Minha garganta ainda arde quando apoio o copo vazio na cabeceira. O silêncio do quarto é sufocante, pesado como um presságio. Filippo saiu sem dar mais respostas, deixando-me à mercê das dúvidas que me corroem. Minha perna lateja. O ferimento foi suturado, mas a dor pulsa como um lembrete cruel da minha vulnerabilidade. Tento me mover, mas meu corpo está exausto, drenado de forças que já não sei se possuo. Isabella. Meu peito aperta ao lembrar do nome de minha enteada escapando de meus lábios trêmulos. Não sei onde ela está, se está segura, se Matteo já sabe o que aconteceu comigo. Tudo o que tenho são incertezas e o medo que se infiltra em minha mente como um veneno lento. Fecho os olhos por um instante, buscando algum resquício de força dentro de mim. Não posso me deixar abater. Não agora. Se Filippo me mantém viva, isso significa que ainda tenho valor para ele. Isso significa que posso encontrar um meio de sair daqui. Preciso ser inteligente. Respiro fundo e tento me sentar.
Eu não sabia quanto tempo tinha se passado desde que fui trancada naquele quarto. A tempestade rugia lá fora, mas o verdadeiro caos estava dentro de mim. Meu corpo estava exausto, minha mente um campo de batalha. Foi então que a porta se abriu. Minha mão apertou a faca com mais força. — Filippo? — minha voz saiu trémula. Ele se aproximou devagar, os olhos varrendo o cômodo. — Não temos muito tempo, Angeline. Preciso que me escute. Meu coração batia acelerado. — Você precisa saber a verdade. Isabella não é filha de Matteo. O ar fugiu dos meus pulmões. — O quê? — sussurrei, sem acreditar. — Não há tempo para explicações longas. Apenas confie em mim. Eu posso te ajudar, mas Matteo nunca poderá saber. Isso precisa ficar entre nós. Minha mente girava. Isabella... não era filha dele? Como isso era possível? Por quê ele estava me dizendo isso agora? Os trovões rugiram mais alto, e, ao longe, escutei o eco de tiros. Matteo estava vindo. — Preciso de uma resposta, Angeline. Você
Minhas mãos tremiam ao apertar a faca com mais força. O peito subia e descia de forma descompassada, a respiração presa na garganta. A porta destruída ainda rangia no chão, mas meus olhos estavam fixos nele. Matteo. O homem que eu amo. O homem que me jogou neste inferno. Ele parecia feroz, perigoso. A respiração pesada, os olhos escuros como a tempestade lá fora. Mas havia algo mais ali. Uma emoção que me recusava a reconhecer. — Fique longe. — Repeti, forçando minha voz a não vacilar. Meu corpo queria correr para ele, se encolher em sua proteção, mas minha mente gritava o contrário. Ele ergueu as mãos, um gesto pacífico, mas nada nele era tranquilo. — Angeline... — A voz era baixa, controlada. O caos ainda rugia ao nosso redor, mas Matteo não desviou os olhos de mim. — Sou eu. — Eu sei quem você é. — Minha garganta queimava. — Você me abandonou aqui. Você me deixou... A faca em minha mão tremia, mas não soltei. Não podia. Ele deu um passo à frente, e eu reagi no mesmo instant
O carro parou em frente à mansão, o som dos pneus contra o asfalto molhado abafado pela tempestade. O vento uivava, como se fosse uma extensão do caos que havíamos deixado para trás. Eu ainda podia sentir o peso do que aconteceu, o cheiro de sangue e pólvora se misturando à umidade do ar, mas, ao olhar para Angeline em meus braços, senti um alívio estranho. Ela estava em silêncio, mas eu sabia que o medo estava se infiltrando em cada célula de seu corpo. Eu a segurei firme, mas com a suavidade necessária para que ela soubesse que, pelo menos por agora, estava segura. Quando os olhos dela se encontraram com os meus, eu percebi a vulnerabilidade que ela tentava esconder. Isabella, ao meu lado, parecia pequena, quieta. Eu sabia o que estava acontecendo em sua cabeça. O medo de um mundo que ela ainda não conseguia entender. Olivia estava ao lado, mais distante, com um olhar cauteloso, mas seu silêncio dizia mais do que qualquer palavra. Eu poderia sentir a tensão no ar, mas havia algo
Eu estava fraca. A dor ainda pulsava, mas era uma dor que eu conhecia, uma dor que me acompanhava por tanto tempo que já não sabia mais se a sentia de verdade ou se era apenas parte de quem eu me tornei. Mas, ao ser deixada nos braços de Sofia, algo mudou. O medo não era mais só meu. Eu podia sentir a tensão nos músculos dela, a preocupação em cada movimento. Ela tentava ser gentil, tentando aliviar a rigidez que eu sentia, mas suas mãos estavam tão firmes quanto as de Matteo. Havia algo estranho nisso, algo que me fazia sentir a distância de quem realmente importava. Eu sabia que ele estava lá, observando de longe, talvez esperando que eu fosse me levantar sozinha, como sempre fiz. Mas eu não podia. Não agora. O peso da noite, das escolhas feitas, de tudo o que estava prestes a acontecer, parecia esmagar cada fibra do meu ser. — Você está bem? — Sofia perguntou, a voz suave, mas com uma preocupação que eu não conseguia ignorar. Eu sabia que ela queria mais, que ela queria que eu d
Eu não conseguia tirar Angeline da cabeça. A fragilidade que eu tinha visto nela, o medo, a vulnerabilidade… tudo isso estava me consumindo. Sabia que ela era importante para mim, mas, por alguma razão, a dor que ela carregava parecia mais pesada do que eu estava disposto a admitir. Eu passei a noite rondando os corredores, evitando meu escritório, tentando me manter longe das tentativas de controle que surgiam a cada segundo. Mas, de alguma forma, meu pensamento sempre voltava para ela. Para Angeline. Eu sabia o que ela representava, sabia que, por mais que eu tentasse, não conseguiria controlar tudo o que ela sentia. Mas, mesmo assim, não pude deixar de me preocupar. O som da chuva lá fora se misturava com o som abafado dos meus passos enquanto eu me movia pelo corredor em direção ao quarto. Eu queria saber como ela estava, mas, ao mesmo tempo, tinha medo da resposta. O que ela diria? O que ela pensaria de mim agora, depois de tudo o que aconteceu? Cheguei à porta do quarto e par
Eu estava sentada na beira da cama, sentindo a tensão pulsar em cada músculo do meu corpo. Matteo estava na porta, sua presença imponente, mas eu sabia que tinha chegado o momento de contar a verdade, de finalmente tirar o peso que me consumia por dentro. A mentira estava se arrastando, e agora, não havia mais como esconder. Ele precisava saber. O olhar dele estava frio, observador, como se aguardasse que eu dissesse algo que justificasse a nossa situação. Mas eu sabia que ele não estava preparado para o que estava prestes a ouvir. Eu não estava preparada para isso também, mas não havia mais volta. Eu respirei fundo, e as palavras saíram mais baixas do que eu queria, como se a própria voz se recusasse a ser ouvida. Mas eu não tinha escolha. — Matteo... — Comecei, as palavras engasgando na garganta. — Isabella não é sua filha. Ele me olhou como se eu tivesse acabado de dizer algo absurdo. A raiva surgiu rapidamente, mas ele não falou nada. O silêncio que se seguiu estava mais pesad
Eu queria abraçá-lo. Queria reunir toda a sua dor e transmiti-la para mim, como se o toque pudesse amenizar o que se passava dentro de nós. Mas, no fundo, eu sabia que ele não precisava de conforto agora. Ele precisava de espaço para lidar com a devastação que acabou de descobrir. Ele estava em um turbilhão, e eu estava apenas assistindo, impotente. Mas, ainda assim, meu corpo reagiu sem que eu pensasse. Me aproximei, os braços se estendendo quase por instinto. Ele me olhou por um segundo, como se estivesse avaliando se permitia que eu o tocasse, ou se minha presença era mais um peso para ele naquele momento. Seu olhar, que antes estava cheio de raiva, agora estava carregado de uma tristeza profunda, e isso me quebrou por dentro. Eu queria ser forte, queria ser a mulher que ele sempre precisou, mas o que estava acontecendo entre nós parecia maior do que qualquer força que eu pudesse oferecer. Ele me evitou, dando um passo para trás, afastando-se de mim como se a simples proximidade