O rosto de Sandro escureceu instantaneamente, como se uma nuvem pesada tivesse se caído sobre ele. Ele cerrou os lábios, o olhar afiado como uma lâmina, mas não conseguiu encontrar palavras para responder.Isabela não tinha tempo para enrolações e foi direta ao ponto:— Você checou as câmeras de segurança?Sandro hesitou. Sua primeira reação havia sido culpar Isabela, e ele nem sequer pensou em verificar as gravações. Tentando manter a compostura, respondeu com firmeza:— Sim, chequei.— E as câmeras mostraram eu jogando lixo na sua porta ou escrevendo na parede? — Isabela soltou uma risada fria. — Quero ver as imagens.O olhar de Sandro vacilou por um instante, traindo sua confiança.— Sandro, você não tem provas, não é? — Isabela o encarou, dizendo com a voz cheia de acusação. — Está apenas especulando que fui eu? Você é advogado, e um dos melhores, e é assim que conduz seus casos?— Já chega! — Sandro se levantou de repente, com o rosto pálido de raiva. — Vou te mostrar as câmeras.
Isabela olhou fixamente para Sandro, sentindo como se uma faca afiada tivesse perfurado seu coração. Para ele, seu maior valor era apenas lavar roupas e cozinhar?— Então, no seu olhar, eu só sirvo para lavar suas roupas e fazer sua comida, é isso? — A voz dela tremeu, e uma sensação de amargura subiu até seu nariz, mas ela a reprimiu com força. Ela não permitiria que mais nenhuma lágrima caísse por ele.— Tudo bem, vamos dizer que eu mereci isso. — Ela riu de si mesma, com um sorriso amargo. Quem mandou ela ter sido tão cega a ponto de escolher um canalha?Sandro percebeu que suas palavras haviam sido duras, mas manteve sua posição.— Você pode não admitir, mas essa é a realidade. A vida é cruel, e o que você aprendeu na faculdade nem sempre se aplica ao mundo real. Você se acostumou a girar em torno do fogão e de mim, você não está preparada para as intrigas e manipulações do mercado de trabalho. Além disso, você estudou direito, mas ficou muito tempo afastada. Voltar a atuar agora s
— Sim. — Hélio acenou com a cabeça, olhando para Isabela, com um olhar carregado de indignação. — Eu não suporto ele. Apesar de sermos homens, até nós discriminamos quem trai. — Ele fez uma pausa antes de continuar. — Vi ele abraçado com uma garota, a beijando, e senti que ele te traiu de uma forma imperdoável. Na hora, perdi a cabeça e joguei aquela sujeira na porta dele. Ele te procurou?— Sim. — Respondeu Isabela suavemente.— Eu te causei problemas? — Hélio, agora mais calmo, percebeu que seu ato havia sido impulsivo.— Não. — Isabela balançou a cabeça.Ela sabia que Hélio havia agido por preocupação com ela. Apesar de sentir um pouco de frustração, ela também era grata por seu cuidado.— Isabela, você se divorciou dele porque ele te traiu? — Perguntou Hélio, com um tom de cautela.Isabela não queria falar sobre o assunto, mas sabia que algumas coisas eram inevitáveis. Ela acenou com a cabeça como resposta.— Que canalha! — Hélio resmungou, cheio de raiva.— Já passou. — Isabela so
Jorge ficou parado, observando Isabela cair no chão, com a testa franzida.— Ai, dói... — Isabela estava com tanta dor que não conseguia se levantar. A vasilha também caiu no chão, rolando até parar perto da parede.Jorge se aproximou e, como se estivesse pegando um passarinho, segurou seu braço e a puxou para se levantar.Isabela gritou de dor. O tornozelo parecia ter sido torcido, e ela não conseguia colocar peso nele.— Não consigo ficar em pé... — Ela disse com um tom de queixa, com a voz cheia de desamparo.Sem dizer mais nada, Jorge a pegou no colo. O movimento foi tão repentino que Isabela, sem reação, instintivamente envolveu os braços em torno de seu pescoço. Durante todo o processo, sua mente ficou em branco.Dentro do elevador, o espaço ficou apertado, e o ar parecia ter congelado. Eles estavam tão próximos que suas respirações se misturavam, criando uma atmosfera inexplicavelmente carregada.Se não estivesse bêbada, Isabela certamente iria querer sumir naquele momento. Que
Isabela sentiu um frio na barriga. A expressão de Jorge a fez questionar se havia feito alguma palhaçada enquanto dormia. Ela apertou o copo de café com tanta força que o papel se amassou, e o café respingou por toda sua roupa.Quando percebeu, deu um pulo. “Que vergonha. O que tá acontecendo comigo?”, pensou, mordendo o lábio.— Se vira. Vamos ter que pernoitar aqui. — Jorge falou secamente.Virou as costas e entrou no carro com movimentos bruscos.Isabela ficou parada no estacionamento, esfregando a mancha de café na blusa, mas só piorou, deixando os dedos melados. O motor do carro roncou, e a janela do motorista desceu. Uma embalagem de lenços voou em sua direção.— Obrigada. — Ela murmurou, evitando o olhar dele. Passou minuciosamente o lenço entre os dedos, embora a textura pegajosa insistisse em permanecer.Depois de se recompor, entrou no carro e jogou o pacote no banco de trás. Jorge acelerou sem cerimônia, engolindo o asfalto com o veículo.— Para onde estamos indo? — Ela per
— Ela não precisa de nada. — Sandro respondeu à pergunta de Clara com distração, mas seu olhar se desviou inadvertidamente para além do vidro da vitrine. De repente, sua pupila contraiu ao capturar uma silhueta familiar no meio da multidão: Isabela.Não poderia estar enganado. Aquela figura estava gravada em seus ossos após sete anos de convivência diária. Cada gesto, cada curva do corpo, ele reconheceria mesmo no escuro.— Vou ao banheiro, você escolhe o que quiser. — Atirou as palavras ao vento antes de sair em passos largos da joalheria, perseguindo o rastro de Isabela que desaparecia entre as barracas de rua.Isabela parou diante de um quiosque de flores no calçadão, dedos pairando entre girassóis e margaridas. Antes, sempre que ele voltava para casa, a encontrava na cozinha entre panelas fumegantes, com buquês frescos sobre a mesa de jantar. Mesmo nos dias mais caóticos do escritório, aquela cena era como se fosse seu porto seguro.Agora detestava abrir a porta do apartamento. Até
Sandro não respondeu à pergunta de Clara, seus os olhos ainda estavam fixos no rosto de Isabela enquanto tentava capturar algum sinal de fraqueza em sua expressão. Não acreditava que ela permaneceria indiferente ao vê-lo com outra mulher.Os dedos de Clara apertaram o braço dele com força crescente, seu olhar estava carregado de desconfiança. Encarava Isabela como se estivesse diante de uma ameaça iminente, pronta para atacar.Isabela sorriu com suavidade, sua voz era tranquila como uma brisa de verão:— Não precisa ficar tensa nem com ciúmes. Sou só a ex-mulher.O rosto de Sandro escureceu instantaneamente, enquanto o de Clara perdeu todas as cores. Ela se lembrou de que na primeira vez que jantaram juntos, Isabela estava sentada à mesa ao lado. Sandro olhou para ela repetidas vezes. Quando Clara perguntou se ele a conhecia, a resposta foi um seco "não".E no elevador, quando derramou café na camisa dele... A frieza no olhar de Isabela, naquela ocasião, agora lhe parecia um presságio
Clara engoliu a determinação como um comprimido amargo. Era hora de travar sua batalha final pelo coração de Sandro, e dessa vez, sem recuos. Atormentada pela possibilidade de Sandro reencontrar Isabela no jantar de gala, Clara insistiu em acompanhá-lo. Sandro, já com a cabeça latejando de tanta insistência, acabou cedendo. No salão de festas, lustres de cristal derramavam cascatas de luz âmbar sobre as das paredes, criando um balé de sombras douradas que dançavam em sintonia com os acordes do quarteto de cordas. Convidados em trajes de alta costura circulavam entre mesas adornadas com arranjos de helicônias e antúrios, seus risos ecoavam tão leves quanto as bolhas do champanhe nas taças de cristal.Sandro e André formavam o epicentro daquela reunião social. Desde sua entrada, eram cercados por políticos e magistrados cujos termos jurídicos, faziam Clara bocejar disfarçadamente atrás da manga do vestido. Após meia hora de tortura intelectual, aliviada pela ausência de Isabela, se re