Yara Blake.
18:10 — Casa da Yara. — Eldoria.
Após o banho, me visto rapidamente, colocando uma roupa simples, mas confortável. Desço as escadas com cuidado, sentindo a frieza do chão nos pés descalços. Assim que alcanço o último degrau, a porta da frente se abre com um estalo, revelando Ronan. Ele me lança um olhar frio, e suas primeiras palavras, como de costume, são cheias de impaciência.
— O jantar está pronto? — pergunta ele, sem qualquer vestígio de carinho na voz. — Estou faminto.
Concordo rapidamente com a cabeça, tentando evitar qualquer tipo de confronto.
— S-Sim, está pronto. Fiz mais cedo, mas deve estar frio agora... Por que não toma um banho enquanto eu esquento? — minha voz sai trêmula, e antes que eu perceba, estou desviando o olhar.
O olhar dele é cortante, o tipo de olhar que me faz sentir pequena, insignificante. Me encara com desprezo antes de explodir em raiva.
— Você sabe que chego a essa hora, e ainda não esquentou a comida? — a voz dele sobe de tom, carregada de frustração. — O que estava fazendo, hein? Você não serve para nada!
Ele passa por mim com força, esbarrando no meu ombro, e segue em direção ao quarto. Sinto as lágrimas começarem a se formar, mas as engulo, lutando para manter o controle. Tento afastar os pensamentos que me assolam, mas é inútil. As perguntas que sempre me faço voltam com força total.
Por que ele é assim? Por que aceitou casar comigo se sequer me respeita? E por que tenho que passar por tudo isso? Odeio o que meus pais fizeram, tiraram de mim a chance de ser livre, de escolher meu próprio caminho. Minha vida sempre foi decidida por outros.
Enquanto essas perguntas me consomem, sinto uma lágrima escorrer pela minha bochecha, mas a limpo rapidamente. Não quero dar a ele a satisfação de me ver chorar. Vou até a cozinha e começo a esquentar a comida, meus movimentos mecânicos, minha mente longe.
Assim que termino, Ronan entra na cozinha. Ele trocou o terno por roupas casuais, mas sua postura continua rígida, intimidante. Se senta à mesa e, sem olhar para mim.
— Me sirva logo. — ordena de forma brusca.
Faço o que pede, colocando o prato à sua frente, minhas mãos ligeiramente trêmulas. Enquanto ele começa a comer, sinto uma onda de receio me envolver. Preciso falar com ele, mas o medo de sua reação me paralisa por alguns segundos. Respiro fundo, tentando reunir coragem.
— F-Fui aceita como empregada na mansão dos senhores Darkmore. — digo, tentando manter a voz firme.
Ronan levanta os olhos do prato e me encara com frieza, seus olhos se estreitando.
— Quando vai começar? — ele pergunta, a voz carregada de desdém.
— No domingo à noite... — começo a explicar, mas sinto minha voz fraquejar. — E-eu tenho que passar a semana lá. Só volto na sexta à noite para casa.
Mal termino de falar, ele b**e na mesa com tanta força que os pratos caem no chão, o som me assusta. Meu corpo inteiro treme enquanto ele se levanta, o olhar dele agora carregado de uma raiva intensa, quase insana.
— Não vou permitir! Você não vai morar na casa de ninguém, Yara! — ele brada, sua voz ecoando pela cozinha.
O susto que levei foi imenso, e o brilho de raiva nos olhos dele me deixa apavorada. Preciso ser forte, preciso tentar argumentar, então falo em um sussurro, minha voz quase falhando.
— O-o salário é bom... São quinze mil dólares... Quero poder te ajudar.
Por um momento, o queixo dele se ergue, e vejo o brilho da ganância passar pelos seus olhos. O sorriso que se forma em seus lábios é cruel, e ele me olha como se estivesse decidido.
— Hum, com essa quantia até que vale a pena, permitirei que vá. — diz ele, sua voz agora mais calma, mas ainda carregada de algo perigoso.
Ele dá a volta na mesa, aproximando-se de mim com passos lentos, cada um deles aumentando meu pavor. Quando finalmente para na minha frente, agarra meus ombros com força, a dor que sinto é imediata, e um gemido escapa dos meus lábios.
— Vou te dizer uma coisa. — ele diz, os olhos cheios de loucura. — Se eu souber que você deu moral para algum homem, você vai se arrepender.
— Você está me machucando, Ronan. — sussurro, tentando não deixar o medo transparecer.
Aperta meus ombros ainda mais, e sinto meu corpo encolher de dor.
— Ouviu o que eu disse!? — ele grita, seu rosto agora próximo ao meu. — Se eu souber que você deu brechas para algum homem, farei você sofrer. Me ouviu, Yara?
Eu apenas concordo com a cabeça, incapaz de falar, o medo me paralisa completamente. Sinto meu coração bater tão rápido que parece que vai sair do peito. Ele solta meus ombros, mas antes de se afastar, ele me beija nos lábios, um selinho demorado e desconfortável.
— Boa menina. — ele sussurra com um sorriso sádico, antes de sair da cozinha, me deixando paralisada.
Minhas mãos tremem enquanto tento processar o que acabou de acontecer. Sinto as lágrimas brotando, mas dessa vez, não consigo segurá-las. Elas escorrem pelo meu rosto, carregando o peso da humilhação que acabei de sofrer. Me sinto pequena, quebrada, como os pratos que agora estão espalhados pelo chão. Olho para os cacos e, com um suspiro pesado, me abaixo para começar a juntá-los. Cada pedaço que recolho parece cortar minha alma, e a dor de saber que não tenho ninguém para desabafar me corrói por dentro.
A sensação de solidão me envolve, tornando o ambiente ainda mais sufocante. Termino de juntar os cacos, limpando o chão com cuidado. Guardo o resto da comida e lavo os pratos, o som da água correndo é a única coisa que preenche o silêncio opressor da cozinha. Quando tudo está limpo e organizado, apago a luz, deixando a escuridão tomar conta.
Caminho até a sala de estar e vejo Ronan jogado no sofá, assistindo a um jogo na TV. Ele parece alheio ao que acabou de acontecer, como se nada tivesse importância para ele além daquele jogo. Não digo nada, apenas passo por ele em silêncio, meu corpo exausto, minha mente ainda mais. Subo as escadas lentamente, sentindo cada degrau como um peso extra em meus ombros.
Assim que entro no quarto, vou direto para a cama. Me deito, desejando que o sono me leve para longe de tudo isso, mesmo que seja por algumas horas. Mas o cansaço físico e emocional é tão grande que as lágrimas voltam, e tudo o que posso fazer é deixar que elas caiam, na esperança de que amanhã traga alguma esperança.
Magnus Darkmore.Estávamos precisando de mais uma empregada na mansão, então ordenei à minha secretária, Amélia, que publicasse um anúncio nos jornais. Como não queria lidar com as entrevistas sozinho, convidei meus irmãos para me acompanharem: Kael, o segundo irmão, um juiz renomado, e Damien, o terceiro irmão, que é médico. Kael tem trinta e seis anos, Damien tem trinta e cinco, e eu sou o mais velho, com trinta e oito.As primeiras candidatas foram um desastre. Pareciam mais interessadas em se jogar em cima de nós do que em mostrar suas qualidades. Kael, com seu jeito bruto e sarcástico, não deixava barato. Sempre fazia questão de humilhar as garotas, algo que divertia profundamente Damien. Concordo que eu também achava a situação divertida. Ver a reação delas às suas provocações e o desconforto que isso causava era um espetáculo à parte.No entanto, o que não esperávamos era que a próxima candidata fosse chamar a nossa atenção. Quando ela entrou no escritório, soubemos imediatamen
Yara Blake.Sábado.Enquanto corto os legumes para o almoço, uma mistura de irritação e ansiedade começa a crescer dentro de mim. Tudo o que eu queria era passar o sábado sozinha, organizar minhas coisas e me preparar mentalmente para começar o novo emprego na mansão dos Darkmore. Mas, claro, Ronan não podia deixar isso acontecer. Ele fez questão de contar à minha família sobre o meu novo trabalho, e agora, eles decidiram vir almoçar aqui, sem nem ao menos me perguntar, como sempre fazem. Não bastasse o estresse de lidar com a casa, agora preciso enfrentar a presença crítica dos meus pais.Por que ele teve que contar? Ele sempre faz isso, parece que se diverte vendo como eu fico nervosa. A voz dele ainda ecoa na minha cabeça, aquela frieza e indiferença com que me trata sempre. Porque eu quis, Yara. Não é óbvio? Como se isso fosse motivo suficiente para me jogar em situações como essa.Eu me movo rápido pela cozinha, tentando fazer tudo ao mesmo tempo. O cheiro de alho refogando começ
Kael Darkmore.Depois que saí da empresa do meu irmão, segui direto para o meu trabalho. Como juiz, sempre tenho pilhas de casos a revisar, decisões a tomar e audiências a preparar. Hoje, porém, minha mente está longe desses deveres. Apesar de estar cercado por processos e documentos importantes, não consigo me concentrar em nada além dela. Yara Blake.Desde o momento em que a conhecemos, algo mudou. Sempre tivemos mulheres em nossas camas, uma após a outra, mas nenhuma delas despertou em nós o que Yara conseguiu. Seu jeito submisso nos cativou de uma maneira que eu não esperava. Há algo na sua timidez, na forma como ela abaixa a cabeça, que me deixa intrigado. Me pego me perguntando se ela é virgem. Só porque é casada não significa que não seja. Já peguei casos em que mulheres buscaram o divórcio porque seus maridos não cumpriram suas obrigações conjugais. Se Yara for virgem, isso tornaria tudo ainda mais interessante.Assim que cheguei ao trabalho ontem, a primeira coisa que fiz foi
Damien Darkmore.17:00 — Consultório. — Eldoria.Estou no meu consultório, terminando de preencher alguns relatórios antes de finalmente ir para casa. O dia foi longo, e minha mente está cansada, mas a rotina de um médico nunca realmente termina. Enquanto reviso alguns prontuários, meu celular vibra na mesa ao lado. Pego o aparelho e vejo que é o Magnus ligando. Atendo imediatamente.— Magnus, o que houve? — Pergunto, mantendo a voz baixa.— Kael descobriu algo interessante sobre a nossa doce Yara. — Ele começa, e eu automaticamente deixo a caneta de lado, concentrando-me na conversa.— Estou ouvindo. — Digo, apoiando as costas na cadeira e fechando os olhos por um momento, tentando focar na informação.— Ela é casada com Ronan Blake, um empresário do setor de construção. O casamento deles foi arranjado pelos pais, um acordo entre famílias para fortalecer as empresas. — Magnus relata, a voz carregada de um tom de desdém.— Casada com Ronan Blake... — Repito, deixando a informação se s
Yara Blake.Domingo.18:20 — Casa da Yara. — Quarto. — Eldoria.Estou terminando de arrumar minha mala, me sentindo um pouco ansiosa. Hoje é domingo, e já está escurecendo, preciso sair antes que fique tarde demais. Acordei muito mais cedo do que de costume, por volta das cinco da manhã, para conseguir arrumar toda a casa, preparar o café do Ronan e também fazer os almoços para a semana. E desde ontem, ele tem lançado ameaças sutis ontem, dizendo que, se descobrir algo, coisas ruins acontecerão. Sei que ele se refere a mim.Ainda continuo em choque ao descobrir que ele pretende usar o meu dinheiro para a empresa dele. Esse dinheiro era minha esperança, meu caminho para fugir ou, quem sabe, contratar um advogado para conseguir o divórcio. Solto um suspiro pesado enquanto fecho a mala. Não tenho muitas roupas, já que o Ronan nunca se preocupou em me dar mais do que o básico. Tudo o que é meu está guardado ali, todas as minhas poucas posses.Ele saiu há pouco, dizendo que algo havia acon
Yara Blake.Domingo.19:30 — Mansão dos irmãos Darkmore. — Eldoria.Em seguida, ela me leva até a biblioteca. É um espaço grandioso, com estantes que vão do chão ao teto, cheias de livros antigos e raros. A madeira escura das prateleiras contrasta com o couro dos móveis, criando um ambiente sofisticado e tranquilo.— A biblioteca é um dos lugares mais importantes da mansão. Os senhores Darkmore a utilizam com frequência, então mantenha tudo em ordem, mas sempre com muito cuidado. Não toque nos livros a menos que seja absolutamente necessário.Continuamos o tour e passamos pelo escritório. O espaço é sério, com uma grande mesa de mogno no centro, papéis organizados meticulosamente e uma cadeira de couro que parece ter sido feita sob medida para alguém de grande poder.— O escritório é onde os senhores Darkmore cuidam de seus negócios. Você será responsável por limpar este espaço diariamente, mas nunca mexa nos documentos. Apenas organize o que está à vista e não abra gavetas ou armário
Yara Blake. Segunda-Feira..Estou no corredor da mansão, e de repente, Magnus aparece diante de mim, o que faz com que eu esbarre nele sem querer. O coração dispara de nervosismo. Ele me olha com uma intensidade que acelera ainda mais o meu coração.— D-Desculpe, senhor! — Digo, nervosa, tentando me afastar.Mas, ao tentar recuar, Magnus me puxa com firmeza. Seus lábios encontram os meus em um beijo intenso e inesperado. O beijo é ardente e dominador, e eu sinto cada toque como se fosse uma faísca de desejo que eu nunca soubera ter. As mãos dele exploram meu corpo, e a sensação é tão intensa que me faz perder a noção do tempo. Sinto-me envolvida e desorientada, e tudo ao meu redor parece desaparecer.— Estão se divertindo sem nós? Que malvados. — Ouço uma voz e, ao me virar, vejo o senhor Kael e o senhor Damien se aproximando como se fossem predadores.Antes que eu possa reagir, Kael me beija com a mesma intensidade de Magnus, e logo Damien se junta a nós. Estou completamente atônita
Damien Darkmore.Segunda-Feira.Estou parado no meio do quarto, observando a porta por onde Yara acabou de sair apressada. Um sorriso malicioso se forma em meus lábios, quase impossível de conter. Ela quase cedeu. Sua respiração acelerada e o jeito como seus olhos não conseguiam se desviar de mim não me enganam. Ela sente alguma atração por nós, mas algo a impede. Será que é o medo? Talvez por ser casada. Bom, não me importo. O fato de ela ter quase cedido mostra que também sente desejo e atração, o que facilita ainda mais para mim.Caminho em direção ao meu closet, ainda com o sorriso estampado no rosto. Escolho uma calça jeans escura, uma camisa branca de botão e um par de sapatos pretos de couro. Um visual casual, mas ainda assim elegante. Coloco o meu relógio de pulso, um Rolex de prata, e pego o celular e a carteira antes de sair do quarto.Ao descer os degraus, sinto a excitação crescente com o que aconteceu há poucos minutos. Sigo em direção à sala de jantar, onde meus irmãos j