Não me afastei de imediato da Karen. Muito menos entendi qual era a sua intenção ao me beijar, mas isso despertou curiosidade da minha parte. Fiquei remoendo dentro de mim se a relação que tínhamos durante o primeiro treinamento foi apenas de amizade ou se aconteceu alguma coisa além disso. Nesses momentos eu realmente gostaria de poder me lembrar.
Apesar de ter permitido que ela prolongasse o beijo, o interrompi alguns segundos depois, a encarando. Seus olhos verdes, porém, não tinham intenção alguma de me encarar e sim continuar olhando para os meus lábios.
— Isso aconteceu durante o treinamento? — questiono baixinho, encarando-a.
— Algumas vezes — ela murmura em resposta.
Me sentia uma fora da lei quando saí da carruagem na rua da minha casa, no vilarejo da casta três. Comprimi os lábios e caminhei calmamente na direção da minha casa. A última vez que tinha estado lá, havia feito um desastre: machuquei minha irmã e odiei o homem que pisou lá dentro. Porém, ainda estava atrás de respostas e por mais que eu odiasse admitir, talvez aquele homem pudesse me ajudar.Muitas coisas pareciam em jogo após abrir um pouco minha mente com ajuda da Karen. Eu precisava de um plano rápido e achava trágico não ter recuperado a memória, pois sabia que ela poderia me ajudar a pensar melhor numa maneira de deter a princesa Marilene. E, como não a tinha, o único jeito plausível era falando com aquele homem.
Respirei fundo ao descer da carruagem com a minha pequena trouxa de roupas em mãos. Bianca desceu em seguida e juntas seguimos para o portão onde duas Guerreiras nos cumprimentaram e permitiram a nossa entrada — até porque eu ainda usava o brasão da princesa no braço direito como símbolo da minha importância.Ando pelos corredores, cumprimentando tanto as empregadas quanto as Guerreiras que vigiavam a parte interna do castelo. Várias delas passam por nós com bolsas atravessadas em seus corpos. As mesmas bolsas usadas pelas Guerreiras para guardar os papelzinhos de divulgação do projeto de expansão. A princesa realmente estava investindo nisso.Deixo Bianca no corredor antes de seguir sozinha ao escritório da princesa. Comprimo os lábio
O segundo que fiquei parada olhando a minha mãe presa atrás daquelas grades foi o suficiente para a Guerreira se sentir no direito de me empurrar para frente, querendo apressar o meu passo. Estava internamente em choque. Na verdade a mamãe não havia sido assassinada pelos homens ou levada por eles. Ela tinha sido trancafiada pela própria princesa e duvidava que ela não soubesse da sua prisão aqui embaixo. E, quando questionei sobre a mamãe, a princesa parecia não fazer ideia de onde ela estava.Seria isso completamente verdade?, pensei por um momento, cheia de dúvidas.Eu e Bianca fomos postas em celas separadas. A Guerreira apenas nos jogou nelas e nos trancou, indo embora em seguida. Pisquei algumas vezes, ainda transtornada com a notícia da mamãe estar viva. Ouvi uma porta se trancar mais
Minha cabeça voltou a latejar violentamente enquanto a consciência retornava lentamente. Pisquei algumas vezes, sentindo a visão meio turva. Apenas a dor de cabeça me dava a certeza de eu não ter morrido — até porque tinha apagado de uma vez, sem ver se algo me acertou. Quando a visão foi voltando, percebi que aquela sala me era familiar. Era a mesma sala onde eu tinha ficado antes de perder a memória. A visão dada pelo Trevor me permitia lembrar dali.Tentei mover meus braços, porém, percebi estar com os pulsos e pernas presas numa cadeira. Também a reconheci. Escuridão me prendia naquela cadeira. Parecia que estava revivendo aquela visão concedida pelo Trevor. Enfim estou enxergando direito e percebo não estar na minha forma humana e alguém estava mexendo numa mesa cheia
A forma de corvo toma conta do meu corpo antes de eu me estatelar no chão do jardim, correndo risco de sofrer sérios ferimentos. Felizmente Moros tinha soprado um pouco de sorte no meu caminho e eu agradecia internamente por isso. Minhas pernas prendem o vidrinho vermelho com força para não me escapar. Alço voo na direção do telhado e lá me sinto segura o suficiente para voltar a ser humana.Respiro fundo, um pouco aliviada. Não ouvia mais chiados e sabia que ninguém vigiava o telhado a menos que houvesse alguma suspeita de invasão por parte dos homens. Felizmente não parecíamos nos preocupar com esse tipo de coisa ultimamente.Escondo-me atrás de uma pequena casinha ali em cima só por garantia. Não queria mais surpresas.
Um treinamento de Iniciandas se passou — ou seja, um mês — desde que fui mantida prisioneira da princesa Marilene visto que havíamos feito um trato. Tinha ainda conseguido barganhar uma visita semanal a Bianca e acompanhava sempre o seu estado. Via olheira em seus olhos, pois dormir numa cela não era nada confortável, todavia não parecia estar passando fome e não tinha indícios de tortura ou que fosse morrer em algum momento.A princesa estava cumprindo sua parte do trato.Quanto a mim, vez ou outra era convidada a acompanhar a oficial Abbott e a princesa para discutirmos sobre o plano e como as coisas deveriam funcionar. Os dias estavam passando lentamente e a cada reunião eu tentava pensar numa maneira de intervir. Ainda não tinha um plano concreto de como acabaria com aquilo tudo e meu tempo estava só esgotando.Fora o fato de que vou ter de pensar num jeito de tirar Bianca do ca
Os lábios do príncipe Matthew são tão gélidos quanto as suas mãos naquele momento. Mesmo assim eles não deixam de ser praticamente reconfortantes. Nunca pensei que fosse sentir falta do seu toque e, como se estivesse lendo meus pensamentos, seus dedos tocam a minha cintura e me trazem calmamente para os seus braços. O momento parece congelar enquanto me perco naquele beijo. Fazia meses que não nos víamos.— Não pense que ainda não estou brava — murmuro quando precisamos encerrar o beijo para tomar mais fôlego.— Não sei mais como me desculpar.Ele transforma nossa proximidade num abraço e me permito pousar a cabeça no seu ombro. Apesar de todos esses gestos d
Convencer a oficial Abbott de que eu deveria ver a princesa Marilene custou muitos, muitos argumentos e bastante insistência. Ela se recusava a me deixar ver a princesa, mesmo sabendo o meu grau de importância. Internamente me perguntava se isso era uma insegurança sua de perder seu importante cargo para mim por eu ter sido a primeira auxiliar nisso tudo.— Eu preciso mesmo falar com a princesa Marilene uma última vez — insisto.— Está bem. — Ela suspira, parecendo furiosa em ter de ficar discutindo comigo sobre isso. — Mas será por um curto tempo. A princesa deixou claro não querer ser incomodada por ninguém. Se eu receber qualquer advertência, vou transferi-la para você.Assenti, só