Acordamos cedo pela manhã, ou o melhor, os outros acordaram. Passei grande parte da noite pensando nas maravilhas que me aguardavam no castelo. Vesti-me apressada, doida para sair daquele quarto. Como eu já sabia, o vestido me caiu muito bem. Até consegui fazer um penteado, mesmo que desengonçado, com a presilha.
Me sentei na sala de estar com os outros, Perséfone e Amália usavam exatamente a mesma roupa que eu, diferenciando-se apenas a cor. O vestido de Amália era bege e o de Perséfone cor-de-vinho. Tenho que admitir que ficaram muito melhores do que eu, ganhei somente no quesito habilidade com a presilha.
A senhora Hilde se recusou a vestir roupas "pomposas", alegou que não queria ser assediada por nobres atrevidos, apenas concordou em usar uma capa por cima dos ombros ap
Os imensos portões de ferro do castelo se abriram para a carruagem passar, os cavalos galoparam por uma estradinha de pedra até parar e o cocheiro logo abriu a porta para nossa saída.Era mágico, exatamente como eu imaginava. O castelo cercado por um imenso jardim, com direito a chafarizes, canteiros de flores e mesas, onde alguns nobres tomavam chá. Não havia muito movimento naquele horário, mas o clima era amistoso e acolhedor. O sol, ainda no começo de sua trajetória pelo céu, resplandecia entre as folhas farfalhantes das árvores, repletas de frutos, flores e ninhos. Olhei para cima admirada, as três torres eram altíssimas, cada uma com sua janela. O seu azul confundiria-se com o do céu, não fosse a marcação dos tijolos
Quem poderia estar no meu quarto já a noite, na completa escuridão e ainda saber meu nome? Logo em um lugar como o castelo! Seria alguma pegadinha ou situação de extremo perigo.— Identifique-se, caso contrário gritarei por socorro!— Peço-te para que não faças isso. Não buscá-lo-ia vossa ajuda desconhecendo a natureza do vosso caráter.Então as chamas das duas velas na mesa de cabeceira se acenderam, iluminando a pobre alma que me olhava assustada.Eu não seria capaz de denunciar aquela menina por nada, pois sua simples postura curvada e olhar cansado despertavam pena. Fechei com cuidado a porta atrás de mim, e em seguida con
Mais três dias. Três dias e eu voltaria pro vilarejo, precisava aproveitar ao máximo esse tempo, caso contrário a fada ficaria desamparada, sem ajuda, e mais ninguém poderia libertá-la. Observei um pouco o comportamento dos guardas, parados e estáticos, assustadores. Seria difícil passar por eles, mas após algumas perguntas "inocentes" , descobri que por alguns poucos segundos o posto poderia ficar vazio, durante a troca de turnos na hora do almoço. Descuidos como esse podiam acontecer, geralmente problemas como invasores não eram recorrentes na propriedade real para terem tanto cuidado.Nosso cronograma pela manhã foi bem parado, Silas não sabia o que fazer conosco e pediu a ajuda de Angel, que nos contou um pouco sobre a trágica história do falecimento do marido da rainha, e o sofrime
Joguei o sapato com o salto quebrado em um canto, uma pena, eram belos pares violetas aveludados. Tinha até fivela na ponta. Se perguntassem, eu diria que cai e o quebrei. Peguei outros qualquer e os calcei no lugar. Bati com a mão no vestido o máximo que podia, para retirar a poeira das prateleiras velhas. Aproveitei também para coçar bastante as pernas.Eu me sentia uma heroína, e deveria haver uma lei que proibisse o uso de sapato alto, véu e espartilho por heroínas. São vestes que incomodam muito.Peguei uma tesoura e levantei a saia de tecido do vestido, com a mão torta - afinal a aula de etiqueta serviu para algo - consegui cortar boa parte do véu embaixo, que tanto pinicaram minhas canelas durante a aventura.
— Berth? — Uma voz longínqua e desesperada me chama, tão baixinha que chega a ser um sussurro. — Berth!?Abri os olhos bem devagar, mas logo precisei fechá-los de novo, obrigada por uma luz ofuscante.A voz continuou me chamando, e logo acabo a reconhecendo, era Perséfone. Só podia ser Perséfone. Além da voz, também haviam mãos. Atrás da minha nuca, nos meus braços. Dois pares de mãos. Tinha mais alguém com ela.Atrevo-me a abrir os olhos mais uma vez, incomodada pela luz, porém, também aquecida por ela e feliz por vê-la. Era o sol, sem dúvidas nosso sol. Redondo, amarelo e brilhante, lá no alto do céu, aquecendo-nos todos os dias, um bom
Fiquei boquiaberta, assustada. Mal podia crer que estava frente a frente com ela. Era bem diferente do que eu imaginava, e pelo jeito não haviam mais ruivos na família real em nossa época.A explicação era simples, não fomos teletransportadas. Continuamos no mesmo lugar em que o colar foi usado, perto do poço, mas cerca de 300 anos no passado. Apenas o tempo havia sido alterado, não o local.Isso piorava muito mais nossa situação, se estivéssemos apenas em outro lugar de Artémise, ou mesmo em outro reino, na nossa época, havia uma chance de voltarmos para casa. Agora, nossa casa nem mesmo existia. Nossos pais nem tinham nascido ainda. A única forma de tentar voltar era usando o colar de novo, e torcer para ele funcionar revertendo a magia, e não nos levando para uma época ainda mais distante.
O tempo foi passando e passando, mais calor, mais suor e mais silêncio. A tensão prosperando naquele quarto sujo, queríamos discutir uma forma de resolver nosso problema, mas a primeira palavranunca era dita.As únicas coisas que ouvimos era o ruído do rato e os fungos de Amália. Se pelo menos Perséfone estivesse sozinha comigo, a situação seria menos pior.Será que já tinham sentido nossa falta?Se sim, talvez nos considerassem criminosas. Eles podiam fazer uma vistoria na sala das coisas mágicas e descobrir que a partícula de sol havia sumido. Se voltássemos seríamos presas, as três. Talvez até mortas.O que aco
Annethy disse-nos palavras encorajadoras, mas nada chegava aos meus ouvidos. Levei as mãos ao rosto e continuei aos prantos. Perséfone me afastou do corpo do homem, obrigando-me a olhá-la.- Eu matei esse homem, Perséfone! Eu matei um homem, você não entende! - Insisti.Annethy voltou sua atenção para o corpo, analisado-o. Balançou a cabeça positivamente, e com felicidade se dirigiu a mim.- Não, meu anjo, você não o matou. Apenas o feriu gravemente.- Você acha? - perguntei esperançosa.- Já lutei em uma guerra, sei reconhecer um homem morto. - garantiu. A ponta da sua espada