LuizaO ar úmido da manhã parecia pesar em meus ombros enquanto eu observava, escondida em uma esquina, Helena beijar Kalil. Ela o puxou para perto, e ele não a afastou de imediato. Meu coração quebrou em mil pedaços. Ele a olhava de um jeito que costumava me olhar, com a mesma intensidade e o mesmo calor. Aquele beijo me destruiu.Eu sabia que não devia estar ali, mas precisava ver com meus próprios olhos o que tinha acontecido entre eles. Desde que eu o deixei, nunca imaginei que ele fosse seguir em frente tão rapidamente. Mas ali estava a prova, bem diante de mim.Engoli em seco, sentindo uma lágrima quente escorrer pela minha bochecha. Kalil parecia tão confortável com Helena. Eles riam, conversavam, como se o mundo ao redor deles não existisse. Como se eu não existisse.Me virei e andei rapidamente pela rua. Eu tinha que seguir em frente, mesmo com essa dor pulsando dentro de mim. Entrei no hotel onde estava trabalhando como recepcionista e tentei me focar nas tarefas do dia.— L
LuizaA luz suave do amanhecer filtrava pelas cortinas finas do meu quarto. O calor da noite anterior ainda pairava no ar, mas quando estendi a mão para o outro lado da cama, só encontrei o vazio. Kalil não estava lá.Levantei-me lentamente, o peito apertado com a mistura de emoções que transbordavam. Fui até a sala, imaginando que ele pudesse estar lá, mas o apartamento estava vazio. Nenhum sinal dele. Nenhuma mensagem. Nada."O que eu esperava?", pensei, tentando afastar a decepção. Parte de mim sabia que aquilo não ia durar. Kalil sempre foi imprevisível, mas depois de tudo o que passamos, uma parte de mim ainda acreditava que ele deixaria ao menos um bilhete.Eu precisava desabafar. Peguei meu celular e liguei para Bela, minha única amiga confiável.— Luiza? O que aconteceu? Você nunca me liga tão cedo. — A voz de Bela soava preocupada do outro lado da linha.— Ele foi embora, Bela. — Sussurrei, sentindo minha voz falhar. — Kalil veio aqui ontem... e depois... depois sumiu.Houve
LuizaAs ruas do México sempre me trouxeram um misto de nostalgia e desconforto. Cresci em um lugar muito diferente daqui: o convento onde fui criada. Longe de barulhos de carros e vendedores ambulantes, meu mundo era preenchido pelo som de sinos e orações. O convento era meu lar, e embora nunca tenha conhecido meus pais, as irmãs me deram tudo que podiam. Mas, mesmo com o amor delas, eu sempre me senti deslocada.Agora, ao lado de Kalil, sentada em um táxi que serpenteava por essas ruas caóticas e vibrantes, eu me sentia ainda mais perdida. Aquele calor, as buzinas, as vozes... tudo parecia abafado, como se o mundo lá fora estivesse a mil por hora, enquanto minha mente estava presa nas lembranças e nos medos do presente.— Como você descobriu que o pai de Helena está atrás de mim? — Perguntei, finalmente quebrando o silêncio que nos envolvia desde que saímos do hotel.Kalil desviou o olhar da janela e virou a cabeça ligeiramente em minha direção, mas manteve os olhos fixos à frente.
LuizaO sol já estava alto quando saí do apartamento. Meu coração ainda estava acelerado desde que acordei sozinha, mais uma vez, sem Kalil por perto. Nenhum bilhete, nenhuma explicação. Eu deveria estar acostumada com ele desaparecendo, mas a sensação de vazio nunca deixava de me atormentar.Segui para o trabalho, tentando colocar minha mente em ordem. Era só mais um dia como recepcionista de hotel, mas, por dentro, eu sabia que havia algo de terrivelmente errado. As palavras de Bela ainda ecoavam em minha cabeça: “O pai de Kalil está na cidade. Ele está atrás de você, Luiza. Toma cuidado.”Por que Will, o pai de Kalil, estava me procurando? O que ele sabia sobre mim que eu não sabia? E, mais importante ainda, por que o pai de Helena também estava no meu encalço? O que minha mãe fez de tão ruim que todos pareciam estar me culpando?Cheguei ao hotel, tentando me concentrar no trabalho. Cada cliente que entrava era uma distração momentânea, mas logo meus pensamentos voltavam para o per
LuizaMinha cabeça girava. Cada palavra que Will pronunciava parecia mais distante, como se viesse de outro mundo. Eu não sabia nada sobre minha mãe, e cada vez que ele falava, mais claro ficava que ele achava que eu tinha as respostas que ele queria. Mas eu não tinha. Eu nunca tive.— Você sabe do que estou falando — Will insistiu, os olhos duros, cheios de raiva controlada. — Sua mãe me traiu, e você vai pagar por isso.Eu respirei fundo, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair. Minha mãe morreu quando eu era muito pequena. Eu fui criada em um convento e tudo que sabia dela eram fragmentos de histórias que as freiras me contavam. Coisas boas. Histórias de uma mulher gentil, que me amou, mas que partiu cedo demais.— Eu não sei do que você está falando — murmurei, quase num sussurro, minhas mãos apertadas sobre a mesa. — Minha mãe nunca me disse nada. Eu nem... eu nem a conheci de verdade. Fui criada por freiras.Will estreitou os olhos, como se analisasse minha expressão em b
KalilEu sentia a tensão no ar. Luiza estava trêmula, suas mãos geladas entre as minhas. Ela respirava fundo, tentando organizar os pensamentos antes de me explicar o que estava acontecendo. Eu me sentei ao lado dela na pequena sala de estar do apartamento, esperando que ela encontrasse as palavras certas.— O que ele quer, Luiza? — perguntei suavemente, sem soltar suas mãos. — O que meu pai está exigindo?Ela suspirou, os olhos perdidos em algum ponto distante da parede à frente.— Ele disse que minha mãe roubou algo dele — respondeu com a voz quebrada. — Mas eu não sei do que ele está falando, Kalil. Eu... eu nunca soube nada sobre minha mãe. Ela morreu quando eu era muito pequena, e eu fui criada em um convento. As freiras nunca me disseram nada sobre o passado dela, apenas que ela era uma boa pessoa. Então, como eu poderia saber o que seu pai está procurando?O nome de meu pai me fez sentir um arrepio. Will era um homem perigoso, sempre envolvido em negócios obscuros. Mas eu não c
LuizaA noite foi longa, e mesmo com o conforto de Kalil ao meu lado, meu coração não conseguia ficar em paz. Cada palavra de Vicente ainda ecoava na minha mente. Minha mãe, uma ladra? Como isso poderia ser verdade? E se fosse, o que ela havia feito para despertar tanta raiva?Kalil estava deitado ao meu lado, sua respiração calma indicava que ele havia caído no sono. Mas eu não conseguia dormir. As perguntas rodopiavam na minha mente, e eu me sentia presa em uma teia de segredos que nunca imaginei que existissem. O que minha mãe fez? Por que ela nunca me contou nada? Por que as freiras não disseram nada?Levantei-me devagar, tentando não acordar Kalil, e fui até o pequeno baú no canto da sala, onde eu guardava todas as minhas poucas lembranças de infância. Entre fotografias desbotadas e alguns objetos antigos, havia uma pequena caixa de madeira que eu nunca tinha conseguido abrir. A fechadura estava enferrujada, mas agora, mais do que nunca, eu precisava saber o que estava dentro.Co
LuizaA manhã estava sombria, como se o céu soubesse do caos que estava prestes a acontecer. Kalil e eu estávamos sentados na pequena mesa da cozinha, o silêncio entre nós era pesado, cheio de perguntas não respondidas. A carta da minha mãe ainda estava ali, entre nós, como um fantasma do passado.— E agora? — perguntei, olhando para Kalil enquanto ele tamborilava os dedos na mesa, claramente perdido em seus pensamentos.Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos ruivos, que estavam mais desordenados do que de costume. Seus olhos estavam sérios, cheios de preocupação.— Agora... temos que descobrir o que exatamente Vicente sabe — disse ele finalmente, sua voz firme, mas contida. — Ele está sob custódia dos meus homens. Vamos interrogá-lo.— E o seu pai? O que ele quer de mim, Kalil? — minha voz tremeu ao mencionar Will. — Eu não sei o que minha mãe roubou, mas ele está convencido de que eu sei.Kalil apertou minha mão, seus olhos suavizando por um breve momento.— Eu prometo que vou d