♥ Capítulo 4♥

Yara Blake.

18:10 — Casa da Yara. — Eldoria.

Após o banho, me visto rapidamente, colocando uma roupa simples, mas confortável. Desço as escadas com cuidado, sentindo a frieza do chão nos pés descalços. Assim que alcanço o último degrau, a porta da frente se abre com um estalo, revelando Ronan. Ele me lança um olhar frio, e suas primeiras palavras, como de costume, são cheias de impaciência.

— O jantar está pronto? — pergunta ele, sem qualquer vestígio de carinho na voz. — Estou faminto.

Concordo rapidamente com a cabeça, tentando evitar qualquer tipo de confronto.

— S-Sim, está pronto. Fiz mais cedo, mas deve estar frio agora... Por que não toma um banho enquanto eu esquento? — minha voz sai trêmula, e antes que eu perceba, estou desviando o olhar.

O olhar dele é cortante, o tipo de olhar que me faz sentir pequena, insignificante. Me encara com desprezo antes de explodir em raiva.

— Você sabe que chego a essa hora, e ainda não esquentou a comida? — a voz dele sobe de tom, carregada de frustração. — O que estava fazendo, hein? Você não serve para nada!

Ele passa por mim com força, esbarrando no meu ombro, e segue em direção ao quarto. Sinto as lágrimas começarem a se formar, mas as engulo, lutando para manter o controle. Tento afastar os pensamentos que me assolam, mas é inútil. As perguntas que sempre me faço voltam com força total.

Por que ele é assim? Por que aceitou casar comigo se sequer me respeita? E por que tenho que passar por tudo isso? Odeio o que meus pais fizeram, tiraram de mim a chance de ser livre, de escolher meu próprio caminho. Minha vida sempre foi decidida por outros.

Enquanto essas perguntas me consomem, sinto uma lágrima escorrer pela minha bochecha, mas a limpo rapidamente. Não quero dar a ele a satisfação de me ver chorar. Vou até a cozinha e começo a esquentar a comida, meus movimentos mecânicos, minha mente longe.

Assim que termino, Ronan entra na cozinha. Ele trocou o terno por roupas casuais, mas sua postura continua rígida, intimidante. Se senta à mesa e, sem olhar para mim.

— Me sirva logo. — ordena de forma brusca.

Faço o que pede, colocando o prato à sua frente, minhas mãos ligeiramente trêmulas. Enquanto ele começa a comer, sinto uma onda de receio me envolver. Preciso falar com ele, mas o medo de sua reação me paralisa por alguns segundos. Respiro fundo, tentando reunir coragem.

— F-Fui aceita como empregada na mansão dos senhores Darkmore. — digo, tentando manter a voz firme.

Ronan levanta os olhos do prato e me encara com frieza, seus olhos se estreitando.

— Quando vai começar? — ele pergunta, a voz carregada de desdém.

— No domingo à noite... — começo a explicar, mas sinto minha voz fraquejar. — E-eu tenho que passar a semana lá. Só volto na sexta à noite para casa.

Mal termino de falar, ele b**e na mesa com tanta força que os pratos caem no chão, o som me assusta. Meu corpo inteiro treme enquanto ele se levanta, o olhar dele agora carregado de uma raiva intensa, quase insana.

— Não vou permitir! Você não vai morar na casa de ninguém, Yara! — ele brada, sua voz ecoando pela cozinha.

O susto que levei foi imenso, e o brilho de raiva nos olhos dele me deixa apavorada. Preciso ser forte, preciso tentar argumentar, então falo em um sussurro, minha voz quase falhando.

— O-o salário é bom... São quinze mil dólares... Quero poder te ajudar.

Por um momento, o queixo dele se ergue, e vejo o brilho da ganância passar pelos seus olhos. O sorriso que se forma em seus lábios é cruel, e ele me olha como se estivesse decidido.

— Hum, com essa quantia até que vale a pena, permitirei que vá. — diz ele, sua voz agora mais calma, mas ainda carregada de algo perigoso.

Ele dá a volta na mesa, aproximando-se de mim com passos lentos, cada um deles aumentando meu pavor. Quando finalmente para na minha frente, agarra meus ombros com força, a dor que sinto é imediata, e um gemido escapa dos meus lábios.

— Vou te dizer uma coisa. — ele diz, os olhos cheios de loucura. — Se eu souber que você deu moral para algum homem, você vai se arrepender.

— Você está me machucando, Ronan. — sussurro, tentando não deixar o medo transparecer.

Aperta meus ombros ainda mais, e sinto meu corpo encolher de dor.

— Ouviu o que eu disse!? — ele grita, seu rosto agora próximo ao meu. — Se eu souber que você deu brechas para algum homem, farei você sofrer. Me ouviu, Yara?

Eu apenas concordo com a cabeça, incapaz de falar, o medo me paralisa completamente. Sinto meu coração bater tão rápido que parece que vai sair do peito. Ele solta meus ombros, mas antes de se afastar, ele me beija nos lábios, um selinho demorado e desconfortável.

— Boa menina. — ele sussurra com um sorriso sádico, antes de sair da cozinha, me deixando paralisada.

Minhas mãos tremem enquanto tento processar o que acabou de acontecer. Sinto as lágrimas brotando, mas dessa vez, não consigo segurá-las. Elas escorrem pelo meu rosto, carregando o peso da humilhação que acabei de sofrer. Me sinto pequena, quebrada, como os pratos que agora estão espalhados pelo chão. Olho para os cacos e, com um suspiro pesado, me abaixo para começar a juntá-los. Cada pedaço que recolho parece cortar minha alma, e a dor de saber que não tenho ninguém para desabafar me corrói por dentro.

A sensação de solidão me envolve, tornando o ambiente ainda mais sufocante. Termino de juntar os cacos, limpando o chão com cuidado. Guardo o resto da comida e lavo os pratos, o som da água correndo é a única coisa que preenche o silêncio opressor da cozinha. Quando tudo está limpo e organizado, apago a luz, deixando a escuridão tomar conta.

Caminho até a sala de estar e vejo Ronan jogado no sofá, assistindo a um jogo na TV. Ele parece alheio ao que acabou de acontecer, como se nada tivesse importância para ele além daquele jogo. Não digo nada, apenas passo por ele em silêncio, meu corpo exausto, minha mente ainda mais. Subo as escadas lentamente, sentindo cada degrau como um peso extra em meus ombros.

Assim que entro no quarto, vou direto para a cama. Me deito, desejando que o sono me leve para longe de tudo isso, mesmo que seja por algumas horas. Mas o cansaço físico e emocional é tão grande que as lágrimas voltam, e tudo o que posso fazer é deixar que elas caiam, na esperança de que amanhã traga alguma esperança.

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