Jeff Dean encontrou o amor. Empenhou-se ao máximo em agradar seu Joaquim na esperança da permissão em fazer a corte à Branca. Ela era a única coisa que o fazia se esquecer dos problemas familiares. Ingenuamente, achou que poderia lidar com eles.
— Meu querido, tem ido visitar Mary Ann? Não o tenho visto demostrar interesse na pequena. Não tem nada para entregar a ela? — perguntou sua mãe, com um sorriso discreto nos lábios, fazendo-o gelar por dentro.
— Não me lembro de ter algo para lhe entregar, mamãe.
— Jefferson Dean Walker! Não se faça de desentendido.
— Mamãe, deixe-me conduzir minha vida do jeito que quero.
— Você poderá conduzi-la depois que honrar seus compromissos.
— E que compromissos são esses, mamãe?
— Jeff Dean — disse a mãe ficando nervo
No dia seguinte ao rápido encontro apaixonado com Branca, Jeff Dean foi surpreendido por Elijah, que havia voltado para a Vila antes que a semana terminasse. — Elijah! — disse surpreso Jeff Dean, quando se preparava para ir ao encontro de Branca, na mata. — Jeff Dean! Que prazer em vê-lo. Está indo a algum lugar? Podemos ter uma palavra? — Sim... Claro! O que está fazendo aqui, Elijah? Pensei que estivesse na Faculdade. — Vim ter com o senhor Joaquim. Soube que a obra irá começar e vim lhe falar. Quer me acompanhar? — Eu... — Ora, vamos amigo! Acompanhe-me por um instante. Não vai demorar. — Está bem — assentiu, preocupado. Chegaram ao exato instante em que seu Joaquim abria a porta do armazém, após o almoço em que se refestelara com sardinhas assadas, batatas crocantes e pasteizinhos de Belém. Estava de bom humor, como sempre acontecia quando comia bem. — Óh, pois! Mas que bons ventos o trazem? Senhor Elijah, J
Branca caminhava feliz de volta para casa. Ele teve a coragem de lhe contar toda a verdade. Ela acreditava nele de todo o coração e faria de tudo para que ficassem juntos. Ninguém deveria decidir com quem os filhos se casariam. Isso jamais deveria ser permitido. Ela o esperaria, pois o amor que sentiam um pelo outro deveria bastar. Foi com o coração leve e apaixonado que entrou em casa. Encontrou o pai andando de um lado para outro e Elijah em pé, ao lado dele.— Aconteceu alguma coisa, papai? — perguntou preocupada, ao ver os olhos luzidios de Elijah e os furiosos do pai.— Pois já não era sem tempo. Onde estavas?— Com Francisca. Eu lhe disse antes de sair. — respondeu, olhando intrigada para Elijah.— Amanhã começarás os preparativos para o casamento.— Como? Que casamento?— O seu, oras! O senhor Elijah acabou de m
Assim que Jeff Dean deixou a casa, seu Joaquim despejou toda sua raiva nos ingleses, que pareciam sempre estar um passo a sua frente.— Santo Deus, Etelvina! Sabia que não devia ter me metido com esses ingleses — disse o velho português, assim que Jeff Dean deixara sua casa.— O que não tem remédio, remediado está, meu velho.— Quem eles pensam que são? Sempre se sentiram donos de tudo e sempre se ressentiram de nós, portugueses.— Ora, meu velho. Do que estás a falar?— Do descobrimento da América, oras bolas! Nunca nos perdoaram por termos descoberto a América do Norte e depois o Brasil, antes deles.— O Brasil, tudo bem, Joaquim, mas quem descobriu A América do Norte foi Colombo, e ele era espanhol.— Um Espanhol que vivia em Lisboa, diga-se de passagem, além de ter se casado com uma portuguesa rica da
Branca passou a noite em claro, pensando em Jeff Dean. Por mais que sabia do seu amor por ele e do dele por ela, algo a incomodava. Era como uma alergia irritante que começa devagarinho e depois toma proporções assombrosas. Cada vez que se virava na cama, sentia o coração acelerado. Antes que o sol despontasse, já se encontrava em pé. O pai fora falar com o vigário e ele aceitara fazer o casamento dos dois naquele fim de semana, depois de muita discussão. Porém, em função de uma quantia razoável, tudo fora resolvido. Seria algo simples, como o amor deles. Foi pedido segredo ao padre. Ninguém deveria saber do acontecimento antes que tivesse sido realizado, principalmente Elijah e Mary Ann.Embora sabendo que não deveria se encontrar com Jeff Dean, Branca se sentia nervosa e irrequieta. Precisava vê-lo mais uma vez para tentar acalmar o coração. Era como
Na manhã seguinte, bem cedo, Elijah se apressou em ir à casa de Branca. Falaria com seu pai e exigiria que a data fosse marcada, embora Branca lhe tivesse dito que a mesma já o fora. Porém, ele temia que fosse mentira e que ela lhe dissera aquilo apenas para ganhar tempo. Ao passar pelo Pau da Missa, seus olhos se injetaram de sangue. Pregado — como sempre acontecia quando havia um aviso de Missa de Sétimo Dia, Batizado e outras celebrações da Igreja Católica — havia um anúncio da Oficialização do casamento de Jeff Dean Walker e Branca de Oliveira, a ser realizado no dia seguinte, às 14:00 horas, na Igreja Bom Jesus. Ele arrancou o recado e o colocou no bolso. O pobre do sacristão, acostumado a ler o livro de registro, e não sabedor do segredo que cercava o casamento, afixou o anúncio sem nem imaginar a desgraça que seu ato inocente traria àquela Vila. Elijah correu pela passarela em direção ao Castelinho e lá se manteve em conversa fechada com o senhor Fox. Dali dirig
Vila de Paranapiacaba, 1946.Irina termina sua história, narrando de forma impassível, causando-me espanto. Seus olhos traziam o horror estampado pela dor da tragédia. Saber de tudo aquilo me causou um mal estar. Não queria revelar a ela que as coisas começavam a se encaixar na minha mente. Jeff Dean não foi um fruto da minha imaginação. Ele existiu e amou aquela mulher. Senti esse amor através dele. Apenas não entendia porque presenciara em sonho o amor dos dois. Por que ela parecia me querer com tanta paixão se o amava? Seria seu desejo se vingar por pensar que ele a abandona a caminho do altar? Uma estória triste do qual acabei me identificando quando me pus no lugar de Je
Os olhos de Irina remexiam sob as pálpebras. Gotas frias de suor surgiam em sua testa, enquanto sua cabeça se movimentava no travesseiro. Irina seguia devagar pela densa neblina em direção à passarela que levava ao Pau da Missa. Achou estranha a aparência do ferro sob seus pés, que parecia reluzir a cada passo, como se tivesse sido colocado ali há pouco tempo. Estendeu a mão à frente dos olhos tentando afugentar a névoa que, ao seu toque, começou a dissipar na luz da tarde que caía. Assustou-se ao ver pequenas discrepâncias nas casas da Vila, que se mostravam intensamente coloridas e vívidas, como se tivessem sido pintadas recentemente. O relógio da Torre do Big Ben marcava quatro horas da tarde. Tudo parecia reluzir enquanto ela caminhava. Assustou-se ao ouvir o apito agudo do locobreque. Virou-se na sua direção e a viu. Branca descia correndo a escadaria da Igreja Senhor Bom Jesus. Seus olhos, de um azul vívido, trazia a dor estampada. O véu flutuava
Irina acordou com um sobressalto. Um segredo lhe fora revelado depois de tantos anos. Alguém estava lhe dando uma chance de salvar o homem que ela amava; era nisso que acreditava quando pulou da cama e correu para o meu quarto. Pôs a mão em minha testa, constatando que a febre ainda não cedera. Já estava tarde. Mas se tivesse sorte, ainda naquela noite, poderia acabar com a maldição que imperava naquela pitoresca Vila.— Mamãe. — Irina tramava alguma coisa quando chamou a mãe, da recepção vazia.— Irina! Você está bem, minha filha? — perguntou dona Etelvina, vindo do restaurante.— Vou ficar bem, mamãe. Preciso sair e fazer algo.— Não deve sair, Irina. A colheita se aproxima.— Mamãe, eu tenho que tentar impedir que ela o leve. Tem que me deixar sair. Preciso que confie em mim.— N&ati