Bennett
E de repente percebo que respirar ficou mais fácil também. Com o meu coração disparado dentro do peito mantenho-me cauteloso ao me aproximar dela como se eu fosse a sua sombra e dois dedos meus seguram com suavidade algumas mechas dos seus cabelos. Então fecho os meus olhos e aspiro demoradamente e sutilmente o seu cheiro. No entanto, as portas se abrem e ela se vai, levando a minha paz consigo. Em desespero o meu cérebro grita para ela voltar, mas as palavras não alcançam a minha boca e as portas voltam a se fechar, roubando a sua visão dos meus olhos.
— Para casa, Senhor? — Mateo inquire assim que ocupo o banco traseiro do carro.
— Me leve ao Residence River.
— Mas, esse bairro fica do outro lado da cidade, Senhor. — Fito o meu motorista um tanto rude através do retrovisor. — Sim Senhor! — Mateo acata a minha ordem e o carro g
Bennett— Eu te amo! — A ouço sussurrar pela terceira vez para o garoto que a olha com um carinho indecifrável. — A mamãe vai ficar bem aqui. O tempo todo do seu lado.— Promete? — O menino sussurra de volta. E é como se ela fosse tudo para ele. Ricci beija calidamente as suas bochechas e esse ato me faz puxar a respiração.— Eu sempre vou estar aqui, meu amor. Por você. Sempre.— Eu te amo! — Um nó sufoca a minha garganta e respirar é algo quase impossível.… Eu te amo, mamãe!Lembro-me das vezes que repeti essa frase para ela, mas em troca só recebi punição. Por que ele não? As pontas dos seus dedos deslizam suavemente pelos cabelos curtos e negros do garoto, fazendo um carinho nele que me deixa confuso.— Você vai ficar bem, Alex! — Ela promete. E é tão verdadeiro que chego a cogitar acreditar em suas palavras.Ele vai ficar bem? Como ela pode garantir tal coisa?— Você vai ficar bem! — Júlia repete.É irritante e ao mesmo tempo é… renovador. Eu ficaria a noite inteira aqui quieto n
JúliaAbrir os meus olhos e perceber que estou em um quarto diferente me fez perceber que a noite passada não foi um sonho. O meu chefe esteve realmente em minha casa tarde da noite e trouxe a mim e o meu filho para o calor aconchegante da sua mansão luxuosa. O que é estranho, visto que o Sr. de Ferro não é de fazer caridades e menos ainda favores para os menos favorecidos como eu. Mas não posso reclamar. Ele realmente salvou o Alex de uma noite fria e estressante, e eu nunca poderei agradecê-lo o suficiente por isso.E falando em Alex. Salto imediatamente para fora da cama, ponho um sobretudo de seda e vou para o quarto ao lado. Contudo, paro surpresa quando encontro uma mulher que eu não conheço lá dentro.— Quem é você? — questiono, passando pela porta no mesmo instante.— Ah, bom dia! Meu nome é Milena, eu sou a enfermeira que o Senhor Bennett contratou para cuidar do Alex. — Abro a boca para falar, mas ela continua. — Você deve ser a Júlia, certo?— Ah, sim.— É um prazer, Júlia!
JúliaAlguns momentos depois…— Bom dia, Senhorita Ricci! — Uma mulher usando uniforme fala assim que desço as escadas da mansão.— Ah, bom dia! E o Senhor Bennett? — Procuro saber, enquanto os meus olhos percorrem curiosos pela imensa e luxuosa sala de estar.— Ah, o Senhor Bennett teve que fazer uma viagem de emergência durante a madrugada. Mas ele deixou ordens para fazer o que a Senhorita e o Senhor Alex precisarem.Senhor Alex, uau!— Entendi. E, o Senhor Bennett disse quando volta?— Não, Senhorita. Geralmente o Senhor Bennett não nos fala nada sobre sua agenda e horários. Essa informação é somente para a Senhorita. A propósito, o café da manhã já está servido. É por aqui. — A jovem Senhora aponta uma direção e caminha na minha frente, guiando-me para uma sala ampla e bem iluminada por suas enormes portas de vidros transparentes que vão do teto ao chão. Uma sala de jantar com vista para um vasto e lindo jardim. Penso quando fito a enorme mesa retangular de doze cadeiras, farta d
Júlia …Um clarão tomou conta do meu quarto, seguido de um som estrondoso que me fez sentar imediatamente na cama. Assustada, olhei para a janela e vi a violência com que as grossas gotas de chuva crepitavam contra o vidro transparente da janela do meu quarto. Adrian! Pensei quando não o encontrei do meu lado na cama e apavorada, olhei no mesmo instante para o relógio digital sobre o criado mudo.Duas da madrugada.— Droga, cadê você, Adrian? Ralhei, saltando para fora da cama e um arrepio de frio percorreu a minha coluna no mesmo instante. Preocupada, peguei o meu celular e liguei para ele. Uma sequência de ligações que roubaram a minha paz e que trouxe o medo e a insegurança. Contudo, ele não atendeu nenhuma das minhas ligações. Em algum momento a campainha começou a tocar, fazendo-me correr ansiosa para fora do cômodo e com o meu coração em festa, destilando uma gota de alívio para a minha alma, abri a porta cheia de esperança. Mas uma confusão me acometeu quando encontrei alguns
JúliaAs horas se avançam, mas eu não consigo mais dormir. A chuva finalmente parou e o céu já apresenta alguns raios claros, avisando que o dia logo chegará. Olho para a saída do cômodo. Para a porta de madeira que nos separa e me sinto tentada a ir até lá saber se ele está bem.Respiro fundo.— Não é da sua conta, Júlia — digo para mim mesma, já que ele deixou bem claro que me quer distante. Lembrar dos seus sons volta a me inquietar e eu dou alguns passos apressados na direção da porta fechada, parando bruscamente a centímetros dela. — Não é da sua conta! — repito mais firme agora e me forço a voltar para a cama.***Na manhã seguinte…— Bom dia, Senhorita Ricci!— Bom dia, Lucy! E o Senhor Bennet? — Procuro saber.— Ah, ele já saiu, Senhorita. — Arqueio as sobrancelhas. — Parece que tem alguns negócios para pôr em dia. — Lucy justifica o seu chefe.Ele está fugindo de mim. Penso. Provavelmente ele não quer me encarar depois do que houve na noite passada. E parece inacreditável, ma
Bennett— Que porra está acontecendo com você, David?! — Abravanel rosna irritado, entrando repentino na minha sala. — Pode me dizer que bicho te mordeu, droga?!— Se está se referindo a irresponsabilidade do seu arquiteto, eu fiz mais do que certo em demiti-lo. A Bennett Designer não pode arcar com os erros de amadores, Senhor Abravanel! — rebato igualmente irritado, porém, sem tirar os meus olhos da tela do computador.— Que droga, David! Não dá para assumir as obras do Palace, quando estou sobrecarregado com a supervisão da Vitton, os detalhes do Parque Nacional e ainda, os croquis dos novos projetos.— Se o problema todo for esse, deixe a Vitton comigo. — Escuto o som do seu riso sarcástico em resposta a minha sugestão.— Você e a Júlia trabalhando juntos nesse projeto? — Ele rebate com desdém. — Sabe que isso não vai dar certo, não é?Paro o que estou fazendo para encará-lo duramente.— E por que não daria certo? — grunho mantendo o meu autocontrole.— Porque você não a suporta,
Bennett— Sério? — inquiro com fingida surpresa.— Sério. E ela é bem grande. — Ele reforça o tamanho da sua cicatriz.— E, eu posso vê-la?Não é um pedido estranho. A verdade, é que talvez. Eu disse talvez, se eu vir a sua cicatriz me faça pensar que as minhas marcas sejam inferiores e quem sabe mude algo dentro de mim.— É claro. — Alex parece se orgulhar da sua marca pois prontamente ele ergue a sua camisa para revelar-me uma cicatriz em linha reta que vai da altura do seu peito até uma parte uma ínfima parte do seu abdômen. — A minha mãe me disse que ela está aqui para me lembrar a vida.— Ela te disse isso? — Em resposta Alex faz um sim com a cabeça.— Eu tenho um coração novo, sabia? E ele bate muito forte.— Você é
Júlia— Sonhe com os anjos, filho! — sibilo baixinho, saindo da sua cama e do seu quarto logo em seguida, fechando a porta com cuidado.Dentro do corredor, olho as horas no meu relógio de pulso e penso que dá tempo trabalhar um pouco nos croquis da Vitton antes do meu descanso merecido. E enquanto caminho para o andar inferior percebo a quietude dessa casa, que só não está completamente silenciosa devido o barulho da chuva que está caindo lá fora. Contudo, assim que adentro do escritório da mansão Bennett paro extasiada com a linda imagem de um temporal brincando com o vento, enquanto molha o belo jardim adormecido.Mãos à obra, Júlia. Digo em pensamentos, deixando de lado essa visão relaxante e espalho alguns lápis coloridos e grafites que me ajudarão a desenvolver as linhas e texturas de que preciso para dar vida as minhas ideias. Passo horas decidindo entre ruas, paisagens e jardins. Paredes, divisórias, portas e janelas. Em algum momento os meus olhos começam a protestar e decido