LuizaOs dias seguintes à minha chegada à Itália foram um misto de esperança e preocupação. Eu estava determinada a ajudar as freiras a reerguerem suas vidas, mas as dificuldades eram maiores do que eu imaginava. Elas estavam sem abrigo, sem recursos e, embora a fé as mantivesse de pé, sabíamos que precisávamos de uma solução urgente.Sentada no pequeno pátio improvisado onde as freiras estavam temporariamente abrigadas, tentei pensar em maneiras de arrecadar fundos, contatar instituições ou encontrar ajuda. Mas tudo parecia um desafio enorme. Eu sabia que não poderia fazer isso sozinha.Foi então que o inesperado aconteceu. Enquanto andava pelas ruas estreitas e antigas da pequena cidade italiana, pensando no que poderia fazer a seguir, ouvi uma voz familiar chamar meu nome.— Luiza?Virei-me e, por um momento, fiquei paralisada. O rosto à minha frente era de alguém que eu não via há anos, mas que reconheceria em qualquer lugar. Giovanni, um amigo de infância, alguém que compartilhou
KalilOs dias foram se arrastando, e, sem perceber, comecei a ceder cada vez mais à presença constante de Helena. Ela estava sempre por perto, oferecendo conforto nos momentos em que eu me sentia fraco, perdido pela ausência de Luiza. A saudade de Luiza era insuportável, mas Helena sabia exatamente como preencher os vazios, ao menos temporariamente.Eu me convenci de que precisava de uma distração, algo que me afastasse da dor e das lembranças que Luiza havia deixado. Helena era bela, gentil, e havia uma história entre nós que, mesmo fragmentada, ainda existia em algum canto da minha mente. A cada dia que passava, eu me afundava mais nessa nostalgia. Esqueci, por um momento, o que deveria ser minha prioridade: deter meu pai, proteger Suzana e, de alguma forma, reconquistar Luiza.As mensagens e chamadas que Luiza havia ignorado se tornaram uma lembrança distante, como se tivessem sido apagadas por Helena. Ela me puxava para uma rotina que me fazia sentir confortável, embora algo dentr
KalilA sensação de perda me atingiu em cheio assim que Luiza saiu do restaurante. A visão dela foi como um soco no estômago, trazendo de volta todas as memórias que eu tinha tentado afogar ao lado de Helena. Fiquei imóvel por alguns segundos, tentando processar o que havia acabado de acontecer. Era como se o universo tivesse me dado uma chance de vê-la de novo, mas eu estava preso em uma situação da qual não sabia como sair.Helena percebeu que algo estava errado.— Kalil? — A voz dela soou preocupada. — Você está bem?Meu corpo estava ali, mas minha mente estava com Luiza, revivendo cada detalhe do que tínhamos vivido. Eu olhei para Helena, e naquele momento soube que precisava dar um fim àquela farsa. Não podia continuar fingindo que ela era a solução para o vazio que Luiza havia deixado.— Precisamos conversar — disse, firme.Helena franziu a testa, mas não resistiu. Fomos para um lugar mais reservado, longe dos olhares curiosos do restaurante. Eu não sabia como começar, mas sabia
KalilDesde aquela noite em que vi Luiza sair do restaurante, sem sequer olhar para trás, minha vida havia se tornado um verdadeiro caos. Eu não conseguia me concentrar em nada. A imagem dela me assombrava a cada segundo, e a culpa me corroía. Eu me sentia afundando cada vez mais em uma confusão que eu mesmo havia causado.Helena, por outro lado, era uma distração. Sempre presente, preenchia o vazio deixado por Luiza, mas sua presença se tornava sufocante. Sabia que deveria focar no plano para proteger Suzana e finalmente confrontar meu pai, mas Luiza ainda ocupava minha mente. Ela havia marcado um encontro antes de partir, mas não apareceu. Desde então, não consegui saber onde ela estava morando ou o que estava acontecendo com ela.Dias se passaram, e a incerteza me consumia. Tentei me concentrar no plano, mas cada vez que pegava o celular, desejava que Luiza respondesse à última mensagem que enviei. Quando tentei ligar, percebi que ela havia trocado de número. Senti uma pontada de d
KalilDepois de receber a mensagem de Bela, a ansiedade que me consumia deu lugar a uma urgência desesperada. Eu precisava saber por que Luiza havia desaparecido sem dizer nada. Não era só o silêncio dela que me incomodava – era a ausência total de explicações. O fato de não saber o que ela estava pensando me corroía por dentro.Decidi ligar para Bela. Ela era a única pessoa que ainda tinha algum contato com Luiza, e eu sabia que não poderia ficar parado. O telefone tocou duas vezes antes de ela atender.— Kalil? — A voz de Bela soou cansada do outro lado. — Eu já te disse tudo o que sei.— Preciso falar com ela, Bela. — Minha voz saiu mais tensa do que eu pretendia. — Você não entende... Eu preciso de respostas. Por que ela está fugindo de mim? Eu fiz algo de tão errado assim?Houve uma pausa, e pude ouvir a respiração de Bela, como se ela estivesse ponderando suas palavras.— Kalil, Luiza está magoada. Ela te viu com Helena. Isso a destruiu. — Ela suspirou. — Você sabe como ela é. L
LuizaO ar úmido da manhã parecia pesar em meus ombros enquanto eu observava, escondida em uma esquina, Helena beijar Kalil. Ela o puxou para perto, e ele não a afastou de imediato. Meu coração quebrou em mil pedaços. Ele a olhava de um jeito que costumava me olhar, com a mesma intensidade e o mesmo calor. Aquele beijo me destruiu.Eu sabia que não devia estar ali, mas precisava ver com meus próprios olhos o que tinha acontecido entre eles. Desde que eu o deixei, nunca imaginei que ele fosse seguir em frente tão rapidamente. Mas ali estava a prova, bem diante de mim.Engoli em seco, sentindo uma lágrima quente escorrer pela minha bochecha. Kalil parecia tão confortável com Helena. Eles riam, conversavam, como se o mundo ao redor deles não existisse. Como se eu não existisse.Me virei e andei rapidamente pela rua. Eu tinha que seguir em frente, mesmo com essa dor pulsando dentro de mim. Entrei no hotel onde estava trabalhando como recepcionista e tentei me focar nas tarefas do dia.— L
LuizaA luz suave do amanhecer filtrava pelas cortinas finas do meu quarto. O calor da noite anterior ainda pairava no ar, mas quando estendi a mão para o outro lado da cama, só encontrei o vazio. Kalil não estava lá.Levantei-me lentamente, o peito apertado com a mistura de emoções que transbordavam. Fui até a sala, imaginando que ele pudesse estar lá, mas o apartamento estava vazio. Nenhum sinal dele. Nenhuma mensagem. Nada."O que eu esperava?", pensei, tentando afastar a decepção. Parte de mim sabia que aquilo não ia durar. Kalil sempre foi imprevisível, mas depois de tudo o que passamos, uma parte de mim ainda acreditava que ele deixaria ao menos um bilhete.Eu precisava desabafar. Peguei meu celular e liguei para Bela, minha única amiga confiável.— Luiza? O que aconteceu? Você nunca me liga tão cedo. — A voz de Bela soava preocupada do outro lado da linha.— Ele foi embora, Bela. — Sussurrei, sentindo minha voz falhar. — Kalil veio aqui ontem... e depois... depois sumiu.Houve
LuizaAs ruas do México sempre me trouxeram um misto de nostalgia e desconforto. Cresci em um lugar muito diferente daqui: o convento onde fui criada. Longe de barulhos de carros e vendedores ambulantes, meu mundo era preenchido pelo som de sinos e orações. O convento era meu lar, e embora nunca tenha conhecido meus pais, as irmãs me deram tudo que podiam. Mas, mesmo com o amor delas, eu sempre me senti deslocada.Agora, ao lado de Kalil, sentada em um táxi que serpenteava por essas ruas caóticas e vibrantes, eu me sentia ainda mais perdida. Aquele calor, as buzinas, as vozes... tudo parecia abafado, como se o mundo lá fora estivesse a mil por hora, enquanto minha mente estava presa nas lembranças e nos medos do presente.— Como você descobriu que o pai de Helena está atrás de mim? — Perguntei, finalmente quebrando o silêncio que nos envolvia desde que saímos do hotel.Kalil desviou o olhar da janela e virou a cabeça ligeiramente em minha direção, mas manteve os olhos fixos à frente.