~ADAM~
Acordei cedo aquela manhã, com Kara, ainda completamente nua, grudada em mim. Corri minha mão por sua coluna, subindo em descendo levemente, em um carinho despretensioso. Em meio ao sono, ela murmurou alguma coisa desconexa, como se quisesse que eu a deixasse em paz para continuar dormindo.
Ri e fiquei imóvel por um tempinho, encarando o teto. O problema é que eu estava começando a ser atingido pelas consequências do que fizemos. Quero dizer, Kara e eu tivemos uma conexão incrível na cama, mas... E se eu tivesse entendido aquele tal sinal de forma errada porque eu quis entender de forma errada? Podia não ser um aval... podia ser um “deixa-a sozinha”, afinal o título do livro era Cem Anos de Solidão. Ou... podia não ser nada. Podia nem ser a porra de um sinal e sim só um livro aleatório em meio a tantos outros.
Procuro minha calç
~KARA~Algo estava estranho. E não era só o fato de Adam e eu estarmos viajando com a minha cunhada em nossa lua de mel. Mas ele estava estranho. Tinha mudado depois que transamos, e não de um jeito bom. Era como se tivéssemos regredido vários passos e voltado a um lugar de amigos. E nem era de amigos confidentes, porque ele não abria pra mim qual era o problema.Era nosso quarto dia em Londres. Desde que chegamos, Adam tinha mantido nossa agenda cheia. Tínhamos ido visitar Matt e Ella, levamos Isabelli aos principais atrativos turísticos da cidade, assistimos espetáculos de teatro musical em West End todas as noites, e jantávamos em restaurantes refinados.Quando voltávamos ao hotel, Adam sempre arrumava uma desculpa para tomar banho e dormir ou dizia que precisava trabalhar até tarde e era eu quem acabava caindo no sono. Claramente ele estava evitando sexo. Mas não s&oac
O primeiro mês foi o mais difícil. Eu estava sofrendo por Adam, de verdade. Mas eu jamais ia deixar alguém perceber isso. Então eu queria sair, beber, ir a festas, fazer loucuras. O problema é que Isabelli... era um tanto certinha demais. Juro que eu não esperava isso dela, mas fazia sentido. Primeiro porque a garota cresceu no interior e sempre sendo vigiada pelos pais e irmãos, segundo porque Adam jamais colocaria alguém na mesma vibe que eu ao meu lado.Então, Isa basicamente ia para suas aulas de inglês e se dedicava a faculdade EAD. Nos finais de semana fazíamos algumas atividades culturais e no máximo íamos a algum PUB. Era um saco! Mas, o que Adam não poderia imaginar, é que eu seria capaz de converter Isa. Ou melhor, talvez não eu... mas um músico loirinho bonitinho de uma banda da Academia Real de Artes Performáticas, que fazia bastante
Seis meses. E eu simplesmente não conseguia falar com a Kara para rever nossos planos. Nesse meio tempo eu tinha conseguido fazer uma auditoria na Milani e descobrir a maioria das coisas que estavam erradas. Alguns funcionários foram despedidos por justa causa, mas nenhum dele entregou Alessandro. Fosse lá o que ele estivesse fazendo para conseguir o silêncio daquelas pessoas, ele não estava pagando barato por isso. Mas Alessandro não estava nada feliz. Depois que descobriu que Kara e eu nos casamos e que ele não poderia mais pedir na justiça para me substituir como tutor dela, sua ira tinha se tornado mais frequente e imprudente. O ponto alto foi quando ele tentou me comprar. Queria me levar para dentro do seu esquema de minar todo o dinheiro de Kara. Infelizmente, eu não esperava por aquilo, então não tinha conseguido nenhuma prova que pudesse usar contra ele. Com Kara fora do país, a impossibilidade de assumir os bens dela e a maioria dos seus cúmplices fora da empresa, provavel
- O que foi? – Pergunto para Isa, ao vê-la encarando a tela do celular enquanto nos arrumávamos para mais uma noitada. – O carcereiro não te ligou hoje? Estávamos de volta à Londres. Isa tinha descoberto que a banda do tal carinha que ela estava a fim ia tocar em pub e fez de tudo para nos conseguir entradas. Aparentemente eles estavam ficando bem famosinhos, mas nada que o sobrenome Milani não abrisse algumas portas. - Adam disse que me ligaria depois do almoço e ainda não ligou. Também não atendeu minhas ligações. Disse que precisávamos conversar sério. - É claro que precisam... – reviro os olhos, enquanto me observo no espelho para aplicar o iluminador. – Ele quer que você volte para o Brasil. Você quer voltar? - Sei lá... – ela suspira fundo, indo sentar-se no sofá próximo a janela. – Talvez para visitar? Sinto falta deles. Podíamos... - Não, não podíamos – digo. – Você pode. Eu não vou pisar no Brasil tão cedo. - Não sente falta dos seus amigos? Eu sentia. Talvez quando Man
Talvez o fato de já ter passado por tantos momentos de tensão na minha vida, tenha me feito desenvolver uma certa máscara de frieza na hora de lidar com as questões práticas. Por mais que por dentro eu estivesse surtando, Isa estava mais. Então, enquanto o tal de Aaron era simpático o suficiente para me ajudar a distrai-la, fui eu quem precisei cuidar de coisas como agendar nossas passagens, arrumar nossas malas e entrar em contato com Luca para que ele cuidasse das coisas para nossa chegada. Tive ajuda de Jude, que não hesitou em vir quando seu amigo o chamou e ainda nos deu uma carona para o aeroporto. Fizemos tudo isso em menos de duas horas. Isa e eu precisávamos voltar para o Brasil o quanto antes porque... Porque Adam estava desaparecido.Eu tinha demorado a conseguir arrancar alguma informação de uma Isa em pânico. Mas parece que já era o segundo dia que ele não aparecia no
Não era Otto que estava tentando me dizer alguma coisa. Era Adam, reconheço sua caligrafia.- Volte ao começo... – sussurro. – O começo do livro? – Soo confusa.Devorei o primeiro capítulo do livro inteiro com a maior rapidez que consegui. Mas nada daquilo me remetia a qualquer resposta que pudesse estar bem debaixo do meu nariz. Ciganos? Invenções? Lula gigante? O que Adam queria dizer com aquilo...- Volte ao começo... – digo novamente em voz alta.- Ao começo? – Luca pergunta. – O quê?- Exatamente! O quê? – Digo revoltada, jogando o livro longe. – É só... uma anotação idiota que Adam deixou nesse livro – recito para Luca, eu tinha decorado.- Desculpa se eu atrapalhei, é só que... a comida chegou.- Eu só preciso de mais um minu...- Não! &nd
- Tem certeza de que não quer que eu entre com você? – Luca pergunta, quando ainda estamos parados do lado de fora do cemitério. Eu já tinha tentado sair umas três vezes, mas ele mantinha a porta do carro travada, provavelmente achando que, de alguma forma, aquilo poderia não ser uma boa ideia. - Tenho... – respondo, por mais que não tivesse. – Só me espera aqui, tá? Vai ficar tudo bem. Prometo! Cemitérios não significavam “o começo” para muitas pessoas. Eram sempre o fim. O fim de uma vida, de uma jornada, de uma era. Para aqueles que acreditavam, o lugar de descanso eterno para seus entes queridos. Costumava ter uma atmosfera densa, pesada, cheia de lágrimas e tristeza. Era estranho pensar que um lugar como aquele, para Adam e eu, era onde nossa história tinha começado. Onde nos vimos pela primeira. Desde o começo, sempre graças a Otto. Entro relutante na cripta de nossa família. Quase consigo me ver, há alguns meses, chorando largada no chão, próxima ao túmulo de Otto, quando ti
O tiro não vem. A dor não vem. A morte não vem. Tudo o que escuto é o barulho fortíssimo de algo atingindo o chão. Abro os olhos para encontrar meu tio caído, apagado, e Luca segurando uma estátua de mármore partida.- Vai ficar tudo bem? VAI FICAR TUDO BEM? – Ele grita.- Ficou... – consigo dizer, segurando a vontade de cair em um choro frenético.- Anda, vamos sair daqui.Mas eu não me movo. Pelo menos não na direção que Luca queria. Eu me jogo contra meu tio e vasculho seu blazer em busca da arma. No instante seguinte, estou novamente de pé. Minhas duas mãos tremulas envolvendo o objeto frio de metal, meu dedo dançando contra o gatinho. Eu nem sabia usar aquilo, mas não podia ser muito difícil, podia?- Kara... – a voz de Luca vem em tom de alerta. – Você não é essa pessoa. Você não é como ele.- Eu posso ser... – digo, sentindo a frieza em minhas palavras. – Ele tirou tudo de mim.- E você vai tirar tudo dele. Só não precisa ser assim.- Precisa sim.- A cripta tem circuito intern