Ela escutou passos atrás de si e sentiu seu corpo tremer. Teve um pouco de medo, mas não conseguia ver na escuridão da noite.
- Mark? – perguntou ela com voz fraca.
Demorou alguns segundos para haver resposta:
- Sim, sou eu.
Daily abriu os olhos e estava no chão, com a cabeça sobre a perna de Burt, que também estava no chão e com todos em sua volta, a observando. Ela levou um tempo a lembrar o que havia acontecido.- O que houve, menina? – perguntou Ahau.- Eu... Não sei... Não se senti bem...- Não se preocupe. – disse ele sorrindo. – Ninguém vai lutar por você... Casar-se-á com Burt como desejam.Daily ficou confusa. Não tinha certeza se realmente havia visto Mark ou se era uma ilusão de sua cabeça ou seu coração. Ele não teria coragem para tanto... Entrar no povoado inimigo, sozinho, por uma mulher? Ela não acreditava que ele pudesse ter feito aquilo.- Precisamos conversar... - disse Burt em tom baixo.- Hoje não, Burt... Por favor. – disse ela.- Hoje não... Mas amanhã sim. – falou el
Quando Daily e Mark chegaram à margem do rio, no outro lado da floresta, se deitaram molhados na areia ainda quente. Estavam cansados e felizes. Ambos se olharam, iluminados pela lua cheia. Mark tirou o véu que cobria o rosto dela novamente e acariciou a pele macia, passando os dedos pelos lábios:- Eu te amo, Daily.- Eu te amo, Mark... Por toda minha vida... Essas foram as últimas palavras que Daily trocou com o pai. Ásperas, dolorosas e de acusações de ambos os lados. Ela deitou-se na cama e chorou muito. Mas chorou por todas as palavras que havia ouvido de seu pai e pelas que havia dito, não pelo que havia feito ao se casar com Mark, pois não se sentia culpada. Eles não eram culpados pelo amor que sentiam. Nunca havia sido intenção dela magoar Erone, mas sabia que ele jamais aceitaria aquele casamento. Ela amava Erone, ele era seu pai, mas o amor que ela sentia por Mark era maior que tudo. Sentia-se segura ao lado dele, corajosa para enfrentar qualquer coisa. O sol já nascia no céu e ela ficou ali até os primeiros raios invadirem sua janela, iluminando seu rosto inchado e seus olhos vermelhos. Não adiantava ficar chorando ou se lamentando pela discussão que tivera com o pai. Nada mudaria aquilo. Preferia pensar em seu marido, nas noites mCapítulo 24
Ela ficou calada, confusa com as palavras dele:- Agora somos casados. –disse ele.- Eu não sou sua esposa, Burt. Já estou casada com outro homem. Este casamento não valeu nada perante os deuses, entendeu?- Você será minha... Quer queira ou não.
O tempo passava lentamente e Daily já nem se importava mais em contar quantas noites e dia não via Mark nem tinha notícias dele. Cada novo amanhecer não tinha mais sentido e as noites eram somente de lembranças de momentos lindos em que ela fora feliz. Sua mente ainda a atormentava com o que vivera na cabana de Ahau no dia de sua morte. Os comentários enquanto andava pelo povoado era sua semelhança com Darla. Embora reclamasse do véu enquanto o usava, agora ironicamente sentia falta de esconder parte de seu rosto e sua tristeza, em especial os sorrisos forçados. E ela continuava não se sentindo bem, com sensações estranhas e tonturas, especialmente nos dias de trabalho sob o sol forte. Não tinha fome e quando comia acabava ficando pior.- Daily, o que você tem, meu amor? – perguntou Burt quando a viu sentada na janela, olhando para o nada.Nem ela sabia direito o que
- Daily, acorde...Daily conhecia aquela voz, mas não conseguia reconhecer quem era. Tentou abrir os olhos, mas não conseguia. A voz continuou, até ir ficando mais fraca e desaparecer. Seria um sonho? Ela estaria morta? Onde estavam os deuses? E os espíritos antigos que a buscariam? Será que ela não os encontraria por tudo que fizera errado e não ter cumprido as regras impostas por seu povo? Onde estava a voz? Não importava... Ela só queria continuar dormindo... Para sempre.Daily sentia que estava acordada novamente, mas não conseguia abrir os olhos. Sentiu um beijo leve e doce em seu rosto. Não sentia mais frio... Estava tão aquecida e confortável... Num lugar macio e com cheiro bom.Ela tentou abrir os olhos lentamente... E parecia ver Mark na sua frente.- Estou sonhando? – falou ela.- Não está sonhando, meu amor... Sou eu. – di
Mark trouxe o jantar para Daily no quarto, mesmo ela já sentindo melhor. Quando ela olhou a quantidade de alimentos ficou impressionada. Aquela comida poderia alimentar muitas pessoas. Havia coisas que ela não conhecia e nunca provara. A alimentação dos Kasenkinos era bastante restrita. Comiam somente o que a natureza oferecia. E se não fosse época boa de colheita, a comida era escassa. Usavam muitos chás, ervas, raízes, folhas, frutos e alguns tipos de animais na alimentação. Mas aquela infinidade de comida à sua frente a fez pensar em seu povo e na falta de alimentos que havia lá. Mas ela estava com tanta fome que não pensou duas vezes em provar tudo que conseguia. Depois pensaria em como ajudar seu povo de alguma forma através do reino de
Daily estranhava um pouco ter Ika o tempo inteiro com ela, perguntando se queria algo, anunciando quem chegava, o que acontecia. Servia-lhe o tempo todo. Talvez com o tempo acostumasse com aquilo, mas por enquanto sentia-se um pouco presa. Talvez sentisse falta de sua liberdade, seus vestidos folgados, seus cabelos soltos e seus pés descalços pela floresta. Era acostumada a fazer as coisas pelos outros e não o contrário. As mulheres Kasenkinas nasciam para servir e não pra serem servidas. Primeiro serviam os pais e as mães até se casarem e servirem ao marido e aos filhos.Ela olhou para o enorme travesseiro ao lado do seu. Passou a mão com carinho depois sentiu o cheiro de Mark. Nem acreditava que ele havia passado a noite com ela, lhe dando tanto carinho que ela jamais imaginou receber. Tudo parecia um sonho. E naquele momento ela teve certeza que entre a liberdade, os pés descalços e a floresta, ela escol