Desviando os olhos de Mary Ann, que parecia acompanhá-lo por toda a parte, Jeff Dean segue em direção à porta do Clube, onde teve tempo de vê-la tomando o tílburi e se perder na noite. Nem mesmo o seu nome ele sabia. Voltou para o baile e ali foi enredado pela mãe, sendo praticamente obrigado a dançar com Mary Ann.
— Está se divertindo, Jeff Dean? — perguntou Mary Ann, sedutoramente.
— Você está? — devolveu a pergunta, olhando pela primeira vez, diretamente em seus olhos verdes, sentindo uma leve raiva da menina, apenas por ser ela a sua parceira.
— Mas é claro que sim. Está tudo tão bonito!
— Não se importa em ser tratada como uma mercadoria? — perguntou, perscrutando a menina, querendo feri-la.
— Mercadoria? Do que está falando? — ela encontrava-se perplexa com sua conduta.
— Desculpe Mary Ann. Não consigo deixar de pensar na forma como as mães tentam arranjar casamento para suas filhas. — disse, pensando nas palavras da moça de olho
No domingo pela manhã, Elijah encontrava-se na porta da Igreja São Bom Jesus, andando nervoso de um lado para outro, esperando que a missa acabasse. Assim que os fiéis começaram a sair, ele correu até a escadaria e fingiu subi-la, como se tivesse acabado de chegar. — Óh! Olá, senhor Elijah — gritou seu Joaquim da porta da Igreja — que ventos o trazem até aqui? Não sabia que eras católico! — Não sou, senhor — informou encabulado, olhando de esguelha para Branca e dona Etelvina — Vim falar com o senhor! — Sobre? — olhou-o desconfiado. — Sobre o armazém. — Hoje não senhor Elijah. Hoje é domingo e não devemos tratar de negócios num Dia Santo. – disse, deixando Elijah com o rosto corado – Mas, estás convidado a almoçar conosco. — Obrigado, senhor! Durante o curto trajeto até a casa, onde Branca e dona Etelvina seguiam à frente dos homens, Elijah sentia-se exultante. Desfrutaria da companhia da moça e depois, quem sabe, poderia levá-
Jeff Dean enterrou a cabeça no projeto do novo armazém com o objetivo de esquecer a bela jovem do baile e também de Mary Ann. Aproveitaria os dias com o senhor Fox e logo daria um jeito de ir para o interior, se afastando da Vila e de todos. — Como vai, meu rapaz? — perguntou o senhor Fox, entrando imponente no escritório da Railway, onde Jeff Dean desenhava furiosamente. — Como vai, senhor? — Isso está muito bom. Muito bom. — disse orgulhoso, olhando os desenhos do Novo Armazém em que ele trabalhava. — Sabia que tinha talento, meu rapaz. Venha ao meu escritório Jeff Dean. Vou apresentar os planos de expansão da ferrovia. A propósito, gostaria de parabenizá-lo. — Parabenizar-me, senhor? — perguntou franzindo o cenho. — Mary Ann está radiante — disse o senhor Fox, fazendo-o empalidecer. — Não esperávamos outra coisa de você, meu rapaz. Agora venha. A mente de Jeff Dean estava em polvorosa. Tinha se metido numa tremenda enrascad
Jeff Dean encontrou o amor. Empenhou-se ao máximo em agradar seu Joaquim na esperança da permissão em fazer a corte à Branca. Ela era a única coisa que o fazia se esquecer dos problemas familiares. Ingenuamente, achou que poderia lidar com eles.— Meu querido, tem ido visitar Mary Ann? Não o tenho visto demostrar interesse na pequena. Não tem nada para entregar a ela? — perguntou sua mãe, com um sorriso discreto nos lábios, fazendo-o gelar por dentro.— Não me lembro de ter algo para lhe entregar, mamãe.— Jefferson Dean Walker! Não se faça de desentendido.— Mamãe, deixe-me conduzir minha vida do jeito que quero.— Você poderá conduzi-la depois que honrar seus compromissos.— E que compromissos são esses, mamãe?— Jeff Dean — disse a mãe ficando nervo
No dia seguinte ao rápido encontro apaixonado com Branca, Jeff Dean foi surpreendido por Elijah, que havia voltado para a Vila antes que a semana terminasse. — Elijah! — disse surpreso Jeff Dean, quando se preparava para ir ao encontro de Branca, na mata. — Jeff Dean! Que prazer em vê-lo. Está indo a algum lugar? Podemos ter uma palavra? — Sim... Claro! O que está fazendo aqui, Elijah? Pensei que estivesse na Faculdade. — Vim ter com o senhor Joaquim. Soube que a obra irá começar e vim lhe falar. Quer me acompanhar? — Eu... — Ora, vamos amigo! Acompanhe-me por um instante. Não vai demorar. — Está bem — assentiu, preocupado. Chegaram ao exato instante em que seu Joaquim abria a porta do armazém, após o almoço em que se refestelara com sardinhas assadas, batatas crocantes e pasteizinhos de Belém. Estava de bom humor, como sempre acontecia quando comia bem. — Óh, pois! Mas que bons ventos o trazem? Senhor Elijah, J
Branca caminhava feliz de volta para casa. Ele teve a coragem de lhe contar toda a verdade. Ela acreditava nele de todo o coração e faria de tudo para que ficassem juntos. Ninguém deveria decidir com quem os filhos se casariam. Isso jamais deveria ser permitido. Ela o esperaria, pois o amor que sentiam um pelo outro deveria bastar. Foi com o coração leve e apaixonado que entrou em casa. Encontrou o pai andando de um lado para outro e Elijah em pé, ao lado dele.— Aconteceu alguma coisa, papai? — perguntou preocupada, ao ver os olhos luzidios de Elijah e os furiosos do pai.— Pois já não era sem tempo. Onde estavas?— Com Francisca. Eu lhe disse antes de sair. — respondeu, olhando intrigada para Elijah.— Amanhã começarás os preparativos para o casamento.— Como? Que casamento?— O seu, oras! O senhor Elijah acabou de m
Assim que Jeff Dean deixou a casa, seu Joaquim despejou toda sua raiva nos ingleses, que pareciam sempre estar um passo a sua frente.— Santo Deus, Etelvina! Sabia que não devia ter me metido com esses ingleses — disse o velho português, assim que Jeff Dean deixara sua casa.— O que não tem remédio, remediado está, meu velho.— Quem eles pensam que são? Sempre se sentiram donos de tudo e sempre se ressentiram de nós, portugueses.— Ora, meu velho. Do que estás a falar?— Do descobrimento da América, oras bolas! Nunca nos perdoaram por termos descoberto a América do Norte e depois o Brasil, antes deles.— O Brasil, tudo bem, Joaquim, mas quem descobriu A América do Norte foi Colombo, e ele era espanhol.— Um Espanhol que vivia em Lisboa, diga-se de passagem, além de ter se casado com uma portuguesa rica da
Branca passou a noite em claro, pensando em Jeff Dean. Por mais que sabia do seu amor por ele e do dele por ela, algo a incomodava. Era como uma alergia irritante que começa devagarinho e depois toma proporções assombrosas. Cada vez que se virava na cama, sentia o coração acelerado. Antes que o sol despontasse, já se encontrava em pé. O pai fora falar com o vigário e ele aceitara fazer o casamento dos dois naquele fim de semana, depois de muita discussão. Porém, em função de uma quantia razoável, tudo fora resolvido. Seria algo simples, como o amor deles. Foi pedido segredo ao padre. Ninguém deveria saber do acontecimento antes que tivesse sido realizado, principalmente Elijah e Mary Ann.Embora sabendo que não deveria se encontrar com Jeff Dean, Branca se sentia nervosa e irrequieta. Precisava vê-lo mais uma vez para tentar acalmar o coração. Era como
Na manhã seguinte, bem cedo, Elijah se apressou em ir à casa de Branca. Falaria com seu pai e exigiria que a data fosse marcada, embora Branca lhe tivesse dito que a mesma já o fora. Porém, ele temia que fosse mentira e que ela lhe dissera aquilo apenas para ganhar tempo. Ao passar pelo Pau da Missa, seus olhos se injetaram de sangue. Pregado — como sempre acontecia quando havia um aviso de Missa de Sétimo Dia, Batizado e outras celebrações da Igreja Católica — havia um anúncio da Oficialização do casamento de Jeff Dean Walker e Branca de Oliveira, a ser realizado no dia seguinte, às 14:00 horas, na Igreja Bom Jesus. Ele arrancou o recado e o colocou no bolso. O pobre do sacristão, acostumado a ler o livro de registro, e não sabedor do segredo que cercava o casamento, afixou o anúncio sem nem imaginar a desgraça que seu ato inocente traria àquela Vila. Elijah correu pela passarela em direção ao Castelinho e lá se manteve em conversa fechada com o senhor Fox. Dali dirig