-Daily, acorde!
Ela abriu os olhos com dificuldade devido à claridade e viu Erone e Burt debruçados próximos a ela.
- O que houve? – perguntou ela confusa, colocando a mão na cabeça que estava dolorida.
- Pensei que você tinha morrido. – falou Erone.
- Isso já aconteceu outra vez... – falou ela. – Não se preocupem.
- Você está bem? – perguntou Burt preocupado.
- Estou bem...
- Por que Ahua fez isto? – Questionou ele.
- Eu... Não fui respeitosa. – disse ela.
- Daily, ele não poderia ter feito isso... Na frente de todos. Você deve procurar Ahau e dizer o que houve. Ele precisa tomar providências. – disse Burt.
- Eu nunca falei com Ahau. – disse Daily confusa.
- Ahau é um homem do bem. – disse Erone. Ele olhou para os lados e disse em tom baixo: - Se A
Quando ela chegou em casa, Erone já estava dormindo. Ela olhou pela janela de seu quarto e viu a lua iluminando o céu. Colocou um manto leve e saiu. Não havia nenhuma Kasenkino fora de casa. Todos estavam provavelmente muito cansados do trabalho do dia. Ela correu para o rio, até chegar no lugar onde havia encontrado o príncipe Mark. Procurou por ele, mas não estava ali. Ela sentou-se na beira do rio, sobre as pedras pontiagudas. Conseguia ver refletida a luz prateada da lua nas águas turvas e barulhentas. Ela percebeu o quanto era privilegiada por estar ali, observando aquilo tudo. Adorava aquele lugar, aquele rio que não parava nunca de correr, que não se cansava de banhar toda a imensidão de florestas que eles nem conseguiam ver. De onde vinham aquelas águas? Para onde iam? Quantas pessoas haviam tocado nelas? Quantas pessoas de diferentes lugares haviam usado aquelas águas para alguma coisa? Quan
Daily levantou mais cedo e preparou um chá. Havia dormido pouco na noite anterior, mas estava excepcionalmente muito bem, pois estava feliz. Ver Mark a curava de qualquer coisa.- Daily, como foi a conversa com Ahau ontem? – perguntou Erone.- Não muito diferente do que eu esperava, meu pai. Ahau justificou a atitude de Ahua.- Nunca fui de questionar nada com relação aos hábitos e costumes de nosso povo e você bem sabe disso Daily. Sempre cumpri com todos os deveres enquanto Kasenkino e com muita honra e orgulho, seguindo os ensinamentos de nossos ancestrais e espíritos antigos. Mas não concordo com o que Ahua fez com você. Aquele tapa ainda ecoa em minha mente durante as noites. Foi uma humilhação para nós.- Papai, não se preocupe com isso. Ahua pagará o preço por seus atos. Eu vou me vingar algum dia.- Sua mãe nunca concordou com
- Daily, por que está chorando? – perguntou Erone quando percebeu as lágrimas nos olhos dela.- Nada de importante, meu pai. – disse ela limpando as lágrimas. – O casamento está me deixando assim... Acho que o medo da mudança de vida. – mentiu ela.- Tudo vai ficar bem, Daily. Não se preocupe.Daily tentou ficar mais tranquila. Erone tinha razão. Tudo ficaria bem... Desde que ela casasse com Burt e esquecesse Mark.- Burt, você não trabalhará mais conosco? – falou ela mudando de assunto.- Pois é... Vou para o cultivo do café.- Vai ser melhor para você... Estará livre do trabalho pesado do muro.- Eu preferiria ficar na construção do muro... Assim estaria ao seu lado.Daily percebeu sinceridade nas palavras de Burt. Infelizmente ele parecia apaixonado por ela, o que ela tentara evitar desd
Daily abriu os olhos e já era dia. Havia dormido tão pouco. Olhou para as paredes de seu quarto, escuras, cheirando a madeira úmida. A janela de tamanho médio deixava entrar boa parte da claridade do dia e também lhe proporcionava uma boa imagem da noite. Como dormia no andar de cima, tinha uma boa visão do povoado. Sentiria falta de seu quarto, sua casa e a convivência com seu pai. Ela observou o pai, que ainda dormia profundamente e não quis acordá-lo. Juntos as roupas dele que estavam jogadas pelo chão e levou ao córrego para lavar. Preparou um chá de ervas e enquanto bebia Erone acordou.- Dormiu bem? – perguntou ele.- Sim... E o senhor?- Não muito... Estava uma noite abafada.- Também achei... Mas depois da tempestade eu consegui dormir.- Tempestade? Que tempestade?- A tempestade da noite... – falou ela confusa.- Cert
Ela escutou passos atrás de si e sentiu seu corpo tremer. Teve um pouco de medo, mas não conseguia ver na escuridão da noite.- Mark? – perguntou ela com voz fraca.Demorou alguns segundos para haver resposta:- Sim, sou eu.
Daily abriu os olhos e estava no chão, com a cabeça sobre a perna de Burt, que também estava no chão e com todos em sua volta, a observando. Ela levou um tempo a lembrar o que havia acontecido.- O que houve, menina? – perguntou Ahau.- Eu... Não sei... Não se senti bem...- Não se preocupe. – disse ele sorrindo. – Ninguém vai lutar por você... Casar-se-á com Burt como desejam.Daily ficou confusa. Não tinha certeza se realmente havia visto Mark ou se era uma ilusão de sua cabeça ou seu coração. Ele não teria coragem para tanto... Entrar no povoado inimigo, sozinho, por uma mulher? Ela não acreditava que ele pudesse ter feito aquilo.- Precisamos conversar... - disse Burt em tom baixo.- Hoje não, Burt... Por favor. – disse ela.- Hoje não... Mas amanhã sim. – falou el
Quando Daily e Mark chegaram à margem do rio, no outro lado da floresta, se deitaram molhados na areia ainda quente. Estavam cansados e felizes. Ambos se olharam, iluminados pela lua cheia. Mark tirou o véu que cobria o rosto dela novamente e acariciou a pele macia, passando os dedos pelos lábios:- Eu te amo, Daily.- Eu te amo, Mark... Por toda minha vida... Essas foram as últimas palavras que Daily trocou com o pai. Ásperas, dolorosas e de acusações de ambos os lados. Ela deitou-se na cama e chorou muito. Mas chorou por todas as palavras que havia ouvido de seu pai e pelas que havia dito, não pelo que havia feito ao se casar com Mark, pois não se sentia culpada. Eles não eram culpados pelo amor que sentiam. Nunca havia sido intenção dela magoar Erone, mas sabia que ele jamais aceitaria aquele casamento. Ela amava Erone, ele era seu pai, mas o amor que ela sentia por Mark era maior que tudo. Sentia-se segura ao lado dele, corajosa para enfrentar qualquer coisa. O sol já nascia no céu e ela ficou ali até os primeiros raios invadirem sua janela, iluminando seu rosto inchado e seus olhos vermelhos. Não adiantava ficar chorando ou se lamentando pela discussão que tivera com o pai. Nada mudaria aquilo. Preferia pensar em seu marido, nas noites mCapítulo 24