A OBSESSÃO DO MAFIOSO
A OBSESSÃO DO MAFIOSO
Por: Eduarda
INTERNATO

Florença | Toscana

O dia em Florença é sempre belo, adoro a sensação de liberdade que tenho aqui, pelo menos nas proximidades do internato. O lugar é repleto de árvores e tem um jardim fantástico, o que compensa ser afastado de todos e no meio do nada. Estou aqui há tanto tempo que não sei diferenciar mais. Não reclamo por amar a paz deste lugar, mas um pouco de liberdade é sempre bom.

— Angeline?

Escuto a voz da madre me chamar. Olho para cima e lá está ela me olhando com seus grandes olhos pretos. A madre é como uma mãe para mim, uma que nunca tive.

— Suba aqui em cima, preciso de você, querida.

— Sim, Senhora! Já estou indo, madre.

Respiro mais uma vez o ar livre e entro.

Sigo para a sala da madre no final do corredor. Ela disse que a vista é melhor, assim pode observar todas as meninas. Exagero, é claro. Não temos contato com ninguém de fora, exceto os nossos pais. Pelo menos as meninas que recebem visitas da família, o que não é o meu caso.

— Posso entrar? — bato levemente na porta.

— Sim, querida! — diz com a voz baixa.

Entro em sua sala e a madre está sentada em sua cadeira, seus olhos recaindo sob mim e um sorriso brotando em seus lábios.

— Sente-se, Angeline.

Faço como ela manda, uma curiosidade sobre mim é que sou muito obediente, o que faz com que eu seja motivo das piadas das outras meninas, elas dizem que sou a mulher que todo homem gostaria de ter, completamente submissa.

— Teremos uma garota nova conosco, gostaria que mostrasse tudo a ela, ela ficará como sua colega de quarto.

— Sim, madre.

Os dormitórios são divididos, no meu quarto só tem eu e outra garota, porém ela mal fala comigo, então me animo com a possibilidade de ter uma amiga.

— Angeline… Essa menina vem de uma família muito importante, não entrarei em detalhes com você, mas quero que tome cuidado com tudo que dirá perto dela. O seu irmão irá trazê-la hoje à tarde, parece que ele andou tendo problemas com ela e somos a última solução.

— Não se preocupe, madre, farei como deseja.

— Por isso, é tão querida, é um anjo, Angeline. — sorri para mim.

Abro um grande sorriso, a madre sempre diz que sou um anjo desde pequena, nunca fui desobediente com ela ou com as irmãs, sempre doce e carinhosa com todos.

— Pode ir, querida. Assim que eles chegarem, mando te chamar.

Levanto-me da cadeira com calma e aceno em concordância.

Lembro-me de que tenho umas tarefas para fazer, caminho para o meu quarto, porém, infelizmente, tenho o azar de cruzar com o grupinho de Amanda, ela não me deixa em paz.

— Olha só o que temos aqui…

— Bom dia, meninas! — tento passar pela mesma que segura meu braço.

— Não tão rápido… Está com pressa para cumprir o que a suprema madre ordenou? — Seu tom é debochado.

Fico em silêncio e abaixo um pouco a cabeça.

— Odeio seu jeito sonso, Angeline! Finge ser prestativa e bondosa, mas por dentro é uma alma venenosa.

— Não sei o motivo de agir assim, nunca fiz nada para você.

— Não precisa de motivos, idiota! — me empurra.

— Vamos embora, deixa essa garota aí… Não serve mesmo para nada! — uma de suas amigas diz rindo.

— Sim, por isso nunca recebe visitas de ninguém, nem a família a quer por perto. — Saí andando, rindo.

Fico parada no mesmo lugar, as lágrimas querendo cair dos meus olhos, tudo que elas disseram é verdade, nem minha família gosta de mim, minha mãe faleceu no meu parto, eu nunca vi nenhuma foto sua, só ouvi alguns relatos do meu irmão do meio, Luigi é o único que gosta de mim, mesmo que não venha me ver, ele manda cartas.

Vou para o quarto e me deito na cama chorando, dói muito, mas sou forte, é provação.

No banheiro, tiro o uniforme do internato, somos obrigadas a usar essa vestimenta, que consiste em uma saia um pouco acima do joelho, blusa social branca, blazer azul, meias 3/4 e sapatilhas pretas.

Meu banho não é demorado, sou prática na limpeza, mas também em economizar. Saí enrolada em um roupão e com uma toalha na cabeça. Temos uma pequena cômoda no quarto onde podemos guardar nossas coisas. Não tenho muitas, pois não podemos usar roupas normais aqui dentro. Então, pego outro par do uniforme, que estava guardado e visto. Costumo deixar meu cabelo solto, gosto de como ele é livre.

Saio do quarto e vou para o jardim, me sento em um banco de frente para uma árvore, o céu hoje está lindo e bem azul, as pequenas nuvens complementam essa beleza.

— Merda!

Escuto alguém xingar e olho para trás vendo uma garota. Observo atentamente a menina, ela não é daqui, suas roupas demonstram isso.

— Posso te ajudar? — me levanto do banco.

Só agora a menina percebe minha presença.

— Estuda aqui? — pergunta olhando minha roupa.

— Moro aqui. 

— Estou procurando a saída, eu me perdi.

— Por que está aqui? — pergunto curiosa.

Percebo que ela não responde minha pergunta, parecendo exitar.

— E então? — abro um sorriso inocente.

— Quero fugir, tá legal? — bufa.

— Fugir? Por qual motivo?

— Meu irmão, quer que eu venha morar nessa merda de lugar. 

Olho para ela, confusa e surpresa.

Irmão?

Garota tentando fugir?

Ela é a menina que a madre falou!

— Espera… Você é a nova garota!

— Nova garota? — levantou uma das sobrancelhas perfeitamente alinhadas.

— É que a madre me disse que chegaria uma nova menina hoje, eu deveria te apresentar o lugar, vai ver que não é tão ruim.

— Qual o seu nome?

— Angeline…

— Ok, Angeline. Obrigada, mas não estou a fim de conhecer esse lugar, não ficarei aqui.

— Ah, que pena…

Realmente senti uma pequena tristeza, essa menina era a primeira que não me tratava com indiferença.

— Qual o seu nome, então?

— É...

— SOFIA!

Antes que a menina terminasse de falar, uma voz muito potente chamou seu nome, me tremi inteira só com o seu grito, e pelo jeito Sofia também.

— Dannazione!

— Qual a porra do seu problema, Sofia? Mandei que me esperasse, deveria te mandar logo para a Rússia.

Só com essa menção, a garota que descobri chamar Sofia se tremeu inteira e arregalou os olhos.

Eu ainda estava de costas, sentia medo desse homem apenas ouvindo sua voz.

— Desculpa, fratello… Eu não fugi, apenas vim conhecer o jardim, fiz até uma amiga. — olhou para mim, suplicante.

— Angeline?

A voz da madre ecoou em meus ouvidos, me virei lentamente com a cabeça baixa.

— Sim, madre?

— O que ela diz é verdade?

Pensei por alguns segundos, nunca havia mentido na minha vida.

— Sim… É verdade…

Escutei Sofia dar um suspiro nervoso atrás de mim, provavelmente por eu gaguejar.

— Você fede à mentira, menina! — diz com a voz raivosa.

— Angeline não mente, Don.

Por favor, isso precisa acabar logo.

— Olhe para mim! — ordena.

Além de tremer, comecei a suar também, ótimo, Angeline.

— É surda, menina? — segurou no meu queixo, levantando com brusquidão.

De repente, esqueci até como respirar, seus olhos avaliaram os meus, pareciam perdidos, hipnotizados, eu olhava no fundo dos seus olhos e não via nada, apenas escuridão. Aquilo me assustou, como ele me olhava, me apavorava.

Como se minha pele lhe queimasse, ele me soltou e se afastou novamente.

— Você ficará aqui, Sofia. E espero que aprenda a se comportar como uma mulher de verdade, porque, pelo que vejo, estão criando meninas mentirosas por aqui. — diz, olhando furioso para a madre.

Percebo quando ela engole em seco e abaixa a cabeça.

— Angeline, leve Sofia para conhecer o dormitório dela, depois quero você na minha sala. — O tom dela é severo.

— Sim, senhora. Vamos, Sofia!

Caminho na frente devagar, Sofia para perto do irmão.

— Fratello...

— Cala a boca, não quero ouvir suas mentiras.

Sofia abaixa a cabeça e anda até mim, seguimos o nosso caminho, não me atrevo a olhar para trás, mas sinto seu olhar me acompanhar.

{…}

— Obrigada por mentir por mim.

— Não precisa agradecer, até porque não funcionou. — Abro um sorriso pequeno.

Sofia começa a trocar de roupa na minha frente, o que me deixa ligeiramente envergonhada.

— Mesmo assim, Angel… Obrigada!

— Angel?

— Sim, um apelido, espero que não se importe.

— Claro que não, nunca me deram um apelido. — Abro um grande sorriso.

Alguém b**e na porta.

— Pode entrar! — digo quando vejo Sofia já vestida.

Uma das irmãs aparece na porta.

— A madre quer vê-la, Angeline.

— Já estou indo, irmã.

Ela assentiu e saiu.

— Acha que está encrencada?

— Talvez… Mas a madre sempre foi boa comigo, não estou com medo.

— Se você diz…

Me despeço de Sofia e sigo para a sala da madre. Bato na porta após respirar fundo.

— Entre!

— Com licença, madre.

Ela me olha enquanto caminho em sua direção, meu coração quase saindo pela boca. Ela gesticula com a cabeça para que me sente, assim eu faço.

— Por que mentiu, Angeline?

Direta como sempre.

— Desculpa, madre! — abaixo a cabeça envergonhada.

— Estou esperando…

— Menti porque é a primeira vez que tenho uma amiga, sei que é errado, mas na hora me pareceu o certo.

— O que fez foi muito sério, menina. Sabe quem aquele homem é?

Olhei para ela, confusa.

— O Don, seu líder!

Don? Ouvi a madre chamá-lo assim, porém não me atentei a esse detalhe.

Aquele homem é o Capo di Tutti Capi, traduzindo, O chefe de todos os chefes.

Meus olhos se arregalaram de medo, se ele quisesse, poderia ter me matado ali mesmo, pois não cumpri com minha palavra de lealdade.

— Eu não sabia, madre…

— Eu sei. Agora que já sabe, tome cuidado com seus atos, gosto muito de você, Angeline, sabe disso.

— Perdão, madre!

— Tudo bem, mas terá um pequeno castigo. Lavará todos os banheiros por uma semana.

— Sim, senhora!

— Agora pode ir.

Me levantei e fui para a porta, ainda estava pensativa quanto ao que escutei.

— Pobre criança…

Ouvi a voz baixa da madre dizer.

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