- Eu entreguei meu bebê a uma mulher do reino de Machia. – falou Terry.
- Como assim? – perguntou Mark.
- Era um garoto forte e saudável... Mas eu não tinha como ficar com ele. O quer seria de mim com um bebê nesta mata fechada? Eu nem sabia se sobreviveria aqui sozinha... Como o abrigaria do frio, das tempestades, como o protegeria dos animais selvagens?
- Para quem você o entregou, Guerreira do Sol? – perguntou Mark.
- Faz tantos anos... Eu duvido que ela ainda esteja viva, Príncipe Mark.
- Como você encontrou uma mulher do reino aqui?
- Ela costumava vir à mata buscar ervas para beber e para curar feridas... Eu entreguei meu menino à ela e pedi que cuidasse dele e esquecesse que algum dia me viu. Depois me afastei pra sempre daquele local... Nunca mais voltei até lá.
- Como ela se chamava? – perguntou Daily esperançosa.
-
Daily saiu dali. Sabia exatamente onde precisava ir. Quanto mais caminhava, parecia que mais longe ficava de chegar ao seu destino. Sua roupa pesava e o véu estava grudado no rosto, por vezes dificultando sua respiração. Seus pés afundavam na terra embarrada onde não havia vegetação. Um leve dor começou em sua cabeça. Quando ela chegou, parou um pouco, respirou e bateu na porta tão familiar. Moa não demorou a atender:- Daily, menina, o que houve com você?- Moa, eu precisava lhe ver...- E precisava sair com toda esta tempestade? O que houve?- Moa...Ela tentou falar, mas sentiu a dor muito forte em sua cabeça e de repente tudo escureceu e ela não conseguiu segurar seu corpo.Daily acordou recostada na cama de Moa. Ele lhe trouxe um chá quente, que ela tomou rapidamente, mesmo queimando um pouco a garganta.- Moa...<
Daily virou-se e andou rapidamente de volta até o rio e jogou-se na água gelada novamente. Não tinha tempo para pensar, só precisava fazer tudo muito rápido e chegar ao povoado o mais breve possível. Ela correu tanto que tinha certeza de que havia sido a vez que mais rápido havia ido do rio até sua casa.Ela abriu a porta de sua casa e entrou, toda molhada, suja e extremamente cansada. Mas seu véu estava intacto, grudado em seu rosto.Erone esta de pé, próximo a porta:- Daily, onde você estava?- Meu pai...Daily o abraçou. Erone provavelmente não estava entendendo nada do que estava acontecendo naquele momento... Mas ela estava tão cansada, seu corpo doía tanto, mas seu coração estava aquecido. E ela só queria sentir carinho naquele momento, como o que viu de Moa e Terry.- Meu pai... Eu... Gosto muito do senh
-Daily, acorde!Ela abriu os olhos com dificuldade devido à claridade e viu Erone e Burt debruçados próximos a ela.- O que houve? – perguntou ela confusa, colocando a mão na cabeça que estava dolorida.- Pensei que você tinha morrido. – falou Erone.- Isso já aconteceu outra vez... – falou ela. – Não se preocupem.- Você está bem? – perguntou Burt preocupado.- Estou bem...- Por que Ahua fez isto? – Questionou ele.- Eu... Não fui respeitosa. – disse ela.- Daily, ele não poderia ter feito isso... Na frente de todos. Você deve procurar Ahau e dizer o que houve. Ele precisa tomar providências. – disse Burt.- Eu nunca falei com Ahau. – disse Daily confusa.- Ahau é um homem do bem. – disse Erone. Ele olhou para os lados e disse em tom baixo: - Se A
Quando ela chegou em casa, Erone já estava dormindo. Ela olhou pela janela de seu quarto e viu a lua iluminando o céu. Colocou um manto leve e saiu. Não havia nenhuma Kasenkino fora de casa. Todos estavam provavelmente muito cansados do trabalho do dia. Ela correu para o rio, até chegar no lugar onde havia encontrado o príncipe Mark. Procurou por ele, mas não estava ali. Ela sentou-se na beira do rio, sobre as pedras pontiagudas. Conseguia ver refletida a luz prateada da lua nas águas turvas e barulhentas. Ela percebeu o quanto era privilegiada por estar ali, observando aquilo tudo. Adorava aquele lugar, aquele rio que não parava nunca de correr, que não se cansava de banhar toda a imensidão de florestas que eles nem conseguiam ver. De onde vinham aquelas águas? Para onde iam? Quantas pessoas haviam tocado nelas? Quantas pessoas de diferentes lugares haviam usado aquelas águas para alguma coisa? Quan
Daily levantou mais cedo e preparou um chá. Havia dormido pouco na noite anterior, mas estava excepcionalmente muito bem, pois estava feliz. Ver Mark a curava de qualquer coisa.- Daily, como foi a conversa com Ahau ontem? – perguntou Erone.- Não muito diferente do que eu esperava, meu pai. Ahau justificou a atitude de Ahua.- Nunca fui de questionar nada com relação aos hábitos e costumes de nosso povo e você bem sabe disso Daily. Sempre cumpri com todos os deveres enquanto Kasenkino e com muita honra e orgulho, seguindo os ensinamentos de nossos ancestrais e espíritos antigos. Mas não concordo com o que Ahua fez com você. Aquele tapa ainda ecoa em minha mente durante as noites. Foi uma humilhação para nós.- Papai, não se preocupe com isso. Ahua pagará o preço por seus atos. Eu vou me vingar algum dia.- Sua mãe nunca concordou com
- Daily, por que está chorando? – perguntou Erone quando percebeu as lágrimas nos olhos dela.- Nada de importante, meu pai. – disse ela limpando as lágrimas. – O casamento está me deixando assim... Acho que o medo da mudança de vida. – mentiu ela.- Tudo vai ficar bem, Daily. Não se preocupe.Daily tentou ficar mais tranquila. Erone tinha razão. Tudo ficaria bem... Desde que ela casasse com Burt e esquecesse Mark.- Burt, você não trabalhará mais conosco? – falou ela mudando de assunto.- Pois é... Vou para o cultivo do café.- Vai ser melhor para você... Estará livre do trabalho pesado do muro.- Eu preferiria ficar na construção do muro... Assim estaria ao seu lado.Daily percebeu sinceridade nas palavras de Burt. Infelizmente ele parecia apaixonado por ela, o que ela tentara evitar desd
Daily abriu os olhos e já era dia. Havia dormido tão pouco. Olhou para as paredes de seu quarto, escuras, cheirando a madeira úmida. A janela de tamanho médio deixava entrar boa parte da claridade do dia e também lhe proporcionava uma boa imagem da noite. Como dormia no andar de cima, tinha uma boa visão do povoado. Sentiria falta de seu quarto, sua casa e a convivência com seu pai. Ela observou o pai, que ainda dormia profundamente e não quis acordá-lo. Juntos as roupas dele que estavam jogadas pelo chão e levou ao córrego para lavar. Preparou um chá de ervas e enquanto bebia Erone acordou.- Dormiu bem? – perguntou ele.- Sim... E o senhor?- Não muito... Estava uma noite abafada.- Também achei... Mas depois da tempestade eu consegui dormir.- Tempestade? Que tempestade?- A tempestade da noite... – falou ela confusa.- Cert
Ela escutou passos atrás de si e sentiu seu corpo tremer. Teve um pouco de medo, mas não conseguia ver na escuridão da noite.- Mark? – perguntou ela com voz fraca.Demorou alguns segundos para haver resposta:- Sim, sou eu.