Deitei na cama com o pequeno bilhete em mãos. Meu coração estava apertado no peito, pensando se aquele bilhete não tinha sido a última coisa a qual minha mãe teve o prazer de escrever. Comprimi os lábios, tentando reprimir o choro. Minha garganta ardeu e logo uma lágrima me escapou, escorrendo pelo meu rosto. Pensar que ela havia partido sem nem poder se despedir — e muito menos sem um enterro digno — era quase cruel.
Fechei os olhos, por um momento tentando imaginar aqueles homens imundos segurando-a e simplesmente lhe tirando a vida. Sabia que degolaria um homem se estivesse o vendo maltratar minha mãe daquela forma. Ao menos poderiam ter deixado o corpo dela em paz, pensei em desgosto.
Reli o bilhete deixado por ela para mim várias vezes.
A minha primeira reação ao ver a cena foi entrar simplesmente em choque. Eu nunca esperaria isso da minha irmã, até porque ela chegou a ser o braço direito da princesa Marilene e isso demandava uma enorme responsabilidade, principalmente em obedecer as regras feitas pela própria princesa. E a principal delas, a mais forte de todas, dizia claramente que homens e mulheres nasceram para ficarem separados.E isso era algo bem diferente do visto por mim naquele momento.Pisquei algumas vezes antes de ser tomada por uma onda de ódio muito forte que atingiu meus batimentos cardíacos e os acelerou, ocasionando em minhas mãos de repente cerradas. Logo peguei o objeto mais próximo de mim — um pedaço de madeira — e me aproximei dos dois, não sabendo com
A cena apareceu bem rápida diante dos meus olhos, mas foi como se tivesse sido exposta por uma eternidade. No mesmo instante senti vergonha de mim mesma e ainda mais traidora do que a minha irmã havia sido naquele momento. Eu tinha ficado com o príncipe de gelo. Ele era o maior inimigo da princesa Marilene e ela é quem eu sirvo.Algo estava muito errado.Só acordei desse choque quando o Trevor caiu no chão desacordado e com bastante sangue escorrendo do nariz. Bianca correu até ele, alarmada enquanto eu encarei o teto de madeira, pensando na loucura que eu havia feito. Eu beijei o príncipe de gelo. Não me lembrava o motivo e tinha medo de descobri-lo, afinal, o que tinha me motivado a uma atitude tão extrema?A pior
Dias de viagem se passaram até a carruagem parar em frente ao castelo da princesa Marilene. Suspirei, descendo dela. Tinha sido a última viajante, pois ali era uma espécie de último destino. Apenas as Guerreiras e as novas Iniciandas vinham para esse lado. As mulheres de classes mais baixas sem possuir um bom motivo para vir, geralmente não se aventuram para esses lados.Passo pelo portão, acenando para ambas as Guerreiras que tomavam conta dele. Elas fazem mesura e abrem o portão para mim. Elas sabiam quem eu era e a maneira como me tratavam com respeito me dava a sensação de ter uma idade muito mais avançada do que dezesseis anos.Adentro o jardim da princesa e sigo calmamente, cumprimentando as Guerreiras mais novatas pelo caminho. Todas elas faziam mesura ao me ve
A princesa Marilene não ficou nada satisfeita quando eu pedi mais uns dias de folga para resolver umas coisinhas que havia deixado passar. Isso me deu margem para argumentar ter chegado antes do previsto anteriormente e por isso tinha direito de ganhar mais uns dias para arrumar minha vida. Claramente contra a própria vontade, ela me cedeu e me permitiu viajar por mais um tempinho.Era só o que eu precisava para encontrar Karen Rizzon.Dias depois da minha petição para a viagem, dentro de uma carruagem, eu pensei na possibilidade de estar apostando demais na bondade dessa moça. Afinal, ela pode ter todas as respostas de que preciso ou nem se lembrar da minha existência. Eram dois extremos e eu tinha de saber lidar com ambos.Respirei fund
Não me afastei de imediato da Karen. Muito menos entendi qual era a sua intenção ao me beijar, mas isso despertou curiosidade da minha parte. Fiquei remoendo dentro de mim se a relação que tínhamos durante o primeiro treinamento foi apenas de amizade ou se aconteceu alguma coisa além disso. Nesses momentos eu realmente gostaria de poder me lembrar.Apesar de ter permitido que ela prolongasse o beijo, o interrompi alguns segundos depois, a encarando. Seus olhos verdes, porém, não tinham intenção alguma de me encarar e sim continuar olhando para os meus lábios.— Isso aconteceu durante o treinamento? — questiono baixinho, encarando-a.— Algumas vezes — ela murmura em resposta.
Me sentia uma fora da lei quando saí da carruagem na rua da minha casa, no vilarejo da casta três. Comprimi os lábios e caminhei calmamente na direção da minha casa. A última vez que tinha estado lá, havia feito um desastre: machuquei minha irmã e odiei o homem que pisou lá dentro. Porém, ainda estava atrás de respostas e por mais que eu odiasse admitir, talvez aquele homem pudesse me ajudar.Muitas coisas pareciam em jogo após abrir um pouco minha mente com ajuda da Karen. Eu precisava de um plano rápido e achava trágico não ter recuperado a memória, pois sabia que ela poderia me ajudar a pensar melhor numa maneira de deter a princesa Marilene. E, como não a tinha, o único jeito plausível era falando com aquele homem.
Respirei fundo ao descer da carruagem com a minha pequena trouxa de roupas em mãos. Bianca desceu em seguida e juntas seguimos para o portão onde duas Guerreiras nos cumprimentaram e permitiram a nossa entrada — até porque eu ainda usava o brasão da princesa no braço direito como símbolo da minha importância.Ando pelos corredores, cumprimentando tanto as empregadas quanto as Guerreiras que vigiavam a parte interna do castelo. Várias delas passam por nós com bolsas atravessadas em seus corpos. As mesmas bolsas usadas pelas Guerreiras para guardar os papelzinhos de divulgação do projeto de expansão. A princesa realmente estava investindo nisso.Deixo Bianca no corredor antes de seguir sozinha ao escritório da princesa. Comprimo os lábio
O segundo que fiquei parada olhando a minha mãe presa atrás daquelas grades foi o suficiente para a Guerreira se sentir no direito de me empurrar para frente, querendo apressar o meu passo. Estava internamente em choque. Na verdade a mamãe não havia sido assassinada pelos homens ou levada por eles. Ela tinha sido trancafiada pela própria princesa e duvidava que ela não soubesse da sua prisão aqui embaixo. E, quando questionei sobre a mamãe, a princesa parecia não fazer ideia de onde ela estava.Seria isso completamente verdade?, pensei por um momento, cheia de dúvidas.Eu e Bianca fomos postas em celas separadas. A Guerreira apenas nos jogou nelas e nos trancou, indo embora em seguida. Pisquei algumas vezes, ainda transtornada com a notícia da mamãe estar viva. Ouvi uma porta se trancar mais