Fiquei dois dias inteiros em casa refletindo. Não quis contar a meu irmão, Devan, sobre ter pedido demissão, pois ele poderia ficar desesperado e pensar que teria que me sustentar. Também não podia, de maneira nenhuma, voltar para a casa dos meus pais depois de tudo. Estava pensando em sair e procurar emprego. Seria fácil conseguir algo na feira, mas quando ela fosse embora ficaria desempregada de novo, portanto preferi me concentrar em algo mais sério e duradouro.
Com o passar do tempo as emoções foram se aquietando, e comecei a lidar de uma maneira melhor com o que havia acontecido. Afinal, Perséfone me mostrara o que minha família pensava sobre mim, e seu ato não foi de todo tão ruim. Seria melhor que tivesse pensado um pouco e me emprestado o dinheiro no lugar de armar a cena. O tempo sozinha foi proveitoso para me acalmar e colocar as ideias em ordem.
No terceiro dia o senho
Os olhos verde-escuros de Aylet analisavam a loja com atenção, os cabelos castanhos caiam-lhe em uma trança assanhada até a cintura, e seu sorriso encantador evidenciava os finos traços de seu rosto. A aura que emanava dela assustava tanto que Perséfone parecia não me representar mais nenhum tipo de ameaça. Deixei o balde com sabão no lugar onde estava e me dispus atrás do balcão como a mais simples das empregadas, observando as duas com curiosidade.Aylet era mais alta que Perséfone, um pouco parecida, todavia mais bela. Eu não diria, jamais, que Aylet seria sua mãe, principalmente por sua aparência excessivamente jovem. Ela retirou a capa preta que usava, de um tecido fino adornado com pequenos detalhes dourados, jogou-a de qualquer jeito sobre uma estante de remédios, revelan
No dia seguinte, foi anunciado que o palco coberto pela lona gigante na feira seria descoberto ao pôr do sol. Todas os estabelecimentos fecharam-se cedo, pois todos estavam animados com a novidade. Eu também estava, afinal, era uma boa oportunidade para me divertir um pouco, e também estava curiosa com as comemorações daquele ano.Infelizmente, os planos de Perséfone incluíam me prender na loja. Ela anunciou que ficaria organizando e arrumando tudo para não restar trabalho atrasado.— Minha filha, não faz sentido ficar aqui. Não há tanto para fazer — o senhor Ernie rebateu, preocupado.— Um cliente pode aparecer.— Ninguém vai ap
Chegamos a loja e Perséfone ficou andando de um lado para o outro, o rosto enterrado entre as mãos. Não soube o que dizer por um bom tempo, então apenas fiquei calada esperando uma manifestação dela.— Meus pais vão passar aqui antes de irem pra casa, vamos fazer de conta que ficamos e que nada aconteceu.— Você acha que vamos ter problemas maiores?— Eu não sei, espero que não. — Ela finalmente parou de andar, parou a minha frente e respirou fundo, buscando recuperar a calma.— Como isso aconteceu? — Tive coragem de perguntar. É comum tirar conclusões precipitadas ou criar explicações falhas sobre as at
No dia seguinte, cheguei à loja mais cedo do que todos. As ruas estavam vazias e silenciosas naquela horário, exceto por um ou outro pequeno pássaro voando longe do ninho. Sentei-me na calçada em frente, apoiando os braços nos joelhos e baixando a cabeça. O sol elevava-se no céu, trazendo consigo mais um calorento dia animado e feliz para Artémise, cheio de surpresas para mim e para a pobre Perséfone.Foi por ela que saí tão cedo. Queria perguntar-lhe se ouvira o boato da revolução, se estava assustada com a possibilidade de que alguém a reconhece-se. As palavras de Justin sobre alta traição voltavam a minha mente todo segundo enquanto tentava achar pistas, dicas, qualquer coisa que pudesse ajudar Perséfone.Conforme os
Ficamos um pouco desnorteadas, a princípio, em relação ao que fazer. O arauto mencionara que naquele mesmo dia Perséfone iria até o palácio. Andamos como baratas tontas por um bom tempo, nervosas. Chegamos a procurar o senhor Ernie, mas por fim retornamos à loja onde ele já nos aguardava juntamente com Aylet, para nossa surpresa.— Estou tão orgulhosa de você, minha filha! — Aylet se lançou em direção a Perséfone, abraçando-a e apertando suas bochechas. Lágrimas brotavam dos seus olhos, de tanta felicidade. — Minha menina irá conhecer a família real! Vai por os pés no próprio castelo.Calado, o senhor Ernie apenas assentiu. Seu olhar demonstrava um pouco de preocupação
As três horas que Silas mencionara passaram voando, e logo que cheguei á frente da loja, após pensar muito tempo no banco de madeira, uma imensa carruagem dourada estava parada a nossa espera. Parecia ter saído direto de um conto de fadas, com seus detalhes desenhados, duas janelas, uma de cada lado, e uma pequena porta de entrada. Dois cavalos brancos a puxavam, guiados pelo cocheiro.Nem consegui raciocinar direito, era inacreditável que uma pobre como eu viajaria ali diretamente para o castelo. Teria desmaiado de deslumbramento, não fosse a decepção que passara em casa pouco tempo antes.Perséfone estava parada roendo as unhas, desinteressada. Silas dava umas últimas informações a seus pais enquanto Aylet gritava enfurecida que deveria ir com a filha.
Acordamos cedo pela manhã, ou o melhor, os outros acordaram. Passei grande parte da noite pensando nas maravilhas que me aguardavam no castelo. Vesti-me apressada, doida para sair daquele quarto. Como eu já sabia, o vestido me caiu muito bem. Até consegui fazer um penteado, mesmo que desengonçado, com a presilha.Me sentei na sala de estar com os outros, Perséfone e Amália usavam exatamente a mesma roupa que eu, diferenciando-se apenas a cor. O vestido de Amália era bege e o de Perséfone cor-de-vinho. Tenho que admitir que ficaram muito melhores do que eu, ganhei somente no quesito habilidade com a presilha.A senhora Hilde se recusou a vestir roupas "pomposas", alegou que não queria ser assediada por nobres atrevidos, apenas concordou em usar uma capa por cima dos ombros ap
Os imensos portões de ferro do castelo se abriram para a carruagem passar, os cavalos galoparam por uma estradinha de pedra até parar e o cocheiro logo abriu a porta para nossa saída.Era mágico, exatamente como eu imaginava. O castelo cercado por um imenso jardim, com direito a chafarizes, canteiros de flores e mesas, onde alguns nobres tomavam chá. Não havia muito movimento naquele horário, mas o clima era amistoso e acolhedor. O sol, ainda no começo de sua trajetória pelo céu, resplandecia entre as folhas farfalhantes das árvores, repletas de frutos, flores e ninhos. Olhei para cima admirada, as três torres eram altíssimas, cada uma com sua janela. O seu azul confundiria-se com o do céu, não fosse a marcação dos tijolos
Último capítulo