1.2

Volto a olhar para minha secretária. A tão competente Viviane. Eu deveria lhe dar um aumento de salário. A mulher é uma santa, embora eu tenha desconfiança de que ela me odeie. Não me surpreenderia se encontrasse um boneco de magia parecido comigo em suas gavetas.

— Viviane... — eu digo. — Não marque nada para a próxima semana depois desse projeto. Tenho uma viagem importante a fazer e ficarei por duas semanas fora.

— Claro. — Ela está prestes a me virar, quando a chamo outra vez:

— E Viviane?

— Sim?

— Suas férias começam no próximo fim de semana, certo?

— Exatamente.

— E você já tem planos?

Ela me olha de maneira estranha. Por que não olharia? Estou realmente tão desesperado ao ponto de pedir este favor a minha secretária? Ela faz uma pausa, e talvez este seja um sinal dos céus para que eu não continue. Não sou esse tipo de homem. Nunca tive que pedir um favor desse tipo para alguém, muito menos a qualquer funcionário meu, no entanto posso confessar que estou meio que desesperado aqui. Minha mãe é uma força da natureza. Uma mulher doce e adorável, mas firme quando o assunto é a vida pessoal de seus filhos. Se ela já está desconfiada de que não superei Marcela agora, imagina o que ela vai fazer quando finalmente descobrir que menti ou se eu inventar que terminei com minha suposta namorada do nada? Não sei por que isso é tão importante para mim, mas não quero fracassar em suas expectativas de que posso ser capaz de namorar alguém sem pensar na traição da minha ex de dez anos atrás.

— Eu só gostaria de saber se você estava disponível para me acompanhar a um lugar — digo a Viviane, que parece ainda mais confusa e alarmada.

— E o que seria?

— Um casamento.

— Eu não estou entendendo por que o senhor está me convidando para ir a um casamento justo na minha folga.

— Eu preciso que me acompanhe como... — Deus do céu, estou mesmo fazendo isso? Sim, estou fazendo isso. — Como minha namorada.

Ela congela.

Congela como se eu houvesse perguntado a cor da sua calcinha, e eu a entendo. Realmente entendo. Nunca trocamos palavras além de frias informações sobre o trabalho, e agora estou fazendo a ela uma proposta dessas. Me sinto ridículo.

— Desculpe se em algum momento dei a entender o contrário, senhor, mas o que temos é estritamente profissional. E eu gostaria que o senhor continuasse me tratando dessa forma.

— Ah, meu Deus, não — eu solto. — Há um engano aqui. Não estou dando em cima de você.

Ela parece ainda confusa, mas um pouco mais aliviada.

— Então, o que seria?

Suspiro. Passo as mãos pelos cabelos e me levanto. Recosto-me contra a mesa e cruzo os baços. Jesus, como irei explicar isso a ela sem parecer um pervertido?

— Antes de qualquer coisa, Viviane, não estou interessado em você, e a respeito imensamente — reforço. — Não mesmo.

— Certo, eu já entendi.

— Okay, bem... e você é uma das pessoas em quem eu mais confio. É por isso que sugeri a você esse favor.

— O favor de ir ao casamento do seu irmão como sua namorada?

— Mais ou menos isso. — É exatamente isso.

— O senhor não está interessado em mim, mas está me pedindo em namoro?

— Não. Quer dizer, talvez. Não desse jeito. É apenas... um teatro.

Ela não consegue esconder a cara de assustada quando pergunta:

— Por que eu fingiria ser sua namorada? Ou melhor, porque você pediria a qualquer pessoa para fingir ser sua namorada?

— É... complicado — respondo. — Primeiro que é constrangedor pra caramba eu cogitar ter uma namorada falsa. Segundo que... como eu disse, você é a pessoa em quem mais confio aqui e uma das que eu sei que não teria nenhum tipo de interesse amoroso em mim. Preciso de alguém centrada e segura para este serviço.

A maneira como estou falando isso parece que estou tentando recrutá-la para uma missão ultrassecreta, e me fez parecer ainda mais ridículo. A que ponto da minha vida eu tive que chegar para ser obrigado a pedir que minha secretária finja ser minha namorada apenas para provar à minha família que superei a minha ex aos trinta e dois anos?

— Acontece que isso ainda não explica por que o senhor precisa de uma falsa namorada para ir ao casamento do seu irmão. Não é como se as pessoas fossem obrigadas a terem acompanhantes hoje em dia.

— Mas eu quero uma acompanhante — é a única resposta que dou, e ela aceita.

— Entendo... — diz. — E... que tal se encontrássemos algum de seus encontros? Eu me lembro de ter marcado reservas com Teodora Fonseca para um jantar esta noite. Ela daria uma ótima namorada para o senhor.

— Deus me livre.

— E que tal... Rafaela Tenório? — sugere. — Vocês tiveram um encontro na semana passada.

— Sem chance.

— Mônica Diniz? Érica Valdez? Rayssa Ferreira?

— Não, não e não, Viviane. Eu não posso pedir este favor a nenhuma delas.

— E por que não?

— Pelo mesmo motivo que me fez pensar em escolher você. Nós somos dois profissionais que não sentem nada um pelo outro. Agiríamos como duas pessoas trocando favores. A primeira coisa que essas mulheres falam comigo quando as convido para sair é no quanto elas seriam boas mães e esposas. Eu não quero dar falsas esperanças pra alguém que está achando que quero algo sério. Só preciso de uma acompanhante que finja muito bem durante uma semana inteira e evite que os meus familiares encham o meu saco. Você entende?

E é a verdade. Não estou a fim de me comprometer de verdade com alguém e correr o risco de fazer alguma coitada pensar que quero algo além de pura troca de favores. Não estou em busca de um romance, e sei muito bem separar as coisas quando se trata da minha vida pessoal ou qualquer outro âmbito. É melhor do que iludir alguém com falsas esperanças de um relacionamento.

— Entendo sua situação, e sinto muito, mas não sei como ajudar. Eu só estragaria as coisas fazendo esse favor a você. Sou uma péssima atriz e... bem, eu não acho que me sentiria confortável mentindo para sua família.

— Claro, eu entendo. Foi um erro meu cogitar essa possibilidade. Você tem toda razão — digo. — Mas... me diga, talvez você conheça alguém? Uma amiga ou... alguém de sua confiança que esteja disposta a fazer isso por mim?

Balança a cabeça em negativa.

— Desculpe, mas não conheço ninguém.

Não compro sua mentira. Meus olhos se estreitam.

— Que pena. Eu pagaria muito bem.

Eu sei o exato momento em que seu interesse muda, pois seus olhos se arregalam levemente e ela inclina a cabeça.

— O que disse?

— Eu disse que pagaria muito bem, caso você conseguisse alguém de confiança para fingir ser minha namorada — repito lentamente, não conseguindo ser mais claro que isso. — Pra você eu daria até um aumento de salário.

— Sério?

— Já brinquei com você alguma vez? — aponto. — Estou falando sério, mas também tenho pressa, então seria de bom tamanho se você conseguisse alguém rápido. Estou disposto a pagar o quanto ela quiser.

Ela engole em seco, a voz se tornando mais suave.

— E o senhor tem alguma característica física em mente?

Dou de ombros.

— Me atento mais á personalidade. Basta ser elegante, interessante, boa atriz e disposta a fingir ser minha namorada por uma semana e viajar comigo para Búzios no sábado — digo. — Vamos de carro porque é mais fácil.

Ela está dentro nessa. Percebo quando seus lábios se curvam em um sorriso sutil, o interesse genuíno em seus olhos.

— Vou dar o meu melhor para ajudá-lo com isso.

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