Sofia | Capítulo bônus.Eu estava sentada na sala, inquieta, quando Ivan entrou. Seu rosto impassível, frio como sempre. Ele me olhou de cima abaixo, sem pressa, e soltou a bomba sem qualquer emoção na voz.— Angeline foi sequestrada.O chão pareceu sumir sob meus pés. Minha respiração ficou presa na garganta, e meu coração disparou descontrolado.— O quê? — minha voz saiu falha, tomada pelo desespero. — Como assim? Quem fez isso?— Não sabemos ainda. — ele disse, casual, como se estivesse comentando sobre o clima. — Mas estamos cuidando disso.Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu as segurei. Não queria parecer fraca diante dele.— Eu preciso ir para a Calábria. Preciso estar lá por ela, Ivan.Ele arqueou a sobrancelha, debochado.— Não. Você não tem nada a ver com isso. Fique aqui e não se meta.A raiva borbulhou dentro de mim.— Angeline é minha melhor amiga! Eu não vou ficar parada enquanto ela está em perigo!— Você vai fazer exatamente isso. Não me faça repetir.Engoli em s
Perdi as contas de quantos dias estou aqui. O tempo se tornou uma ilusão, um borrão de escuridão e silêncio. Não sei onde estou. Não sei onde está Isabella. Não sei onde está Olivia. O pânico me consome cada vez que penso nelas, mas estou fraca demais para chorar. Já chorei tudo o que podia.O som metálico da fechadura girando me faz encolher. A porta se abre, e Filippo entra, movendo-se com a calma de um predador que já venceu a caça. Ele puxa uma cadeira e se senta na minha frente, cruzando as pernas com indiferença.— Já fez sua escolha? — Sua voz tem um tom entediado, como se tudo isso fosse apenas um jogo para ele.Minha garganta seca, e eu balanço a cabeça, recusando-me a falar. Filippo sorri de lado, como se já esperasse minha reação.— Você realmente acha que o silêncio vai te salvar? — Ele solta uma risada baixa, balançando a cabeça. — Tão previsível... tão patética.Aperto os olhos com força, levo as mãos aos ouvidos. Não quero ouvir. Não quero pensar. Não quero existir nest
Observo a médica dar pontos no ferimento na coxa de Angeline. Seus olhos estão fechados, a respiração lenta e tranquila. Assim, adormecida, ela parece frágil, quase inocente, como se a dor tivesse lhe dado um descanso forçado.A médica me passa as instruções de cuidado. Faço um gesto para que saia, sem dar muita atenção. Quando a porta se fecha, fico ali, apenas observando Angeline. Há algo nela que me desestabiliza de uma maneira que me irrita. Sem pensar, toco levemente seus lábios.O que essa garota tem que mexe tanto comigo?Respiro fundo e saio do quarto, a fúria crescendo com cada passo. Assim que entro no cativeiro, vejo Olivia amarrada à cadeira. Sua cabeça está baixa, os cabelos desgrenhados cobrindo parte do rosto. Sem hesitação, dou-lhe um tapa forte. Sua cabeça vira para o lado, um filete de sangue escorrendo de seu lábio partido.Ela ergue os olhos para mim, cheios de ódio.— Vai me matar, Filippo? — Sua voz está rouca, mas carregada de desprezo. — Faça isso logo. Melhor
Minha garganta ainda arde quando apoio o copo vazio na cabeceira. O silêncio do quarto é sufocante, pesado como um presságio. Filippo saiu sem dar mais respostas, deixando-me à mercê das dúvidas que me corroem. Minha perna lateja. O ferimento foi suturado, mas a dor pulsa como um lembrete cruel da minha vulnerabilidade. Tento me mover, mas meu corpo está exausto, drenado de forças que já não sei se possuo. Isabella. Meu peito aperta ao lembrar do nome de minha enteada escapando de meus lábios trêmulos. Não sei onde ela está, se está segura, se Matteo já sabe o que aconteceu comigo. Tudo o que tenho são incertezas e o medo que se infiltra em minha mente como um veneno lento. Fecho os olhos por um instante, buscando algum resquício de força dentro de mim. Não posso me deixar abater. Não agora. Se Filippo me mantém viva, isso significa que ainda tenho valor para ele. Isso significa que posso encontrar um meio de sair daqui. Preciso ser inteligente. Respiro fundo e tento me sentar.
Eu não sabia quanto tempo tinha se passado desde que fui trancada naquele quarto. A tempestade rugia lá fora, mas o verdadeiro caos estava dentro de mim. Meu corpo estava exausto, minha mente um campo de batalha. Foi então que a porta se abriu. Minha mão apertou a faca com mais força. — Filippo? — minha voz saiu trémula. Ele se aproximou devagar, os olhos varrendo o cômodo. — Não temos muito tempo, Angeline. Preciso que me escute. Meu coração batia acelerado. — Você precisa saber a verdade. Isabella não é filha de Matteo. O ar fugiu dos meus pulmões. — O quê? — sussurrei, sem acreditar. — Não há tempo para explicações longas. Apenas confie em mim. Eu posso te ajudar, mas Matteo nunca poderá saber. Isso precisa ficar entre nós. Minha mente girava. Isabella... não era filha dele? Como isso era possível? Por quê ele estava me dizendo isso agora? Os trovões rugiram mais alto, e, ao longe, escutei o eco de tiros. Matteo estava vindo. — Preciso de uma resposta, Angeline. Você
Minhas mãos tremiam ao apertar a faca com mais força. O peito subia e descia de forma descompassada, a respiração presa na garganta. A porta destruída ainda rangia no chão, mas meus olhos estavam fixos nele. Matteo. O homem que eu amo. O homem que me jogou neste inferno. Ele parecia feroz, perigoso. A respiração pesada, os olhos escuros como a tempestade lá fora. Mas havia algo mais ali. Uma emoção que me recusava a reconhecer. — Fique longe. — Repeti, forçando minha voz a não vacilar. Meu corpo queria correr para ele, se encolher em sua proteção, mas minha mente gritava o contrário. Ele ergueu as mãos, um gesto pacífico, mas nada nele era tranquilo. — Angeline... — A voz era baixa, controlada. O caos ainda rugia ao nosso redor, mas Matteo não desviou os olhos de mim. — Sou eu. — Eu sei quem você é. — Minha garganta queimava. — Você me abandonou aqui. Você me deixou... A faca em minha mão tremia, mas não soltei. Não podia. Ele deu um passo à frente, e eu reagi no mesmo instant
O carro parou em frente à mansão, o som dos pneus contra o asfalto molhado abafado pela tempestade. O vento uivava, como se fosse uma extensão do caos que havíamos deixado para trás. Eu ainda podia sentir o peso do que aconteceu, o cheiro de sangue e pólvora se misturando à umidade do ar, mas, ao olhar para Angeline em meus braços, senti um alívio estranho. Ela estava em silêncio, mas eu sabia que o medo estava se infiltrando em cada célula de seu corpo. Eu a segurei firme, mas com a suavidade necessária para que ela soubesse que, pelo menos por agora, estava segura. Quando os olhos dela se encontraram com os meus, eu percebi a vulnerabilidade que ela tentava esconder. Isabella, ao meu lado, parecia pequena, quieta. Eu sabia o que estava acontecendo em sua cabeça. O medo de um mundo que ela ainda não conseguia entender. Olivia estava ao lado, mais distante, com um olhar cauteloso, mas seu silêncio dizia mais do que qualquer palavra. Eu poderia sentir a tensão no ar, mas havia algo
Eu estava fraca. A dor ainda pulsava, mas era uma dor que eu conhecia, uma dor que me acompanhava por tanto tempo que já não sabia mais se a sentia de verdade ou se era apenas parte de quem eu me tornei. Mas, ao ser deixada nos braços de Sofia, algo mudou. O medo não era mais só meu. Eu podia sentir a tensão nos músculos dela, a preocupação em cada movimento. Ela tentava ser gentil, tentando aliviar a rigidez que eu sentia, mas suas mãos estavam tão firmes quanto as de Matteo. Havia algo estranho nisso, algo que me fazia sentir a distância de quem realmente importava. Eu sabia que ele estava lá, observando de longe, talvez esperando que eu fosse me levantar sozinha, como sempre fiz. Mas eu não podia. Não agora. O peso da noite, das escolhas feitas, de tudo o que estava prestes a acontecer, parecia esmagar cada fibra do meu ser. — Você está bem? — Sofia perguntou, a voz suave, mas com uma preocupação que eu não conseguia ignorar. Eu sabia que ela queria mais, que ela queria que eu d