A Namorada Falsa do CEO
A Namorada Falsa do CEO
Por: Liz Spencer
Capítulo 1

Capítulo 1

DIOGO

Minha cabeça vai explodir.

Sinto como se houvesse algo martelando dentro dela e qualquer som emitido nesta sala de reunião está me deixando estressado. Há um vídeo de poucos segundos rolando no quadro branco onde está sendo refletido nosso último projeto, mas não prende minha atenção. A tela do meu celular se acende, e eu já sei quem é antes mesmo de olhar. Na tela de bloqueio, uma notificação de mensagem da minha mãe:

“Me fale mais sobre ela”.

Aperto a ponte do meu nariz, voltando a focar no comercial. A modelo está correndo em direção a uma cachoeira, cabelos brilhantes ao vento. A edição está boa, mas falta algo. Um pouco de personalidade, talvez?

O celular se acende de novo.

“Você não me disse seu nome ainda, mas vou descobrir. Me passe o contato dela se estiver sem tempo. Quero conhecê-la.”

A modelo agora está deitada sobre a grama, parecendo encantada com o cheiro de qualquer coisa proveniente da natureza que ela esteja sentindo. Mas que porra é essa?

“Eu sei que você vai fazer de tudo para me ignorar, então só para lembrar: Me ligue assim que estiver disponível”.

Meu bom Deus, cadê meu ansiolítico?

A imagem do projetor congela, indicando o fim do comercial. Gonçalo me olha com expectativa, mas não digo uma palavra. Cruzo os dedos sobre a minha barriga enquanto me estico na cadeira, inquieto e estressado.

Muitos pares de olhos se voltam em minha direção, ansiosos por uma resposta minha.

— A ideia não é ruim — digo finalmente. — Mas poderiam melhorar.

Meu parceiro de trabalho enruga a testa.

— Me desculpe, mas nós passamos bastante tempo trabalhando nesse projeto, Diogo, e das últimas quatro vezes em que você colocou defeito nela, tudo o que temos feito é tentar melhorar o comercial.

Que audácia desse filho da puta.

— E mesmo assim, me trouxeram isto? Você ao menos analisou este vídeo antes de trazê-lo até mim?

— É claro que analisei, e o aprovei junto à equipe de Design.

— Pois deveria fazer melhor o seu trabalho. Estamos falando de um comercial de xampu em que mal aparece o xampu. Eu acho que você está há tempo suficiente trabalhando com marketing para saber que as pessoas não comprarão um produto que não sabem qual é.

— Eu sei de tudo isso, mas na última reunião que tivemos com nosso cliente, eles sugeriram trazer certo mistério para o produto. Me parece uma ideia arriscada, mas muito boa.

— Gonçalo, você está me dizendo que devemos produzir um comercial em que não aparece o produto que estamos tentando vender? — pergunto seriamente. Ele só pode estar de brincadeira. Todos estão de brincadeira comigo hoje.

— Este é o apelo, Diogo, deixá-los curiosos. Fazê-los pesquisar mais sobre a marca e aumentar o engajamento.

 — Nós temos três dias para apresentar a proposta ao nosso cliente e mesmo que eles tenham sugerido ferrar com a própria marca, não vou arriscar. Quero o bom e velho método que sempre usamos. E tente dar um pouco mais de personalidade para a propaganda. Ainda não ficou cem por cento.

Ele quer discutir, eu sei que quer. Meu coordenador de marketing é um tanto quanto inflexível a respeito dos nossos projetos, mas ele sabe que eu tenho razão; além disso, sou seu superior. Ele não vai discutir desta vez.

— Okay. Vou me reunir com a equipe responsável para reeditarmos o comercial.

— Ótimo. Refaçam tudo e me tragam isto até segunda. Não temos muito tempo.

Quando a reunião se encerra, todos se retiram da sala. Eu permaneço aqui, minha mente rapidamente se movendo para qualquer direção, menos para o trabalho.

Não me interpretem mal, eu geralmente sou um ótimo profissional — não é querendo me gabar, mas não me tornei Diretor de Marketing Digital de uma das maiores Agências de Comunicação do Brasil aos trinta e dois se não fosse competente — mas acontece que estes últimos dias têm sido mais que estressantes.

Mais uma vez, meu celular se acende, me relembrando de que tenho uma ligação para fazer e não vou conseguir ignorar minha mãe por muito mais tempo, mesmo que tente. E eu tentei muitas vezes, acredite em mim.

Um movimento ao meu lado chama minha atenção. É minha assistente, Viviane, arrumando a mesa da reunião. Ela sequer olha para minha cara, sempre tão centrada e profissional. Uma ótima funcionária, me permiti admitir. Está trabalhando comigo há três anos e nos demos muito bem até então. Uma das poucas pessoas nessa empresa em quem eu confio. Talvez uma das poucas pessoas na minha vida em quem eu confio.

Volto a me lembrar da mensagem da minha mãe. Não vou conseguir ignorá-la por muito mais tempo, não quando sei que ela está esperando por uma resposta minha a respeito da minha presença no casamento do meu irmão, que será daqui a alguns dias. Ela quer que eu esteja lá, e que leve a minha nova namorada.

O problema é que eu não tenho uma namorada.

Não uma de verdade.

— Você precisa superar a Marcela — foi o que ela me disse hoje cedo, logo após eu lhe presentear com um silêncio de uns dois minutos inteiros quando descobri que meu irmão mais novo iria finalmente se casar com a minha ex e que eu precisaria estar em Búzios para a cerimônia em uma semana. Assim, sem aviso prévio.

— Do que a senhora está falando? Eu superei — lancei de volta, meu tom de voz um pouco irritado além do normal, porque eu sabia que ela não acreditaria. Minha mãe ainda acha que eu sou apaixonado por Marcela, mesmo depois de mais de dez anos desde que terminamos.

Ela fez aquele ruído com a garganta, como se estivesse duvidando da minha palavra.

— Você superou? Mesmo? Seu irmão mais novo está casando-se antes de você.

— Ah, mamãe, por favor — murmurei com exasperação. — O que isso tem a ver? Estamos no século vinte e um. Nem todo mundo procura filhos ou um casamento.

— Só estou dizendo isso porque sei de suas farras — reclamou. — Nunca me apresentou uma namorada. Estou feliz que Murilo está se casando em breve, mas também quero ver você me dando netos.

Soltei um suspiro e pressionei os dedos na ponte do nariz. Eu amo a minha mãe, mas às vezes ela me sufoca demais, principalmente com seus assuntos sobre casamento. E daí que não quero me amarrar a ninguém? Serei julgado por não querer viver a minha vida como o meu irmão?

No entanto, eu sabia que ela não acreditaria em minha palavra, nem entenderia os meus motivos para não querer estar no casamento de Murilo e simplesmente joguei a maior mentira que eu poderia ter pensado, me envergonhando como um adolescente idiota:

— Acontece que a senhora está errada. Eu tenho uma namorada.

Ela pausou, como se não estivesse acreditando.

— Está falando sério, querido? Uma namorada de verdade? Nada de encontros sem futuro?

Rolei os olhos.

— Claro que sim.

Ela fez um ruído que eu poderia facilmente interpretar como um gritinho feliz.

— Isso é ótimo! Traga ela ao casamento e finalmente nos apresente.

E foi assim que a deixei ouriçada para saber mais sobre minha suposta namorada e lhe contar as novidades. Ela não havia me dado paz desde o começo da manhã.

Agora, eu só preciso de uma namorada.

Uma falsa, de preferência.

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