Isabela sentiu um frio na barriga. A expressão de Jorge a fez questionar se havia feito alguma palhaçada enquanto dormia. Ela apertou o copo de café com tanta força que o papel se amassou, e o café respingou por toda sua roupa.Quando percebeu, deu um pulo. “Que vergonha. O que tá acontecendo comigo?”, pensou, mordendo o lábio.— Se vira. Vamos ter que pernoitar aqui. — Jorge falou secamente.Virou as costas e entrou no carro com movimentos bruscos.Isabela ficou parada no estacionamento, esfregando a mancha de café na blusa, mas só piorou, deixando os dedos melados. O motor do carro roncou, e a janela do motorista desceu. Uma embalagem de lenços voou em sua direção.— Obrigada. — Ela murmurou, evitando o olhar dele. Passou minuciosamente o lenço entre os dedos, embora a textura pegajosa insistisse em permanecer.Depois de se recompor, entrou no carro e jogou o pacote no banco de trás. Jorge acelerou sem cerimônia, engolindo o asfalto com o veículo.— Para onde estamos indo? — Ela per
— Ela não precisa de nada. — Sandro respondeu à pergunta de Clara com distração, mas seu olhar se desviou inadvertidamente para além do vidro da vitrine. De repente, sua pupila contraiu ao capturar uma silhueta familiar no meio da multidão: Isabela.Não poderia estar enganado. Aquela figura estava gravada em seus ossos após sete anos de convivência diária. Cada gesto, cada curva do corpo, ele reconheceria mesmo no escuro.— Vou ao banheiro, você escolhe o que quiser. — Atirou as palavras ao vento antes de sair em passos largos da joalheria, perseguindo o rastro de Isabela que desaparecia entre as barracas de rua.Isabela parou diante de um quiosque de flores no calçadão, dedos pairando entre girassóis e margaridas. Antes, sempre que ele voltava para casa, a encontrava na cozinha entre panelas fumegantes, com buquês frescos sobre a mesa de jantar. Mesmo nos dias mais caóticos do escritório, aquela cena era como se fosse seu porto seguro.Agora detestava abrir a porta do apartamento. Até
Sandro não respondeu à pergunta de Clara, seus os olhos ainda estavam fixos no rosto de Isabela enquanto tentava capturar algum sinal de fraqueza em sua expressão. Não acreditava que ela permaneceria indiferente ao vê-lo com outra mulher.Os dedos de Clara apertaram o braço dele com força crescente, seu olhar estava carregado de desconfiança. Encarava Isabela como se estivesse diante de uma ameaça iminente, pronta para atacar.Isabela sorriu com suavidade, sua voz era tranquila como uma brisa de verão:— Não precisa ficar tensa nem com ciúmes. Sou só a ex-mulher.O rosto de Sandro escureceu instantaneamente, enquanto o de Clara perdeu todas as cores. Ela se lembrou de que na primeira vez que jantaram juntos, Isabela estava sentada à mesa ao lado. Sandro olhou para ela repetidas vezes. Quando Clara perguntou se ele a conhecia, a resposta foi um seco "não".E no elevador, quando derramou café na camisa dele... A frieza no olhar de Isabela, naquela ocasião, agora lhe parecia um presságio
Clara engoliu a determinação como um comprimido amargo. Era hora de travar sua batalha final pelo coração de Sandro, e dessa vez, sem recuos. Atormentada pela possibilidade de Sandro reencontrar Isabela no jantar de gala, Clara insistiu em acompanhá-lo. Sandro, já com a cabeça latejando de tanta insistência, acabou cedendo. No salão de festas, lustres de cristal derramavam cascatas de luz âmbar sobre as das paredes, criando um balé de sombras douradas que dançavam em sintonia com os acordes do quarteto de cordas. Convidados em trajes de alta costura circulavam entre mesas adornadas com arranjos de helicônias e antúrios, seus risos ecoavam tão leves quanto as bolhas do champanhe nas taças de cristal.Sandro e André formavam o epicentro daquela reunião social. Desde sua entrada, eram cercados por políticos e magistrados cujos termos jurídicos, faziam Clara bocejar disfarçadamente atrás da manga do vestido. Após meia hora de tortura intelectual, aliviada pela ausência de Isabela, se re
— Velhice traz vontade de ser astro de cinema, não é? — Disse Jorge com um sorriso leve.Do outro lado da linha, a risada de Davi ecoou baixa e profunda.— Então você está ajudando ela a expandir a rede de contatos, hein? Que gentileza sua. — Ele fez uma pausa, e sua voz ganhou um tom melancólico. — No fim das contas, eu devo agradecer por você estar cuidando dela. Se eu soubesse que ela era tão apaixonada, nunca teria mostrado a foto dela para você em particular, muito menos sugerido que vocês se conhecessem...— O passado já passou. — Ele fez uma breve pausa antes de acrescentar com uma voz grave e resoluta. — Estou fazendo isso para acertar um erro seu.Ninguém sabia, mas Jorge era, na verdade, o discípulo mais talentoso de Davi. No entanto, devido à natureza delicada de sua posição, essa relação permanecia um segredo bem guardado do mundo exterior. Todos acreditavam que Isabela era o orgulho de Davi, mas, na realidade, era Jorge quem havia herdado verdadeiramente seu legado. Agora,
Isabela inclinou levemente a cabeça, cumprimentando com voz a serena e contida: — Sim. Boa noite, professor André.André acenou com a cabeça e indicou com um gesto sutil. — Sandro está ali.Isabela se moveu para mais perto de Jorge.— Eu vim com o Dr. Jorge.Incapaz de conter a curiosidade, André ergueu as sobrancelhas e perguntou: — Como você acabou com o Jorge?— Ela agora é minha assistente. — Respondeu Jorge em seu lugar, de forma tranquila e confiante.Naquele momento, um garçom passou com uma bandeja de drinks. Jorge pegou uma taça de vinho e a entregou à Isabela, que a recebeu com as duas mãos. Ele então pegou outra taça para si, mantendo uma postura impecável.Não muito longe dali, o colega sussurrou para Sandro: — Ela está trabalhando agora? Por que não foi para o seu escritório?O rosto de Sandro escureceu imediatamente, como o céu antes de uma tempestade, carregado de uma energia pesada e opressiva. Percebendo a mudança na atmosfera, o colega se calou de imediato, se lim
O rosto de Sandro escureceu cada vez mais, seus olhos estavam fixos em Isabela com uma intensidade sufocante. Ele falou com uma voz baixa e carregada de emoção reprimida: — Me diga, com quem você vai escolher ficar?Levando em consideração os sete anos de relacionamento que compartilharam, Isabela optou por não ser dura, deixando um pouco de dignidade para Sandro. — Depois do divórcio, não temos mais nada a ver um com o outro. Tenho meu trabalho, e se você realmente tem algo a dizer, podemos conversar depois que eu terminar meu expediente.Era a última cortesia que ela poderia oferecer a ele.— Dr. Jorge, vamos. — Ela se virou com elegância.Ao se virar, Jorge lançou um olhar de desprezo a Sandro.A mão de Sandro ficou suspensa no ar, seus dedos tremiam levemente. Ele parecia congelado no lugar, como se toda a força tivesse sido drenada dele. As pessoas ao redor seguraram a respiração, ninguém ousava se aproximar ou dizer algo que pudesse piorar a situação.O único que poderia falar
Isabela já havia escalado corajosamente o abismo, dando a si mesma uma segunda chance. Agora, como poderia voltar atrás?— Sandro, vamos terminar isso de forma civilizada. — Disse ela com uma calma que não deixava espaço para emoções exageradas, como se estivesse apenas declarando um fato simples.Se ela estivesse agitada, ressentida ou cheia de ódio, talvez ainda houvesse uma chance de reconciliação. Porém, sua serenidade era como uma faca afiada, cravada diretamente no coração de Sandro. Seu coração já estava cinza, e ela não nutria mais nenhuma esperança em relação a ele.Sandro deu um passo para trás, cambaleando, quase caindo. Apoiou-se na parede ao lado, segurando o corpo com dificuldade, e sua voz saiu rouca:— Você já me disse que me amaria para sempre. Você não pode quebrar essa promessa.— E você também disse que me amaria, confiaria em mim, me valorizaria e me protegeria. Contudo, em vez disso, me machucou, me enganou, me traiu. — A voz de Isabela era fria como gelo. — Duran