CLAIREOs dias passavam devagar, como se o tempo estivesse nos testando. Eu me segurava a cada fio de esperança, por mais frágil que fosse, enquanto Lucas continuava em sua luta silenciosa para encontrar algo de si mesmo em um passado que ele não conseguia acessar.Hoje, decidi tentar algo novo. Não uma conversa direta, não um simples apelo às suas emoções. Desta vez, eu o levaria para fora do hospital, para um lugar que talvez pudesse despertar algum vestígio de memória.Quando cheguei ao quarto, Lucas estava sentado na cama, mexendo no bracelete que Gabriel tinha dado a ele no dia anterior. O bracelete tinha letras coloridas formando a palavra "PAPAI", e, embora Lucas não se lembrasse de ser pai, não tirava o objeto do pulso desde que Gabriel o entregou.— Pronto para uma pequena aventura? — perguntei com um sorriso encorajador.Ele ergueu o olhar para mim, curioso. — Que tipo de aventura?— Uma que pode ajudar você a se lembrar de quem é.Ele hesitou por um momento antes de acenar
CLAIREDepois da visita de Gabriel ao hospital, algo mudou. Não foi o suficiente para que Lucas recuperasse suas memórias, mas a conexão entre ele e nosso filho começou a crescer. Aos poucos, a desconfiança inicial deu lugar a momentos genuínos de interação. Gabriel, com sua energia inesgotável, não dava chance para a melancolia.Naquela manhã, quando entramos no quarto de Lucas, ele já estava acordado, mexendo no bracelete que Gabriel lhe deu. O pequeno correu até a cama, trazendo um caderno de desenhos nas mãos.— Papai, olha o que eu fiz! — disse Gabriel, subindo com facilidade e abrindo o caderno no colo de Lucas.Os desenhos eram simples, com traços infantis, mas cada um contava uma história. Um mostrava os três juntos no parque, outro na praia, e um último com Lucas segurando Gabriel nos ombros.Lucas analisava os desenhos com atenção, como se estivesse tentando extrair deles algo mais profundo.— Você desenhou tudo isso? — perguntou ele, a voz carregada de curiosidade.— Sim! E
CLAIREA manhã estava ensolarada, o tipo de dia que sempre me lembrava das vezes em que Lucas, Gabriel e eu íamos ao parque fazer piqueniques. Ainda que essas memórias fossem apenas minhas agora, elas eram o combustível que me dava força para continuar tentando trazê-lo de volta para nós.Gabriel estava animado para ver o pai novamente. Ele vestiu a camiseta favorita — azul com pequenos dinossauros — e insistiu em carregar uma sacola com desenhos novos para mostrar a Lucas. Eu admirava a forma como ele tratava o pai com naturalidade, mesmo diante da distância imposta pela amnésia.No hospital, caminhamos até o quarto de Lucas, que já estava de pé, olhando pela janela. Sua postura parecia um pouco mais ereta, como se ele estivesse começando a recuperar algo de sua força interior. Quando nos viu entrar, seu rosto se iluminou, embora houvesse uma sombra de incerteza em seus olhos.— Papai! — Gabriel correu até ele, subindo na cama com a habilidade de alguém que já fazia isso há anos. — O
CLAIREAs manhãs haviam se tornado um ritual. Todos os dias, Gabriel e eu visitávamos Lucas no hospital, tentando reconstruir os laços que o acidente havia rompido. Cada passo era lento e cheio de incertezas, mas eu sabia que não poderia desistir.Era sábado, e Gabriel insistiu em levar algo especial para o pai. Ele passou a manhã pintando um quadro em cores vibrantes: um céu azul, árvores verdejantes e uma família de mãos dadas. Era simples, mas carregava toda a essência de quem éramos — ou de quem Gabriel acreditava que ainda podíamos ser.— Mamãe, será que o papai vai gostar? — ele perguntou, segurando o quadro com um brilho nos olhos.— Tenho certeza de que ele vai amar, querido, — respondi, ajoelhando-me para ajeitar o cachecol ao redor de seu pescoço.Quando chegamos ao hospital, Lucas estava sentado na cama, folheando o caderno de desenhos de Gabriel. Sua expressão era introspectiva, como se estivesse tentando absorver cada detalhe. Ao nos ver entrar, um sorriso tímido iluminou
CLAIREOs dias estavam se transformando em semanas, e, embora Lucas estivesse fisicamente recuperado, sua memória ainda parecia um véu denso que ele não conseguia atravessar. Cada encontro era um desafio, mas também uma oportunidade de tentar reaproximá-lo de sua vida anterior.Gabriel e eu seguimos com nossas visitas diárias ao hospital, na esperança de que algo — um gesto, uma palavra, um sorriso — pudesse acender uma faísca de reconhecimento em Lucas. Era desgastante, mas desistir não era uma opção.Naquela manhã, enquanto ajeitava o cachecol de Gabriel antes de sairmos, ele me olhou com seus olhos grandes e cheios de curiosidade.— Mamãe, você acha que o papai ainda vai lembrar de mim?Sua pergunta me atingiu como um golpe. Respirei fundo antes de responder, tentando esconder a incerteza que corroía meu peito.— Claro que vai, meu amor. O papai só precisa de tempo.Gabriel assentiu, parecendo mais satisfeito com minha resposta do que eu mesma. Pegou sua mochila e correu para a por
CLAIREO amanhecer trouxe uma sensação mista de esperança e apreensão. Desde o acidente de Lucas, cada dia começava com a possibilidade de um avanço ou mais do mesmo vazio. O hospital se tornara nossa segunda casa, e cada visita era uma batalha emocional. Gabriel, sempre otimista, acreditava que seu pai recuperaria a memória em breve. Eu? Tentava manter minha fé, mas os dias sem progresso pesavam como uma âncora em minha alma.Enquanto Gabriel tomava o café da manhã, revisei mentalmente a conversa do dia anterior. Lucas parecia mais aberto, mais disposto a aceitar o vínculo que compartilhávamos, mesmo sem lembrar. Talvez hoje fosse diferente. Talvez, finalmente, algo despertasse.— Vamos, mamãe? — Gabriel perguntou, segurando seu caderno de desenhos. — Quero mostrar outro desenho para o papai.Sorri para ele, mesmo que meu coração estivesse apertado. — Claro, meu amor.LUCASO hospital parecia mais sufocante a cada dia. Embora meu corpo estivesse se recuperando rapidamente, minha ment
CLAIREA manhã chegou com uma calma peculiar, mas minha mente estava longe de acompanhar o ritmo sereno do dia. O sorriso de Gabriel ao falar sobre Lucas ainda ecoava em minha mente. Mesmo sem a memória do passado, Lucas parecia estar tentando, e isso significava o mundo para mim.Enquanto Gabriel assistia desenhos animados na sala, eu arrumava a bolsa para a nossa próxima visita ao hospital. Havia algo diferente hoje, uma esperança renovada, mas também uma ansiedade crescente. Lucas parecia mais receptivo ultimamente, e eu queria acreditar que estávamos no início de um novo capítulo, ainda que não soubéssemos como seria o desfecho.— Mamãe, posso levar meu álbum de fotos? — Gabriel perguntou, segurando o pequeno álbum de capa azul que ele havia preenchido com imagens da nossa família ao longo dos anos.Parei por um momento, considerando a ideia. Talvez fosse um risco, mas Gabriel estava certo em querer tentar.— Claro, meu amor. Mas lembre-se de ser paciente com o papai, tá bem?Ele
CLAIREA manhã seguinte trouxe um misto de esperança e ansiedade. Depois de semanas vendo Lucas lutar contra o vazio em sua mente, sua reação ao álbum de fotos foi a fagulha que eu precisava para continuar tentando. Talvez o homem que eu amava ainda estivesse lá, apenas esperando para ser encontrado.Enquanto terminava o café, Gabriel entrou na cozinha com Max nos braços. Tínhamos trazido o cachorro de volta para casa na noite anterior, depois que Lucas mencionou querer vê-lo. Gabriel estava radiante com a ideia de levar Max ao hospital.— Mamãe, o papai vai adorar ver o Max de novo, não vai?Sorri, acariciando os cabelos dele. — Acho que sim, meu amor.Por mais que quisesse acreditar nisso, a dúvida ainda pairava. Lucas não tinha garantias de que Max traria de volta alguma lembrança, mas se isso não funcionasse, pelo menos ele veria a alegria nos olhos de Gabriel. E talvez isso já fosse suficiente.LUCASO quarto de hospital havia se tornado um lugar de reflexão involuntária. As hora