- O que foi? – Pergunto para Isa, ao vê-la encarando a tela do celular enquanto nos arrumávamos para mais uma noitada. – O carcereiro não te ligou hoje? Estávamos de volta à Londres. Isa tinha descoberto que a banda do tal carinha que ela estava a fim ia tocar em pub e fez de tudo para nos conseguir entradas. Aparentemente eles estavam ficando bem famosinhos, mas nada que o sobrenome Milani não abrisse algumas portas. - Adam disse que me ligaria depois do almoço e ainda não ligou. Também não atendeu minhas ligações. Disse que precisávamos conversar sério. - É claro que precisam... – reviro os olhos, enquanto me observo no espelho para aplicar o iluminador. – Ele quer que você volte para o Brasil. Você quer voltar? - Sei lá... – ela suspira fundo, indo sentar-se no sofá próximo a janela. – Talvez para visitar? Sinto falta deles. Podíamos... - Não, não podíamos – digo. – Você pode. Eu não vou pisar no Brasil tão cedo. - Não sente falta dos seus amigos? Eu sentia. Talvez quando Man
Talvez o fato de já ter passado por tantos momentos de tensão na minha vida, tenha me feito desenvolver uma certa máscara de frieza na hora de lidar com as questões práticas. Por mais que por dentro eu estivesse surtando, Isa estava mais. Então, enquanto o tal de Aaron era simpático o suficiente para me ajudar a distrai-la, fui eu quem precisei cuidar de coisas como agendar nossas passagens, arrumar nossas malas e entrar em contato com Luca para que ele cuidasse das coisas para nossa chegada. Tive ajuda de Jude, que não hesitou em vir quando seu amigo o chamou e ainda nos deu uma carona para o aeroporto. Fizemos tudo isso em menos de duas horas. Isa e eu precisávamos voltar para o Brasil o quanto antes porque... Porque Adam estava desaparecido.Eu tinha demorado a conseguir arrancar alguma informação de uma Isa em pânico. Mas parece que já era o segundo dia que ele não aparecia no
Não era Otto que estava tentando me dizer alguma coisa. Era Adam, reconheço sua caligrafia.- Volte ao começo... – sussurro. – O começo do livro? – Soo confusa.Devorei o primeiro capítulo do livro inteiro com a maior rapidez que consegui. Mas nada daquilo me remetia a qualquer resposta que pudesse estar bem debaixo do meu nariz. Ciganos? Invenções? Lula gigante? O que Adam queria dizer com aquilo...- Volte ao começo... – digo novamente em voz alta.- Ao começo? – Luca pergunta. – O quê?- Exatamente! O quê? – Digo revoltada, jogando o livro longe. – É só... uma anotação idiota que Adam deixou nesse livro – recito para Luca, eu tinha decorado.- Desculpa se eu atrapalhei, é só que... a comida chegou.- Eu só preciso de mais um minu...- Não! &nd
- Tem certeza de que não quer que eu entre com você? – Luca pergunta, quando ainda estamos parados do lado de fora do cemitério. Eu já tinha tentado sair umas três vezes, mas ele mantinha a porta do carro travada, provavelmente achando que, de alguma forma, aquilo poderia não ser uma boa ideia. - Tenho... – respondo, por mais que não tivesse. – Só me espera aqui, tá? Vai ficar tudo bem. Prometo! Cemitérios não significavam “o começo” para muitas pessoas. Eram sempre o fim. O fim de uma vida, de uma jornada, de uma era. Para aqueles que acreditavam, o lugar de descanso eterno para seus entes queridos. Costumava ter uma atmosfera densa, pesada, cheia de lágrimas e tristeza. Era estranho pensar que um lugar como aquele, para Adam e eu, era onde nossa história tinha começado. Onde nos vimos pela primeira. Desde o começo, sempre graças a Otto. Entro relutante na cripta de nossa família. Quase consigo me ver, há alguns meses, chorando largada no chão, próxima ao túmulo de Otto, quando ti
O tiro não vem. A dor não vem. A morte não vem. Tudo o que escuto é o barulho fortíssimo de algo atingindo o chão. Abro os olhos para encontrar meu tio caído, apagado, e Luca segurando uma estátua de mármore partida.- Vai ficar tudo bem? VAI FICAR TUDO BEM? – Ele grita.- Ficou... – consigo dizer, segurando a vontade de cair em um choro frenético.- Anda, vamos sair daqui.Mas eu não me movo. Pelo menos não na direção que Luca queria. Eu me jogo contra meu tio e vasculho seu blazer em busca da arma. No instante seguinte, estou novamente de pé. Minhas duas mãos tremulas envolvendo o objeto frio de metal, meu dedo dançando contra o gatinho. Eu nem sabia usar aquilo, mas não podia ser muito difícil, podia?- Kara... – a voz de Luca vem em tom de alerta. – Você não é essa pessoa. Você não é como ele.- Eu posso ser... – digo, sentindo a frieza em minhas palavras. – Ele tirou tudo de mim.- E você vai tirar tudo dele. Só não precisa ser assim.- Precisa sim.- A cripta tem circuito intern
Eu não saberia exatamente dizer como ou quando Adam e eu tínhamos ido parar no banco de trás de carro. Minhas costas sendo pressionadas contra uma das portas, enquanto minhas pernas o envolviam e puxavam seu corpo para cima de mim. Sua mão trazia minha nuca firmemente para ele, enquanto seus lábios vagavam do meu pescoço para os meus próprios lábios. Eu estava completamente rendida enquanto arranhava suas costas nuas.Meus Deus, eu queria muito, muito, continuar com aquilo. Eu senti tanto a falta de Adam! Falta dos seus beijos, das suas mãos no meu corpo, dos seus toques... Céus, eu senti falta até mesmo da sua voz ou de simplesmente olhar pra ele. Mas... se Adam não seria a pessoa sensata naquele momento, então... Eu deveria ser, certo?- Adam... – minha voz soa entrecortada. – Adam, não...- Não? – Ele para instantaneamente e me encara.E eu preciso dizer a palavra mais difícil que já saiu dos meus lábios na minha vida.- Não.Adam apruma seu corpo, sentando-se. Ele me encara com um
- Adam... Eu não tô entendo... – digo, a voz fraca. – Como... como?- Eu também não estou entendendo, Kara. Achei... Achei que eu não deveria seguir adiante com isso sem você do meu lado, então... Precisei fingir um desaparecimento para te ter de volta. Desculpa pelo que te fiz passar.Eu mal escuto o que ele diz, um barulho agudo na minha orelha indicando que minha pressão está atingindo picos.- Eu não tô entendendo... – repito.- São novas coordenadas – Adam diz. – Seja lá quem mandou isso, queria que quem descobrisse esse storage box fosse até esse novo lugar.- Então vamos! – Digo.- Talvez não seja seguro...- E o que é seguro nessa porra toda?- Nada... – Adam volta a se aproximar de mim, e acariciar delicadamente meu rosto. – Só... Prometa não ser impulsiva e deixar que eu tome a frente? Não posso arriscar a sua segurança.- Prometo... – minto. Eu não tinha como prometer não ser impulsiva, era da minha natureza. Mas eu tentaria.- Não posso te perder. Não agora... – Adam me be
Eu sei, o que Adam e eu estávamos fazendo, indo atrás das provas que Otto deixou sem sequer avisar a polícia, era extremamente perigoso. Mas... a verdade? Eu estava pouco me importando! Desde que nos reencontramos, parecia que eu estava finalmente vivendo a lua de mel que eu queria ter vivido seis meses atrás. Adam e eu mal conseguíamos manter nossas mãos afastadas um do outro... Não conseguíamos parar de nos beijar, de nos provocar, de sorrir um para o outro.- Está cansado? – Pergunto, em certo ponto da viagem. – Quer que eu dirija um pouco?Adam tinha me dado umas aulas, depois que lhe contei o que encarei para chegar até ele.- Obrigado, Kara, mas precisamos chegar lá ainda esse ano.- Haha, engraçadinho... – reviro os olhos. Eu não era lenta no volante, eu era prudente. – Você ama estar no comando, não é? – Desdenho.- Você não pareceu se importar muito ontem à noite.Sinto minhas bochechas corarem e desvio o olhar, mas estou sorrindo. Adam sabia que eu gostava de controlar no se