PÔR DO SOL

Acordei e estava deitada ao lado do Lobo, ele continuava dormindo profundamente, fiquei me perguntando como eu havia ido deitar ao lado dele, envergonhada sai o mais rápido possível do quarto, respirei fundo atrás da porta e quando olhei para o lado o Mike estava como um poste parado me olhando seriamente, e então ele disse perplexo: — Por que estava no quarto do Lobo?

— Eu não estava no quarto dele. — Eu menti descaradamente, e me virei de costas, eu senti o Mike me puxar, me virando de frente para ele.

— Acha mesmo que vou acreditar em você? — Ele me olhou sério. — É mais ambiciosa do que eu imaginava. — Ele me soltou, e o impulso me fez cair para trás.

— Acha mesmo que eu estou apaixonada por ele? — Eu me levantei com raiva. — Não seja ridículo! — Comecei a rir.

— É bem óbvio, não acha? — Ele me olhou com desprezo.

— Estou apaixonada por outro homem! — Eu gritei nervosa. — Eu só quero pagar a minha dívida e sair daqui os mais rápido possível.

— Então faça o seu trabalho, e não o incomode mais com as suas besteiras. — Ele me segurou pelo colarinho.

— Besteiras? — Comecei a rir e tirei as suas mãos do meu colarinho. — Eu só senti pena dele, e quis ajudar.

Escutei a porta do quarto do Lobo abrir, ele me olhou sério e disse: — Obrigada Maya, por trazer o remédio de dormir.

— Viu Mike, não fiz nada de errado. — Eu disse irônica com um sorriso sonso no rosto.

Voltei para o meu quarto deixando Mike sem jeito, eu respirei aliviada, mas o Mike estava passando dos limites, eu queria bater nele até ele virar do avesso, ignorei meu ódio, e me joguei na cama, afofei os travesseiros, e voltei a dormir profundamente.

Acordei com o sol iluminando o quarto, a manhã estava linda e ensolarada, eu conseguia até escutar pássaros cantando na minha cabeça, me troquei e animada desci para o café da manhã, o Lobo estava todo elegante tomando o seu café, eu me aproximei animada e disse: — Nem me esperou, poderia ter me chamado.

— Por acaso você é criança? — Ele me olhou com desprezo. — Para avisar que tem que fazer as refeições? — Ele voltou os olhos para o seu celular.

— Que mau-humor! — Eu revirei os olhos. — O dia está tão lindo. — Eu disse me sentando.

— Com licença, eu já terminei o café. — Ele se levantou friamente, e saiu me deixando confusa.

Ele tinha um humor péssimo quando queria, tomei o café animada, e voltei para o quarto, decidi não incomodá-lo para não piorar o seu estado de humor. Depois de algum tempo parada sem fazer nada, escutei batidas na porta, corri animada pensando ser o Lobo, e ao abrir meu o ânimo havia acabado, era o Mike com algumas sacolas.

— O que você quer? — Eu disse desanimada.

— Se arruma, você vai jogar golfe com o Lobo hoje. — Ele me entregou as sacolas com desprezo.

— Por que sempre me olha com essa cara? — Eu peguei as sacolas dele com raiva.

— Estaremos esperando lá em baixo. — Ele ergueu as sobrancelhas, e saiu.

Eu bati a porta nervosa, e depois olhei a roupa que estava na sacola, havia uma saia branca e uma camiseta rosa de gola, coloquei a roupa, as meias e o par de tênis que também estavam na sacola.

Prendi meu cabelo e coloquei os brincos de pérola que estavam na outra sacola, me olhei no espelho e não me reconhecia mais, eu estava parecendo uma boneca presa em uma caixa, toda engomada.

Sai do quarto e desci as escadas, o Lobo me olhou de cima a baixo, e depois fechou a cara e disse: — Mike pode ir com o outro carro, eu vou dirigir a Porsche hoje.

— Sim, senhor. — Mike disse se afastando e eu o acompanhei.

— Você vem comigo. — O Lobo disse sério olhando para mim.

Eu obediente acompanhei o Lobo, ele colocou os seus óculos escuros, e todo sério entrou no carro, e abriu o teto solar, vislumbrada eu sorri ao olhar para o céu, então ele acelerou o carro e saímos em disparada.

Ele estava muito sério e estranho desde o café da manhã, curiosa eu disse: — Está chateado comigo?

— Só siga com o plano, e assim poderá ir embora o mais rápido possível. — Ele disse apertando o volante, eu conseguia ver as suas veias pulsarem.

— Não me entenda mal, eu só disse aquilo porque o Mike é um intrometido. — Eu toquei em seu ombro e ele engoliu seco. — Você é como um irmão mais velho.

— Está apaixonada pelo Bruce? — Ele olhou para o retrovisor, para ver se o Mike estava nos acompanhando.

— O Bruce é interessante. — Suspirei e sorri. — Mas eu sou incapaz de ter um relacionamento com ele.

— Por que acha isso? — Ele se manteve concentrado no volante.

— Tudo que começa com mentiras, acaba com mentiras. — Eu observei a paisagem em volta pela janela. — Como acha que ele vai se sentir, quando descobrir que eu sou uma pobretona em um ‘trailer’? — Eu disse cabisbaixa.

— Nem todo homem se importa com esse tipo de coisa. — Ele sorriu.

— Gosto de ver o meu priminho falso sorrindo. — Eu disse bagunçando o seu cabelo.

— Não seja audaciosa. — Ele olhou sério para o retrovisor ajeitando o seu cabelo.

— Já que somos parentes, me fala o seu nome. — Eu disse animada.

— Não somos parentes. — Ele deu um sorriso de canto.

— Vai, me fala logo o seu nome. — Eu o chacoalhei de leve.

— Não seja imprudente, eu estou dirigindo. — Ele disse nervoso.

— Se chama Lobo por causa tatuagem? — Eu o provoquei.

— Anda reparando muito em mim. — Ele disse dando um sorriso maléfico.

— Até parece. — Eu fiz cara de nojo.

Ele ligou o som do carro, e começou a tocar Grover Washington - Just the Two of Us, ele me olhou sem graça e trocou de música, começou a tocar Damien Rice - The Blower's Daughter, ele ia mudar a música novamente e eu segurei a sua mão e disse: — Eu gosto dessa.

Ele deixou a música tocar, e eu curti a melodia com o vento batendo em meu rosto, o clima estava fresco com aquele cheiro de grama úmida, tudo estava perfeito. Chegamos ao clube de golfe, ele estacionou o carro, e pegou o ‘kit’ com os tacos de golfe, e eu disse: — Eu não sei jogar.

— Eu vou te ensinar. — Ele disse me entregando o ‘kit’ pesado me fazendo quase cair no chão.

Com desprezo peguei o ‘kit’ e o acompanhei até o campo, avistei o Bruce jogando, sua barba brilhava no sol, ele sorriu e acenou para mim, e eu hipnotizada sorri acenando de volta.

— Você é patética. — O Lobo disse irônico.

— Vamos cumprimentá-lo! — Eu disse animada colocando o ‘kit’ no chão.

— Homens não gostam de serem incomodados quando estão praticando esportes. — Ele disse pegando o ‘kit’ do chão. — Espere ele vir até você.

Eu concordei com a cabeça, e acompanhei o Lobo até o carrinho de golfe, animada eu disse: — Posso dirigir? — Ele concordou com um sorriso, e contente subi no carrinho.

Eu acelerei com o carrinho, e dirigi descontroladamente deixando os funcionários do clube boque abertos, o Lobo se segurou para não cair e disse: — Pode parar carrinho, aqui está bom.

Parei o carrinho, ele desceu, respirou fundo e apoiou as mãos nos joelhos e disse: — Você é um perigo para a sociedade.

— Que exagero. — Eu disse descendo do carrinho saltitando.

— Pegue os tacos, as bolinhas estão na cesta ao lado do carrinho. — Ele apontou ofegante.

Peguei o que ele havia pedido, e atenta entreguei um dos tacos para ele, ele pegou a bola e o pino de fixação e colocou no chão, todo elegante ele se posicionou, e deu a primeira tacada, admirada eu disse: — Uau, você é incrível! — Bati palmas, animada.

Ele todo confiante sorriu e disse: — É a sua vez. — Ele pegou outra bola e o pino, e me entregou o taco.

Desajeitada peguei o taco, e tentei imitar a sua posição, ele riu e veio por trás de mim, sem jeito fiquei paralisada e ele disse: — Deixe o quadril mais firme. — Ele tocou no meu quadril o ajeitando. — O braço tem que ficar solto. — Ele apoiou o seu braço junto ao meu segurando o taco, e juntos demos a minha primeira tacada. — Agora tente sozinha. — Ele me soltou e eu senti meu rosto corar.

Respirei fundo, ele arrumou o pino e a bola e então eu me posicionei e dei uma tacada desajeitada, arrancando um pouco de grama, o Lobo começou a rir e disse: — Dá próxima vez tente não arrancar a grama.

Foram várias tentativas desastrosas, ainda confiante fiz a minha última tentativa, me posicionei, respirei fundo e dei uma tacada, a bola chegou bem próxima do buraco, e animada comecei a saltitar segurando nas mãos do Lobo.

— Parabéns! — O Bruce disse se aproximando, e sem graça soltei o Lobo imediatamente.

— Sou um ótimo professor. — O Lobo sorriu e disse o cumprimentando.

— É uma pena, eu queria ensiná-la. — O Bruce sorriu para mim, e eu fiquei corada.

— O que achou do clube de golfe? — O Lobo disse cortando o clima.

— Até que não é ruim. — O Bruce disse com desprezo olhando tudo em volta.

— Esse campo é seu? — Eu disse chocada para o Lobo, e ele sorriu concordando com a cabeça. — É incrível! — Gritei animada.

— Achou isso incrível? — Bruce disse irônico. — É porque ainda não conheceu a minha ilha particular. — O Bruce disse se aproximando de mim.

— Não seja exibido. — O Lobo começou a rir o afastando de mim. — Comprou a ilha de mim. — O Bruce olhou sem jeito para o Lobo, e lhe deu um cutucão.

— Isso tudo é muito incrível, mas eu estou faminta. — Eu disse interrompendo a competição fútil dos dois.

— Conheço um ótimo lugar, fica aqui perto. — O Bruce disse.

— Não posso ir, eu tenho um compromisso daqui a pouco. — O Lobo disse olhando para o relógio.

— O convite não foi para você. — O Bruce deu dois tapinhas nas costas do Lobo. — Vamos Maya? — O Bruce pegou a minha mão, e animada o acompanhei deixando o Lobo sem graça.

Acompanhei o Bruce até a sua Lamborghini preta, ele estava todo confiante, ele abriu a porta do carro para mim e deu uma piscadela me deixando corada.

Avistei o Lobo na frente do seu carro falando no celular, o Bruce acelerou o carro, e eu acenei para o Lobo animada, ele me olhou com desprezo e virou-se de costas.

Eu não conseguia compreender o Lobo e as suas mudanças de humor, ele havia me jogado nos braços do Bruce, e agora queria me afastar me deixando confusa. Olhei de relance e percebi uma tatuagem no braço do Bruce, era um escudo com um leão na frente, ele me olhou rapidamente e eu disse: — Você e o Lobo deve gostar muito de animais.

— Não gosto de animais. — Ele sorriu voltando os olhos para frente.

— Falei por conta da tatuagem. — Eu disse tímida.

— É o brasão da minha família, gostou? — Ele deu um sorriso de canto.

— Gostei. — Eu sorri, e olhei para janela.

— E de mim? — Ele sorriu com malícia. — Gosta de mim?

— Não sei ainda. — Eu disse corada.

Ele sorriu e acelerou o carro, ficamos em silêncio e me veio a lembrança do Lobo na piscina com seu corpo esculpido, e da sua tatuagem nas costas, meu rosto começou a queimar, abri o vidro do carro e deixei o vento bater no meu rosto e o Bruce disse: — Quer que ligue o ar?

— Não se incomode, gosto do vento no rosto. — Eu disse sem graça.

Eu não conseguia entender o porquê de estar pensando nele, ele era tão mesquinho, e arrogante, a abstinência masculina estava acabando com a minha vida, e eu não podia negar a sua beleza, ela estava lá diariamente me torturando.

O Bruce parou o carro em frente a um café, eu estava faminta, descemos do carro, e sentamos em uma mesa do lado de fora, a paisagem que o café tinha do sol se pondo era linda, mas quando olhei o cardápio, quase cai para trás com o preço, dei um sorriso forçado e o Bruce disse: — Pode pedir o que quiser.

A animação logo ficou estampada em meu rosto, o atendente se aproximou, e o Bruce lhe disse: — Vou querer um café.

— E a senhorita? — O atendente disse educadamente.

— Vou querer esse bolo de maçã. — Apontei para o cardápio. — Uma torta de morango, e um ‘milkshake’. — Eu sorri entregando o cardápio.

— Gosto de mulheres com apetite. — O Bruce disse entregando o cardápio para o atendente.

Sorri envergonhada, e então ele se aproximou afastando uma mecha do meu cabelo que estava no rosto, e eu disse cortando o clima: — É linda a paisagem daqui.

— A paisagem realmente é magnífica. — Ele disse me olhando com malícia. — Quando vai aceitar jantar comigo? — Ele começou acariciar as minhas mãos.

— Já estamos tendo um encontro. — Envergonhada afastei as minhas mãos, colocando sob as minhas pernas.

— Desculpe, eu estou sendo indelicado de novo. — Ele sorriu. — É que não consigo me controlar perto de você. — Ele tirou o celular do bolso.

— Não estou acostumada com tantos elogios. — Eu disse sem graça.

Ele pegou o celular, e tirou uma foto minha, constrangida eu disse: — Eu estou horrível, apaga isso.

— Você está perfeita. — Ele disse me mostrando a foto.

— Não, tire uma melhor. — Eu fiz uma pose, ele riu e tirou outra foto minha.

O café com o Bruce foi divertido, ele estranhamente gostava de me observar comendo, o Lobo também fazia isso e eu me sentia intimidada, mas com o Bruce era diferente. Aproveitei a deliciosa refeição, e fiquei observando o lindo pôr do sol, aquele pôr do sol me lembrava as longas viagens com a Lisa. Senti a paz por um instante, eu gostava de ser uma nômade, e gostava dos perrengues das viagens.

— O que está pensando? — O Bruce disse me tirando dos pensamentos.

— Viagens de ‘trailer’ sem rumo. — Eu sorri observando o pôr do sol.

— Sério? — O Bruce me olhou perplexo. — Odeio ‘trailers’, são pequenos e desconfortáveis.

Respirei fundo com um sorriso forçado, e disse: — Meu primo deve estar preocupado, melhor irmos embora.

Confesso que fiquei desapontada ao saber que o Bruce odiava ‘trailers’, eu havia idealizado tantas viagens com o Bruce na minha mente. Ele me trouxe embora em silêncio, e eu apenas fiquei observando a paisagem com saudade da minha Lisa, depois ele parou o carro na frente da mansão e disse: — Eu fiz algo errado? — Ele tirou o cinto e se virou para mim.

— Eu só estou cansada. — Eu sorri sem graça. — Eu tenho que ir. — Eu disse tirando o cinto.

O Lobo nos avistou no carro, e quando ele ia se aproximando o Bruce segurou o meu rosto e me deu um beijo forçado, eu o empurrei e ele tocou no meu queixo e disse: — Muitas mulheres queriam estar no seu lugar.

— Você não sabe aonde eu quero estar. — Eu disse furiosa descendo do carro.

Passei pelo Lobo furiosa, o ignorei indo para o meu quarto, graças ao Lobo o Bruce se achava no direito de me tocar e ser insistente comigo, eu não esperava por aquele beijo forçado, me senti vendida, comecei a chorar de raiva, e escutei duas batidas na porta: — O que aconteceu? — O Lobo disse preocupado.

— Vai embora. — Eu gritei desanimada.

Me sentei na cama, e o Lobo abriu a porta devagar, e eu disse nervosa: — Por que bateu na porta se já ia entrar?

— O que ele fez com você? — Ele me olhou de cima a baixo, procurando algo errado.

— Ele só tentou me beijar. — Eu funguei secando meus olhos.

— Eu devia ter sido mais cuidadoso com você. — Ele disse socando a penteadeira. — Aquele cretino foi embora antes que eu pudesse fazer algo.

— Por que eu tenho que seduzir o Bruce? — Eu me levantei e me aproximei do Lobo, e olhei com tristeza.

— Vou fazer ele acreditar que podemos unir as nossas famílias, e depois eu vou matá-lo. — Ele desviou olhar, olhando pela janela. — Ele mandou saquear um dos meus aviões com a mercadoria.

— Por isso vai matá-lo? — Eu disse chocada imaginando o que teria acontecido comigo.

— Você não entende nada de negócios. — Ele se virou e me olhou friamente. — Ele quer ser o chefe Maya, ele até tentou me matar. — Ele me deu um cutucão na testa.

— Como sabe disso? — Eu o cutuquei de volta.

— Estou investigando ele a um tempo, antes mesmo do roubo da cocaína. — Ele esfregou o rosto nervoso. — Ele está sendo uma pedra no meu sapato.

— Eu não gosto de cretinos, eu vou te ajudar. — Eu sorri, e ele revirou os olhos.

— Só vamos tomar cuidado, ele não é gentil como você imagina. — Ele disse sério.

— Quando ele disse que odiava ‘trailers’, eu já imaginei que havia algo errado com ele. — Eu disse com desprezo e o Lobo começou a rir.

— É você tem razão. — Ele disse bagunçando o meu cabelo.

Começamos a rir, até que os nossos olhares se encontraram, e o celular dele começou a tocar, e então ele disse: — Preciso trabalhar, te espero para o jantar.

Eu concordei com a cabeça enquanto ele saia do quarto, meu coração palpitava, fui até o banheiro e joguei água no rosto dando batidinhas nas bochechas, eu precisava acordar para a realidade, respirei fundo, e ignorei os sentimentos que só existiam na minha imaginação, eu precisava manter o foco e pagar a minha dívida.

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