Do chão ao topo

Alana:

Toquei o lugar onde ardia na minha face e senti meus olhos lacrimejarem novamente, mas desta vez eu não deixaria que as lágrimas caíssem, nunca mais eu iria chorar por uma traição novamente.

— Como ousa falar assim da sua irmã mais nova? — ela interrogou irritada — Você não tem o mínimo de decência?

Como sempre, ela estava do lado da Amanda, sua filha favorita.

Sorri amargamente ao perceber que ela nunca olharia para mim como olhava para ela, que nunca me defenderia como defendia ela, que sempre fecharia os olhos para os erros da minha irmã mais nova.

— Mas que droga de mãe é você? — questionei furiosa a olhando nos olhos — Como pode continuar favorecendo a Amanda, mesmo quando ela está errada?

— O que? — ela perguntou confusa e atordoada por me ouvir respondê-la.

Normalmente eu não faria algo assim, eu nunca fazia ou falava nada, nunca, eu apenas ficava em silêncio, aguentando tudo, mesmo sabendo como era injusta a forma distinta com que ela nos tratava.

— Eu acabei de dizer que ela dormiu com o Jack, e vhcê me deu um tapa? — perguntei — A mim que foi traída, não ela?

— Por que está tão brava com isso? — ela questionou evasivamente — É só um garoto qualquer, e a sua irmã gostava dele, por que você não pode simplesmente aceitar e conviver com isso, ela o queria mais que...

— Chega! — gritei a cortando e fazendo-a se assustar — Minha bonecas, meus laços, minhas roupas, meus amigos e agora até o meu namorado. Já não foi o suficiente? De quantas coisas mais eu preciso abrir mão para que ela fique feliz?

— Não seja tão dramática! — mamãe reclamou — Ela estava super preocupada com você, não pode ter um pouco mais de empatia?

— Empatia? — gargalhei alto — Essa cretina me traiu com o meu namorado e sou eu quem tem que ter empatia?

— Sei que está chateada com isso, Alana, mas ele ia acabar traindo você cedo ou mais tarde, sendo ou não com a sua irmã, iria acabar acontecendo! — ela disse — Porque ele é...

— Homem. — completei com um riso de frustração — E é da natureza deles serem assim. Era o que ia dizer, mãe?

Ela me encarou em silêncio.

— Tudo bem, eu concordo com você, ia mesmo acabar acontecendo, então eu deveria superar! — falei — Mas e quanto a ela? Ela é mulher, também é da natureza dela dormir com o namorado da sua própria irmã?

— Alana...

— Não deveria ser ela chorando e pedindo perdão? — questionei — Mas, ao invés disso você a esconde atrás de si e cobre os erros dela como se não fossem nada.

— Eu nunca quis te machucar Alana! — Amanda dissimulou — Eu não tenho culpa se sou mais bonita e mais atraente que você.

— Você não é nada comparada a mim! — afirmei — É do um baú de lixo podre e inútil.

— Como pode ser tão cruel? — ela perguntou secando as lágrimas — Eu sou sua irmã!

— Você era a minha irmã! — declarei — Não é mais.

— Está cortando relações com a sua própria irmã por causa de um garoto? — mamãe perguntou chocada.

— Não é por causa de um merda daqueles, é por causa dela! — respondi — A traição do Jack não chega sequer aos pés da traição da Amanda.

— Alana...

— Já chega, não quero ouvir mais nada! — bradei — E já que você acha tão correto assim ficar com as coisas de outra pessoa, espero que goste de saber que estou pegando para mim os sonhos da sua filha favorita, eu vou para New York e vou ser tudo o que a Amanda queria ser, quanto a você, Amanda, pode ficar nessa cidade minúscula e fedorenta e se tornar a imbecil que eu sonhei um dia em ser.

— O que quer dizer? — mamãe perguntou surpresa enquanto eu subia escadaria acima.

Fiz uma pequena mala, peguei as minhas cartas de admissão das universidades para onde me inscrevi e deixei o quarto.

— Onde vai, Alana? — papai perguntou preocupado ao me ver arrastando a mala escadaria abaixo.

— Boston! — respondi — Vou fazer faculdade em Harvard, depois vou me mudar para New York e me tornar um sucesso.

— Alana! — mamãe chamou pelo meu nome — Você não pode...

— Ah, eu posso sim, tenho dezoito anos e portanto sou maior de idade! — a lembrei — Eu espero nunca mais ter que pisar os meus pés nessa cidade horrível.

Sem esperar mais, arrastei a mala para fora, deixando aquela casa sem olhar para trás.

CG Magazine, New York — Nove anos depois

— Não, eu não estou indo para Erwin! — neguei ao telefone — Não é porque eu nasci em Erwin que quero relembrar das antigas raízes.

— Você não vem nem por mim? — Adam questionou do outro lado linha — Poxa irmãzinha, não faz assim não vai.

— Adam, eu fui bem clara ao sair daí, que eu não retornaria a Erwin por minha livre e espontânea vontade! — o lembrei.

— Nem para o casamento do seu irmão mais velho? — ele perguntou — Você e o Connor são meus padrinhos, não aceito outros.

"Connor." Esse nome me lembrava de alguém, alguém de quem eu não tinha muitas recordações, mas que com certeza foi alguém importante em algum momento da minha vida, alguém que me lembrava o cheiro de grama verde e feno.

Ou seriam apenas delírios da minha cabeça?

— Connor? — questionei.

— Sim, Connor Mackenzie! — ele disse — Não se lembra dele? Éramos melhores amigos no ensino médio, nossa amizade se estendeu até os dias de hoje.

— Humm! — funguei baixo ao ouvir aquilo.

— Sabe de uma coisa? O Connor vive perguntando sobre...

— Desculpe Adam! — o cortei — Mas eu não me lembro dele.

— Ah, entendo! — ele sorriu do outro lado — Mas, de qualquer forma, você precisa vir ao meu casamento com a Lisa, não aceito outra madrinha além de você!

— Adam...

— Fim de história! — ele disse — Te vejo em uma semana, irmãzinha.

Em seguida ele desligou o telefone.

Ervim? Depois de tanto tempo? Será que era mesmo boa idéia retornar?

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