KalilDesde aquela noite em que vi Luiza sair do restaurante, sem sequer olhar para trás, minha vida havia se tornado um verdadeiro caos. Eu não conseguia me concentrar em nada. A imagem dela me assombrava a cada segundo, e a culpa me corroía. Eu me sentia afundando cada vez mais em uma confusão que eu mesmo havia causado.Helena, por outro lado, era uma distração. Sempre presente, preenchia o vazio deixado por Luiza, mas sua presença se tornava sufocante. Sabia que deveria focar no plano para proteger Suzana e finalmente confrontar meu pai, mas Luiza ainda ocupava minha mente. Ela havia marcado um encontro antes de partir, mas não apareceu. Desde então, não consegui saber onde ela estava morando ou o que estava acontecendo com ela.Dias se passaram, e a incerteza me consumia. Tentei me concentrar no plano, mas cada vez que pegava o celular, desejava que Luiza respondesse à última mensagem que enviei. Quando tentei ligar, percebi que ela havia trocado de número. Senti uma pontada de d
KalilDepois de receber a mensagem de Bela, a ansiedade que me consumia deu lugar a uma urgência desesperada. Eu precisava saber por que Luiza havia desaparecido sem dizer nada. Não era só o silêncio dela que me incomodava – era a ausência total de explicações. O fato de não saber o que ela estava pensando me corroía por dentro.Decidi ligar para Bela. Ela era a única pessoa que ainda tinha algum contato com Luiza, e eu sabia que não poderia ficar parado. O telefone tocou duas vezes antes de ela atender.— Kalil? — A voz de Bela soou cansada do outro lado. — Eu já te disse tudo o que sei.— Preciso falar com ela, Bela. — Minha voz saiu mais tensa do que eu pretendia. — Você não entende... Eu preciso de respostas. Por que ela está fugindo de mim? Eu fiz algo de tão errado assim?Houve uma pausa, e pude ouvir a respiração de Bela, como se ela estivesse ponderando suas palavras.— Kalil, Luiza está magoada. Ela te viu com Helena. Isso a destruiu. — Ela suspirou. — Você sabe como ela é. L
LuizaO ar úmido da manhã parecia pesar em meus ombros enquanto eu observava, escondida em uma esquina, Helena beijar Kalil. Ela o puxou para perto, e ele não a afastou de imediato. Meu coração quebrou em mil pedaços. Ele a olhava de um jeito que costumava me olhar, com a mesma intensidade e o mesmo calor. Aquele beijo me destruiu.Eu sabia que não devia estar ali, mas precisava ver com meus próprios olhos o que tinha acontecido entre eles. Desde que eu o deixei, nunca imaginei que ele fosse seguir em frente tão rapidamente. Mas ali estava a prova, bem diante de mim.Engoli em seco, sentindo uma lágrima quente escorrer pela minha bochecha. Kalil parecia tão confortável com Helena. Eles riam, conversavam, como se o mundo ao redor deles não existisse. Como se eu não existisse.Me virei e andei rapidamente pela rua. Eu tinha que seguir em frente, mesmo com essa dor pulsando dentro de mim. Entrei no hotel onde estava trabalhando como recepcionista e tentei me focar nas tarefas do dia.— L
LuizaA luz suave do amanhecer filtrava pelas cortinas finas do meu quarto. O calor da noite anterior ainda pairava no ar, mas quando estendi a mão para o outro lado da cama, só encontrei o vazio. Kalil não estava lá.Levantei-me lentamente, o peito apertado com a mistura de emoções que transbordavam. Fui até a sala, imaginando que ele pudesse estar lá, mas o apartamento estava vazio. Nenhum sinal dele. Nenhuma mensagem. Nada."O que eu esperava?", pensei, tentando afastar a decepção. Parte de mim sabia que aquilo não ia durar. Kalil sempre foi imprevisível, mas depois de tudo o que passamos, uma parte de mim ainda acreditava que ele deixaria ao menos um bilhete.Eu precisava desabafar. Peguei meu celular e liguei para Bela, minha única amiga confiável.— Luiza? O que aconteceu? Você nunca me liga tão cedo. — A voz de Bela soava preocupada do outro lado da linha.— Ele foi embora, Bela. — Sussurrei, sentindo minha voz falhar. — Kalil veio aqui ontem... e depois... depois sumiu.Houve
LuizaAs ruas do México sempre me trouxeram um misto de nostalgia e desconforto. Cresci em um lugar muito diferente daqui: o convento onde fui criada. Longe de barulhos de carros e vendedores ambulantes, meu mundo era preenchido pelo som de sinos e orações. O convento era meu lar, e embora nunca tenha conhecido meus pais, as irmãs me deram tudo que podiam. Mas, mesmo com o amor delas, eu sempre me senti deslocada.Agora, ao lado de Kalil, sentada em um táxi que serpenteava por essas ruas caóticas e vibrantes, eu me sentia ainda mais perdida. Aquele calor, as buzinas, as vozes... tudo parecia abafado, como se o mundo lá fora estivesse a mil por hora, enquanto minha mente estava presa nas lembranças e nos medos do presente.— Como você descobriu que o pai de Helena está atrás de mim? — Perguntei, finalmente quebrando o silêncio que nos envolvia desde que saímos do hotel.Kalil desviou o olhar da janela e virou a cabeça ligeiramente em minha direção, mas manteve os olhos fixos à frente.
LuizaO sol já estava alto quando saí do apartamento. Meu coração ainda estava acelerado desde que acordei sozinha, mais uma vez, sem Kalil por perto. Nenhum bilhete, nenhuma explicação. Eu deveria estar acostumada com ele desaparecendo, mas a sensação de vazio nunca deixava de me atormentar.Segui para o trabalho, tentando colocar minha mente em ordem. Era só mais um dia como recepcionista de hotel, mas, por dentro, eu sabia que havia algo de terrivelmente errado. As palavras de Bela ainda ecoavam em minha cabeça: “O pai de Kalil está na cidade. Ele está atrás de você, Luiza. Toma cuidado.”Por que Will, o pai de Kalil, estava me procurando? O que ele sabia sobre mim que eu não sabia? E, mais importante ainda, por que o pai de Helena também estava no meu encalço? O que minha mãe fez de tão ruim que todos pareciam estar me culpando?Cheguei ao hotel, tentando me concentrar no trabalho. Cada cliente que entrava era uma distração momentânea, mas logo meus pensamentos voltavam para o per
LuizaMinha cabeça girava. Cada palavra que Will pronunciava parecia mais distante, como se viesse de outro mundo. Eu não sabia nada sobre minha mãe, e cada vez que ele falava, mais claro ficava que ele achava que eu tinha as respostas que ele queria. Mas eu não tinha. Eu nunca tive.— Você sabe do que estou falando — Will insistiu, os olhos duros, cheios de raiva controlada. — Sua mãe me traiu, e você vai pagar por isso.Eu respirei fundo, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair. Minha mãe morreu quando eu era muito pequena. Eu fui criada em um convento e tudo que sabia dela eram fragmentos de histórias que as freiras me contavam. Coisas boas. Histórias de uma mulher gentil, que me amou, mas que partiu cedo demais.— Eu não sei do que você está falando — murmurei, quase num sussurro, minhas mãos apertadas sobre a mesa. — Minha mãe nunca me disse nada. Eu nem... eu nem a conheci de verdade. Fui criada por freiras.Will estreitou os olhos, como se analisasse minha expressão em b
KalilEu sentia a tensão no ar. Luiza estava trêmula, suas mãos geladas entre as minhas. Ela respirava fundo, tentando organizar os pensamentos antes de me explicar o que estava acontecendo. Eu me sentei ao lado dela na pequena sala de estar do apartamento, esperando que ela encontrasse as palavras certas.— O que ele quer, Luiza? — perguntei suavemente, sem soltar suas mãos. — O que meu pai está exigindo?Ela suspirou, os olhos perdidos em algum ponto distante da parede à frente.— Ele disse que minha mãe roubou algo dele — respondeu com a voz quebrada. — Mas eu não sei do que ele está falando, Kalil. Eu... eu nunca soube nada sobre minha mãe. Ela morreu quando eu era muito pequena, e eu fui criada em um convento. As freiras nunca me disseram nada sobre o passado dela, apenas que ela era uma boa pessoa. Então, como eu poderia saber o que seu pai está procurando?O nome de meu pai me fez sentir um arrepio. Will era um homem perigoso, sempre envolvido em negócios obscuros. Mas eu não c