Berth, eu não sei contar uma história. Então isso será breve e entediante. Presta atenção que só vou contar uma vez.Na lembrança mais antiga que tenho dele, devia ter uns 5 anos, ou menos. Era uma criança detestável, mas não tinha traumas, ainda não.Algodão, foi esse o nome que Aylet o deu, um gato branco de olhos bem azuis, magricela. Quando ele chegou, corri para ver. Aylet segurava no colo, acariciando e dizendo coisas fofas e nojentas.Eu não tinha medo ainda. Quando minha mãe o pôs no chão, fui tentar tocá-lo e ganhei um arranhão no braço, ele se arrepiou todo pra me atacar, pronto para cortar minha garganta com
A história que Perséfone me contou naquela noite foi muito esclarecedora, não pude deixar de sentir um pouco de dó, do gato, não dela. A forma como contou me fez perceber que sua infância foi tão ruim quanto a minha, embora tenhamos tido formas bem diferentes de lidar com tudo. O gato era a vítima, a não ser que fosse enfeitiçado ou algo do tipo. Aylet era a pessoa horrível, que transformou a filha em outra pessoa horrível.As peças se encaixaram, tudo fez sentido. Finalmente descobri os motivos para mãe e filha se odiarem tanto e por Perséfone ter tido medo quando vimos Aristóteles pela primeira vez.Logo cedo, para meu mais completo nojo, Aylet nos acordou anunciando que o dia seria importantíssimo, e eu queria e