CLAIREAs semanas que se seguiram foram marcadas por um tipo de calmaria que há muito não experimentávamos. Não era apenas a ausência de conflitos, mas um novo tipo de equilíbrio que Lucas e eu havíamos construído juntos. A terapia continuava, mas agora não apenas como um espaço para tratar feridas antigas, mas também para fortalecer nosso entendimento e respeito um pelo outro.Gabriel parecia absorver essa mudança de energia em nossa casa. Sua curiosidade natural o levou a questionar mais sobre meu trabalho na academia e sobre os projetos de Lucas. Percebi que ele também estava aprendendo com o exemplo, vendo que mesmo os adultos podem cometer erros, mas que também podem trabalhar para consertá-los.Uma noite, enquanto eu revisava algumas coreografias para uma apresentação especial na academia, Gabriel se aproximou.— Mamãe, posso ajudar? — ele perguntou, com um brilho nos olhos.Surpresa, mas feliz com sua iniciativa, entreguei a ele um bloquinho para fazer anotações enquanto eu exp
CLAIREA vida finalmente parecia estar entrando nos eixos. Com a academia estabilizada e nossa família em sintonia, começamos a sonhar novamente, algo que parecia distante há alguns meses. Um dia, durante o café da manhã, Lucas sugeriu:— E se tirássemos umas férias no final do ano? Algo para comemorar tudo que conquistamos.Olhei para ele, surpresa, mas animada com a ideia.— Isso seria maravilhoso! Gabriel adoraria. Talvez possamos ir à praia ou explorar um lugar novo.Gabriel, que estava saboreando seu cereal, ergueu os olhos com entusiasmo.— Quero ir para um lugar com piscina! E sorvete!Rimos juntos, e a ideia de planejar uma viagem nos deu uma nova energia. Além disso, percebi que esses momentos de descontração eram essenciais para manter nosso equilíbrio emocional.Enquanto Gabriel corria para pegar seus brinquedos, Lucas continuou:— Pensei em algo que seja relaxante, mas também divertido para todos. Você sabe, algo que nos conecte ainda mais como família.— Concordo completa
CLAIREOs dias após nossa viagem foram preenchidos por uma rotina movimentada, mas feliz. A academia estava prosperando como nunca. As oficinas temáticas que havíamos introduzido eram um sucesso, e os alunos adoravam a oportunidade de explorar diferentes estilos de dança. Mesmo assim, eu sentia que algo estava mudando.Lucas e eu tínhamos encontrado um ritmo confortável, mas ele parecia preocupado ultimamente. Percebi isso nos pequenos gestos: o olhar perdido durante o jantar, a maneira como ele demorava mais tempo no trabalho e sua tendência a evitar conversas profundas.Uma noite, decidi que era hora de perguntar o que estava acontecendo. Depois que Gabriel foi para a cama, nos sentamos na varanda com uma xícara de chá.— Lucas, você tem estado distante. O que está acontecendo? — perguntei, tocando sua mão.Ele suspirou profundamente antes de responder.— Claire, eu estive pensando sobre meu trabalho. Sei que você está crescendo com a academia, e isso é incrível. Mas eu… sinto que e
**Capítulo 1**CLAIREO escritório da Donovan & Co. sempre foi um lugar que me intimidava, mas também me fascinava. As paredes de vidro, que se estendiam do chão ao teto, davam ao ambiente uma sensação de imensidão, como se o mundo lá fora fosse pequeno demais diante da grandiosidade daquele espaço. Tudo naquele escritório parecia pensado para exalar poder: o design moderno, o mobiliário minimalista, até o som dos passos sobre o piso polido, como uma música de sucesso tocando sem parar. Era o tipo de lugar onde as pessoas não eram apenas bem-sucedidas — elas eram imponentes.Eu nunca imaginei que algum dia faria parte daquele universo. Como alguém tão comum, sem qualquer traço de grandeza, teria alguma chance de entrar naquele círculo? Mas eu batalhei muito para chegar ali. Passei noites em claro estudando, lidando com frustrações e momentos de dúvida. Tudo para conquistar a chance de trabalhar ao lado de Lucas Donovan. E, no fundo, eu sabia que era ele quem mais me motivava. A oportun
**Capítulo 2**LUCASA noite estava quente e abafada quando entrei na boate. Dominic, um dos meus poucos amigos fora do ambiente corporativo, estava ao meu lado, puxando-me para o balcão do bar como se fosse a única saída para um dia exaustivo. Eu não era o tipo de homem que frequentava boates. Mulheres, claro, eram parte da minha rotina — desde que fosse algo simples, rápido, e sem complicações. A vida já era complexa o bastante para que eu perdesse tempo me dedicando a romances ou a situações emocionais. Mas, por alguma razão, naquele dia, aceitei o convite de Dominic para "desligar a mente" um pouco.— Vai te fazer bem, Lucas. Você precisa se soltar de vez em quando — disse Dominic, enquanto entregava ao barman uma nota generosa e pedia duas doses de uísque.Aceitei o copo que ele me ofereceu, dando um gole enquanto observava a movimentação ao redor. O ambiente estava cheio, as luzes alternando entre tons vermelhos e azuis, o que dava ao lugar um ar de mistério. Eu não conhecia nin
**Capítulo 3**CLAIREVoltar ao escritório na manhã seguinte foi mais difícil do que eu imaginava. Dormi tarde demais, ainda sob o efeito daquela noite na boate. A imagem da dançarina estava gravada na minha mente, e cada vez que eu tentava me concentrar, ela aparecia, me desafiando com aquele olhar firme e inabalável. Era um alívio ninguém no escritório saber onde estive ou o que eu fizera na noite anterior. Mesmo assim, aquela sensação inquietante não desaparecia.Quando entrei na empresa, minha secretária, Claire, já estava em sua mesa, os olhos fixos no computador. Ela me cumprimentou com seu habitual sorriso gentil, e eu acenei com um leve movimento de cabeça, mais distraído do que o normal. Minha mente ainda estava presa na lembrança da dançarina, e, pela primeira vez em muito tempo, eu me permiti uma pequena dose de curiosidade.— Bom dia, senhor Donovan — Claire disse, sem desviar os olhos do computador.— Bom dia, Claire. — Tentei soar casual, mas ela parecia notar minha falt
**Capítulo 4**LUCASMinha obsessão pela dançarina estava tomando um rumo que eu não previa. Quando pisei no escritório naquela manhã, estava decidido a descobrir tudo o que pudesse sobre ela. A curiosidade estava me consumindo. Cada apresentação, cada movimento que ela fazia no palco, tudo parecia ter um propósito, como se estivesse lançando um convite que eu não conseguia ignorar.Claire estava lá, em sua mesa, como sempre, com aquele ar de eficiência e calma. Cumprimentou-me com um aceno e me entregou alguns documentos. Eu dei uma olhada rápida e assenti, percebendo como ela me observava mais intensamente. Havia algo diferente em sua expressão, algo que eu não conseguia decifrar. Claire sempre fora uma presença sutil e tranquila, mas nos últimos dias... eu não sabia explicar. Era como se ela soubesse o que se passava em minha mente.Naquela manhã, eu precisava de uma saída para minha frustração. A cada relatório que eu lia, a imagem da dançarina voltava à minha mente, distraindo-me
**Capítulo 5**CLAIREDesde que comecei a dançar naquela boate, algo dentro de mim despertou. No palco, eu me tornava alguém diferente, alguém que não precisava esconder suas emoções ou inseguranças. Ali, eu era livre. Longe da Claire invisível que Lucas Donovan via no escritório todos os dias. Mas agora, meu segredo parecia ameaçado, como se as paredes que construí ao redor dele estivessem começando a rachar.E tudo por causa dele.Nos últimos dias, Lucas havia mudado. Era sutil, mas eu percebia os olhares furtivos, o modo como sua atenção parecia vagar sempre que estava por perto. E o que mais me perturbava era que, em alguns momentos, parecia me observar com uma curiosidade intensa. Meu coração batia mais rápido a cada vez que ele me encarava por tempo demais. Será que ele... suspeitava?— Claire, você poderia trazer o relatório de vendas? — A voz dele me fez sair do transe, e eu pisquei, percebendo que estava perdida em pensamentos.— Claro, senhor Donovan. Vou trazê-lo agora. — M