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O céu ainda tava escuro quando saímos da barraca, Jonas estava passando um café que exalava um cheiro maravilhoso, nos aproximamos dele aguardando o restante do pessoal acordar.

– E o Heitor? Tá dormindo ainda? – Bernardo perguntou.

Jonas apenas fez um sinal com a cabeça indicando a barraca de Sofia.

– Tá brincando – quase gritei.

– Um pouco depois que todos dormiram eu percebi ele saindo da barraca, achei que ele ia no banheiro, mas ouvi o barulho de outra barraca abrindo e quis espiar – Jonas fofocou. – Ele não voltou mais, passaram o resto da noite juntos. – fez cara de safado.

– Caramba, nunca imaginei... – falei surpresa – Será que é casual ou vai rolar algo a mais?

– Você descobre com a Sofia e o Jonas com Heitor, depois me contam tudo. – Bernardo propôs animado.

– Meu namorado é muito Maria Fifi – falei fingindo indignação.

– Meu amor, eu sou repórter! Preciso estar por dentro de todos fatos – justificou rindo.

– Ele ganhou no argumento – Jonas pontuou.

Aos poucos todos foram saindo das barracas, pegamos o café e nos aproximamos da beira do precipício virado para o leste, nos sentamos e aguardamos o nascer do dia compartilhando o café e alguns snacks. Em determinado momento, enquanto todos riam distraídos nos afastamos do pessoal indo para um espaço que dava visão para aquele mesmo vale que se vê da trilha e ficamos sentados admirando a vista.

Passei o braço por trás das costas de Bernardo e o abracei enquanto ele passava seu braço sobre meu ombro, me lembrei das palavras que ouvi antes de dormir, mas não tinha certeza se ele realmente as disse ou se eu já estava sonhando. Ele ainda não tinha falado em amor, eu precisava tirar a dúvida, mas não seria naquele momento.

– Em que você está pensando? – A voz de Be me chamou a atenção.

– Estou me lembrando do nosso encontro no sítio do teu pai.

– Noite estrelada, nascer do sol… é isso me lembra alguma coisa, bem vagamente.

– Vagamente? – Me pus ereta para encará-lo. – Faz uns dois meses!

– É, mas eu estava muito nervoso pensando se você ia gostar da surpresa, se não estava me achando um idiota e o mais importante, se ia aceitar meu pedido de namoro – ele sorriu acariciando meu rosto.

– Só se eu fosse maluca para não gostar de tudo aquilo!

– Não sei não – ele mal conseguia segurar o riso, só então entendi que ele estava zombando de mim.

– Ah, cala a boca! – ri me soltando de seu braço.

– Escuta aqui, mocinha – ele me deitou na grama com o torso sobre mim – eu lembro de cada detalhe daquela noite incrível, – ele falava tão perto de mim – foi a noite mais sensacional da minha vida porque foi a primeira vez que eu passei a noite toda abraçado com você.

– Você me deixa completamente sem palavras quando fala assim – mais uma vez eu estava perdida naquele olhar negro e profundo.

Bernardo abriu aquele maldito sorriso que me desarmava completamente, ele sabia que tinha esse poder sobre mim e adorava me ver tão vulnerável, tão entregue a ele. Sem dizer mais nada, simplesmente se levantou e andou em direção ao lugar onde nossos amigos tinham ficado, eu precisei de alguns segundos antes de segui-lo para me recuperar do furacão que é Bernardo em minha cabeça. O sussurro dele ecoava em minha mente martelando aquelas quatro palavras que eu queria ouvir de novo, “eu amo você, Cami” era o que ele precisava repetir para que eu finalmente pudesse dizer que eu também o amo.

××

Passamos a manhã na pequena lanchonete rindo e conversando com outras pessoas do camping, fizemos amizade com uma galera cujas barracas estavam próximas às nossas e resolvemos juntar os churrascos para o almoço. Aproveitei quando todos estavam próximos da churrasqueira para ficar um pouco atrás com Nat e Sofia, esta contou que ela e Heitor sempre davam um jeito de ficar escondidos quando acampávamos, mas que dessa vez tinha sido mais fácil já que ela estava sozinha na barraca.

Natália também falou sobre Yago, disse que apesar de estar curtindo estar com ele provavelmente não iam longe. Ela ficava constantemente entediada por ele estar sempre falando de si mesmo como se fosse o máximo, mas que terminariam o fim de semana juntos já que estavam ali e depois daria um jeito de se livrar dele. Para mim não era novidade alguma, nem que Yago fosse difícil de aturar, nem que Nat tinha feito uma má escolha e queria esquivar do garoto com quem estava.

Enquanto conversava com minhas amigas notei que Bernardo tinha se afastado um pouco do pessoal para atender o celular, continuei conversando e as meninas do grupo que conhecemos na lanchonete sentaram próximas a nós dando continuidade ao assunto que falávamos. Nós riamos despreocupadas quando Bernardo voltou e se aproximou de mim.

– Cami, amor. Eu tenho que ir – ele disse.

– Agora? Porque Be? – Estranhei.

– A emissora ligou, preciso cobrir uma reportagem…

– Que pena, será que dá tempo de você voltar hoje ainda? – Sofia perguntou.

– Não sei dizer, mas acho que não compensa já que a reserva do camping termina amanhã de manhã – ele respondeu.

– Eu vou me arrumar para a gente ir – falei e ele assentiu.

Yago que estava se aproximando ouviu a conversa e disse:

– Você pode ficar e eu te levo embora, estamos só eu, a Nat e a Sofia no meu carro.

– Você quem sabe – Bernardo disse olhando para mim – Não é justo que você vá embora mais cedo por minha causa.

– Não, eu vou com você – afirmei decidida. – Yago, você pode dar carona para o Heitor e o Jonas que vieram com a gente, eles não vão querer ir embora agora e não compensa irem no outro carro porque os meninos moram do outro lado da cidade. Eu vou com o Be.

– Tem razão, eu vou avisar o Heitor e o Jonas. – Yago saiu parecendo contrariado.

Me levantei para guardar minhas coisas com Bernardo, desmontamos a barraca, nos despedimos de todos e caminhamos em direção ao estacionamento. Entramos na camionete já com as malas na carroceria e Be dirigiu até a estrada pedindo desculpas por me tirar do passeio mais cedo que o previsto, enquanto eu dizia que não era um problema. Porém assim que entramos na rodovia ele revelou:

– Eu não queria falar na frente de todo mundo, mas na verdade quem me ligou foi o advogado do meu pai. Tem novidade no caso dele.

– É sério? – quase dei um pulo do banco. – Que ótima notícia, me conta!

– Então, eu não entendi muito bem porque a chamada estava ruim, mas parece que ele conseguiu que meu pai aguarde o julgamento em liberdade. Se tudo der certo ele deve sair da cadeia amanhã ou depois.

– Caramba, Be! Eu to muito feliz por você, isso é realmente incrível.

– Eu sei, obrigado. Eu queria muito te contar, to feliz que você tenha vindo comigo para eu poder te contar. Eu ia enlouquecer se tivesse que esperar até você voltar amanhã.

– Ah, na verdade eu não me sentiria bem ficando lá sem você.

– Seria como os acampamentos anteriores.

– Não, é a primeira vez que o Yago vem acampar com a galera e você não é o único a ficar desconfortável com ele perto de mim, eu não queria ter que voltar no carro dele.

– Independente do motivo, eu to feliz que você esteja comigo nesse momento. – ele sorriu gentil.

– Eu também, meu amor. Vai dar tudo certo com teu pai.

××

Eu estava no apartamento de Bernardo, na varanda de seu quarto olhando para a cidade abaixo de mim, ele estava em outro cômodo que ele transformou em escritório conversando com o advogado. Ouvi a porta se abrir e o advogado se despedir, esperei ainda no quarto enquanto Bernardo o acompanhava até a porta da frente e retornava até onde eu estava.

– A vista daqui é linda – comentei enquanto ele entrava.

– Você não faz ideia do quanto melhora com você aí parada na sacada – ele disse tirando a camiseta e ficando somente com a calça jeans de cós exatamente baixo.

– Se você vier até aqui melhora ainda mais – eu ainda estava encarando os vincos de seu quadril. Balancei a cabeça para afastar os pensamentos que estava tendo.

– Que foi? – ele riu.

– Não, nada não. – droga, eu literalmente havia balançado a cabeça. – E então? Quais são as novidades.

– Bom, meu pai sai amanhã de manhã, mas oficialmente a data de soltura é daqui um mês. Conseguimos isso para que ele tenha algum tempo antes de irem atrás dele.

– Você diz a quadrilha que ameaçava ele? – coloquei os braços sobre seus ombros.

– É, eles mesmos. Só que a partir de amanhã eu tenho 30 dias para tirar meu pai daqui. Ele não pode sair do país, então é ainda mais difícil, tenho que encontrar um lugar seguro e em território nacional.

– Vocês vão encontrar alguma coisa – encorajei Bernardo.

Puxei-o para um beijo demorado e percebi todos os músculos de seu corpo relaxando enquanto me abraçava. Bernardo me deixava em chamas ao chegar perto de mim, eu sentia o mundo girar e meu coração parecia que ia sair pela boca, mas eu parecia causar-lhe o efeito contrário, como um chá quente ao fim do dia eu acalmava tudo nele, suas dúvidas, suas preocupações, seus medos, quando ele me olhava parecia apenas um menino de férias da escola sem nenhum problema para lidar.

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