O sábado amanheceu glorioso. O sol brilhava no céu azul pálido daquela manhã de janeiro. Branca emitiu um suspiro exagerado ao abrir a janela e sentir o frescor da manhã entrar em seu quarto. Estaria em um grande baile pela primeira vez naquela noite. Embora estivesse nervosa, — ante a expectativa de ser tirada para dançar, sentindo um frio perverso lhe envolver a barriga sempre que pensava em estar nos braços de um jovem rapaz — Branca tinha quase certeza de que algo iria acontecer. Algo que mudaria para sempre sua vida. Era uma sensação, apenas. Porém, muito forte.
Chegou a pensar como seria estar nos braços do jovem Elijah, que parecia ter gostado bastante dela. Ele era bonito, educado e segundo sua mãe, que não parava de tecer-lhe elogios, um excelente partido. Mas será que era isso que ela realmente queria? Apaixonar-se? Não tivera oportunidade de estar a sós com ele e saber o que pensava sobre as coisas que aconteciam no mundo. Tentou imaginar como seria ser beijada po
Jeff Dean havia voltado definitivamente para o Brasil. Assim seu pai esperava que fosse. Contava com ele, a pedido do senhor Fox, na expansão da ferrovia interior adentro. Não que estivesse disposto a viver no Brasil. Estava acostumado com Londres, mais precisamente com Oxford, onde cursou Engenharia pela University of Oxford. Faria o trabalho que lhe fora proposto e depois retornaria ao seu país de origem. Mal chegara à Vila e já tivera que vir a esse maldito baile. Fugira de todas as temporadas em Oxford e agora se via metido em um baile tão casamenteiro quanto os outros. — Jeff Dean, meu querido — pegou a mãe em seu braço — não fique aí parado. Vá dançar. Está cheio de moças maravilhosas pelo salão. Ah, veja Mary Ann, querido — acenou o lenço para a senhora Smith, para horror de Jeff. — Lembra-se da senhora Smith, querido? — É claro. Como poderia esquecê-la, madame — inclinou-se para beijar a mão da referida senhora, sob os olhares lancinantes de
Desviando os olhos de Mary Ann, que parecia acompanhá-lo por toda a parte, Jeff Dean segue em direção à porta do Clube, onde teve tempo de vê-la tomando o tílburi e se perder na noite. Nem mesmo o seu nome ele sabia. Voltou para o baile e ali foi enredado pela mãe, sendo praticamente obrigado a dançar com Mary Ann. — Está se divertindo, Jeff Dean? — perguntou Mary Ann, sedutoramente. — Você está? — devolveu a pergunta, olhando pela primeira vez, diretamente em seus olhos verdes, sentindo uma leve raiva da menina, apenas por ser ela a sua parceira. — Mas é claro que sim. Está tudo tão bonito! — Não se importa em ser tratada como uma mercadoria? — perguntou, perscrutando a menina, querendo feri-la. — Mercadoria? Do que está falando? — ela encontrava-se perplexa com sua conduta. — Desculpe Mary Ann. Não consigo deixar de pensar na forma como as mães tentam arranjar casamento para suas filhas. — disse, pensando nas palavras da moça de olho
No domingo pela manhã, Elijah encontrava-se na porta da Igreja São Bom Jesus, andando nervoso de um lado para outro, esperando que a missa acabasse. Assim que os fiéis começaram a sair, ele correu até a escadaria e fingiu subi-la, como se tivesse acabado de chegar. — Óh! Olá, senhor Elijah — gritou seu Joaquim da porta da Igreja — que ventos o trazem até aqui? Não sabia que eras católico! — Não sou, senhor — informou encabulado, olhando de esguelha para Branca e dona Etelvina — Vim falar com o senhor! — Sobre? — olhou-o desconfiado. — Sobre o armazém. — Hoje não senhor Elijah. Hoje é domingo e não devemos tratar de negócios num Dia Santo. – disse, deixando Elijah com o rosto corado – Mas, estás convidado a almoçar conosco. — Obrigado, senhor! Durante o curto trajeto até a casa, onde Branca e dona Etelvina seguiam à frente dos homens, Elijah sentia-se exultante. Desfrutaria da companhia da moça e depois, quem sabe, poderia levá-
Jeff Dean enterrou a cabeça no projeto do novo armazém com o objetivo de esquecer a bela jovem do baile e também de Mary Ann. Aproveitaria os dias com o senhor Fox e logo daria um jeito de ir para o interior, se afastando da Vila e de todos. — Como vai, meu rapaz? — perguntou o senhor Fox, entrando imponente no escritório da Railway, onde Jeff Dean desenhava furiosamente. — Como vai, senhor? — Isso está muito bom. Muito bom. — disse orgulhoso, olhando os desenhos do Novo Armazém em que ele trabalhava. — Sabia que tinha talento, meu rapaz. Venha ao meu escritório Jeff Dean. Vou apresentar os planos de expansão da ferrovia. A propósito, gostaria de parabenizá-lo. — Parabenizar-me, senhor? — perguntou franzindo o cenho. — Mary Ann está radiante — disse o senhor Fox, fazendo-o empalidecer. — Não esperávamos outra coisa de você, meu rapaz. Agora venha. A mente de Jeff Dean estava em polvorosa. Tinha se metido numa tremenda enrascad
Jeff Dean encontrou o amor. Empenhou-se ao máximo em agradar seu Joaquim na esperança da permissão em fazer a corte à Branca. Ela era a única coisa que o fazia se esquecer dos problemas familiares. Ingenuamente, achou que poderia lidar com eles.— Meu querido, tem ido visitar Mary Ann? Não o tenho visto demostrar interesse na pequena. Não tem nada para entregar a ela? — perguntou sua mãe, com um sorriso discreto nos lábios, fazendo-o gelar por dentro.— Não me lembro de ter algo para lhe entregar, mamãe.— Jefferson Dean Walker! Não se faça de desentendido.— Mamãe, deixe-me conduzir minha vida do jeito que quero.— Você poderá conduzi-la depois que honrar seus compromissos.— E que compromissos são esses, mamãe?— Jeff Dean — disse a mãe ficando nervo
No dia seguinte ao rápido encontro apaixonado com Branca, Jeff Dean foi surpreendido por Elijah, que havia voltado para a Vila antes que a semana terminasse. — Elijah! — disse surpreso Jeff Dean, quando se preparava para ir ao encontro de Branca, na mata. — Jeff Dean! Que prazer em vê-lo. Está indo a algum lugar? Podemos ter uma palavra? — Sim... Claro! O que está fazendo aqui, Elijah? Pensei que estivesse na Faculdade. — Vim ter com o senhor Joaquim. Soube que a obra irá começar e vim lhe falar. Quer me acompanhar? — Eu... — Ora, vamos amigo! Acompanhe-me por um instante. Não vai demorar. — Está bem — assentiu, preocupado. Chegaram ao exato instante em que seu Joaquim abria a porta do armazém, após o almoço em que se refestelara com sardinhas assadas, batatas crocantes e pasteizinhos de Belém. Estava de bom humor, como sempre acontecia quando comia bem. — Óh, pois! Mas que bons ventos o trazem? Senhor Elijah, J
Branca caminhava feliz de volta para casa. Ele teve a coragem de lhe contar toda a verdade. Ela acreditava nele de todo o coração e faria de tudo para que ficassem juntos. Ninguém deveria decidir com quem os filhos se casariam. Isso jamais deveria ser permitido. Ela o esperaria, pois o amor que sentiam um pelo outro deveria bastar. Foi com o coração leve e apaixonado que entrou em casa. Encontrou o pai andando de um lado para outro e Elijah em pé, ao lado dele.— Aconteceu alguma coisa, papai? — perguntou preocupada, ao ver os olhos luzidios de Elijah e os furiosos do pai.— Pois já não era sem tempo. Onde estavas?— Com Francisca. Eu lhe disse antes de sair. — respondeu, olhando intrigada para Elijah.— Amanhã começarás os preparativos para o casamento.— Como? Que casamento?— O seu, oras! O senhor Elijah acabou de m
Assim que Jeff Dean deixou a casa, seu Joaquim despejou toda sua raiva nos ingleses, que pareciam sempre estar um passo a sua frente.— Santo Deus, Etelvina! Sabia que não devia ter me metido com esses ingleses — disse o velho português, assim que Jeff Dean deixara sua casa.— O que não tem remédio, remediado está, meu velho.— Quem eles pensam que são? Sempre se sentiram donos de tudo e sempre se ressentiram de nós, portugueses.— Ora, meu velho. Do que estás a falar?— Do descobrimento da América, oras bolas! Nunca nos perdoaram por termos descoberto a América do Norte e depois o Brasil, antes deles.— O Brasil, tudo bem, Joaquim, mas quem descobriu A América do Norte foi Colombo, e ele era espanhol.— Um Espanhol que vivia em Lisboa, diga-se de passagem, além de ter se casado com uma portuguesa rica da