Daniel— Ávila, vejo que você está muito bem! — O tom de ironia escancarado na voz me irrita. O que ele queria, que eu estivesse morrendo, entregue ao passado esperando que a morte me levar? Sim, eu quis isso por muito tempo, agora não mais.— Digo o mesmo de você Matias. Querem beber alguma coisa? — Meu tom de voz é firme e seco, um meio de não deixar transparecer os meus medos e inseguranças. A minha armadura.— Eu aceito uma água, por favor! — Magnólia pede com um tom baixo e o olhar repreensivo do marido cai imediatamente sobre ela.— Não, obrigado! — O homem responde carrancudo. Brito vai até a minha secretária solicitar o pedido de Magnólia e volta rápido, fechando a porta.— Ok, esse é Jonas Brito o meu assessor pessoal e essa é Amanda Albuquerque, a minha advogada. — Ele me encara surpreso, com certeza não esperava por isso.— Advogada, Ávila, está armado para cima de mim?— Não é uma armação, é uma prevenção — ralho o encarando com dureza. Ele assente, levando as mãos aos bol
Daniel — Você acha? — Ela sorri me passando confiança.— E tenho certeza. Eu tenho que ir, me ligue se tiver notícias deles.— É só isso? Nós vamos cruzar os braços e esperar?— Sim é isso mesmo. — Minutos depois de Amanda sair do escritório, dispenso Brito. Preciso ficar sozinho e pensar no que acabou de acontecer. Vou até o bar de canto e me sirvo de outra bebida, volto a me sentar no sofá e tomo um pequeno gole, passo o copo gelado em minhas têmporas, tentando amenizar a dor infernal e fecho os olhos para tentar relaxar. Já é de noite quando volto para casa e encontro os meus pais me aguardando na sala. Eles estão aflitos e nervosos como achei que estariam. Dam e Sara foram para empresa mais cedo, eles chegaram pouco tempo depois que a reunião havia começado, mas deixei bem claro que não queria ser importunado. Assim que me veem entrar na casa, se levantam do sofá como sempre dona Sara me abraça tentando me acalmar.— Como foi a reunião, filho? — Meu pai pergunta sem rodeios.— Ca
Isabelly.Chego ao meu escritório e sou recebida pelos olhares curiosos da minha nova assistente e assessoria do RH.— Isabelly, o que você faz aqui? — A voz de Michelle ecoa atrás de mim. Não me dou o trabalho de virar-me para ela e continuo caminhando para a minha sala, o meu melhor refúgio nesse momento, porém, a respondo condescendente.— Estou indo trabalhar, eu trabalho, sabia? —Entro no meu escritório e respiro o ar familiar do ambiente aconchegante. Ah, como eu senti falta disso!— Mas você está em lua de mel! — A mulher diz invadindo o meu espaço.— Corrigindo, eu estava em lua de mel. Ralho e encaro os olhos escuros.— Por quê? — Lanço lhe um olhar irritado. — Desculpa, não tenho nada a ver com isso! — resmunga, erguendo as mãos.— Não tem mesmo, mas se eu não falar com alguém sinto que vou explodir a qualquer momento — falo chorosa, me acomodando em minha cadeira. Michelle se senta prontamente de frente para a minha mesa e me olha especulativa.— O que aconteceu? Não vai me
Isabelly— Oh, meu anjo, eu queria tanto acreditar nisso! — A voz trêmula indica o quão frágil o meu amor está.— Então acredite, porque vamos conseguir. — Ele respira fundo, segura as minhas mãos e beija a sua palma com carinho.— Isa, eu quero que me escute com bastante atenção e que me ajude. Não quero que se envolva, só... me dê a força que eu preciso. — Daniel começa a contar os últimos acontecimentos. Ele fala sobre o ex-sogro e todos os desentendimentos que tiveram desde a morte de Susy e também sobre a sua perseguição de agora.— Então o problema sou eu? — inquiro com um fio de voz.— Não, o problema é ele. Paulo não quer que tenha a felicidade, nem um novo amor. Ele sequer conhece o Cristopher, não o ama, nunca viu o garoto. Ele quer me punir.— O que... o que vai acontecer agora?— Amanda disse para esperar o próximo passo deles. — Meus olhos se erguem em surpresa.— Amanda? — Assente.— Sugestão do Jonas. —Dou um meio sorriso.— Ela é boa no que faz, Dani. Confio muito no t
Daniel.Sonho com dias felizes. Provei o seu gostinho e agora não quero mais largá-la. Ver Cristopher sempre sorrindo, correndo e brincando com sua mãe no meio do campo me deixa satisfeito. Saber que a minha filha está crescer no seu ventre e constatar o quanto a minha esposa está linda com essa imensa e redonda barriga de nove meses é a minha redenção. Sorrio amplamente quando eles param a brincadeira e me olham. Isa me estende a sua. Um convite mudo a participar com eles. Felicidade, depois que provei dela não quero mais largá-la... Abro os meus olhos e percebo que tudo não passou de um sonho, e que o meu paraíso está sendo ameaçado. Deus, estou com um pé dentro do inferno e não posso fazer nada para evitá-lo. Com uma respiração profundo, deslizo a minha mão pela cama a sua procura, mas ela não está aqui. Isa não está. Atordoado, tento focar e me sento no colchão, soltando outra respiração audível. Lembro-me de estar no chuveiro, do choro dolorido, do seu toque suave e do abraço ap
Daniel— Não pode dizer que abandonei o meu neto! — Paulo range enfurecido, ficando de pé.— Senhor Matias, o senhor não tem permissão para falar nesse tribunal a não ser que seja solicitado! — O juiz o repreende em alto e bom tom. O seu advogado tenta o acalmá-lo fazendo-o sentar-se não seu lugar. Enfim, não vai ser tão ruim assim enfrentar esse desgraçado diante de um tribunal. Penso irônico. Um sorriso vitorioso e quase imperceptível brinca no canto dos meus lábios e daqui assisto por várias vezes Paulo ficar pianinho e voltar a sentar-se no seu lugar como um garoto birrento indo para o seu castigo.— Continuando, excelência. — Amanda limpa a garganta e com voz calma continua. — Eu tenho aqui alguns documentos que comprovam que o senhor Ávila tem sido sim, um pai presente, amoroso, atencioso e que nada, exatamente nada falta ao seu filho... — Ela fala e fala, e fala. Os documentos apresentados são de compras e passeios que Cris fez pelo mundo na companhia dos meus pais, frequência
Isabelly.Chego ao escritório perto das três da tarde e assim que me aproximo da minha sala, aceno com a cabeça para minha nova secretária, a Joyce que parece meio perdida com alguns papéis sobre a sua mesa. Ah, como eu sinto falta da Laura! faço uma nota mental para saber como anda a sua recuperação e vou direto para o meu escritório. Depois do almoço com a minha mãe e de convencê-la a aceitar o caso de Daniel em conjunto com Amanda fomos para o fórum. Hoje é a primeira audiência de custódia. Ficamos aguardando do lado de fora da sala, em um corredor onde havia poucas pessoas. Foi uma agonia ter que aguardar que tudo terminasse desse lado do cenário, ouvindo os gritos de vozes alteradas lá dentro. Eu só conseguia pensar em como Daniel estava. Fiquei mais tranquila ao vê-lo sair da sala na companhia da minha prima e melhor amiga. O seu rosto transparecia que ele estava bem e isso era tudo o que me importava nesse momento. Dani parecia mais descontraído, confiante e seguro. Minutos dep
IsabellyApós um breve desabafo com Michelle, resolvo sair da empresa e dirijo até a praia. Fico ali sentada em um banco de concreto do calçadão apenas observando o mar tranquilo e o vai, e vem das ondas. Recebo o frescor da brisa no meu rosto e os pensamentos se perdem nas palavras duras e desprovidas de emoção que aquela mulher me jogou na cara. Eu sempre soube que não era desejada. Uma garota jovem demais, engravida de um garoto qualquer em uma festa qualquer. Eu entendo que ela perdeu todas as oportunidades que tinha. Uma gravidez indesejada é o sinônimo de uma vida infeliz, de fracassos e de desilusões. Mas no fundo eu pensei que haveria um resquício de arrependimento e que ela quisesse ao menos me conhecer e quem sabe me pedir desculpas por não poder ficar comigo. Mas a realidade é que ela nunca me quis realmente. O que antes para mim eram apenas suposições de uma menina que não se sentia amada pela própria mãe, hoje se tornou real e isso dói, dói muito.— Vá visitá-la.— Ela é