Yara Blake.
14:00 — Empresa. — Eldoria.
Sexta-Feira.
Assim que saio da sala, sigo Amélia pelo longo corredor, tentando processar tudo o que acabou de acontecer. Meus passos continuam hesitantes, como se a qualquer momento alguém fosse me chamar de volta e dizer que tudo isso foi um engano. Mas Amélia mantém um ritmo firme, me guiando até uma sala menor, onde ela finalmente se vira para mim.
— Vou te explicar como funcionam as coisas na mansão dos senhores Darkmore. — começa ela, com uma voz clara e profissional. — Assim que você chegar no domingo à noite, a governanta chefe, senhora Thompson, a designará para o trabalho que combinar melhor com suas habilidades. Se você for melhor na cozinha, provavelmente ficará responsável por preparar as refeições. Se tiver mais jeito para a limpeza, será designada para isso.
Faço que sim com a cabeça, tentando absorver todas as informações. Amélia continua:
— O salário será de quinze mil dólares por mês, com todas as despesas de moradia e alimentação incluídas. Você terá dois dias de folga por semana, que serão os sábados e os domingos. Nos outros dias, estará à disposição da casa.
Quinze mil dólares por mês? Meus olhos se arregalam com a cifra. Isso é mais do que eu jamais poderia imaginar ganhar em um emprego como este. Tento manter a calma, mas por dentro estou em êxtase. Isso não só resolverá meus problemas financeiros, como também me dará uma chance de escapar, pelo menos temporariamente, do Ronan e do seu controle sufocante.
— Certo. — digo, ainda um pouco atordoada. — Eu entendo.
— Ótimo — Amélia conclui, entregando-me um cartão com o endereço da mansão e algumas instruções. — Este é o endereço. Por favor, não se atrase no domingo à noite. A pontualidade é algo muito importante para os senhores Darkmore.
— Sim, claro. Estarei lá.
Amélia me dá um pequeno sorriso, um dos poucos momentos em que seu rosto profissionalmente neutro parece relaxar.
— Boa sorte, Yara. Tenho certeza de que você fará um ótimo trabalho.
Agradeço e me despeço dela, saindo do prédio ainda um pouco incrédula com tudo o que aconteceu. Enquanto espero pelo táxi, não consigo evitar um sorriso que vai se formando no meu rosto. Finalmente, depois de tanto tempo, uma chance de liberdade parece possível. Uma chance de me afastar de Ronan, mesmo que só por alguns dias da semana. Isso pode me dar o espaço que preciso para respirar, para pensar, para ser eu mesma.
Quando entro no táxi, dou o endereço de casa ao motorista e me acomodo no banco, ainda sorrindo. Meu coração está leve, como não se sentia há muito tempo, mas há algo que não consigo tirar da cabeça. Por que os irmãos Darkmore me olharam daquele jeito? E por que, por mais desconfortável que tenha sido, eu me senti... atraída por eles? Nunca havia sido observada com tanta intensidade por homens tão... tão lindos. É confuso, para dizer o mínimo.
Respiro fundo, ainda processando tudo o que aconteceu. Olho a nossa linda cidade, Eldoria. Com seus enormes prédios modernos e ruas largas, se estende diante de mim enquanto o carro se afasta do prédio. Continuo observando o cenário que passa rapidamente. As árvores que adornam as calçadas são de uma beleza impressionante, trazendo um pouco de verde em meio ao concreto. Os arranha-céus tocam o céu com suas estruturas imponentes, refletindo o brilho do sol nas suas janelas espelhadas, como se quisessem competir com as nuvens.
Eldoria é uma cidade vibrante e cheia de vida, onde o antigo e o novo se encontram de uma forma única. A modernidade dos prédios se mistura com a elegância das antigas construções, criando uma paisagem que nunca deixa de me fascinar. Carros e pessoas se movimentam em perfeita sincronia nas ruas amplas, onde a vida nunca parece parar. Tudo aqui é grandioso, desde as avenidas que parecem intermináveis até as luzes dos semáforos que brilham intensamente, guiando o tráfego constante. As lojas de doces, roupas e suas variedades, é algo lindo.
Nunca pude fazer compras sozinhas, e jamais pude aproveitar o ambiente da cidade. Mas espero que trabalhando na mansão dos irmãos Darkmore, eu posso ter um pouco de liberdade para conhecer melhor a minha cidade.
Chego em casa em pouco tempo, mas minha mente continua perdida nos pensamentos sobre o que está por vir. Pego o dinheiro na bolsa e pago o motorista, agradecendo antes de sair do carro. Entro na minha casa e largo a bolsa no sofá, como sempre faço, mas hoje a sensação é diferente. Há uma leveza em mim, uma esperança que não sentia há muito tempo.
Caminho até a cozinha, lembrando que Ronan vai chegar em algumas horas, e como sempre, ele vai querer o jantar pronto. Ainda são três da tarde, mas gosto de deixar tudo adiantado, para evitar qualquer tipo de reclamação. Começo a preparar os ingredientes, mas meus pensamentos continuam em outro lugar.
Como vou contar a Ronan sobre o novo emprego? Ele nunca gostou da ideia de eu trabalhar fora, muito menos em tempo integral e morando em outra casa durante a semana. A simples ideia de tentar convencê-lo já me causa um frio na barriga, mas sei que preciso ser firme. Esta é uma oportunidade que eu não posso deixar passar.
Continuo cortando os vegetais, tentando focar na tarefa, mas os pensamentos insistem em voltar aos irmãos Darkmore. O modo como me olharam, como se pudessem ver algo dentro de mim que eu mesma desconhecia. E aquele sorriso de Damien, mesmo que discreto, pareceu ter um significado oculto, algo que não consegui decifrar.
Respiro fundo, tentando afastar esses pensamentos. Não posso me deixar distrair por isso. Preciso me concentrar no que é mais importante agora: garantir essa oportunidade e encontrar uma maneira de lidar com Ronan. Mas por mais que tente, uma parte de mim não consegue esquecer a intensidade daqueles olhares, nem a estranha sensação de atração que surgiu dentro de mim, algo que eu nunca tinha experimentado antes.
Enfim, termino de preparar o jantar e coloco a mesa, pronta para enfrentar mais uma noite com Ronan. Mas desta vez, com uma pequena chama de esperança acesa dentro de mim. Uma esperança de que, talvez, as coisas possam mudar.
Yara Blake.18:10 — Casa da Yara. — Eldoria.Após o banho, me visto rapidamente, colocando uma roupa simples, mas confortável. Desço as escadas com cuidado, sentindo a frieza do chão nos pés descalços. Assim que alcanço o último degrau, a porta da frente se abre com um estalo, revelando Ronan. Ele me lança um olhar frio, e suas primeiras palavras, como de costume, são cheias de impaciência.— O jantar está pronto? — pergunta ele, sem qualquer vestígio de carinho na voz. — Estou faminto.Concordo rapidamente com a cabeça, tentando evitar qualquer tipo de confronto.— S-Sim, está pronto. Fiz mais cedo, mas deve estar frio agora... Por que não toma um banho enquanto eu esquento? — minha voz sai trêmula, e antes que eu perceba, estou desviando o olhar.O olhar dele é cortante, o tipo de olhar que me faz sentir pequena, insignificante. Me encara com desprezo antes de explodir em raiva.— Você sabe que chego a essa hora, e ainda não esquentou a comida? — a voz dele sobe de tom, carregada de
Magnus Darkmore.Estávamos precisando de mais uma empregada na mansão, então ordenei à minha secretária, Amélia, que publicasse um anúncio nos jornais. Como não queria lidar com as entrevistas sozinho, convidei meus irmãos para me acompanharem: Kael, o segundo irmão, um juiz renomado, e Damien, o terceiro irmão, que é médico. Kael tem trinta e seis anos, Damien tem trinta e cinco, e eu sou o mais velho, com trinta e oito.As primeiras candidatas foram um desastre. Pareciam mais interessadas em se jogar em cima de nós do que em mostrar suas qualidades. Kael, com seu jeito bruto e sarcástico, não deixava barato. Sempre fazia questão de humilhar as garotas, algo que divertia profundamente Damien. Concordo que eu também achava a situação divertida. Ver a reação delas às suas provocações e o desconforto que isso causava era um espetáculo à parte.No entanto, o que não esperávamos era que a próxima candidata fosse chamar a nossa atenção. Quando ela entrou no escritório, soubemos imediatamen
Yara Blake.Sábado.Enquanto corto os legumes para o almoço, uma mistura de irritação e ansiedade começa a crescer dentro de mim. Tudo o que eu queria era passar o sábado sozinha, organizar minhas coisas e me preparar mentalmente para começar o novo emprego na mansão dos Darkmore. Mas, claro, Ronan não podia deixar isso acontecer. Ele fez questão de contar à minha família sobre o meu novo trabalho, e agora, eles decidiram vir almoçar aqui, sem nem ao menos me perguntar, como sempre fazem. Não bastasse o estresse de lidar com a casa, agora preciso enfrentar a presença crítica dos meus pais.Por que ele teve que contar? Ele sempre faz isso, parece que se diverte vendo como eu fico nervosa. A voz dele ainda ecoa na minha cabeça, aquela frieza e indiferença com que me trata sempre. Porque eu quis, Yara. Não é óbvio? Como se isso fosse motivo suficiente para me jogar em situações como essa.Eu me movo rápido pela cozinha, tentando fazer tudo ao mesmo tempo. O cheiro de alho refogando começ
Kael Darkmore.Depois que saí da empresa do meu irmão, segui direto para o meu trabalho. Como juiz, sempre tenho pilhas de casos a revisar, decisões a tomar e audiências a preparar. Hoje, porém, minha mente está longe desses deveres. Apesar de estar cercado por processos e documentos importantes, não consigo me concentrar em nada além dela. Yara Blake.Desde o momento em que a conhecemos, algo mudou. Sempre tivemos mulheres em nossas camas, uma após a outra, mas nenhuma delas despertou em nós o que Yara conseguiu. Seu jeito submisso nos cativou de uma maneira que eu não esperava. Há algo na sua timidez, na forma como ela abaixa a cabeça, que me deixa intrigado. Me pego me perguntando se ela é virgem. Só porque é casada não significa que não seja. Já peguei casos em que mulheres buscaram o divórcio porque seus maridos não cumpriram suas obrigações conjugais. Se Yara for virgem, isso tornaria tudo ainda mais interessante.Assim que cheguei ao trabalho ontem, a primeira coisa que fiz foi
Damien Darkmore.17:00 — Consultório. — Eldoria.Estou no meu consultório, terminando de preencher alguns relatórios antes de finalmente ir para casa. O dia foi longo, e minha mente está cansada, mas a rotina de um médico nunca realmente termina. Enquanto reviso alguns prontuários, meu celular vibra na mesa ao lado. Pego o aparelho e vejo que é o Magnus ligando. Atendo imediatamente.— Magnus, o que houve? — Pergunto, mantendo a voz baixa.— Kael descobriu algo interessante sobre a nossa doce Yara. — Ele começa, e eu automaticamente deixo a caneta de lado, concentrando-me na conversa.— Estou ouvindo. — Digo, apoiando as costas na cadeira e fechando os olhos por um momento, tentando focar na informação.— Ela é casada com Ronan Blake, um empresário do setor de construção. O casamento deles foi arranjado pelos pais, um acordo entre famílias para fortalecer as empresas. — Magnus relata, a voz carregada de um tom de desdém.— Casada com Ronan Blake... — Repito, deixando a informação se s
Yara Blake.Domingo.18:20 — Casa da Yara. — Quarto. — Eldoria.Estou terminando de arrumar minha mala, me sentindo um pouco ansiosa. Hoje é domingo, e já está escurecendo, preciso sair antes que fique tarde demais. Acordei muito mais cedo do que de costume, por volta das cinco da manhã, para conseguir arrumar toda a casa, preparar o café do Ronan e também fazer os almoços para a semana. E desde ontem, ele tem lançado ameaças sutis ontem, dizendo que, se descobrir algo, coisas ruins acontecerão. Sei que ele se refere a mim.Ainda continuo em choque ao descobrir que ele pretende usar o meu dinheiro para a empresa dele. Esse dinheiro era minha esperança, meu caminho para fugir ou, quem sabe, contratar um advogado para conseguir o divórcio. Solto um suspiro pesado enquanto fecho a mala. Não tenho muitas roupas, já que o Ronan nunca se preocupou em me dar mais do que o básico. Tudo o que é meu está guardado ali, todas as minhas poucas posses.Ele saiu há pouco, dizendo que algo havia acon
Yara Blake.Domingo.19:30 — Mansão dos irmãos Darkmore. — Eldoria.Em seguida, ela me leva até a biblioteca. É um espaço grandioso, com estantes que vão do chão ao teto, cheias de livros antigos e raros. A madeira escura das prateleiras contrasta com o couro dos móveis, criando um ambiente sofisticado e tranquilo.— A biblioteca é um dos lugares mais importantes da mansão. Os senhores Darkmore a utilizam com frequência, então mantenha tudo em ordem, mas sempre com muito cuidado. Não toque nos livros a menos que seja absolutamente necessário.Continuamos o tour e passamos pelo escritório. O espaço é sério, com uma grande mesa de mogno no centro, papéis organizados meticulosamente e uma cadeira de couro que parece ter sido feita sob medida para alguém de grande poder.— O escritório é onde os senhores Darkmore cuidam de seus negócios. Você será responsável por limpar este espaço diariamente, mas nunca mexa nos documentos. Apenas organize o que está à vista e não abra gavetas ou armário
Yara Blake. Segunda-Feira..Estou no corredor da mansão, e de repente, Magnus aparece diante de mim, o que faz com que eu esbarre nele sem querer. O coração dispara de nervosismo. Ele me olha com uma intensidade que acelera ainda mais o meu coração.— D-Desculpe, senhor! — Digo, nervosa, tentando me afastar.Mas, ao tentar recuar, Magnus me puxa com firmeza. Seus lábios encontram os meus em um beijo intenso e inesperado. O beijo é ardente e dominador, e eu sinto cada toque como se fosse uma faísca de desejo que eu nunca soubera ter. As mãos dele exploram meu corpo, e a sensação é tão intensa que me faz perder a noção do tempo. Sinto-me envolvida e desorientada, e tudo ao meu redor parece desaparecer.— Estão se divertindo sem nós? Que malvados. — Ouço uma voz e, ao me virar, vejo o senhor Kael e o senhor Damien se aproximando como se fossem predadores.Antes que eu possa reagir, Kael me beija com a mesma intensidade de Magnus, e logo Damien se junta a nós. Estou completamente atônita