Acordei com frio, minha garganta ardia não sei se era sede ou se eu estava ficando resfriada pela baixa temperatura, além da dor na cabeça onde fui golpeada. Abri os olhos lentamente tentando enxergar alguma coisa, percebi que estava em movimento, tentei me mexer, mas o espaço era apertado, eu estava no porta-malas de um carro. Meu primeiro instinto foi tentar gritar, porém sabia que ninguém me ouviria.
De dentro do carro eu conseguia ouvir uma música, só que de tão baixo eu não reconhecia qual era. Não sei dizer quanto tempo passei trancada ali, o carro fazia curvas em alta velocidade me arremessando de um lado para o outro naquele cubículo escuro e apertado, eu colidia com as paredes e o teto quase o tempo todo o que me rendiam muitas dores. Em determinado momento bati a cabeça e eu tinha certeza de que tinha cortado minha testa.
O veículo parou, ouvi as portas abrirem e
Ouvi o barulho das teclas enquanto o homem dos cabelos descoloridos discava, o aparelho era de um modelo antigo ainda com os botões com os números digitados. Eu encarava o celular que parecia pequeno em meio as mãos ásperas do sequestrador, ele me olhava fixamente enquanto eu permanecia no colchão conforme ele orientou, eu tremia sob a ameaça de que qualquer coisa inesperada que eu fizesse poderia desencadear a minha morte antes mesmo da ligação terminar. No viva-voz, chamou apenas uma vez e já ouvi meu pai atender perceptivelmente desesperado:– Alô.– Pai! – gritei por instinto sendo repreendida pelos sequestradores.– Camilla, filha. Onde você tá? O que aconteceu? Filha… – o homem tirou o celular do viva-voz enquanto se afastava de mim sorrindo.– Isso aí, é a
Era uma noite gelada no início de maio, sexta-feira. As duas primeiras aulas pareciam ter durado uma eternidade, talvez fosse minha ansiedade de ir para o bar com meus amigos fazer um esquenta antes de ir ao pub, talvez fosse o cansaço da semana de provas terríveis. Natália e Sofia me olhavam com cara de criança arteira me fazendo ficar no lugar mesmo que nós já tivéssemos assinado a lista de presença.De repente Jonas invade a sala acompanhado de Heitor, nas mãos um bolo desses de padaria cheio de glacê e cinco velinhas finas na cor azul claro. Todos começaram a bater palma e cantar Parabéns a Você, inclusive o professor. Era meu aniversário e meus amigos jamais deixariam passar em branco. Eu não sei como nunca desconfiava das coisas que Jonas planejava, todo ano ele me surpreendia de algum jeito. Sofia passou algo pela minha cabeça, eu demorei a
Não consegui dormir naquela noite por conta das dores e do desconforto que as cordas causavam seja arranhando minha pele ou limitando meus movimentos. Depois do que me pareceu uma eternidade, os raios do sol começaram a surgir tímidos pelas frestas da janela, parecia estar nublado e isso tornava o dia ainda mais melancólico. Me sentei e alcancei a garrafa de água, o liquido estava quente como das outras vezes e novamente não me importei, tomei o suficiente para matar a sede. Novamente barulho na porta e o homem encapuzado surgiu.– Eu deveria te deixar sem comer – ele disse arremessando o pacote pardo em minha direção.– Obrigada – falei alcançando o pacote. – Pode me desamarrar para eu comer?– Para você correr pelo meio do mato de novo? – ele falou com rispidez – Sem chances! Se vira ai, amarrei tuas m&a
Eu estava sentada no sofá de casa com a detetive Samantha à minha frente, ela era a responsável por investigar meu sequestro. Eu havia acabado de descrever o homem dos cabelos descoloridos e o local onde para onde fui levada, o barracão, a plantação em volta, a estrada e as luzes próximas, o bosque… todos os detalhes que eu me lembrava.– Se lembra do carro? – Ela perguntou.– Era um sedan preto, não sei dar mais detalhes. Marca, modelo, ano… eu não entendo nada de carros.– Conseguiu ver a placa?– Também não, na verdade nem me passou pela cabeça olhar a placa.– Tudo bem, isso já é o bastante. Amanhã falaremos com o senhor Bernardo Costolli também e vemos se ele pode agregar mais informações – ela d
Eu permaneci sentada no sofá mesmo depois de Samantha ir embora, não fui capaz de me mexer. Minha cabeça voltou a doer e nem mesmo o comprimido que a dra. Greta receitou estava fazendo qualquer efeito, dessa vez eu sequer conseguia chorar.– Eu sou uma idiota – falei baixinho.– Não fala assim, filha – minha mãe tentou me acalmar.– Tudo apontava para ele, mãe. Eu não desconfiei em nenhum momento, mesmo que tudo apontasse diretamente para ele!– Cami, você não tinha como saber – dessa vez foi meu pai.– O horário, ele sabia que eu sairia da faculdade sozinha, a plantação de girassóis, ele sempre me deu girassóis e mesmo enquanto eu corria no meio das flores não desconfiei que pudesse ser ele. Eu sou burra – falei qu
Bernardo:Era uma noite para comemorar, afinal a Cami tinha apresentado o último projeto prático do semestre. Nós tínhamos passado o fim de semana longe por conta disso e também por eu precisar gravar uma reportagem em outra cidade, mas hoje teríamos a noite toda para nós. Olhei meu celular e tinha uma mensagem dela avisando que estava a caminho, eu já estava ansioso em vê-la. Ainda não sei como essa garota fisgou meu coração assim de repente, mas a verdade é que eu era loucamente apaixonado por ela.Digitei e apaguei umas três vezes o final da mensagem, eu já havia dito isso a ela várias vezes sem que ela ouvisse, a última foi no acampamento depois que ela dormiu. Na casa dela eu finalmente tomei coragem para dizer abertamente que a amo, mas os pais dela chegaram e ela nã
Já tinha mais de uma semana que Bernardo havia sido preso, eu soube um tempo depois que ele já havia sido solto e que não havia passado em nenhum noticiário. Começaram minhas férias da faculdade, os trabalhos que perdi o prazo por conta do sequestro foram entregues e os professores me deram uma boa ajuda. Meu pai só me deixava sair de casa acompanhada de um segurança e isso era um saco, mas naquele dia eu precisaria ir sozinha.Era um dia chuvoso e frio, após o almoço avisei que iria até a casa do Jonas, convenci meu pai de que não precisava de um guarda-costas para atravessar a rua. Toquei a campainha e logo o portão se destravou para que eu entrasse, fui até a área da piscina onde ouvi vozes, Yago estava lá.– Oi Cami,
Eu continuava sendo acompanhada pelos seguranças, meu pai discordou enérgico quando falei que era um exagero me manter sob vigia 24h por dia. Apesar disso, tentava manter minha rotina: eu ia trabalhar com meu próprio carro e tinha até ido ao shopping com Nat e Sof ontem à tarde. Elas passavam boa parte do tempo comigo, seja em casa ou no Jonas, mas sempre com um guarda-costas por perto.Eu me sentia bem menos apreensiva nos últimos dias, minha vida tinha quase voltado ao normal, não fosse esse relacionamento mal resolvido com Bernardo. Não o vi ou falei com ele desde o dia que fui em seu apartamento, nem mesmo por mensagem, preferi deixar a polícia fazer o seu trabalho e quando as coisas se esclarecessem eu poderia vê-lo outra vez, porém já não me restava dúvida de que Bernardo não tin