No sábado, acordo cedo. Mesmo que eu tenha alguns trabalhos pela parte da tarde, tiro a manhã para lavar roupas e resolver as pendências, como pagar a conta de luz atrasada que minha mãe tanto fez questão que eu pagasse ao longo da semana.
Perto do horário de almoço, vou até a casa de Vivi. Ela mora a alguns quarteirões de onde eu vivo. Sempre almocei em sua casa aos sábados, e como descobri que hoje o almoço vai ser lasanha não vou perder a oportunidade.
Dou um abraço em Pedrinho, meu afilhado. Quando sigo em direção a cozinha, encontro minha amiga mexendo algum molho na panela.
— Quer ajuda com isso? — pergunto, sentindo o cheiro delicioso de seu tempero.
Ela balança a mão e descarta a ajuda.
— Apenas sente-se aí e vamos conversar um pouco. Preciso de alguém pra desabafar.
Ela está tomando cerveja direto de uma garrafa. Pego um copo e me sirvo enquanto me sento.
— Seu ex-marido decidiu voltar?
Ela rola os olhos.
— Quem dera fosse o Paulo enchendo meu saco dessa vez.
— O que tá rolando?
— Adivinhe? — pergunta com irritação.
— O seu chefe te irritando de novo?
Ela não precisa responder. O suspiro que solta já é o suficiente para que eu saiba a resposta. Desde que Vivi foi trabalhar na Ares Comunicações, sua vida tem sido um inferno — segundo ela. O seu chefe, pelo visto, não é exatamente o tipo de pessoa mais adorável do mundo. O homem parece ser tipo mais insensível e arrogante que já pisou na Terra, o que já faz minha antipatia com ele triplicar mesmo sem eu sequer conhecê-lo.
Bem, o que esperar de alguém que namora Teodora Fonseca?
— O que esse cara fez dessa vez? — pergunto. — De todas as reclamações que você já me fez dele, só falta me dizer que ele te assediou.
Sua expressão é alarmante.
— Vivi... ele não te assediou, não é?
Eu espero por uma resposta dela, a raiva subindo pelo meu corpo. Se esse cara fez o que estou pensando, ele vai se arrepender de ter nascido.
— Não — responde, incerta. — Quer dizer, não é do jeito que você está pensando. Ele... ele me fez uma proposta.
Um sinal de alerta se acende sobre minha cabeça.
— Uma proposta? Que tipo de proposta?
— Ele precisa de alguém para ir ao casamento do seu irmão com ele — responde. — E ele me convidou... para ir como sua namorada.
Mas que diabos?
— Jesus, Vivi. Se isso não é assédio, eu não sei o que mais seria.
Ela desliga o fogo e vem até mim. Toma um gole da sua cerveja e se senta ao meu lado. Sua expressão é séria quando diz:
— Realmente, não é como você está pensando. No começo eu achei que ele também estivesse com segundas intenções, mas a verdade é que ele precisa de alguém para realmente fingir ser sua namorada. Aparentemente, ele precisa evitar que sua família o questione sobre não ter uma namorada fixa até hoje. O que é compreensível. O homem não fica muito tempo com alguém.
— Espere... — eu digo confusa. — Você está me dizendo que seu chefe te pediu para fingir ser sua namorada? Apenas para enganar a família?
— Exatamente.
— Meu Deus, parece um filme — eu zombo. — Sério, ele deve estar tentando ir pra cama com você com toda essa conversa ridícula.
Minha amiga me olha como se dizendo “sério?”.
— Larissa, estamos falando de Diogo Antônio Castelo. Se tem algo que aquele homem não faz é inventar desculpas para ir pra cama com alguém. E ele não quer nada comigo, disso tenho certeza.
Bem, mesmo assim, essa história ainda é engraçada demais para eu acreditar.
— Por que diabos um homem como ele precisaria pedir a alguém para fingir ser sua namorada, então? — questiono. — Além do mais, ele não está namorando Teodora Fonseca? Fiz a unha dela ontem à tarde e ela não parava de falar do seu chefe e em como os dois iriam se casar e blah blah blah. Pelo menos eu achei que os dois estivessem juntos.
— Diogo não namora ninguém sério — diz. — Ele vai se esquecer dela no dia seguinte e ignorar suas ligações, assim como faz com todas as garotas com quem sai. E sobre ele precisar de alguém para acompanhá-lo... bem, eu não entendi ao certo. Pelo visto ele não quer chegar no casamento do irmão sozinho e também quer evitar os questionamentos da família sobre não ter uma namorada. Só Deus sabe o motivo de ele estar tão inseguro com isso.
— De qualquer maneira, ele poderia convidar um de seus encontros, não é? Acho que seria menos constrangedor do que pedir isso a sua secretária.
— E ele não convida nenhum de seus encontros porque, aparentemente, não quer iludir nenhuma delas. O que eu acho certo, não é? Era só que faltava Diogo fazer alguma coitada acreditar que vai se casar com ela só porque a apresentou à sua família.
— Pelo que você me fala dele, ele parece um homem terrível.
— Ele é um cara legal. Só um pouco... focado demais no trabalho, sério demais e age como um robô.
Eu cruzo os braços.
— E tem muito dinheiro.
— É.
— E te ajudaria muito caso você decidisse fingir ser sua namorada.
Ela estreita os olhos.
— Como você sabe que ele me ajudaria?
Encolho os ombros.
— É meio óbvio que um homem como ele não pediria um favor desses de graça — digo. — Vocês sequer são amigos.
— Você tem razão — ela diz. — Ele me ofereceu um aumento de salário. No entanto, eu não vou fazer algo assim. Nem ferrando.
— Mas por quê? Seria a chance perfeita para isso. Você sabe. Você precisa do dinheiro, Vivi. O seu filho está crescendo e o pai dele mal consegue pagar a quantia certa da pensão.
— Eu só estragaria as coisas fazendo isso. Sou péssima em fingir. Imagina fingir gostar do meu chefe? Eca.
— Bem, que pena, porque eu acho que ele estaria disposto a pagar muito.
— Acontece que há uma solução para mim — ela diz.
— Sério? E qual é?
— Ele vai aumentar meu salário sem que eu faça este favor — diz. — Contanto que eu consiga alguém de confiança para fazer isso.
Uma pausa.
— Bem, só falta encontrar alguém para fazer isso, não é? Não é como se houvesse muitas pessoas doidas o suficiente para aceitar ser a namorada de Diogo Castelo, mesmo que por dinheiro.
— Eu seria a namorada dele por dinheiro.
Ela me encara tão horrorizada que sinto vontade de rir.
— Larissa, você ficou doida?
Dou de ombros.
— Qual foi? Eu já namorei caras bem piores, e fiz isso de graça. Estou precisando de dinheiro e além disso você disse que ele te incumbiu de conseguir alguém de confiança. Em quem mais você confiaria além de mim a ponto de falar sobre isso?
— Confio em você porque é minha melhor amiga, e é por este motivo que não vou forçá-la a fingir ser a namorada daquele cara. Eu já te falei que ele não é uma pessoa muito fácil de lidar.
— Quem liga? Só vamos atuar — digo. — E u não seria maluca de recusar algo assim. Vou passar férias em búzios fingindo namorar um gostoso e ainda vou ganhar por isso. Desde que não nos toquemos, eu to dentro. — Faço uma pausa. — Não vamos precisar nos tocar, né?
— Provavelmente, não — ela diz. — Você não faz o tipo dele de qualquer maneira, então está segura.
— Puxa, obrigada.
Ela descarta minha mágoa irônica com um aceno de mão.
— Eu ainda não sei se essa é uma boa ideia.
— É uma ótima ideia.
— As coisas podem ficar complicadas se vocês não se derem bem.
Eu aliso seu braço, um sorriso confinante enquanto a tranquilizo.
— Querida, vai por mim, o seu chefe vai me amar!
DIOGONa segunda feira, Gonçalo e toda a equipe de Design finalmente me apresenta um projeto decente, que eu logo preparo para ser enviado aos nossos clientes para análise. Não é muito depois das dez da manhã quando Viviane irrompe porta adentro do meu escritório, os olhos arregalados como pratos.— Desculpe — ela diz. — Houve um problema na estação de metrô. Todos os trens atrasaram. Eu estava sem sinal lá embaixo, então não consegui ligar nem mandar uma mensagem.— Tudo bem. Só tivemos uma reunião até agora — eu digo, analisando sua expressão de nervosismo, o rosto suado. Eu não vou dar uma bronca nela, digo a mim mesmo, recordando de que preciso da minha secretária e não poderei irritá-la se quiser receber sua ajuda. — Viviane, você conseguiu o que te pedi?Ela congela um sorriso vacilante, os ombros retos de tensão.— Sim, senhor, eu consegui — responde. A situação como um todo me faz ter vontade de rir. Eu riria se não estivesse tão nervoso quanto ela. Poderíamos muito bem estar
LARISSAIsso não é algo que eu vá admitir em voz alta, mas ele fica engraçado quando está carrancudo. Não de um jeito vergonhoso, mas talvez de um jeito fofo? É meio estranho eu estar chamando Diogo Castelo de fofo. Se há algo que esse homem consegue ser, adorável não está, nem de longe, entre uma delas, mas posso admitir que a maneira como sua testa se vinca ou como ele parece tão rígido, por mais que disfarce é, no mínimo, interessante.— Não acreditei que você fosse realmente vir — eu digo quando me aproximo.— Você queria conversar enquanto almoçávamos, não é? — Ele diz, já se levantando para puxar a cadeira para mim. — Aqui estamos.Faço um aceno de mão, para que ele não se preocupe e eu mesma puxo a cadeira e me sento. Um garçom vem nos atender, e Diogo pergunta:— O que vai querer?— Um suco está bom.Franze a testa.— Não está com fome?— Sempre pulo os almoços — respondo dando de ombros. — Já se tornou um hábito. Como qualquer coisa mais tarde.Ele se vira para o garçom.— Ok
Capítulo 6DIOGO— O projeto foi um sucesso. Meus parabéns a todos os envolvidos — elogio minha equipe.Depois que todos saem, Gonçalo ainda fica na sala. Ele me dá um aperto de mão, e eu o cumprimento.— Confesso que ainda estou chateado por não termos conseguido dar continuidade à minha ideia, mas não posso dizer que não gostei em todo. O projeto foi um sucesso e é isso o que importa.— Ainda teremos tempo para trabalhar sua ideia. Acho que você vai fazer um bom trabalho quando assumir o comando enquanto eu estiver fora.Ele sorri.— E então... como está a sua família com toda essa coisa do casamento?Dou de ombros.— Minha mãe está eufórica, é claro. É o sonho dela ver seus filhos casados.— E mesmo assim o irmão mais novo está se casando primeiro.Rolo os olhos.— Por favor, Gonçalo. Você também não.Ele ri.— Só estou brincando. Com certeza é algo que uma mãe casamenteira diria. — Ele faz uma pausa. — Mas você, no entanto, talvez não demore muito para seguir os passos do seu irmã
LARISSA — Esse vestido rosa me faz parecer um pouco... estranha. — Eu digo enquanto aliso o vestido de verão de caimento solto de frente para o espelho de Vivi. Me arrumei na casa dela para evitar questionamentos da minha mãe, e agora não sei por que estou nervosa apenas em me imaginar indo a um encontro com Diogo Castelo. Nem é um encontro de verdade, e ele claramente não tem nem um pouco de vontade sair comigo. De repente, me ocorre que ter inventado esse programa para conhecê-lo melhor pode ter sido uma péssima ideia. — Ei, por que você parece tão nervosa? — Vivi me pergunta, olhando-me desconfiada. — O que? Quem está nervosa aqui? Ela não hesita ao responder: — Você. Tem agido estranho desde a hora de se vestir. Tudo bem que aquele homem é intimidante, mas foi você quem teve essa ideia em primeiro lugar, não adianta tentar mudar o rumo das coisas agora. — Não estou nervosa — descarto suas desconfianças. — Bem, estou indo. Decidi que o encontraria na porta do Shopping e qua
Faltando poucos dias para a viagem, Larissa me manda uma de suas habituais mensagens cheias de emojis.Borboleta: Bom dia! Pronto para mais um programa de casal?Diogo: Eu achei que já tivéssemos feito isso.Borboleta: Ainda não tiramos fotos, lembra? Precisamos de fotos para caso alguém nos questione. Só por precaução.Diogo: sou ótimo com montagens. Posso tentar algo.Borboleta: Bleh. Sem chance. Tem tempo para um encontro essa noite?Eu fico uns bons minutos encarando essa mensagem sem saber como responder. O que diabos tem essa mulher e por que eu sempre acabo concordando com suas maluquices sem sequer questionar?Estou mesmo tão desesperado a ponto de virar refém de Larissa Aurora ou eu realmente gosto de tudo o que ela faz comigo? De qualquer forma, mando uma mensagem de volta:Diogo: Depende do que você tem em mente.Borboleta: Você deveria confiar mais em mim. Somos um casal agora.Diogo: Estamos começando a fazer esse jogo por mensagens também?Borboleta: Não sei. Você quer?
Quando finalmente chego no local do bendito encontro, Larissa já está lá. Ela enfia as mãos nos bolsos dos seus shorts jeans e segue em minha direção. Eu tenho não encarar suas pernas nuas, mas ressalto mentalmente que elas são muito bonitas.Quando ela chega até mim, o sorriso é gigantesco.— Você não se atrasa nunca? — pergunto.Ela dá de ombros.— Por que eu me atrasaria?— Não sei. Eu pensei que fosse uma regra secreta entre garotas em encontros.Ela rola os olhos.— Essa foi a segunda coisa mais absurda que já ouvi essa semana. A primeira foi quando você me disse que não estava comendo direito — comenta. — Além do mais, por que eu me atrasaria em um encontro? Se eu estou gostando de um cara, eu não vejo a hora de vê-lo, certo? Não faz sentido fingir desinteresse.A sua maneira de pensar é interessante, me obrigo a admitir. Poucas pessoas teriam a mesma lógica que Larissa, embora seja a concepção mais simples de se ter.— Você tem um ponto — digo. — Mas então... o que vamos fazer?
ThaísÉ sexta-feira, o dia em que preciso arrumar minhas malas para viajar com Diogo no sábado, amanhã. Não tenho muito o que levar, então escolho o máximo de roupas que eu possa usar em uma casa de praia, além do vestido novo — e o único — que tenho para ir ao casamento. De qualquer forma, mando uma foto para Diogo mostrando minhas roupas, afinal, por mais que ele não tenha exatamente nada a ver com minha vestimenta, é a namorada dele que estou fingindo ser e quero estar apresentável no casamento de seu irmão.“Acha que isso é o suficiente?”Ele me responde de volta:“Talvez para usar como pano de chão. Onde está sua roupa para a cerimônia?”Isso me pega desprevenida porque o vestido que eu iria usar na festa foi justamente o da primeira foto que enviei a ele.“Eu te enviei a foto com o vestido que pretendo usar.” Digo, mandando a foto novamente.“Jogue-o fora.”Mas o que...“Você está me zoando ou o quê?”“Você não vai ao casamento do meu irmão como minha namorada usando isso.”“Não
Capítulo 1 DIOGO Minha cabeça vai explodir. Sinto como se houvesse algo martelando dentro dela e qualquer som emitido nesta sala de reunião está me deixando estressado. Há um vídeo de poucos segundos rolando no quadro branco onde está sendo refletido nosso último projeto, mas não prende minha atenção. A tela do meu celular se acende, e eu já sei quem é antes mesmo de olhar. Na tela de bloqueio, uma notificação de mensagem da minha mãe: “Me fale mais sobre ela”. Aperto a ponte do meu nariz, voltando a focar no comercial. A modelo está correndo em direção a uma cachoeira, cabelos brilhantes ao vento. A edição está boa, mas falta algo. Um pouco de personalidade, talvez? O celular se acende de novo. “Você não me disse seu nome ainda, mas vou descobrir. Me passe o contato dela se estiver sem tempo. Quero conhecê-la.” A modelo agora está deitada sobre a grama, parecendo encantada com o cheiro de qualquer coisa proveniente da natureza que ela esteja sentindo. Mas que porra é essa? “