Essas foram as últimas palavras que Daily trocou com o pai. Ásperas, dolorosas e de acusações de ambos os lados. Ela deitou-se na cama e chorou muito. Mas chorou por todas as palavras que havia ouvido de seu pai e pelas que havia dito, não pelo que havia feito ao se casar com Mark, pois não se sentia culpada. Eles não eram culpados pelo amor que sentiam. Nunca havia sido intenção dela magoar Erone, mas sabia que ele jamais aceitaria aquele casamento. Ela amava Erone, ele era seu pai, mas o amor que ela sentia por Mark era maior que tudo. Sentia-se segura ao lado dele, corajosa para enfrentar qualquer coisa. O sol já nascia no céu e ela ficou ali até os primeiros raios invadirem sua janela, iluminando seu rosto inchado e seus olhos vermelhos. Não adiantava ficar chorando ou se lamentando pela discussão que tivera com o pai. Nada mudaria aquilo. Preferia pensar em seu marido, nas noites m
Ela ficou calada, confusa com as palavras dele:- Agora somos casados. –disse ele.- Eu não sou sua esposa, Burt. Já estou casada com outro homem. Este casamento não valeu nada perante os deuses, entendeu?- Você será minha... Quer queira ou não.
O tempo passava lentamente e Daily já nem se importava mais em contar quantas noites e dia não via Mark nem tinha notícias dele. Cada novo amanhecer não tinha mais sentido e as noites eram somente de lembranças de momentos lindos em que ela fora feliz. Sua mente ainda a atormentava com o que vivera na cabana de Ahau no dia de sua morte. Os comentários enquanto andava pelo povoado era sua semelhança com Darla. Embora reclamasse do véu enquanto o usava, agora ironicamente sentia falta de esconder parte de seu rosto e sua tristeza, em especial os sorrisos forçados. E ela continuava não se sentindo bem, com sensações estranhas e tonturas, especialmente nos dias de trabalho sob o sol forte. Não tinha fome e quando comia acabava ficando pior.- Daily, o que você tem, meu amor? – perguntou Burt quando a viu sentada na janela, olhando para o nada.Nem ela sabia direito o que
- Daily, acorde...Daily conhecia aquela voz, mas não conseguia reconhecer quem era. Tentou abrir os olhos, mas não conseguia. A voz continuou, até ir ficando mais fraca e desaparecer. Seria um sonho? Ela estaria morta? Onde estavam os deuses? E os espíritos antigos que a buscariam? Será que ela não os encontraria por tudo que fizera errado e não ter cumprido as regras impostas por seu povo? Onde estava a voz? Não importava... Ela só queria continuar dormindo... Para sempre.Daily sentia que estava acordada novamente, mas não conseguia abrir os olhos. Sentiu um beijo leve e doce em seu rosto. Não sentia mais frio... Estava tão aquecida e confortável... Num lugar macio e com cheiro bom.Ela tentou abrir os olhos lentamente... E parecia ver Mark na sua frente.- Estou sonhando? – falou ela.- Não está sonhando, meu amor... Sou eu. – di
Mark trouxe o jantar para Daily no quarto, mesmo ela já sentindo melhor. Quando ela olhou a quantidade de alimentos ficou impressionada. Aquela comida poderia alimentar muitas pessoas. Havia coisas que ela não conhecia e nunca provara. A alimentação dos Kasenkinos era bastante restrita. Comiam somente o que a natureza oferecia. E se não fosse época boa de colheita, a comida era escassa. Usavam muitos chás, ervas, raízes, folhas, frutos e alguns tipos de animais na alimentação. Mas aquela infinidade de comida à sua frente a fez pensar em seu povo e na falta de alimentos que havia lá. Mas ela estava com tanta fome que não pensou duas vezes em provar tudo que conseguia. Depois pensaria em como ajudar seu povo de alguma forma através do reino de
Daily estranhava um pouco ter Ika o tempo inteiro com ela, perguntando se queria algo, anunciando quem chegava, o que acontecia. Servia-lhe o tempo todo. Talvez com o tempo acostumasse com aquilo, mas por enquanto sentia-se um pouco presa. Talvez sentisse falta de sua liberdade, seus vestidos folgados, seus cabelos soltos e seus pés descalços pela floresta. Era acostumada a fazer as coisas pelos outros e não o contrário. As mulheres Kasenkinas nasciam para servir e não pra serem servidas. Primeiro serviam os pais e as mães até se casarem e servirem ao marido e aos filhos.Ela olhou para o enorme travesseiro ao lado do seu. Passou a mão com carinho depois sentiu o cheiro de Mark. Nem acreditava que ele havia passado a noite com ela, lhe dando tanto carinho que ela jamais imaginou receber. Tudo parecia um sonho. E naquele momento ela teve certeza que entre a liberdade, os pés descalços e a floresta, ela escol
Daily despertou com os raios de sol batendo em seu rosto. Ika estava abrindo a janela para o sol entrar no quarto. Ela olhou para o lado e percebeu que Mark não estava mais ali. Ela levantou a cabeça e sentiu-se muito bem. Nem parecia que havia estado péssima nos últimos dias.- Parece bem melhor, senhora. – disse Ika sorrindo.- Realmente Ika, pareço uma nova pessoa.- Gostaria de banhar-se?- Eu adoraria.- Então me acompanhe, por favor.Ika levou Daily até um enorme quarto de banho. Jamais ela imaginou tomar um banho com água quente e perfumada. Os Kasenkinos não acreditariam que aquilo era possível. Mais uma vez ela fez comparativos e ficou chocada de quantos costumes diferentes entre os dois povos que viviam tão próximos.- Você vai ficar me olhando? – perguntou Daily para Ika.- Sim... Caso a senhora queira que eu a esfre
Mark entrou no quarto rapidamente, muito preocupado.- Daily, o que houve? Eu soube que o médico veio vê-la. Você está doente? Passou mal?- Está tudo bem, Mark. – disse ela deitada confortavelmente na cama.- Eu sabia que Sherylin não a deixaria em paz... Foi por isso que eu a proibi de entrar no castelo.- Ela não teve culpa... Inclusive me pediu desculpas. Disse que irá embora de Machia.- Sherylin lhe pediu desculpas? Sinceramente eu não acredito nas desculpas sinceras dela.- Ela pode ter percebido que nosso amor é real, Mark. Talvez tenha decidido não mais acabar com nossa felicidade. Que de nada adiantaria nos fazer mal...- Daily, não se iluda com Sherylin. Se tem uma coisa que ela sabe muito bem é como manipular as pessoas.- Eu não me importo com Sherylin, Mark. Tenho coisas mais importantes a tratar com você.
Daily percebeu que Ika estava falando devagar, parecendo ter dificuldade em pronunciar as palavras.- Ika, você está bem? – perguntou ela preocupada.- Não me sinto muito bem...Daily podia ver o suor escorrendo pelo rosto dela e parecia estar sem ar. Daily gritou em desespero por socorro. Logo os empregados vieram em seu auxílio. O nervosismo tomava conta de Daily. Percebeu em sua boca uma espuma esbranquiçada. Quando o doutor chegou, ela ainda segurava na mão de Ika.Não demorou até que fosse dado o motivo da morte:- Envenenamento. – disse o doutor.- Como? – perguntou Daily chocada.- Um veneno forte, com certeza. Mas nada mais pode ser feito por ela, infelizmente. Era uma boa mulher. Fiel criada do rei Pollo e depois do rei Mark.Daily olhou para a xícara de chá próxima da cama e gritou em lágrimas:- Não pode