CLAIREA vida é um jogo de equilíbrio, pensei, enquanto observava Gabriel correr pela sala com seu dinossauro de brinquedo favorito. O riso dele iluminava o ambiente, mas minha mente estava a mil. O espetáculo "Dançando Sonhos" estava a poucos dias de acontecer, e eu ainda não havia terminado de ajustar os detalhes. Entre os ensaios finais e as preocupações sobre o impacto disso no meu casamento, comecei a questionar se estava realmente no controle.Lucas entrou na sala com duas xícaras de chá e um sorriso tranquilo que contrastava com minha inquietação.— Aqui está, para você relaxar um pouco – disse ele, entregando-me a xícara.Sorri em resposta, mas algo em mim não conseguia se entregar àquele momento de paz. Sentia que havia uma desconexão entre nós, como duas linhas paralelas que nunca se encontram. Apesar de todo o esforço de Lucas para se reaproximar, algo ainda faltava.Naquela noite, enquanto revia as coreografias, Amanda me chamou a atenção.— Claire, você precisa descansar.
CLAIREA academia de dança finalmente estava estabilizada. O fluxo de alunos crescia, os espetáculos eram bem recebidos, e a equipe estava em harmonia. Mas, ao mesmo tempo, algo parecia escapar pelas frestas da minha vida. Apesar de todos os nossos avanços, Lucas e eu ainda enfrentávamos dificuldades em ajustar nossos papéis dentro da dinâmica familiar.Gabriel, nosso filho, estava cada vez mais atento ao que acontecia ao seu redor. Ele começava a fazer perguntas que nem sempre eram fáceis de responder. Uma tarde, enquanto eu tentava ajudar com sua lição de casa, ele me encarou com uma seriedade que não combinava com seus sete anos.— Mamãe, por que você e o papai sempre discutem quando estão sozinhos?Minha respiração ficou presa por um momento. Como explicar a uma criança que, embora o amor ainda estivesse lá, as circunstâncias eram mais complicadas do que ele podia entender? Decidi que a honestidade seria a melhor escolha.— Gabriel, papai e eu nos amamos muito, mas às vezes os adu
CLAIREAs semanas que se seguiram foram marcadas por um tipo de calmaria que há muito não experimentávamos. Não era apenas a ausência de conflitos, mas um novo tipo de equilíbrio que Lucas e eu havíamos construído juntos. A terapia continuava, mas agora não apenas como um espaço para tratar feridas antigas, mas também para fortalecer nosso entendimento e respeito um pelo outro.Gabriel parecia absorver essa mudança de energia em nossa casa. Sua curiosidade natural o levou a questionar mais sobre meu trabalho na academia e sobre os projetos de Lucas. Percebi que ele também estava aprendendo com o exemplo, vendo que mesmo os adultos podem cometer erros, mas que também podem trabalhar para consertá-los.Uma noite, enquanto eu revisava algumas coreografias para uma apresentação especial na academia, Gabriel se aproximou.— Mamãe, posso ajudar? — ele perguntou, com um brilho nos olhos.Surpresa, mas feliz com sua iniciativa, entreguei a ele um bloquinho para fazer anotações enquanto eu exp
CLAIREA vida finalmente parecia estar entrando nos eixos. Com a academia estabilizada e nossa família em sintonia, começamos a sonhar novamente, algo que parecia distante há alguns meses. Um dia, durante o café da manhã, Lucas sugeriu:— E se tirássemos umas férias no final do ano? Algo para comemorar tudo que conquistamos.Olhei para ele, surpresa, mas animada com a ideia.— Isso seria maravilhoso! Gabriel adoraria. Talvez possamos ir à praia ou explorar um lugar novo.Gabriel, que estava saboreando seu cereal, ergueu os olhos com entusiasmo.— Quero ir para um lugar com piscina! E sorvete!Rimos juntos, e a ideia de planejar uma viagem nos deu uma nova energia. Além disso, percebi que esses momentos de descontração eram essenciais para manter nosso equilíbrio emocional.Enquanto Gabriel corria para pegar seus brinquedos, Lucas continuou:— Pensei em algo que seja relaxante, mas também divertido para todos. Você sabe, algo que nos conecte ainda mais como família.— Concordo completa
CLAIREOs dias após nossa viagem foram preenchidos por uma rotina movimentada, mas feliz. A academia estava prosperando como nunca. As oficinas temáticas que havíamos introduzido eram um sucesso, e os alunos adoravam a oportunidade de explorar diferentes estilos de dança. Mesmo assim, eu sentia que algo estava mudando.Lucas e eu tínhamos encontrado um ritmo confortável, mas ele parecia preocupado ultimamente. Percebi isso nos pequenos gestos: o olhar perdido durante o jantar, a maneira como ele demorava mais tempo no trabalho e sua tendência a evitar conversas profundas.Uma noite, decidi que era hora de perguntar o que estava acontecendo. Depois que Gabriel foi para a cama, nos sentamos na varanda com uma xícara de chá.— Lucas, você tem estado distante. O que está acontecendo? — perguntei, tocando sua mão.Ele suspirou profundamente antes de responder.— Claire, eu estive pensando sobre meu trabalho. Sei que você está crescendo com a academia, e isso é incrível. Mas eu… sinto que e
CLAIREO planejamento do centro cultural estava se tornando uma parte central de nossas vidas. Lucas e eu passávamos noites debatendo ideias, desenhando projetos e imaginando como aquele espaço poderia transformar a comunidade. A cada conversa, sentíamos que nossos sonhos individuais estavam se entrelaçando de uma maneira incrível.Apesar disso, havia desafios. O maior deles era encontrar um lugar adequado para abrigar o centro. Queríamos algo espaçoso o suficiente para acomodar as aulas e eventos, mas também acessível para a comunidade. Visitamos vários locais, mas nada parecia certo.Uma tarde, enquanto eu estava na academia, Rafael entrou com uma expressão animada.— Claire, acho que encontrei o lugar perfeito — disse ele, colocando um panfleto na minha mão.O edifício no panfleto era antigo, com uma fachada charmosa e cheia de história. Estava localizado no centro da cidade, perto de escolas e áreas residenciais. Era exatamente o tipo de lugar que imaginávamos.— Parece perfeito,
CLAIRECom o centro cultural funcionando a pleno vapor, Lucas e eu finalmente encontramos um momento para respirar. Durante meses, nossa energia esteve totalmente focada no projeto, e percebi que havíamos nos distanciado um pouco enquanto casal. Apesar de estarmos mais unidos como parceiros de vida, sentia falta da intimidade e da espontaneidade que nos conectava no início.Uma noite, enquanto Gabriel dormia, Lucas apareceu na sala com uma garrafa de vinho e um sorriso que eu não via há algum tempo.— Está na hora de termos um tempo só nosso — disse ele, colocando duas taças na mesa de centro.Surpresa, mas animada, sentei ao lado dele no sofá. A sala estava iluminada apenas pela luz suave do abajur, criando um clima acolhedor e íntimo.— Você leu meus pensamentos? — perguntei, sorrindo.— Talvez. Mas a verdade é que sinto sua falta, Claire. Entre trabalho, reformas e Gabriel, acho que nós esquecemos de como é ser apenas "nós".Meu coração se aqueceu com aquelas palavras. Ele tinha ra
CLAIREA vida havia entrado em um ritmo mais tranquilo desde nossa viagem para a cabana. Era como se Lucas e eu tínhamos encontrado um novo equilíbrio, um que incluía não apenas nosso amor, mas também nossos sonhos e desafios compartilhados. Gabriel, cada dia mais esperto, era o centro do nosso mundo, mas agora também conseguíamos nos dedicar ao que nos fazia felizes como casal.Uma tarde, enquanto eu estava no estúdio da academia organizando as aulas da semana, Lucas apareceu com um sorriso misterioso e uma sacola nas mãos.— O que você está tramando? — perguntei, cruzando os braços e fingindo desconfiar.— Apenas algo pequeno — respondeu ele, colocando a sacola sobre a mesa. Dentro dela havia um par de sapatilhas de balé novas, lindamente embaladas. — Achei que você poderia precisar disso para o seu próximo passo.Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo o gesto. Lucas sabia o quanto a dança significava para mim, mas nos últimos anos, eu havia colocado tudo em segundo plano par