Saí do quarto com as crianças, segurando suas mãos enquanto caminhávamos pelo corredor. De repente, Hakon me interceptou. Olhou fixamente para mim e depois dirigiu seu olhar para os pequenos.— Eirik está cego, mas eu vou te vigiar — disse com um tom sério.Assenti com a cabeça e sorri, tentando demonstrar calma.— Sei que você não gostava de mim no passado, e imagino que agora me odeie ainda mais. Mas de uma coisa você pode ter certeza: nunca faria mal aos filhos. Eles são meus filhos, e eu os amo tanto quanto Eirik — respondi com firmeza.Precisava deixar claras minhas intenções, e esta era a oportunidade perfeita.— Não me importa o que você diga. Se algo acontecer com os filhos ou com Eirik, eu mesmo te matarei — me advertiu com dureza.— Sei disso, mas não se preocupe, eles estão em boas mãos — respondi, tentando tranquilizá-lo.Hakon sorriu para as crianças antes de sair. Eu também sorri para eles; não queria que pensassem que estávamos discutindo ou algo assim.— Vamos brincar
A noite chegou e, com ela, uma calma que me envolvia. Estava exausta; as crianças, cheias de energia, não me deixaram descansar o dia todo. Enquanto a escuridão se assentava no quarto, a porta se abriu lentamente. Mesmo antes de Eirik cruzar o limiar, já sentia sua presença, aquela energia familiar que ele sempre trazia consigo. O silêncio entre nós falava mais do que qualquer palavra.Meus filhos dormiam no quarto onde ele costumava descansar, e eu estava sozinha, só para ele, para ser tudo o que ele precisasse. Sua figura se aproximou lentamente, seus olhos brilhando com um desejo que refletia o meu.— Sinto sua falta — sussurrou, sua voz acariciando minha alma. Seus passos, medidos e silenciosos, encurtavam a distância entre nós, e seus olhos, cheios de desejo e desespero, procuravam os meus.— Estou aqui para você — respondi em voz baixa. Meu corpo o precisava com urgência; era incrível como sentia falta de sua pele. Embora para mim não tivesse passado tanto tempo sem ele, meu cor
Na manhã seguinte, acordei sozinha, com o corpo dolorido e coberto por uma sutil lembrança da noite anterior. Um sorriso se desenhou nos meus lábios ao relembrar tudo o que fizera naquela noite. Levantei-me lentamente, notando uma pequena mesa de madeira com frutas frescas e uma banheira cheia de água cristalina. Quando haviam trazido tudo isso? Estava tão cansada que não percebi, mas ainda bem que ele trouxera tudo, pois estava com muita fome e também queria tomar um banho; sentia meu corpo pegajoso.Me aproximei da banheira, e assim que coloquei um pé nela, a água se tornou completamente negra, como se absorvesse a própria luz. Respirei fundo e sorri. O medo já não tinha mais lugar dentro de mim. Sem hesitar, entrei na banheira e me sentei. Senti centenas de mãos frias percorrendo cada canto do meu corpo, antes que, com um único puxão, me arrastassem para o fundo, para a escuridão.Encontrei-me naquele lugar sombrio. Caminhei até a chama que agora ardia com violência. Quando fiquei
Os dias passavam em uma calma que quase parecia irreal. Eirik estava tão tranquilo, e, no geral, tudo ao nosso redor emanava uma paz incomum. Na verdade, era uma tranquilidade que quase chegava a ser inquietante. Respirei profundamente, tentando dissipar a crescente inquietação dentro de mim. Odiava permitir que pensamentos sombrios me consumissem, mas depois de tanto tempo vivendo em constante tensão, essa serenidade me parecia estranha, como se fosse o prelúdio de algo que eu ainda não conseguia compreender.Olhei ao longe para as crianças, que brincavam com espadas de madeira. Ambas eram muito boas, suas risadas ressoavam no ar como uma melodia que ecoava no meu coração. No entanto, cada uma era diferente, tão única em seu ser. Aos poucos, comecei a descobrir suas personalidades, tão especiais. Entre elas, a de Viggo se destacava com uma força particular. Viggo... esse nome que o tempo e o tumulto haviam enterrado no esquecimento, e que agora voltava à minha mente com uma clareza d
As horas passaram, e o medo começou a se apoderar de mim. Caminhei de um lado para o outro no quarto que agora compartilhava com Eirik e as crianças, incapaz de acalmar a crescente agitação em meu peito. Algo de errado havia acontecido, eu sentia isso no fundo de mim.Não aguentei mais e saí do quarto à procura de Eirik, mas ele não estava em nenhum lugar da casa. Meu coração batia mais forte enquanto eu saía para o lado de fora, onde o encontrei de pé ao lado de vários homens. Me aproximei rapidamente, com a preocupação pesando a cada passo.— Hakon ainda não chegou com as crianças — disse, minha voz carregada de ansiedade.Sentia meu coração acelerar ainda mais, como se antecipasse o perigo.— Relaxe, a caça leva tempo, e eu sei que Hakon cuidará muito bem dos pequenos — me tranquilizou Eirik com um tom calmo.Neguei com a cabeça; suas palavras não eram tranquilizadoras, só me enchiam ainda mais de preocupação.— Vamos procurá-los, por favor — supliquei.Eirik me olhou e assentiu im
A luz do sol que se filtrava por um pequeno buraco na parede desapareceu, indicando que a noite havia chegado. O som de passos me distraiu, e logo apareceu um homem alto, de cabelo loiro quase branco e olhos castanhos. Ele me observou atentamente antes de entrar na cela, trazendo um prato cheio de frutas. Olhei fixamente para ele, notando de imediato que não era um lobo. Meu corpo inteiro entrou em alerta.— Sou Graham, líder das tropas do sul. Eirik me pediu para te alimentar e proteger até que as crianças voltem — disse ele.Olhei diretamente para o rosto dele. Sua pele tinha uma textura parecida com mármore, e embora seus olhos fossem castanhos, havia algo de anormal neles. Esse homem diante de mim não era humano.— Você não é um lobo. O que você é? — perguntei.Ele sorriu, mostrando dentes muito brancos, com caninos muito mais longos do que o normal.— Sou um vampiro, prazer — respondeu ele.Eu ri, embora, a essa altura, nada mais devesse me impressionar.— Você vai se queimar no
Quanto mais nos aproximávamos do território de Ivar, o cheiro de morte se tornava cada vez mais penetrante, envolvendo o ar com uma sensação de dor; era nauseante o que se podia sentir naquele lugar. Os homens que estavam comigo tinham bem claro que a probabilidade de perdermos a vida naquele lugar imundo era alta.Meu coração começou a bater com uma intensidade que eu nunca tinha experimentado antes. Era preocupante a rapidez com que batia. Passei a mão pelo peito para tentar me acalmar, mas isso não estava funcionando. A preocupação tomou conta de mim, não só pelo perigo iminente, mas também pela desesperança de saber que meus filhos estavam nas garras daquela maldita bruxa. A fúria ardia no meu peito; eu estava disposto a destruir qualquer coisa que aparecesse em nosso caminho.Meus filhos não mereciam isso. Cada pensamento, cada imagem dos seus rostos inocentes me preenchia de uma raiva incontrolável. Eu não podia permitir que sofressem nas mãos daquela filha da puta.— Você acha
Eu me lancei contra Ivar com fúria, arrancando um pedaço de sua carne. Um grito dilacerante emergiu de sua garganta, mas ele não ficou para trás. Com uma ferocidade igual à minha, Ivar contra-atacou; suas garras e presas se cravaram no meu pescoço, uma dor intensa percorreu meu corpo. O lancei longe de mim, para então atacá-lo.Nos movíamos com rapidez; cada golpe e mordida eram ainda mais fortes que o anterior. Apesar da agonia que ambos sentíamos, não havia espaço para rendição. Sabia que essa batalha era uma questão de vida ou morte.Um golpe no costado me desestabilizou, e caí no chão, lutando para recuperar a compostura. Ivar não perdeu tempo e se lançou sobre mim, sua mandíbula se fechando com ferocidade ao redor do meu pescoço, tentando rasgá-lo. A agonia era intensa, mas num lampejo de força, algo despertou dentro de mim.Com um rugido de determinação, usei minhas patas para lançá-lo para longe, seu corpo batendo no chão com um estrondo. Não perdi um segundo: corri até ele, mo