Capítulo 4

Pela manhã, o casamento aconteceu como o esperado.

Antes que eles fossem para o leito conjugal para a consumação, a primeira caçada aconteceria, Ayla e todos os alfas seguiram para o bosque atrás do castelo para a primeira caçada da lua cheia.

Quando ele retornasse, ela seria levada para o Forte Green.

Talvez sua primeira noite acontecesse lá, afinal, ela não conseguia parar de pensar nisso.

Ayla afastou esses pensamentos e tentou prestar atenção ao que acontecia ao redor.

Ela observou todos os alfas das grandes terras da ilha se reunirem, inclusive o comandante.

Quando a lua surgiu alta no céu, eles se transformaram.

Inclusive Xander Jornet, e para o choque de todos, ele virou um lobo branco, assim como o comandante.

Era sabido por todos que apenas um Chase se transformava em um lobo branco, estava no sangue deles.

Ayla sentiu o sangue abandonar seu rosto, enquanto seu coração batia como um louco e sua mente entrava em um furacão de pensamentos, tentando entender como aquilo era possível.

A loba olhou para os lados vendo o choque de todos, e sem esperar o comando do comandante, Xander que era um lobo gigante e majestoso, uivou e seguiu para a floresta.

Os alfas o seguiram, e o comandante foi atrás.

Ayla ficou chocada e um grande caos se iniciou, com todos se perguntando:

“Eu achei que a filha e o comandante fossem os últimos Chase!”

“Se ele é um Chase, então é um herdeiro natural!”

“Ele se casará com a princesa e se tornará o próximo comandante, não o seu filho!”

Ayla olhou para sua mãe, incrédula.

Uma semana depois.

Torre do Supremo Alfa.

Todos estavam sentados na enorme mesa, inclusive Ayla.

Ela nunca havia participado de uma reunião com a alcateia de John, mas Xander Jornet havia se declarado um Chase há uma semana, e o pior, o comandante dizia que ele era filho do traidor Lance Chase.

O que Xander não afirmou ser, contudo, o conselho de Alfas não parecia dar a mínima para tal fato.

Ela precisava defendê-lo.

Ayla sabia que Xander poderia nutrir um ódio profundo dela, mas não acreditava que tudo estava perdido, afinal, ele a salvou do urso.

— Eu não entendo qual é o problema, ele é um Chase. Nosso casamento vai trazer benefícios para todos os lados. — disse Ayla.

— Ele é filho de Lance, você não pode deixar que ela vá com ele! — Helena se levantou e protestou.

Todos na mesa começaram a falar ao mesmo tempo, e o comandante permanecia em silencio.

— Ele não me fará mal, ele salvou a minha vida e poderia ter escondido esse fato de todos, mas o revelou na frente de todos. Não há o que temer dele!

— Na frente de todos. — repetiu o comandante.

Todos se voltaram para ele.

— Ele fez isso para que eu não possa matá-lo, e para se declarar meu herdeiro.

Ele sabia que todos os grandes alfas estariam na primeira caçada, e por isso escolheu esse momento para se revelar.

Eles já se casaram Helena, e mesmo sem a consumação, ela pertence a ele agora.

Se eu o matar agora, o único herdeiro macho com o sangue Chase, haverá uma guerra civil, e se eu for morto, Ayla irá virar um prêmio para o lobo mais forte. Eu perdi quando não reconheci quem ele era. Ela irá com ele. E ele não fará nada com ela, porque se o fizer, eu farei a terra tremer sobre seus pés e o céu cair em sua cabeça. Ela será como uma eterna refém.

Com essas palavras, ele se levantou e Helena gritou histérica.

O comandante não reagiu a sua companheira, apenas deixou a sala.

Quando a noite chegou, Ayla esperou no quarto que dividiria com Jornet.

Ela estava sentada na cama, esperando o macho chegar, e quando ouviu passos se aproximando, seu coração se acelerou.

O lobo abriu a porta, e ela se levantou para cumprimentá-lo, contudo, a única coisa que conseguiu foi um leve aceno de cabeça.

Ela esperou que ele fosse até ela, mas o macho apagou todas as velas, deixando o quarto mergulhar na escuridão.

Ela o ouviu caminhar e se deitar, no sofá, ela presumiu.

Pelos deuses, ele não iria consumar o casamento? Era sua última noite no castelo, partiria para o Forte Green ainda pura?

Ela engoliu em seco, e reunindo toda a sua coragem, disse:

— Meu senhor, não acha desconfortável essa distância? Quero dizer, será mais confortável se deitar aqui na cama...

Ela o ouviu respirar fundo, então sua voz grave ressou:

— Tão ansiosa para cumprir com seus deveres conjugais. Não me surpreende em nada, deve ter sido ensinada sua vida toda sobre esse momento.

Ela agradeceu por estarem na escuridão e ele não poder ver a expressão em seu rosto, suas bochechas estavam queimando.

— Eu o irritei?— ela perguntou quando o silencio voltou a estar entre eles.

— Você não está incomodada que eu seja o filho de Lance?

— Eu não o conheci e não penso nos mortos.

— É claro que não pensa. Vá dormir, Chase. Eu a chamarei quando for da minha vontade.

Ela não dormiu, é claro. Mas conseguiu ficar em silencio pelo restante da noite.

* * *

Ayla não conseguia entender porque tanto receio de seus pais, mesmo que ele fosse filho do traidor, isso não significava que ele iria lhe fazer algum mal.

Afinal, ele já seria o próximo comandante. E se casando com ela, porque teria alguma batalha? Sua despedida foi longa e chorosa, mas enfim eles deixaram a capital.

Enquanto eles cavalgavam para o Forte Green, ela estava na frente do cavalo e sentia os braços fortes de Xander a envolverem enquanto ele segurava as rédeas do cavalo.

Ele estava em silencio desde que retornou da caçada, e não havia falado muito desde que eles partiram da capital.

Ela ainda pensava na noite passada, e de como ele parecia distante, mas talvez isso fosse uma resposta a toda a hostilidade que recebeu no castelo.

— Meus pais temem que você queira se vingar pelo seu pai, mas eu assegurei que estão errados. Afinal, você me salvou sem nem mesmo me conhecer, e não iria querer uma batalha.

Xander estava calado desde que voltou da lua cheia, e com todos no castelo suspeitando dele após saberem que ele era um Chase, ela não o culpava de estar tão silencioso.

Todos o viam como um inimigo, mas ela não conseguia realmente vê-lo assim.

Mesmo que houvesse uma grande distância entre eles agora, ela queria assegurar a ele que ela não era sua inimiga.

— Não estão enganados. As minhas intenções são as piores possíveis.

Eles estavam em uma estrada com muita neve, e Ayla congelou com a mudança em seu comportamento.

Por um momento pensou ter ouvido errado, pela naturalidade e calma com o qual ele usou para falar, mas com o passar dos segundos, ela percebeu que ele falara exatamente aquilo.

As sombras da noite estavam por toda parte, assim como uma densa neblina em um frio terrível.

Até mesmo o clima parecia combinar com o humor daquele macho.

A voz do macho era completamente diferente do lobo sedutor e hipnotizante que ela conhecera, sua voz estava terrivelmente distante.

— O seu pai era um traidor, não devia pensar nele nem por um segundo. Juntos, vamos ter filhos e continuar o nome Chase, abandonando o passado. Sou sua companheira agora, e pode confiar em mim.

O macho fez o cavalo parar abruptamente, e ela sentiu o corpo dele se retesando atrás dela, mas o que mais a assustou, foi a força que ele usava para segurar as rédeas do animal.

Ela podia ver os nós de seus dedos ficando brancos.

Quando o silencio recaiu sobre eles, ela se perguntou se apenas havia imaginado tudo sobre ele, se fora seu rosto sedutor que a fez enxergar um caráter que nunca havia existido.

Ela se lembrou do comandante dizendo que ela era apenas uma refém.

Será verdade?

Não, Ayla não conseguia aceitar isso. Ele a salvou do urso, não salvou?

— Você é terrível como o seu pai. Jamais confiaria ou amaria você.

As palavras deles atravessaram seu coração como uma flecha.

De repente, um som terrível cortou o ar, e um segundo depois, Jornet segurou uma flecha cujo destino seria seu próprio olho.

Ayla gritou, e das sombras do bosque machos com olhos selvagens surgiram.

Outra flecha foi disparada por um dos machos que segurava um enorme arco, e dessa vez, seu alvo foi a cabeça do cavalo.

O animal gritou quando a flecha o atingiu no meio dos olhos, e ele tombou para o lado em agonia, durante a terrível queda, Jornet a segurou, a puxando para o lado e caindo com suas próprias costas no chão.

O macho usou seu próprio corpo para amortecer a queda dela.

Ayla estava em choque e tremendo violentamente.

Havia três machos que se aproximavam, dois deles seguravam espadas afiadas, e o outro um arco.

Seus rostos eram sujos e seus cabelos pareciam ensebados.

Porém, eram grandes e fortes.

Jornet se levantou em um segundo, e logo se posicionou protetoramente em sua frente.

O macho puxou sua espada, e sem hesitar, avançou para cima dos três lobos.

Ayla gritou e não sabia o que fazer, enquanto assistia Xander lutar em uma tremenda desvantagem.

Xander lutava contra os dois machos com selvageria, aparando todos os seus golpes no início e em seguida conseguiu abater o primeiro deles, cravando sua espada em seu pescoço.

Sangue vermelho espirrou no chão com neve, e o outro macho gritou furioso e se voltou com mais afinco para Xander, que não parecia nenhum pouco abalado.

O macho se movia com maestria e desenvoltura, fazendo com que seu inimigo suasse tentando vencê-lo.

No fim, o lobo gritou para que seu arqueiro ajudasse, e Ayla pegou a primeira pedra que viu e a lançou contra o arqueiro.

Não foi uma atitude sábia, o macho se virou e disparou uma flecha contra ela, que correu para o abrigo de uma árvore.

Felizmente, Jornet parou a flecha destinada a ela com seu próprio corpo.

A flecha se cravou em seu ombro.

Ela gritou ao ver aquilo, mas Xander não parou de lutar nem sequer diminuiu o ritmo.

Xander Jornet parecia alheio a qualquer dor, nem mesmo sua expressão se alterava.

Em seguida, o arqueiro começou a tentar mirar em Jornet, que se movia muito rápido, até que sua espada decapitou seu adversário.

Mais sangue se derramou na neve.

O arqueiro ergueu seu arco e Ayla notou que seus dedos tremiam, enquanto Xander corria até ele de frente, todo o seu corpo tensionado, seus músculos proeminentes, e seus olhos sanguinários.

Uma flecha foi disparada, e Xander a segurou com precisão.

Sua espada caiu sobre o macho, o partindo literalmente ao meio, enquanto o rugido de Xander Jornet ecoava sombrio e feroz.

Ayla nunca havia ouvido um som tão terrível e amedrontador em sua vida, nem mesmo do urso.

Ela arfou, e lentamente o macho se virou para ela.

Seu rosto e parte de seu peito e braços manchados de sangue.

Sua expressão ainda era feroz, e seus olhos verdes estavam mais escuros, havia sangue até em seus dentes.

Aqueles segundos enquanto seus olhares se encontravam, os olhos dela refletiam o medo paralisante que sentia.

O pavor de ver naquele macho a morte em seu modo mais tenebroso e feroz.

Os olhos dele refletiam o animal que residia dentro dele, um que era alimentado por sangue e carne, e que parecia fazer parte de sua alma.

Xander Jornet lentamente guardou sua espada na bainha e levantou uma das mãos na direção dela.

Ele a estava chamando, e mesmo com os machos mortos despedaçados no chão, ele não conseguiu se mover imediatamente.

E não demorou para sentir a frieza de uma lâmina em seu pescoço, em seguida, o calor dela, que começou a queimar sua pele.

Prata.

— Se você der mais um passo, será a última visão dela. — Ameaçou a voz masculina sinistra atrás dela.

Xander Jornet que já avançava, parou.

Ayla percebeu que aquele devia ser o seu fim.

Ela sentiu por não ter esclarecido com mais firmeza para Xander que seu pai não era o seu inimigo, mas as palavras do comandante não deixavam sua mente.

Xander provavelmente não precisava mais dela agora que todos sabiam que ele era um Chase, não havia razão para arriscar nada por ela.

Ela era inútil para ele agora.

Ela olhou para a expressão do macho e viu seu rosto se tornar vermelho e seus olhos arderem em chamas perigosas, talvez ainda houvesse alguma esperança.

“Talvez seu orgulho não deixe que esse lobo me leve.” Pensou.

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