Capítulo 2
Eu olhava aquele homem de cima a baixo, tentando reconhecer o rosto, mas, sinceramente, não fazia a menor ideia de quem ele era.

— Qual é esse olhar? — Ele resmungou, franzindo a testa. — Tá me dizendo que não lembra de mim?

— Me desculpa mesmo... — Respondi com um tom neutro, já sem muita paciência. — Nos últimos anos conheci tanta gente que fica difícil lembrar de todo mundo.

E era verdade. Por mais que eu puxasse pela memória, nada nele me parecia familiar. Nenhuma lembrança, nenhuma conexão.

Ele arqueou uma sobrancelha com deboche, soltando uma risada curta, carregada de arrogância:

— Ah, Vitória... Não vem com esse joguinho de fingir que não lembra. Você me perseguiu o ensino médio inteiro, ficou atrás de mim por três anos!

Assim que ele falou, uma imagem antiga piscou na minha mente, como um flash.

Mas o homem diante dos meus olhos agora... Estava muito distante daquele que eu conheci no ensino médio.

— Espera aí... — Franzi os olhos, desconfiada. — Você é o Bernardo Medeiros?

Ao ouvir eu chamar o nome dele, o homem imediatamente assumiu uma expressão de pura satisfação, todo cheio de si.

— Tá vendo? Depois de tanto tempo, ainda não me esqueceu! — Mas, no meio da frase, o tom dele mudou, ficando mais frio. — Mas olha só, vou te avisar logo, hein. Nem tenta nada comigo. Hoje eu estou noivo, sabia? E não é de qualquer uma, não... Foi a própria senhorita Nilda, maravilhosa e sensual, que me apresentou à herdeira da família Laporta.

Revirei os olhos, disfarçando o desprezo. Quem diria? O galã do time de futebol americano, por quem metade da escola suspirava, agora era só um homem decadente, com ares de grandioso.

Todo mundo sabia que ele e Nilda já tinham aquele rolo desde o colégio. Entrar para família Laporta foi só o pretexto perfeito pra manter a relação suja deles.

Bernardo se inclinou mais perto, com aquele sorriso venenoso:

— Aquele Bugatti dourado lá fora? É dela. Um carrão que você, Vitória, nunca vai ter condições de comprar. — Como eu continuei calada, ele deu uma tapinha forte no meu ombro, como se quisesse me lembrar da diferença entre nós. — Mas olha, Vitória, tem um jeito de você dirigir um Bugatti, sabia? Vira motorista da Nilda. Garanto que vai ganhar bem mais do que nesse emprego de escritório.

A galera caiu na gargalhada, como se ele tivesse contado a piada do ano.

Eu não entendia por que aquelas pessoas insistiam em humilhar os outros só para se sentirem superiores.

Um reencontro assim, eu jurava que nunca mais iria participar.

Eu não dava atenção às provocações deles e apenas pegava meu casaco, vestindo-o calmamente, como se nada mais importasse.

— Já terminaram? — Perguntei, olhando ao redor, fria. — Se sim, saiam da frente. Tenho coisas muito mais importantes para fazer do que perder tempo aqui.

Mas, quando dei um passo, os brutamontes da porta continuaram imóveis, bloqueando a passagem como estátuas.

Nilda se recostou na cadeira, sorrindo satisfeita, como quem saboreava cada segundo daquela cena:

— Ah, querida... Esqueceu que este restaurante e toda essa área pertencem à família Laporta?

Você acha mesmo que pode sair assim, na hora que quiser? — Ela sorriu com frieza. — Sem a minha permissão, você não sai por aquela porta.

O ar ficou pesado. Um silêncio cortante tomou o ambiente, e até as risadas cessaram, sentindo a tensão.

Giovana, percebendo o clima hostil, apressou-se a intervir, com um sorriso nervoso:

— Gente, gente... — Ela forçou um tom leve. — Somos amigos há mais de dez anos. Não vamos brigar por uma bobagem dessas, né?

Ela se virou para mim, o olhar preocupado, tentando apaziguar:

— Vitória, já que você veio até aqui, por que não fica mais um pouco? — Disse suavemente. — Senta-se, toma uma taça de vinho, coloca o papo em dia. Não precisa estragar a noite.

Eu sabia que Giovana só queria ajudar, mas meu tempo ali já tinha acabado. E, diferente deles, havia gente importante me esperando.

— Me desculpa, Giovana. — Sorri de leve, mantendo a calma. — É verdade, talvez eu tenha estragado a diversão de vocês. Mas eu realmente tenho coisas mais importantes pra resolver. A reunião da família já começou, e alguns dos chefes estão me esperando.

Assim que as palavras saíram da minha boca, vi o olhar de Nilda congelar, fria como pedra.

Num movimento brusco, ela jogou a taça de vinho no chão. O vidro se estilhaçou, e o som seco ecoou pelo salão.

— Reunião de família? — Ela riu, cruzando os braços, o olhar cortante. — Vitória, quem você pensa que é? Funcionária de escritório agora acha que participa de "reunião de família"?

Ela inclinou a cabeça, sorrindo com escárnio e continuou:

— Deve estar delirando, né? Desde quando algum chefão te espera?

Respirei fundo, pronta pra responder, mas antes que eu dissesse qualquer coisa, Giovana segurou meu braço com força, sussurrando no meu ouvido:

— Vitória, não provoca a Nilda... — A voz dela tremia. — Você sabe como é a família Laporta.

Ela fez uma pausa e murmurou, ainda mais baixo. — Se mexer com ela, você não vai ter lugar nem aqui, nem em lugar nenhum.

Claro que eu sabia do poder dos Laporta. Como não sabia?

O que Giovana não sabia... É que nem mesmo a família Laporta ousaria me tocar.

Sorri de leve para ela, um sorriso tranquilizador, e dei um tapinha de leve na mão dela, pedindo pra não se preocupar.

Então, levantei o olhar, firme, encarando Nilda sem desviar:

— Nilda. — Comecei, com calma, mas firmeza. — Se o seu problema comigo é porque eu gostei do Bernardo... Deixa-me te poupar desse incômodo. Agora eu posso te dizer com toda a certeza, ele nunca esteve à minha altura.

Não era minha intenção provocá-la, mas aquele reencontro parecia mais um tribunal barato, pronto para me julgar e me condenar.

E, sinceramente, eu só tinha vindo pra esclarecer mal-entendidos. Mas certas pessoas não queriam ouvir a verdade.

O rosto de Nilda empalideceu ainda mais, os olhos vermelhos de ódio, e um brilho perigoso surgiu, algo entre raiva e ameaça.

— Hah! — Ela bufou, soltando uma risada seca e venenosa. — Vitória, você é mesmo uma vadia! Quer dizer o quê? Que eu e ele tivemos alguma coisa? Meu noivo é o herdeiro da família Laporta! Tá achando que pode dizer essas coisas e sair viva? Não tem medo de morrer, não?!

Nos olhos dela, queimava uma raiva contida, e as risadas e cochichos começaram de novo, gente ansiosa para ver o desfecho, como se eu fosse um espetáculo de circo.

Eu sabia que podia responder à altura, com palavras que colocariam Nilda no devido lugar.

Mas não valia a pena nem queria perder meu tempo com isso.

— Eu não tenho tempo para essas bobagens. — Respirei fundo. — Manda os seus seguranças saírem da frente. Agora.
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