Eu olhava aquele homem de cima a baixo, tentando reconhecer o rosto, mas, sinceramente, não fazia a menor ideia de quem ele era.— Qual é esse olhar? — Ele resmungou, franzindo a testa. — Tá me dizendo que não lembra de mim?— Me desculpa mesmo... — Respondi com um tom neutro, já sem muita paciência. — Nos últimos anos conheci tanta gente que fica difícil lembrar de todo mundo.E era verdade. Por mais que eu puxasse pela memória, nada nele me parecia familiar. Nenhuma lembrança, nenhuma conexão.Ele arqueou uma sobrancelha com deboche, soltando uma risada curta, carregada de arrogância:— Ah, Vitória... Não vem com esse joguinho de fingir que não lembra. Você me perseguiu o ensino médio inteiro, ficou atrás de mim por três anos!Assim que ele falou, uma imagem antiga piscou na minha mente, como um flash. Mas o homem diante dos meus olhos agora... Estava muito distante daquele que eu conheci no ensino médio.— Espera aí... — Franzi os olhos, desconfiada. — Você é o Bernardo Medeiros?A
Diante das provocações constantes da Nilda, eu não me alterei. Pelo contrário, escolhi relevar uma, duas, três vezes.Afinal, aquilo ainda era, um reencontro de ex-colegas. Eu não queria transformar a noite em um espetáculo de baixarias, embora, para alguns ali, fosse exatamente isso o que desejavam.Mas, quando tentei dar alguns passos para finalmente ir embora, os seguranças da Nilda me agarraram com força, impedindo qualquer movimento.Ela veio até mim com um sorriso cheio de arrogância e me dava tapinhas no rosto, de forma provocadora. — Ah, então você acha mesmo que é alguém importante, né? — Ela cuspiu as palavras com desprezo. — Quer sair assim, como se nada tivesse acontecido? Fácil? Na época da equipe de líderes de torcida, você adorava correr pra contar tudo pra treinadora, não era? Vamos ver agora, nesse mundo, quem vai te proteger!Eu a encarei firme, segurando o olhar dela com frieza, minha voz soando baixa, mas carregada de ameaça contida:— Nilda, vou te dar um último a
Mal terminei de falar, o salão foi tomado por uma salva de palmas ensurdecedora.Aquelas garotas da equipe que seguiam a Nilda, o tal grupinho de irmãs dela, exibiam sorrisos empolgados no rosto, aplaudiam e bajulavam, como se estivessem venerando a própria rainha.— A Nilda sempre nasceu pra ser rainha! — Exclamou uma delas, os olhos brilhando. — Tão jovem, noiva do herdeiro da máfia, desfilando com um carro que vale milhões! O sonho de qualquer mulher!— Isso mesmo! — Completou outra, com aquele tom doce que escondia pura inveja. — Quem diria que a nossa capitã da torcida seria hoje uma dama da alta sociedade?— E você, Vitória... — Uma terceira se meteu, o olhar carregado de malícia. — Para de bancar a durona e ajoelha logo! Ainda dá tempo de pedir desculpas pra Nilda! A tinta daquele Bugatti vale mais que anos da sua vida!As risadas ecoaram, afiadas, como punhais invisíveis.Pareciam se alimentar da expectativa de me ver ajoelhada, humilhada diante deles.Nilda, no centro de tudo,
As portas dos SUVs se abriram ao mesmo tempo e, um a um, homens vestidos com ternos pretos desceram com passos firmes, todos com o brasão da família Verdemar bordado no peito.Seus olhares eram frios como gelo, e cada um segurava uma arma com tanta naturalidade que parecia fazer parte de seus próprios corpos.As meninas do grupo da Nilda, que antes se mostravam tão ousadas, agora recuavam apavoradas, algumas tapando a boca para conter o grito, outras prendendo a respiração, os olhos arregalados de medo.Nilda, que até então exibia uma postura arrogante, largou a barra de ferro no mesmo instante e, com um sorriso forçado, tentando manter a pose, caminhou alguns passos na direção deles:— Oh, que surpresa! — Disse ela, com a voz tremendo levemente, apesar do esforço em soar amigável. — Se eu soubesse que viriam, teria preparado algo especial. Por que não avisaram antes?Mas ninguém respondeu.Um homem alto, imponente, com luvas pretas de couro ajustadas nas mãos, avançou lentamente, o ol
Assim que minhas palavras ecoaram pelo ambiente, o rosto da Nilda desabou de vez, como se toda a máscara que ela tentava manter tivesse finalmente caído.— Vitória... Agora que você já sentiu o gostinho do poder, vai mesmo acabar comigo assim? Eu já disse que vou pagar o prejuízo! Por que é tão difícil me perdoar? Nunca ouviu aquele ditado? "É dando que se recebe, é perdoando que se alcança a paz"...Ela forçou um sorriso, completamente artificial, e continuou:— E além do mais... A gente foi colega de equipe, lembra? Líderes de torcida, o mesmo grupo! Você não vai me dar nem um pouco de consideração?Ah, que bela lição de moral.Não consegui conter um sorriso sarcástico. Cruzei os braços devagar, encarando-a com um olhar frio e direto:— É mesmo? Então deixa eu te perguntar, Nilda... Quando você me barrou na porta lá dentro, quando tentou me humilhar na frente de todo mundo, quando mandou quebrar o meu carro... Por que, naquela hora, você não lembrou da nossa amizade de líderes de tor
Assim que viu o pai descendo do Maybach, Nilda correu até ele, quase tropeçando nos próprios pés, com o rosto todo amassado de tanto forçar uma expressão de coitadinha.— Pai! — Ela choramingou, agarrando o braço dele como se a vida dependesse disso. — Foi ela! Foi essa mulher que mandou destruir o meu carro! E o Ângelo ainda ficou do lado dela!O pai dela franziu a testa, impaciente, e lançou um olhar indiferente na minha direção, como quem olha para algo sem a menor importância.Mas, no segundo seguinte, quando finalmente reparou em mim com atenção, o rosto dele mudou na hora.A expressão endureceu, os olhos se arregalaram discretamente, e o tom, antes arrogante, ganhou um cuidado súbito, cheio de cautela:— Senhorita... Como devo chamá-la? Um leve sorriso de deboche surgiu nos meus lábios enquanto eu respondia com tranquilidade, o tom quase preguiçoso, como se nada daquilo me afetasse:— Vitória.Ele franziu ainda mais o cenho, claramente tentando lembrar de onde conhecia aquele no
Eu olhei friamente para aquele pai e filha, suspirei levemente, sem o menor traço de compaixão.— Ai... Acho que o senhor ainda não entendeu. Quando eu disse "resolver", não falei em dinheiro. O que eu quero ver é se o senhor vai ter coragem, como pai, de ensinar a sua filha a respeitar quem manda. Estou te dando mais uma chance. Mas se a resposta não me agradar... Eu mesma resolvo. E, olha, eu não sou conhecida por ser boazinha.Minha intenção, na verdade, era poupar Nilda, apenas dar a ela uma lição, por consideração aos velhos tempos de colégio.Mas o que eu jamais esperava, era que ela ainda teria coragem de me desafiar.Sem aviso, Nilda enfiou a mão por dentro do casaco e puxou uma arma, apontando-a diretamente pra mim, com os olhos cheios de ódio.— Vitória! — Ela gritou, a mão tremendo de raiva. — Você tá indo longe demais! Quer saber? Eu já vi muito figurão nesse mundo, não me assusta não!Mas antes que ela terminasse de falar, um som poderoso invadiu o ambiente.Várias SUVs pr